Ontem, na reunião periódica na empresa, onde, nos últimos sete anos, o fui encontrando, com regularidade, não o vi. Estava doente, disseram. Por detrás do olhar de quem o disse, pareceu-me descortinar alguma coisa mais.
Era um homem aproximadamente da minha idade. Especialista na área técnica em que, desde há décadas, colaborava com a empresa, foi essencial para me ajudar a entrar nas minhas novas funções. Caloroso, bem disposto e com um permanente sorriso, retribuí-lhe um dia toda a sua simpatia convidando-o para um almoço, que acabou por ser muito divertido, num restaurante que ele próprio me revelou, "O Carteiro".
Fomos íntimos? Longe disso! Tratávamo-nos pelo nome próprio, trocávamos mensagens, em especial durante a pandemia, que acabou por atingi-lo. Falávamos, às vezes, pelo telefone. Uma vez ligou-me de Moçambique, outras do Alentejo, onde gostava de sossegar a vida. Sempre bem disposto, sempre positivo.
Ontem, ao final da manhã, saí daquela reunião com um mau pressentimento. Mas, disse para mim, eu é que sou um incurável sismático - como o meu pai designava aqueles que ficam a remoer tudo na negativa.
À noite, chegou-me a notícia. O Carlos Bernardes tinha morrido. O velório foi hoje, o funeral será amanhã.
É assim a vida, é assim a morte.
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