quarta-feira, fevereiro 22, 2023

O regresso de Bond


(Artigo publicado na revista "Visão")


O regresso de Bond


Eles aí estão, pelo mundo, de volta à ribalta. Nos jornais, na política, na academia, nas fardas. Os viúvos da Guerra Fria. 

Desde o início dos anos 90, quando a implosão da União Soviética tinha garantido uma vitória ao ocidente, percebia-se já a sua inquietação. Tinham tido um êxito, claro, mas, às vezes, em tom de desabafo, deixavam cair: “Nesses outros tempos, as coisas eram bem mais claras, éramos nós e eles”. E o facto de “eles” se terem só formalmente transmutado, de ter passado a ser necessário fingir que se acreditava na sua conversão, criava um ambiente estranho, um faz-de-conta em que passaram a ser obrigados a viver. 

Por uma trintena de anos, esses saudosos das sombras de um mundo a preto e branco, sentiram-se desconfortáveis, por terem sido forçados a sair da velha e cómoda trincheira maniqueísta. 

Tal como James Bond tinha abandonado a caricatura vinda do frio e derivara para novos alvos, também eles se dedicavam a genéricos estratégicos, aos atores não-estatais, como o terrorismo de várias matizes, ou os jihadistas, tudo imerso numa pouco subliminar islamofobia, sucedânea do anticomunismo do antanho.

Agora, o velho Bond já pode regressar. O que se passou no último ano trouxe esse pessoal de volta aos velhos tempos, ao faroeste da vida internacional, à guerra dos bons contra os maus, mesmo que se sintam obrigados a conceder, em privado, referindo-se a alguns incómodos companheiros de jornada, que surgem no apoio à causa da conjuntura, aquilo que um dia Roosevelt disse de Somoza: “He is a son of a bitch, but he is our son of a bitch”. Direitos humanos, liberdade partidária, independência dos tribunais, liberdade dos media - enfim, passam a ser coisas que outros valores mais altos obrigam a pôr entre parêntesis.

Devemos ficar inquietos quando, na partilha de solidariedade com causas anunciadas como essenciais, descobrimos, ao nosso lado, gente que, em tudo resto, não partilha o nosso quadro de valores. Quando, sob o alibi da “force majeure”, nos encontramos de mão na mão com pessoal nada estimável, é muito mau sinal. Ou melhor, no plano internacional, é sinal de que entrámos, alguns felizes, outros descontentes, muitos hipócritas, outros sem mais soluções, na lógica de uma inelutável confrontação. Que é sempre a soleira de uma possível guerra a sério, com tudo ao molho e fé no nuclear.


Agradecer a Putin

Vladimir Putin é o outro lado da moeda dos “cold warriors” de extração ocidental.A Rússia de Gorbachev e Yeltsin, de que o ocidente morre de saudades, acabou por decantar um “apparatchik” que, nem por um segundo, aceitou de bom grado o fim da URSS, que o mesmo é dizer, o saldo da Guerra Fria que essa mesma URSS, goste ela ou não de admitir, perdeu. E, quando se perde uma guerra, há consequências a suportar.

Contudo, Putin sabia que, nessa Rússia humilhada, não estava sozinho, muito longe disso. E, sem surpresas mas com inesperada clareza, deu-nos a conhecer a doutrina subjacente à sua leitura de uma espécie de hierarquia das nacionalidades que a União Soviética federara. As intervenções públicas com que o senhor de Moscovo nos ilustrou, ao longo do ano desta guerra, foram, nesse aspeto, de extrema utilidade didática.

É certo que a Rússia fora acossada pelo ocidente - chamando as coisas pelos nomes, pelos Estados Unidos - com o assumido objetivo de provocar o seu enfraquecimento, mesmo a sua anulação como potencial ameaça. Mas foi ele próprio, Putin, com o seu mutante e cada vez mais preocupante comportamento, ao longo dos anos, quem gerou o caldo de cultura que adubou essa mesma deriva. 

Aparentemente, a Rússia de hoje não consegue perceber que os governos dos países que engrossaram as fileiras da NATO, que se foram chegando às fronteiras russas, o fizeram porque quiseram, não foram marionetes, agindo sob a pressão de modernas baionetas americanas. Alguns têm ódios recalcados, uma russofobia evidente. Mas têm também fortes razões para estarem inquietos. São cúmplices, dessa forma, do cerco americano à Rússia, do incumprimento da promessa política americana de não alargar a NATO? É óbvio que sim, mas Moscovo tem aqui a paga da sua preocupante deriva autocrática.

Talvez a Rússia possa agora perceber melhor que foi necessário um sismo estratégico para ver duas sólidas democracias, como a Suécia e a Finlândia, que tinham feito da neutralidade o DNA da sua identidade internacional, lançarem-se, por completo, nos braços da aliança militar ocidental. E que foi Putin, sem a menor sombra de dúvida, o detonador desse movimento.

Aqueles que, deste lado do mundo, se sentem agora mais à vontade com a dualidade estratégica que aí está reinstalada, devem assim um agradecimento à ajuda dada por Putin. 

A invasão da Ucrânia e, no topo do bolo, a canhestra integração na Federação dos oblasts onde havia uma apreciável população russa, precedida de uns ridículos referendos, revela que Moscovo vive numa espécie de “second life” em matéria de direito internacional, de que já tinha dado mostras na questão da Abcásia e da Ossétia do Sul. 

Por muitas voltas que as coisas possam dar, a Rússia pode esperar sentada se acaso tem a mínima esperança de que esta sua “nova” ordem internacional venha a prevalecer.


A China a bordo

A entrada das tropas russas na Ucrânia apanhou a China desprevenida? Talvez nunca venhamos a saber o teor da conversa entre Xi e Putin, nas vésperas da olimpíada de Inverno.

O que a China sabia, o que todos sabíamos, é que o mal-estar dos EUA em face da sua afirmação internacional caminhava num crescendo. E Pequim não ajudou: por exemplo, não se coibiu de alimentar a corda retórica, na tensão com Taiwan, porque lhe era essencial em ano de congresso do partido. 

Os últimos anos pareciam apontar, contudo, para o interesse chinês de consolidar o seu projeto de financiamento de infra-estruturas, a Nova Rota da Seda, um plano que, tudo assim o indicava, seria favorecido por um mundo em relativa paz.

O ciclo de distração americana no Médio Oriente - inaugurado com o 11 de setembro, prolongado com a segunda guerra no Iraque e culminado na saída do Afeganistão - tinha dado a Pequim, entretanto, duas décadas de simpática desatenção por parte de Washington. Isso tinha acabado e era óbvio que os EUA iriam agora mobilizar os seus “compagnons de route” asiáticos para um cerco de suspeição face a Pequim.

O que não estava nas cartas é que a China se veria obrigada, na sequência da reação ocidental à entrada da Rússia na Ucrânia, a coreografar um relativo alinhamento com Moscovo. Mas era impossível à China furtar-se a ele, mesmo se o “timing” para este inevitável agravamento da relação com o ocidente não fosse, como não era, o seu.

Agora, a polarização com Washington é inevitável, restando a Pequim tentar encontrar prosélitos em todos os continentes, oferecendo-lhes razões e dinheiro para não se deixarem seduzir pelo poder americano. Enfim, uma espécie de “déjà vu” face ao período posterior à Segunda Guerra. 


Ah! E há a Europa!

O parceiro dos americanos na nova Guerra Fria é, naturalmente, a Europa. 

Nesta crise, ficaram provadas três coisas. 

A primeira é que os EUA continuam a ser um poder europeu insubstituível, único verdadeiro provedor de resposta a ameaças da Rússia, com o Reino Unido à ilharga e os restantes a velocidades e vontades diversas. 

A segunda é que a Europa de Bruxelas, depois do subliminar golpe de Estado institucional em que a Comissão subalternizou um aturdido Conselho, pela fragilidade conjuntural do eixo franco-alemão, quase pede meças à retórica jingoista da NATO, mobilizada pelo medo e pela subordinação ao clamor mediático, elevado à dignidade de legitimidade democrática. 

A terceira é que, por muito que o velho continente continue a agitar-se em torno da ideia de obter uma autonomia estratégica, em matéria de segurança e defesa, esta guerra terá provado, pelo papel uma vez mais desempenhado pelos EUA no continente, que embora essa fosse porventura uma bela ideia, pode continuar a ser só isso.


Agora, a guerra

Os Estados Unidos, o dono do jogo, que até agora tem providenciado a esmagadora maioria do armamento dado à Ucrânia, mostra vontade de continuar a favorecer a resistência desta face à agressão russa, não forçando Kiev a qualquer cedência territorial. Com ou sem reserva mental por parte de alguns Estados, a Europa segue Washington, em ordem unida. Os EUA terão decidido que vale a pena correr o risco de contrariar a bravata russa de que pode vir a recorrer às armas nucleares. Só resta esperar, para a segurança coletiva, que as contas lhes (nos) não saiam furadas.

13 comentários:

Anónimo disse...

Sou um bocado ignorante na matéria, mas gostava que alguém me explicasse qual é o objectivo da NATO depois da dissolução do Pacto de Varsóvia. Agradecia.
E faço uma pergunta: se a NATO se tivesse dissolvido, ou se se recusasse a cercar a Rússia, como estariam as coisas?
A segunda pergunta parece-me de resposta difícil (mesmo impossível) mas gostava de ter opiniões sobre a primeira.
Que acha Senhor Embaixador?
Obrigado
Luís M.

Joaquim de Freitas disse...

Excelente documento, Senhor Embaixador. A sua última frase diz tudo : “Os EUA terão decidido que vale a pena correr o risco de contrariar a bravata russa de que pode vir a recorrer às armas nucleares. Só resta esperar, para a segurança coletiva, que as contas lhes (nos) não saiam furadas.”

É verdade que a militarização é endémica no mundo capitalista. Ben Wallace, secretário de 'defesa' da Grã-Bretanha, anunciou que a Grã-Bretanha vai dobrar as suas despesas militares para £ 100 bilhões até 2030. A Alemanha prometeu dobrar de US$ 52 bilhões para US$ 104 bilhões. Macron anunciou que a França aumentaria os gastos militares em 40%, para US$ 447 bilhões, o que significa que até 2030 o orçamento militar da França terá dobrado desde que ele assumiu o poder em 2017.

Em Dezembro de 2022, o Japão anunciou a sua intenção de dobrar os gastos militares para 2%. PIB. nos próximos cinco anos, contrariando o seu compromisso pós-guerra de manter os gastos em 1% do PIB. O aumento tornará o Japão o terceiro maior gastador de defesa do mundo, depois dos Estados Unidos e da China.

Essa militarização em massa vai numa direcção : A Rússia e a China são declaradas inimigas. Os seus recursos e os seus mercados são invejados. A longevidade do capitalismo ocidental pode agora depender da reabertura desses mercados e mão-de-obra ao capital monopolista dos Estados Unidos e da Europa. A alternativa tácita é apropriar-se dos mercados uns dos outros. A história nos ensina que uma corrida armamentista global termina numa guerra global.

C’est fou ! Como dizia o outro! Mesmo sem uma troca de mísseis nucleares, as modernas ogivas intercontinentais “convencionais” podem destruir cidades. Massacres de milhões de civis em números que eclipsarão os mais de 70 milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial, assim como esses números eclipsaram o número de mortos na "guerra para acabar com todas as guerras" de 1914-18.

Os enormes e crescentes arsenais dos Estados Unidos e dos seus aliados são obrigados a serem usados. Fazem parte das estratégias ofensivas, como estiveram na Coreia e no Vietname, na Jugoslávia e na Líbia, no Iraque e no Afeganistão.

O mesmo vale para a Ucrânia. Em Novembro do ano passado, o general de mais alta patente dos Estados Unidos, General Mark Milley, chefe do Estado-Maior Inter armas, estimou o número de baixas em mais de 200.000, incluindo 40.000 entre os civis. Este número continua a aumentar.

Fui tratado muitas vezes, aqui, neste blogue, de anti americanismo! O Senhor escreve e muito bem, que o parceiro dos americanos na nova Guerra-fria é, naturalmente, a Europa.

A Europa que apoia material e diplomaticamente uma estratégia em que os Estados Unidos explodiram o gasoduto Nordstream 2 e a Ponte da Crimeia, que sabotou as negociações de paz entre Kiev e Moscovo e que favoreceu a continuação do conflito ao custo de centenas de milhares de russos, ucranianos e ucranianos étnicos.

Que os EUA continuam a ser um poder europeu insubstituível, e os mestres do jogo, não há duvida nenhuma. Mas serão os coveiros da Humanidade se ninguém lhes bate o pé.

manuel campos disse...


Um texto excelente na ordenação e explanação dos temas, de forma clara e acessível a quem quer que seja.
Estes textos fazem muita falta porque “se não consegues explicar um assunto de forma simples é porque não o percebeste” e estamos rodeados de textos de quem não percebe os assuntos e que se mantém na ribalta a fingir que os explica.
Cada parágrafo merecendo um comentário próprio seria patetice da minha parte tentar botar opinião sobre todos ou, na alternativa, apenas sobre dois ou três.
Talvez a evolução dos comentários por aqui o propicie.

Assim conto, como acontece muitas vezes, uma pequena história.
No princípio dos anos 80 era eu um muito jovem director de uma empresa de alguma dimensão que se propunha fazer um certo investimento.
A tecnologia era de uma firma alemã ocidental que, nessa altura, aproveitando alguma abertura existente, trabalhava em conjunto com uma firma polaca em algumas “sub-empreitadas”, por assim dizer.
Fui assim várias vezes a Varsóvia nos tempos do senhor Jaruzelski e, para além de uma das vezes ter apanhado 25º negativos (mesmo cheios de roupa parecia que andávamos em cuecas na rua), garanto que só um turista muito turista e pouco sensível se podia sentir feliz ali (eu não era turista).
As histórias que me sucederam dão habitualmente para tardes inteiras de tertúlias com amigos, mas relembro que, no retorno, dentro do aeroporto, me viram 7-sete-7 vezes o passaporte, a sensação de que alguém embirraria algures comigo era muito estranha.

Uma anedota favorita dos polacos, nesses tempos da União Soviética e da China ainda algo revolucionária, era a seguinte e que mostra bem o espirito à época.

O Génio da Lâmpada apareceu a um polaco e disse-lhe que podia pedir três desejos.
E o polaco disse: “Quero que os exércitos da RPC invadam a Polónia”.
O Génio achou estranho mas pronto, perguntou por outro.
E o polaco disse: “Quero que os exércitos da RPC invadam uma 2ª vez a Polónia”.
O Génio, já meio tonto, lá se atreveu a continuar.
E o polaco disse: “Quero que os exércitos da RPC invadam uma 3ª vez a Polónia”.
Aí o Génio lá lhe disse que ía cumprir os pedidos como prometido mas que, ao menos, ele lhe dissesse a razão desta sucessão de estranhíssimos pedidos contra-natura.
E o polaco disse: “É que assim os exércitos da RPC têm que atravessar três vezes a União Soviética”.


Flor disse...

Sr. Embaixador muito obrigada pelo seu post.

Anónimo disse...

«...a Rússia de hoje não consegue perceber que os governos dos países que engrossaram as fileiras da NATO, que se foram chegando às fronteiras russas, o fizeram porque quiseram, não foram marionetes,...»

Vamos supor que assim terá sido. Quer então dizer que a NATO estava obrigada a aceitar a adesão desses países, mesmo sabendo que com isso violava acordos prévios e acossava a Federação Russa?

Resumindo: vexa faz neste texto um belíssimo exercício de equilibrismo, cuidando em cada frase de nunca dar passo fora da "rede" do main stream instalado. Brilhante.

MRocha

Carlos Antunes disse...

Caro Embaixador
Excelente e abrangente análise sobre as relações entre EUA, China, Rússia e Europa.
São análises como esta, que me levam a acompanhar diariamente o seu blog.
Já agora, e se não me leva a mal, gostava de saber a sua opinião sobre a actual deslocação de Joe Biden à Polónia e à cimeira restrita com o grupo de Bucareste que reúne 9 países do leste europeu membros da NATO, ignorando a Alemanha, França e restantes países europeus, Comissão Europeia, etc.
Qual o significado disto para o futuro das relações EUA/Europa, NATO e do apoio à Ucrânia?
Cordiais saudações

Isa disse...

Diz o sr. Costa, no texto acima, que a Rússia, quer queira ou não, perdeu a Guerra Fria !!!
Perfeita mentira, a perdê-la, teria sido a URSS a vencida, sr. Costa !
Que Presidentes da República, Organizações de toda a índole, dos Mares Atlânticos e dos ares siderais, prometessem,assinassem, concordassem e acabassem a fazer o pleno contrário, será conduta de finura diplomática ?
Caro sr- Costa : quem vence pela mentira sabe como acabará.

manuel campos disse...


Muito boa questão levanta aqui o Carlos Antunes.
Talvez encontremos a resposta mais depressa na opinião publica interna nos EUA, como de costume.

Francisco Seixas da Costa disse...

A Isa leu mal: "...o fim da URSS, que o mesmo é dizer, o saldo da Guerra Fria que essa mesma URSS, goste ela ou não de admitir, perdeu."

Paulo Guerra disse...

George Friedman sobre a verdadeira estratégia geopolítica dos EUA fevereiro de 2015:

https://www.youtube.com/watch?v=IuIoB--Al-I vídeo curto

How America Took Out The Nord Stream Pipeline by Simon Hersh:

https://seymourhersh.substack.com/p/how-america-took-out-the-nord-stream

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Muito bem!

Paulo Guerra disse...

Passamos a vida a chamar coisas uns aos outros, especialmente com quem não concordamos. Eu inclusive! Não há nada mais obsceno que a guerra, sobretudo para quem a vive directamente e esta "proxy war" da Ucrania até viu o plano e os objectivos publicados com muita antecedencia por um dos think tanks de defesa mais proeminentes de um dos verdadeiros contendores. Num relatório que eu resumiria: como cutucar o urso para desestabilizar a Rusia e conduzir a um “regime change” também em Moscovo! Desligar a Alemanha e por conseguinte a EU da energia russa porque é preciso não esquecer que a Alemanha além de beneficiar há quase meio século do gás barato russo ainda o revendia com lucro na Europa para beneficio de todos!

Em suma, inviabilizar o grande projecto economico da Euroásia, segundo o próprio Borrell o grande pilar do crescimento da Europa nas ultimas décadas, com estimativas de vir a valer várias vezes o PIB dos EUA. Ungidos que acham que devem controlar cada pedaço de terra e cada gota dos Oceanos do planeta desde a WWII! E como já dizia Brzezinski, quem controla a Euroásia controla o mundo! RAND que entretanto já veio reformular os seus objectivos e aconselhar a Casa Branca a parar com a guerra para bem dos próprios EUA! Infelizmente quem provocou a guerra ainda não está por esse ajuste ou por qualquer solução diplmatica para a paz pelo que se percebe. Muito pelo contrário!

O que também nos diz muito sobre a narrativa da guerra que é imprensa todos os dias na nossa parte do mundo! E este para mim é outro ponto fundamental, senão o mais fundamental depois da destruição de mais um país, do desperdiçar de vidas humanas e do descalabro economico da Europa resultantes desta proxy war. Que também é uma guerra de propaganda, narrativas e de gestão de percepções no “Mundo Livre” como nunca tínhamos vist! Ainda há pouco tempo ouvia numa televisão portuguesa que os EUA nem sabiam onde era a Ucrania antes de 24 de Fevereiro?! Depois de 8 anos com a NATO a treinar tropas na fronteira da Russia, num país que nunca foi da NATO e sob um Tratado de neutralidade! Falo claramente da morte total do jornalismo livre e independente que sustenta as Democracias! Porque não há Democracia sem jornalismo livre e independente no seu papel mais nobre de escrutino de todos os poderes instituidos.

Esta guerra nunca tinha acontecido sem o jornalismo completamente domesticado nos EUA! E o mesmo na Europa onde até grandes cadeias como a BBC que chegaram a produzir bons documentários sobre como os protesto legitimos na Ucrania foram completamente sequestrados ainda pela Admnistração Obama, com alguns protagonistas desprezíveis que transitaram para a Adiministração Biden e o empoderamento de uma das especies europeias mais horrorosas, os nacionalistas ucranianos de Bandera que a CIA nunca parou de financiar desde a WWII! E não era só para mostrar que eles ainda existiam no grande mosaico etnico da Ucrania com toda a certeza! E para quem ao dia de hoje continua a desvalorizar o papel desta gente, à época milícias dos grandes oligarcas ucranianos, mesmo que seja cada vez mais difícil conseguir ver um veiculo militar da Ucrania sem uma Balkenkreuz da Wermacht pintada, lembrar só que também foram grupos muito pequenos mas muito violentos violentos que concretizaram a Revolução Bolchevique na Russia e levaram Hitler ao poder na Alemanha! Obama, o presidente americano prémio nobel só por não se chamar Bush quando ainda nem conhecia todos os cómodos da casa Branca e no fim nem Guantanamo fechou. Só a sua maior promessa eleitoral. O que também diz muito do poder real do Presidente dos EUA nos últimos 30 anos!

Paulo Guerra disse...

Também por isto é que acho piada a outro chavão desta guerra como a guerra mais fácil de evitar de sempre? Porque apesar de verdade, não são todas? As guerras só acontecem porque quem as provoca deseja-as muito! E se preciso for até se dirigem à AG da ONU com as mentiras que todos sabemos num dos episódios mais lamentáveis desta Ordem Mundial baseada nas regras dos EUA! Que mesmo sem Resolução do CS da ONU ou qualquer suporte legal do Direcito internacional que juram seguir, há guerra na mesma. E infelizmente só neste início de seculo o saldo já ultrapassou mais de 1 Milhão de mortos e 50 Milhões de refugiados em meia-dúzia de guerras!

E como economista quando tenho a companhia na análise a este conflito até de um ilustre neoliberal do establisment norte-americano como Jeffery Sachs, que conhece o leste da Europa como poucos desde a dissolução da URSS - que a EU mais uma vez deixou a cargo dos EUA para quem Jeffrey negociou vários planos de ajuda económica e aconselhou inclusive vários governos como na Russia e na Ucrania - só posso estar certo. Em suma, a Russia aguentou 8 anos o que os EUA não aguentavam 8 dias na sua fronteira. Como todos sabemos até pela crise dos misseis de Cuba em 1962! Da qual também só soubemos muito recentemente, por causa de um acordo secreto implantado nos acordos finais, que afinal só visavam o levantamente dos misseis americanos na Turquia! Levantados ao mesmo tempo que os misseis de Cuba! Portanto mais uma vez, como reação. Infelizmente os EUA hoje consideram completamente intoleravel levantar os seus misseis implantados ao longo do mar negro - com as desculpas mais esfarrapadas como o Irão - depois de terem rasgado os Tratados ABM e INF que nos protegiam a todos!

E a EU mais uma vez presta-se ao seu papel de eterna vassalagem a Washington! E aonde é que já vai o tantas vezes proclamado actor global no grande tabuleiro geostratégico mundial… Quando nem uma guerra no nosso Continente consegue impedir! Já defraudar os acordos que assina e ainda vir-se gabar disso mesmo no decurso da guerra que ajudou a provocar… Depois de sob escuta com a cumplicidade da Dinamarca e agora explodidos litralmente no coração da nossa economia com a ajuda da Noruega! Em suma mais uma guerra económica como todas as guerras desde Idade Média, por recursos naturais! E é normal para quem conhece o establishment norte-americano que depois de experimentarem sangrar a Russia durante toda a década de 90 para Londres e NY, que esse impulso surgiria outra vez mais tarde ou mais cedo. Com o catalisador de impedir o acesso a esses mesmos recursos tanto à EU como à China! E a Ucrania, como tantos outros países na história, infelizmente não passa de carne para canhão no meio de mais este horror bélico outra vez no coração da Europa! Com o risco diário de uma esclada ainda muito mais horrifica em termos de disseminação do território europeu e da natureza das armas utilizadas! Tudo porque não conseguimos pacificar a guerra civil na Ucrania desde o golpe de estado americano! Pelo contrário, também ainda a legitimamos na Europa!

Jeffrey Sachs, US Foreign Policy for Russia and China:

https://www.youtube.com/watch?v=0Edra2JH2tY

Genial

Devo dizer que, há uns anos, quando vi publicado este título, passou-me um ligeiro frio pela espinha. O jornalista que o construiu deve ter ...