domingo, julho 14, 2024

Um futuro com Trump

1. Já começou o tempo glorioso para os maluquinhos das teorias da conspiração: "Atentado?! Aquilo foi tudo uma montagem! Não é por acaso que ..."

2. Só podemos desejar que o episódio de hoje não seja o primeiro de outros eventos de violência sectária nos EUA, dada a imensa crispação que atravessa a sociedade americana.

3. Há uma capital onde, a partir de hoje, vai ser necessário começar a fazer contas à vida: Kiev.

4. Um ponto a notar: agora, passa a ser praticamente irrelevante se Biden mantém ou não a sua candidatura.

5. É extraordinário pensar que, na vida política americana e do mundo em geral, há um antes e um depois deste atentado. Alguns equilíbrios que prevaleciam até há poucas horas foram ultrapassados por aqueles tiros na Pensilvânia.

6. A Europa precisa de entender que subiu fortemente a possibilidade, que já era elevada, de Donald Trump ser o próximo presidente dos EUA. O discurso europeu sobre segurança tem de incorporar este fator. Com todo o realismo e o que isso implica.

7. Espero que as lideranças europeias responsáveis, agora confrontadas com a quase inevitabilidade da vitória de Trump, não se deixem tentar por qualquer aventureirismo guerreiro, inspirado pelo leste do continente, para "apressar" a História antes das eleições americanas. Travar esta deriva é o último grande serviço que Biden pode prestar ao mundo.

17 comentários:

Anónimo disse...

Certo é que o homem esteve literalmente a centímetros da morte certa. E certo também é que, "in a split second", revelou enorme coragem. Fight.
M.Prieto

rui esteves disse...

Um atirador que está num telhado fora do espaço onde decorria o comício não deve ser fácil de localizar. A seguir a um atentado, há sempre a natural barafunda a tentar proteger o alvo do atirador. Mas neste caso, houve aparentemente tempo não só para proteger e retirar dali o candidato Donaldim, como logo a seguir localizaram o atirador e abateram-no. Abatido para que não falasse. Para mim, o atirador era um pobre diabo com boa pontaria que nem chegou a gastar o pagamento pelo trabalho. Quanto ao resultado desta encenação, sim - o próximo presidente dos EUA vai ser o alucinado Donaldim.

Anónimo disse...

Excelente análise!
a) P. Rufino

JA disse...

Boa a questão que levanta no ponto 7, senhor embaixador! Mas, acha que era necessário que este triste episódio acontecesse para que as "lideranças europeias responsáveis" percebessem o estado em que se encontrava a luta política na América e para que lado estava a conduzir o mundo? Então o estado de saúde de Biden, há muito degradado e exibido, não punha a nu que por aqueles lados, mais ainda do que por estas bandas, que os presidentes pouco ou nada mandam?! No estado em que o senhor há muito se encontra, tanto fazia estar lá Biden como Bidão! E é esta percepção e outras da mesma natureza, que é fatal para a democracia e faz avançar a extrema-direita! Estranho é, ouvir na TSF a notícia de que Bernie Sanders, com os argumentos que expõe, defender a permanência do actual presidente na corrida presidencial. Assim, temo muito que o senhor esteja a antecipar mais uma estúpida e grave reacção das ditas "lideranças europeias responsáveis". Já nada me espantará!. Aguardemios mais uns dias!

Anónimo disse...

"Assim, temo muito que o senhor esteja a antecipar... "
Tive dificuldade em perceber daqui para a frente. A principal dificuldade consistiu em que não sei se utiliza a palavra "antecipar" no sentido que tem em português ou no sentido (como agora é habitual) da palavra inglesa "antecipate". São coisas diferentes, daí a minha confusão. Pode esclarecer? Obrigado.
Zeca

Mal por Mal disse...

Da segunda não escapa, o puto com vinte anos bem tinha treinado desde pequeno com a flober aos passarinhos, mas precisava mais prática.

Nos USA não vai à primeira vai à segunda.

Veja-se os Kennedy, o segundo insistiu, marchou também!

Joaquim de Freitas disse...

Gostei muito do comentário de Obama e outros, :"A violência é antitética à democracia. Os votos, e não as balas, deveriam ser sempre o meio pelo qual os americanos superam suas diferenças."

Ora, ora, dizer isto quando " A febre sobe em El Pao"! Não leram a historia americana? De Lincoln a Reagan, pelo menos? E se Reagan ganhou 22% de votos do tiro que recebeu, quantos “% “ Trump vai receber?

Actos de violência há muito que obscurecem a democracia americana, mas ultimamente têm se tornado maiores e mais sombrios. A polarização cultural e política, a omnipresença das armas e o poder radicalizador da Internet têm contribuído para isso.

A democracia exige que os partidários aceitem que o processo é mais importante que os resultados. Mesmo antes dos acontecimentos de sábado, havia sinais preocupantes de que muitos americanos estavam a falhar nesse teste essencial.

Pois não é que numa pesquisa realizada no mês passado pelo "Projeto Chicago sobre Segurança e Ameaças", "10% dos entrevistados concordaram """que o uso da força era justificado para impedir que Trump se tornasse presidente, e 7% disseram que o uso da força era justificado para devolver a presidência a Trump... Se hà 10% que estariam de acordo com a violência, quantos atiradores estão em reserva?

Esperemos que a tragédia de Sábado, não se transforme numa tragédia ainda maior.

Joaquim de Freitas disse...


Ia escrever mesmo que o comentário de Obama me chocou, por outra razão.Tenho muitos amigos nos EUA. Muitos me falaram dos momentos de transe que passam todas as manhas, quando enviam os filhos para a escola.

Com o número e tipo de armas disponíveis para quase todos os cidadãos, independentemente da estabilidade mental, qualquer tipo de violência armada deveria ser esperada, política ou não.

Certamente não é bem-vindo, nem ético ou moral, mas esperado. Obama sabe que numa escola de Franklin Park, Chicago, se preparam miudos pequenos para se esconderem, fugirem ou, vejam só, enfrentarem um atirador?

Quer uma escola ganhe ou não aquela lotaria horrível, cada criança hoje vive com a possibilidade de levar um tiro. Tiros foram disparados próximo ao local onde se encontra o nosso gabinete.

Há alguns anos, um vizinho atirou e matou a sua esposa há décadas. Alguém que conheço teve um filho que foi assassinado. Antitético? Não há nada incompatível com a violência armada e a América. Os dois são, hoje, almas gêmeas.

"E sei que nao é o tema, mas na politica estrangeira é o mesmo...A diplomacia americana traduz-se quase sempre na violência.

Quando passava um fim de semana em Chicago, o meu Presidente pedia-me para evitar o comboio que atravessa a zona Sul, que é portanto a linha mais directa para Chicago...



A Nossa Travessa disse...

Caríssimo Costamigo (Seixas...)
Em tempos que já lá vão, assisti em Loa Angeles ao debate ente o Dukakis e o Bush (pai) que este, muito atrás nas sondagens, ganhou por defender o uso duma arma para dar um tiro num fulano que estava a tentar violar a sua, dele candidato, mulher. Era uma hipótese/pergunta posta pelo moderador à qual o descendente de gregos anti-armas defendeu o recurso à justiça. Aí perdeu a vantagem e perdeu a eleição para George Bush.

Vem aí o «ligeiramente atingido numa orelha» ex-futuro-presidente dos EUA. Concordo com a leitura de que o «atentado» o ajudo - e de que maneira - a confirmar o que já era previsível. Aos abrigos!!!!!!
Abração
Henrique

manuel campos disse...


1. É sempre interessante e inspirador ir assistindo ao nascimento de teorias da conspiração.
Neste caso particular ainda mais pois parece-me evidente que Trump ganharia muito mais admiradores se viesse a ser provado que se deixou ficar ali quietinho à espera das balas disparadas por um atirador qualquer sem experiência a 120 metros de distância, essa atitude nem a lenda de Guilherme Tell deixaria intacta.

Compete aos Serviços Secretos a protecção de ex-presidentes:
“The Former Presidents Protection Act of 2012, reverses a previous law that limited Secret Service protection for former presidents and their families to 10 years if they served after 1997. Former President George W. Bush and future former presidents will receive Secret Service protection for the rest of their lives.”

Não deixa de ser estranho que aqueles que acham que foi tudo uma montagem não se interroguem sobre as muitas falhas de segurança, já que estamos nessa seria uma não menos boa teoria da conspiração.
Deixa-se o rapaz chegar àquela distância com uma espingarda debaixo do braço, colocar-se muito comodamente num telhado isolado, não se liga a testemunhas que alertaram do facto.
Aposto 1 contra 100 que se fosse num concerto da Taylor Swift aquilo estava cheio de drones a vigiar todos os cantinhos.

2. É uma questão muito relevante e que “acordou” aquela gente toda pois já foram anunciadas medidas que visam apertar muito as medidas de segurança daqui para a frente, esta sim uma mudança de fundo na campanha eleitoral (e em todas as que tiverem lugar a partir daqui, o que vai decerto condicionar bastante o estilo muito próprio dos comícios por aquelas bandas).

3. Kiev já devia andar a fazer contas à vida há bastante tempo.
A Europa tornou-se o protótipo do herói que é o que foge para a frente.

4. O Partido Democrata está a seguir o que eu chamo a “técnica Martinez”, se o substituímos agora somos acusados de ter perdido por lá pormos alguém à pressa e que não estava á altura, se não o substituímos temos sempre a desculpa de que não podíamos arriscar não haver ninguém à altura.

5. Uma observação preciosa essa que aqui nos traz.
Mas a História tem vários destes casos, como não os vivemos nem sempre os interiorizamos, acho mesmo que o viver este me vai levar a passar a ler alguns factos históricos à luz desta sua observação.

6. A Europa teria sempre que começar a interiorizar que um dia os EUA iriam repensar isto tudo face ao aglomerar de problemas internos e externos em áreas que lhes são mais sensíveis e que contam muito mais para o dia-a-dia das pessoas que lá vivem.

Isto ainda está numa espécie de “stand-by” dado que cerca de 60% dos democratas contra 15% dos republicanos acham que na ajuda à Ucrânia se está ainda num “Not enough”.
A situação é mais equilibrada no que respeita à ajuda a Israel, ainda que os apoiantes republicanos sejam mais que os democratas, o que tem a lógica possível a partir do momento que se conhecem os interesses instalados na comunidade.

Agora que a Europa chegou a um estado complicado no que se refere às potencialidades das suas forças armadas, lá isso chegou e não vai sair disso a tempo de nada, daí o risco de aventureirismos.
E para voltar onde estava só há duas hipóteses, aumento de impostos ou cortes nas despesas públicas, deixo a escolha a quem acredita no Pai Natal.

7. Biden e não só.
Já aqui escrevi que António Costa é uma mais valia para toda a UE no lugar onde está agora, foi o único político europeu cá deste lado com bom senso na análise do que qualquer precipitação poderia resultar de catastrófico para todos nós que não estamos numa de “depois de mim o dilúvio”, os que temos filhos, netos, sobrinhos que vão aí ficar e não somos uns tristes à espera do fim.

Anónimo disse...

1- Teorias da conspiração sempre as houve e faz parte do perscrutar do pensamento humano, no princípio com a mitologia de Hermes, esotéricos e alquimistas e como se faz, hoje em dia, nos laboratórios de investigação científica.
E vai continuar a haver dado ser inerente ao humano.

2. Dado o "estado a que chegámos" como diria o Capitão Salgueiro Maia, o mais provável é que depois das guerras "coloniais" no activo pelo mundo, no centro do império, como em Roma, o Cesarismo não pare de lutar pela vitória no Capitólio. Hoje o Rubicão está em tomar e subverter a democracia por dentro não pelas armas mas pela subversão e tomada dos três vectores de poder da democracia.
Trump é um guerreiro contra a democracia que quer ser um autocrata à semelhança de Putin, Xi Ping, UN, aiatolas, etc., particularmente, porque são os seus exemplos de poder sem sujeições parlamentares ou jurídicas, o poder absoluto de um homem só como quer e apenas como sabe e é capaz de governar. Também a situação global, tal como o era na Roma de Júlio César, é propícia ao cesarismo e ao surgimento de "Augustos" imperiais.
Brutus, o filho adotivo lutou ingloriamente pela democracia republicana e, presentemente, também já pouco resta que a defenda dos seus predadores. A frase-slogan adotada por cá "À justiça o que é da justiça e à política o que é da política", já denota claramente a mensagem divina dada a Pilatos; "A César o que é de César, a Deus o que é de Dues" que comporta uma aceitação clara de dois poderes; a divina e a temporal que governa em nome da divina, como, hoje em dia, se passa nas teocracias e ditaduras ditas "populares".

3. Ainda quem terá mais para pensar que Kiev são as democracias ocidentais que, ou desistem e são reduzidas às "novas colónias" do mundo de césares ou terão de carregar às costas a Ucrânia a sós e, para alem disso, enfrentar a brutalidade política de Trump se bandear com os piores regimes anti-democráticos do mundo.

4. Não será assim tanto automaticamente. Biden, os democratas, deverão manter-se ativos e lutadores pela república democrática sem tréguas ao cesarismo carnívero de Trump. Os americanos estão divididos e, tal como aconteceu em França, os amigos da república dos pais fundadores podem muito bem unir-se em massa e derrotar o cesarismo bronco.

5. Este atentado marca a data que pode ser esse tal ponto de inversão da curva ascendente, atualmente em patamar, da democracia americana mas, não é o seu início histórico. Este teve lugar com o incitamento de Trump e invasão do Capitólio pela turba de bárbaros políticos e religiosos pró-Trump.
A ruína, provável, da democracia americana não é o tiro do atentado a Trump mas, sim, o atentado do trumpismo à democracia americana.

6 e 7. O comentário a estas questões, penso, estão implicitas nos comentários às questões anteriores.

jose neves

C.Falcão disse...

A América confrontada com os seus velhos demónios !
C. Falcão vu

Erk disse...

Volto a apontar a alegria que os esquerdalhas locais demonstram pela vitória do Trump.

E aqui nem tomo em conta a hipocrisia que demonstram no alívio congratulatório por não ter havido perda de vidas, além da do atirador.

Sabemos bem que não se importariam nada que tal acontecesse por cá ao líder da extrema direita.

Ou a hipocrisia que demonstram quando pretendem terminar a defesa da Ucrânia do próprio território para poupar vidas ucranianas.

Coisas de ideologias falidas há mais de um século...

rui esteves disse...

O texto que escrevi às 10:37 aparece corrompido e sem qualquer sentido.
Basta manifestar a intenção de cancelar o comentário, e o que me aparece é o meu texto original. O que se passa com a moderação dos comentários? Está entregue a um processador de IA?
Só a título de experiência, volto a publicar o meu texto.
Vejamos como vai aparecer publicado.

"Um atirador que está num telhado fora do espaço onde decorria o comício não deve ser fácil de localizar. A seguir a um atentado, há sempre a natural barafunda a tentar proteger o alvo do atirador. Mas neste caso, houve aparentemente tempo não só para proteger e retirar dali o candidato Donaldim, como logo a seguir localizaram o atirador e abateram-no. Abatido para que não falasse. Para mim, o atirador era um pobre diabo com boa pontaria que nem chegou a gastar o pagamento pelo trabalho. Quanto ao resultado desta encenação, sim - o próximo presidente dos EUA vai ser o alucinado Donaldim."

Anónimo disse...

A coisa é simples: as eleições na "América" (o que tanta gente gosta de dizer "América" quando devia dizer "Estados Unidos da América") decidem-se a tiro...
M

Carlos Antunes disse...

Da racionalidade e da irracionalidade política: desde 2016 (eleição de Trump) que a política americana deixou de ter qualquer perspectiva de uma política racional!
Com este episódio (do atentado ? a Trump) a possibilidade de alguma racionalidade nas próximas eleições americanas fica definitivamente afastada.

Anónimo disse...

Senhor embaixador
Num divertido texto de A Passo de Caranguejo, Umberto Eco confessa, finalmente, que tem o dom da "pós-monição" e depois atreve-se, muito atrevidamente (como se vê...), a tentar alguma "premonições" que ele considera altamente "arriscadas"; a primeira dessas premonições (ele escreveu aquilo em 2006, mas poderia ter sido em 1906 ou em 2089) aí vai:"daqui a um século um presidente dos Estados Unidos vai ser alvo de um atentado"; e seguem-se outras arrasadíssimas premonições tais como a que prevê que um avião de uma grande companhia aérea se vai despenhar...
Já poucas coisas nos surpreendem, sobretudo na política. A mim, para me surpreender seria preciso que a presidente de um qualquer país se candidatassem, por exemplo, um velho que já não as bate todas e um tresloucado que se gaba de não pagar impostos...
MB

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