Tinha sobre ela, na minha memória, aliás não tão distante como isso, "mixed feelings". Convivemos por muitos e bons anos. Da maioria das vezes, guardo uma sua imagem de suavidade mas, em outras ocasiões, recordo que chegava a "arranhar", se acaso eu a não tratava bem. Devo reconhecer, contudo, que a culpa, nesses casos, foi sempre da minha forma desajeitada de lidar com ela.
Descobrir-lhe o "ponto" (deixem-se de ideias tolas!) foi sempre essencial, para garantir que tudo ia passar-se bem, sem recuos nem, de forma humilhante, correr o risco de ser visto a "ir abaixo". Quando, muitas vezes, me dava para ter pressa, ela acabava por ter uma imensa canseira, entrando num desatino. Mas, pensando bem, esse era um tempo que até tinha a sua graça, que era excitante, que transmitia uma sensação diferente. Ironicamente, eu saía dessas ocasiões quase a ignorá-la.
Com as modernices, já quase me tinha esquecido dela. Voltei a encontrá-la hoje, ao final da manhã, na estação de Campanhã, quando a greve da CP me cortou as vazas e me obrigou a alugar um carro para regressar a casa. Carro esse que não tinha velocidades automáticas. Lá vim, pelo caminho, por todas essas demasiadas horas, a usar a velha embraiagem, que, não obstante continuar a levar com os pés, está sempre ali para as curvas, porque, nas retas, todos os santos descansam. Despedi-me dela na Avis, ao fim da tarde.
13 comentários:
Tenho dos dois tipos e com utilizações em circunstancias diferentes, por causa do numero de lugares (4 ou 5) e/ou da facilidade de acesso ao interior (2 versus 4 portas).
O problema é quando, por vezes, preciso trocar no mesmo dia de um para o outro.
É que se fôr no sentido do automático para o manual é certo e sabido que, uma ou outra vez, lá travo sem ter carregado na embraiagem.
E se fôr na ordem inversa lá levo a mão à manete das mudanças quando os da frente começam a travar.
Uma trabalheira que arranjei a mim próprio, bem feito para não me armar em bom.
Seja como fôr, o manual é quase só para auto-estrada é igual, é tudo em 5ª ou 6ª.
E não há nada que chegue ao automatico em cidade, trava/acelera e não se rala com mais nada senão o que fazer ao nervoso miudinho da perna esquerda.
Presumo que seja este o maior risco do compromisso de escrever todos os dias no blogue. Um conto com uma personagem como a embraiagem do carro! Estou a brincar como é óbvio. Mais uma antiguidade que todos deixaremos para trás mais cedo ou mais tarde. E basta lembrar-me da minha primeira experiencia com carros elecricos, com os carrinhos de choque como julgo a maioria, para perceber que não faz falta nenhuma. A nostalgia é outro departamento. Excepto para os "puristas" que também gostam de chamar frigorificos aos carros electricos actuais que já são um imperativo de sobrevivencia da especie! Ou não? E a prova que a escrita como quase tudo na vida e independentemente do tipo, também se desenvolve. Excelente. 5 Estrelas. Bravo!
Independentemente de outras dúvidas razoaveis como o fabrico das baterias actuais ou o combustível daqui a 50 anos! Embora para ser franco as minhas dúvidas prendem-se mais com a questão que nunca vi respondida sobre como seria se nunca tivéssemos saltado para o consumismo selvagem actual, se teríamos mesmo chegado aqui ou pelo menos tão rápido? Porque a multiplicação da população mundial também corre paralela. E ocorrem-me sempre pensamentos muito simples como as gerações anteriores que passavam os Invernos com um sobretudo e uma gabardina e as mesmas peças durante anos - e o têxtil é mesmo um dos maiores cancros ambientais - como aliás o automóvel que hoje não dura mais que um par de anos?
Adorei mas tive que ler duas vezes :)
É de facto uma maçada. Dou-lhe um conselho sr.Embaixador se houver uma próxima, alugue um carro com motorista e sente-se por detrás do lugar do condutor para nem sequer haver "troca de olhares".;)
Que raio de post, que nem percebi do que tratava. Só agora com o comentário de Paulo Guerra é que percebi que estava a falar de embraiagem.
Se o comboio falhou, não teria sido mais normal procurar vir de autocarro? Que eu saiba (posso saber mal), atualmente a estação principal de autocarros do Porto fica em Campanhã, ao lado da estação de comboios. Se o comboio falha, uma pessoa vai para a estação de autocarros e tem lá um autocarro para Lisboa de meia em meia hora. Não é?
Esqueci-me de o cumprimentar pela qualidade da escrita deste post, tanto com a ideia como com o desenvolvimento que dela fez.
Estamos a precisar de alguma verve imaginativa e bem disposta por aqui, dado que a verve nem sempre o é, ao contrário do que muitos julgam.
Há demasiada gente à face da terra a pensar que pensamentos leves só podem vir de cabeças naquele momento despreocupadas, quando o que acontece é que constituem a maior parte das vezes uma forma de fugirmos ao que no instante nos atormenta.
Mas isso não vale a pena explicar, poucos o entendem.
Muito giro!
Já comigo é ao contrário, tudo manual.
Muito gosto da minha rica embraiagem e de passar mudanças, aliás no verão passado conduzi uma 4L e foi dos maiores prazeres tive ao volante até hoje, o único defeito é só ter 4 velocidades.
O Luís Lavoura é o máximo! Eu também me meteria no "Expresso", mas não se esqueça que o Sr. Embaixador talvez ainda não se tenha recomposto do rally que foi uma viagem, aqui relatada, num "Expresso Pirata" do Cabanelas, mesmo passados mais de 40 anos (brincadeira).
Francisco Sousa Rodrigues
Uma 4L de que ano, posso saber?
É que há 30/40 anos eram os carros "fabris" do dia-a-dia de todas as empresas industriais por onde andei.
Aproveito para uma pequena história, tirando a história da Livraria Barata há dias deixei-me, como a seu tempo comentei, de links e de grandes histórias.
Cá tenho as minhas razões, podem não ser grande coisa, mas são as minhas.
Mas aquela do "cunho pessoal" nos meus comentários, que um dia me "dedicou", caíu-me fundo e aqui vai.
Comprei o primeiro carro automático da minha vida há 6 anos, já com 50 anos de carta.
Não digo a marca porque parece mal mas, como sabe destas coisas, chegará lá, é um W209 (K), na altura com 15 anos e 54 mil kms e agora com 21 anos e 69 mil kms (o último ano pouco andou porque eu pouco andei e usei quase só o mais recente, que é manual, para atravessar o caos de Lisboa duas vezes por dia).
Sempre quis ter aquele modelo (e não o anterior) foi uma oportunidade de ouro, ainda lhe falta muito tempo para ser um clássico (só aos 30 anos), há um neto que gosta dessas coisas, talvez sobre para ele.
Carros automáticos nem pensar aqui em casa, minha mulher matava-me.
É que ela há 50 anos entrava aí nuns rallies (não no de Portugal, não exageremos) e chegou a correr - por brincadeira - num Formula 1 no circuito de Interlagos (em São Paulo).
Excelente condutora, grande acelera, nem uma única batidela desde sempre, claro que nem pensar em carros sem embraiagem nem uma manete de mudanças como deve ser, aquilo do "D, N, R, P" não entrava cá.
Mas com a idade e alguma mobilidade que se vai sempre perdendo, lá reconhece hoje que a caixa automática é bem cómoda na cidade.
Manuel Campos,
É de 1989 e foi comprada pelo meu pai no ano passado, era de um amigo penso que da área da agricultura, foi o único dono e tem poucos kms.
O meu pai apanhou com as vicissitudes dos filtros de partículas para o casa-trabalho-casa (cerca de 15 km para cada lado) e aproveitou a oportunidade para se aviar com um carro para as voltas quotidianas. A graça é que ele de vez em quando dizia que qualquer dia comprava uma 4L, agora já quer também um Renault 5 (foi o modelo 2.º carro dele, comprado em 1975, o primeiro foi um Fiat 128 em 1971, quando tirou a carta aos 21 como era de lei)
Bem bonito, o W209, da marca com o mesmo nome de uma moça de apelido Jellinek. Tenho um primo por afinidade que tem 4 clássicos da mesma marca.
Pois, os rallies amadores... Fazem muito parte também da juventude da geração dos meus pais e tios, no eixo Alenquer-Torres Vedras era uma loucura.
Francisco de Sousa Rodrigues
Os filtros de partículas quando chateiam, chateiam mesmo.
E percursos diários e pequenos ainda pior, é quase uma questão de sorte ou azar não darem chatices.
Andei com um Renault 5 no princípio dos anos 80 no dia-a-dia, bem fácil de conduzir e manobrar.
Os motores Renault sempre foram para mim do melhor que há, vêm-me as pessoas com a conversa dos isto e aquilo de há 30 anos que ainda andam por aí e que Renault já não se vê e eu respondo sempre o mesmo: se não andam por aí não é por causa do motor, é por causa da chapa dos carros franceses, que sempre foi o que foi.
Hoje em dia os Dacia com motor Renault são a maior frota dos táxis em Lisboa.
Sempre que ando num pergunto a quilometragem, por curiosidade, quase todos entre os 300 e os 400 mil kms dentro da cidade e sem problemas do motor, os materiais dos interiores é que parecem ser o grande problema.
A moça que lhe deu o nome, exactamente.
Também conheço quem tenha alguns (para além de muito mais dinheiro que eu, claro).
Estávamos ali a olhar para ele num stand, desconfiados com os poucos quilómetros, telefonámos para alguém conhecido na marca, diz-nos que nem precisava de consultar o ficheiro, era "bicho" que conhecia muito bem pois tinha sido sempre assistido lá e não faltava um ano.
O livro de revisões lá as tinha até certo momento, mas aquela marca a certa altura deixou de as pôr no livro e só estão registadas informáticamente, pode-se pedir os extractos mas na altura não estavam lá.
Pois não é para me gabar mas é muito bonito, sempre de garagem, pintura de origem sem qualquer falha, estofos de pele bege, com o tablier e os frisos interiores em madeira.
Até já me estou a babar de vaidade.
Manuel Campos,
A chapa da Renault até certa altura era mesmo péssima, sem dúvida, também tivemos um R5 (1981) que estava com a chapa bem corroída, mas de motor estava do melhor, ainda foi vendido por 15 contos (em 1999). Foi partir de meados da década de 80 que começou a melhorar, não por acaso a quantidade de Clios da série I que por aí andam.
A Dacia está mesmo a dominar as frotas de Táxi, carros com muito bom custo benefício.
O seu W109 é um belo "espada".
Francisco Sousa Rodrigues
Muito obrigado pelo "belo espada"!
E como sabe, sendo por fora e de motor os dois iguais, estar dentro de um "Avantgarde" ou de um "Elegance" tem as suas diferenças.
Pelo que me disseram na marca este tinha sido uma "encomenda", pelo que não tem tecto de abrir (felizmente, bem dispenso), trazia telefone "fixo" (que mandei desmontar, claro), tem uma pequena televisão (que nem sei se funciona) e GPS de CD (que funciona).
Não foi por isso que custou mais que os outros, como sabemos a partir de certa idade dos carros (e não é muita) só conta a data da matricula e, vá lá, em parte os quilómetros.
De qualquer modo em 6 anos não desvalorizou nada em relação ao que dei por ele, provavelmente estava no ponto baixo da inversão da curva do valor, aquele que é a altura ideal para comprar um carro deste tipo.
Como contei sempre quis o W209.
Um grande amigo meu já falecido tinha um e, a certa altura, anunciou aos amigos que o ía vender e que estava "reservado" para mim, assim eu o quisesse.
Logo me caíram vários deles em cima, que eu tinha que aproveitar.
E eu a deitar bolas fora com desculpas manhosíssimas.
Um dos grandes argumentos era sempre "este sabes de quem vem".
E eu sem poder responder "por isso mesmo é que eu não o compro".
Um grande Amigo, dos 3 ou 4 mais Amigos que alguma vez se pode ter na vida.
Mas guiava tão mal que até doía, pobre carro as muitas vezes que andei nele.
Claro que nunca tive coragem de comprar o meu antes de ele falecer.
Lembra muito bem os Clio.
Num táxi Dacia em que andei, o condutor contou que o carro tinha 350 mil kms de Lisboa sem uma única avaria mas que, em compensação, logo no 1º dia em que o usou tinha ido para o Aeroporto e o 1º turista que lá entrou era bastante encorpado, ao endireitar-se no banco, pousou o cotovelo ali numa consola central qualquer que se partiu logo.
Ele riu-se muito a lembrar aquilo, portanto também me pude rir.
Manuel Campos, isto agora valorizou tudo, não vejo carro nenhum do modelo do meu, que comprei em 2016 (ano 2000), mais barato, aliás, pelo contrário. E todos com muito mais quilómetros que o meu.
Ui, pois, eu também há carros que tenho a certeza que não comprarei, conhecendo as (malas)artes ao volante dos seus donos.
Francisco Sousa Rodrigues
Os carros em 2ª mão estão muito valorizados, como bem diz, quando as pessoas ouvem dizer que têm que esperar uma ano ou um ano e meio e precisam (ou querem) outro carro, não hesitam, vejo por aí valores que às vezes me deixam banzado de carros com muito uso.
Outro sinal para mim são os stands â beira da estrada, nas zonas mais interiores do país, onde estava um mar de carros agora estão para lá uns restos.
O carro com que ando no dia-a-dia foi comprado naquelas "vendas para amigos" que as grandes marcas faziam há meia dúzia de anos, ou para se desfazerem de stocks ou para aumentarem quotas de mercado, davam umas voltas e chamavam-lhes carros de serviço.
O meu tinha 2 meses, 1500 kms, veio com 15% de desconto (que era algum dinheiro neste caso) e ainda me valorizaram o que eu dei para a troca em mais 10% porque fiz finca-pé e disse que ía a outro sítio.
Visto à luz de hoje é notável porque, dada a tal valorização dos carros em 2ª mão, recebo mensagens da marca a proporem-me retomá-lo, sabem que mesmo com um valor justo que me ofereçam conseguem um lucro imediato (tem 70 mil kms).
Mais curioso ainda é que tenho seguro de danos próprios neste, agora com quase 7 anos, todos os anos o valor de perda total era ajustado para baixo segundo as tabelas que existem para o efeito, este ano não só não desceu como até subiu uns euritos(!).
Um sítio bem concebido para seguir estas evoluções é o "volantesic.pt", aquilo é muito organizado mesmo que por vezes tenhamos dúvidas sobre alguns critérios.
Mas decerto que o meu amigo o conhece.
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