domingo, fevereiro 26, 2023

A Tourada, em Paris


Entre 25 de fevereiro e 13 de março de 1973, fui de Lisboa a Paris, para "ver" as eleições legislativas francesas desse ano. (Como sei as datas? Tenho todos os meus passaportes, desde a infância, e alguma vantagem os velhos carimbos de fronteira haviam de ter!)

Ia entrar no serviço militar obrigatório no final de março, por um período de tempo que poderia vir a ser superior a três anos, pelo que havia decidido oferecer a mim mesmo umas férias políticas, tiradas no banco onde então trabalhava. Como consegui autorização para sair do país, a semanas da recruta, é um mistério que nunca resolvi.

Paris fervilhava. A Rive Gauche aparecia, a alguns da nossa geração lusitana de então, como o centro de um mundo do futuro, do qual eu tinha a consciência de que me iria afastar, por muito tempo. Mal eu sonhava que, trinta e tal anos depois, nesse tal futuro, iria ser embaixador por lá. Há vidas piores, eu sei. 

Não, eu nunca tinha tido a intenção de dar "o salto", de "fugir à tropa", como muitos faziam. Embora detestasse o regime e a ideia da guerra, não tinha essa vontade ou, para ser simples, não tinha essa coragem. No final de março, lá iria para Mafra. Depois, logo se veria. Fiz sempre a minha vida assim, e não me dei mal.

Os livros eram, já então, a minha principal perdição, com a livraria "La Joie de Lire", a que sempre chamávamos "a Maspero", a surgir como a principal "meca". Lembro-me de que, para um amigo maoísta, futuro familiar, que me acompanhou na viagem, o destino de eleição era a livraria Fenix, no boulevard Sebastopol (que ainda há anos existia, contrariamente à primeira, já nada maoísta e convertida a orientalista). 

Para além dos comícios políticos, na Mutualité e em certos teatros de bairro, por esses dias ia-se obsessivamente, quase por obrigação cultural, a algum cinema que não passava em Portugal, frequentava-se espetáculos musicais ou teatrais, comprava-se o "Le Monde" como uma espécie de ritual vespertino, andava-se pelas universidades da moda, onde se entrava livremente e tínhamos amigos. 

Verdade seja que, para além da muita conversa e do flanar, embora em dias que recordo de algum sol e imenso frio, pouco mais se fazia. Por alguma razão, contudo, os nossos dias estavam sempre bem cheios. 

Na Cité Universitaire, por onde dormi uns dias na "Maison de Norvège", graças ao Joaquim Pais de Brito, cruzávamo-nos com cambodjanos entrapados, por aí recém-envolvidos numa trágica confrontação com mortos e feridos, fruto da deslocalização da sua guerra civil para Paris. O Joaquim, não sei se ele o saberá, mas fica a saber, era invejado por ter então, como namorada, que nos apresentou, uma norueguesa de fazer parar o metro, a Tøve, que, seis anos depois, vim a encontrar dona de uma loja de roupa de luxo em Oslo, quando para ali fui viver. O mundo das mulheres bonitas parece ser mais pequeno.

Uma tarde, na universidade de Vincennes, fui, num grupo, ouvir uma aula de Nicos Poulantzas. O seu "Fascismo e Ditadura" era então uma bíblia laica, muito em voga entre nós. Escutar a vedeta ideológica grega era uma oportunidade única. 

A certa altura, vejo-o interpelado por uma figura de bigode farfalhudo, que lembrava o georgiano "pai dos povos": "Mon cher Nicos, je suis tout à fait en désaccord avec toi..." Alguém, em voz baixa, me esclareceu: o interpelante era português e chamava-se Silva Marques. Não o conhecia, mas logo me recordei da famosa "carta aberta" que, anos antes, esse tal Silva Marques enviara aos militantes do PCP, demitindo-se, com fragor ideológico, do lugar de principal responsável do partido na margem sul. 

Depois da aula, fui-lhe apresentado. Na conversa, perguntei-lhe por um amigo, que presumia comum e que sabia estar por Paris. Grave, retorquiu-me: "Você é da PIDE?". Fiquei indignado com a reação. E disse-lho, logo apoiado por quem mo apresentara. Silva Marques, didático, explicou: "Só os provocadores é que costumam perguntar assim por alguém que está na clandestinidade". Fiquei a saber. Mas imaginava lá eu que o meu amigo andava clandestino por Paris... Anos mais tarde, nos anos 90, ao tempo em que estive no governo, vim a reencontrar Silva Marques, já como deputado do PSD, porque a vida é o que é. Rimo-nos da cena. Já desapareceu.

Num outro dia dessas jornadas de Vincennes, o José Carlos Serras Gago, outro amigo que infelizmente já se foi, e que eu conhecia bem de Lisboa, afastou-se subitamente do nosso grupo, num corredor, dizendo que ia a uma outra aula: "De quem?" perguntei, já que aquilo parecia uma parada de estrelas da cultura. "Bachelard", foi a resposta. E desapareceu, numa esquina. 

Uáu! O Bachelard! O homem da epistemologia, de quem eu tinha folheado alguns textos, nesse tempo em que julgava poder ir a todas. Mas logo me surgiu a dúvida: o Bachelard ainda seria vivo? Não havia ainda o Google à mão para tirar teimas mas, tinha quase a certeza!, o velho Bachelard, com a sua patriarcal barba branca, já deixara este mundo há uns anos. O Serras Gago levara-nos, à certa. 

À saída, confrontei-o: "Com que então, o Bachelard!? Foste à campa?". O Zé Carlos, sereno, esclareceu que ele nunca tinha dito que era "o" Bachelard. Ele fora à aula de filosofia de Suzanne Bachelard, filha do filósofo e, também ela, filósofa (morreu em 2007, diz-me o Google). E, comigo já convencido, partimos, de metro, de volta à Cité universitaire, onde o Zé Carlos pousava as noites na "Maison du Danemark". Ou seria do Líbano? Tenho de perguntar ao Quim Pais de Brito, cujo cartão universitário eu utilizava para ir comer à então melhor cantina universitária de Paris, em Jussieu. Como o Quim era careca e eu tinha um imenso cabelame, embora ambos usássemos bigode, eu colocava o polegar sobre o topo da fotografia de passe dele. E passava...

Sem surpresas, a política portuguesa, mesmo em Paris, continuava a andar à nossa volta, muito para além da campanha eleitoral francesa, que já havia a certeza que a direita ia ganhar. Através do João Fatela e do António Gomes, por indicação do António Massano, fomos uma noite a um certo apartamento a Colombes, conhecer outros "amigos de amigos". À volta de umas garrafas de vinho, falámos, por algumas horas, do Portugal distante de que se haviam exilado e de que sentiam evidentes saudades, pelo meio dos conflitos políticos que os atravessavam, com uma vivacidade crítica que fazia lembrar certos ambientes lisboetas. 

O tempo dessas pessoas, porém, era contado: não havia noitadas, porque a sua vida era muito dura e começavam a trabalhar de madrugada. Sem que isso desse origem a quaisquer perguntas, recordo que havia lá por casa pilhas de documentos da LUAR (Liga de União e de Ação Revolucionária), que então tinha Palma Inácio, preso em Portugal, como figura cimeira. Já me tenho perguntado: que será feito da gente dessa noite de Colombes? Talvez o João Fatela saiba.

Quando regressei, dei-me conta de que, na Lisboa dos nossos cafés, se falava muito no escândalo que tinha sido vitória, no festival português da canção (um evento que então parava Portugal), da "Tourada", cantada por Fernando Tordo e com uma letra hábil de Ary dos Santos, cuja ambiguidade de sentido só foi apercebida mais tarde. 

O festival tinha sido no dia 26 de fevereiro. Em Paris, onde eu então estava, nem nessa nem em qualquer outra noite, ninguém falara disso. A extraordinária "Tourada" ganhou à ditadura, saindo pela porta grande, faz hoje 50 anos, dia por dia. Caramba! E, um ano e tal depois, fizemos a festa!

11 comentários:

manuel campos disse...


Dou-me relativamente bem com alguém desses tempos de Paris, quando por acaso o encontro nas minhas andanças, que em muitos casos coincidem com as dele.
Muito simpático, cordato, extremamente delicado, não me relembra a sua saída do país nessa época nem invoca a sua luta contra a ditadura, que teve alguma e meritória intervenção pública.
No entanto fui percebendo, aqui e ali, que em muitos sítios por onde passava não se coibia de invocar esse passado longe daqui e que isso, não me irritando a mim que conheci bem aqueles tempos (e como essa escolha entre a vontade e a coragem de que fala não tinha nada de fácil, pois não se lhe imaginava quando e como seria o fim), irritava sobremaneira muita gente mais nova, que claramente me dizia já não o poder aturar.
Fui então percebendo que aquele estilo de “o 25 de Abril deve-se a mim e a outros como eu” chocava de frente com o facto da geração dos meus filhos (e até de mais novos que os meus) sentir e saber pelo que os pais e os avós aguentaram e contaram que “o 25 de Abril deve-se é aos que ficaram cá a lutar”.

Nem toda a gente o sabe, mas era frequente alguma oposição ao regime dar a entender que a “geração mais bem preparada de sempre naquela altura” fazer o serviço militar obrigatório, um enorme sacrifício para milhares de entre eles (nós) e famílias (as nossas), poderia contribuir mais decisivamente para um evoluir significativo das mentalidades actuando por dentro das FA e assim alterar o curso dos acontecimentos, do que outros tipos de luta, decerto respeitáveis e importantes mas sem impacto directo e imediato onde mais interessava.
Foi o que sucedeu, senão poderia o caminho ter sido outro, como esteve para ser.

marsupilami disse...

Belas histórias. Gostaria de ter conhecido a Maspero (livraria e editora). Há um filmezinho do Chris Marker sobre François Maspero e seu trabalho editorial e de livreiro (que se encontra no dailymotion). Ele concedeu uma entrevista interessante à Mediapart pouco tempo antes de morrer (que se pode encontrar no youtube ou no dailymotion). Escreveu também um livro semi-autobiográfico muito interessante iintitulado "Les abeilles et la guêpe".




manuel campos disse...


Depois de acabar o SMO, ainda andei (como todos) até aos 35 anos, já nos anos 80, a ter que pedir uma licença militar para saír do país, tinha passado à “reserva” não sei de quê pois a lei dá-lhe agora uns nomes que não sei se eram esses à época.
O papel pedia-se ali na Avenida de Berna onde agora está a Universidade Aberta, não me lembro se era no quartel ou no edifício ao lado, há coisas que a memória nos faz o favor de ir apagando.
Sei que tive a certa altura que fazer uma viagem urgentíssima e disseram-me que o papel demorava X dias, o melhor era eu ír já ao Entroncamento (também não me lembro do nome do Serviço lá), que mo davam na hora.
Lá fui eu a correr ao Entrocamento: era o dia do feriado municipal.
Acho que quando conto isto às gerações que decidem meter-se em aviões com mais facilidade do que se metem em autocarros, ninguém acredita nem me dá o benefício da dúvida, mas a vida sem smartphones nem google era mais animada.

Flor disse...

Gostei imenso de ler estas recordações/memórias. Mas parece que alguma coisa me escapou.... Na fotografia "tirei parecenças" de todos os jovens mas não consegui ver qual era o Sr. Embaixador ;).
Aquela da "Tourada" foi muito bem "encapotada". Sempre ouvi dizer que os pides eram burros, com todo o respeito pelos animais.

Francisco Seixas da Costa disse...

Cara Flor. A imagem é apenas ilustrativa. Apanhei-a na net

Flor disse...

Sr.Embaixador eu estava a brincar mas obrigada por se maçar em responder.

AV disse...

“O mundo das mulheres bonitas parece ser mais pequeno”. Estranha redutora frase.

Paulo Guerra disse...

Post de um grande humanismo! Na minha opinião no auge do progresso civilizacional europeu! E por conseguinte mundial, independendente das várias velocidades do mundo. Em França chamaram-lhe os 30 gloriosos anos! Também é preciso ter noção do que era a Europa antes da WWII! Mas estava a chegar o 1º grande choque petrolífero e a marcha civilizacional na Europa nunca mais foi a mesma! E o exemplo da França, onde ainda noutro dia ouvi um casal de professores reformados a reclamar que já não conseguem ir jantar fora uma vez por semana é um bom exemplo. Com quem qualquer bom gourmet se devia solidarizar! A miséria no mundo hoje não são só as crianças do Afeganistão que não têm que comer depois de 20 anos de Pax Americana! E o mesmo para as 500 00 iraquianas que valeram a pena para Sra. Albright. Com quem a Sra. Nuland compete agora na ucrania! Claro que são situações muito mais dramáticas como o simples facto de nunca termos sido capazes de erradicar a fome num mundo tão desigual e com tanto desperdício mas ambas as lutas fazem todo o sentido! Com a França liderada por um fantoche neoliberal de esquerda…

A França que é muito provavelmente a grande potência europeia mais preparada para o inverno demográfico do velho continente! A França que outrora nunca se vergou à Nato e anteviu sempre o perigo offshore que nunca permitiu uma Europa unida forte e está por trás desta guerra por procuração na Ucrania! Que infelizmente muitos continuam a ver como uma guerra territorial de uma potência com 11 fusos horários?! Enfim… A França que percebeu perfeitamente a maior fraude financeira do seculo XX que nos traz a todos a financiar a vida e a divida dos EUA desde a WWII e chegou a enviar dois vasos de guerra para resgatar o seu ouro da Reserva Federal dos EUA. Só a título de curiosidade também é preciso alertar para o facto que De Gaulle devia ter dons de prestigiador. Porque assim que conheceu Jaqueline Kennedy, logo depois de Kennedy ter sido eleito, conseguiu prever que: ” essa mulher coquete vai acabar na cama de algum armador grego”. Nada mau para quem amava tanto os EUA!

EUA que depois de falidos com a guerra do Vietname descolaram de Bretton Woods como saem de todos os Tratados com que se comprometem como os acordos de controlo de armas (ABM e INF) com o maior desrespeito por toda a humanidade. Neste caso o US dólar do padrão ouro para uma moeda de reserva global puramente fiduciária! E longe de mim ser gaulista mas quando atentamos na distribuição actual da riqueza, com os 1% mais ricos com mais de metade da riqueza global, que são quem verdadeiramente comanda o mundo controlando estados tão poderosos como os EUA, hoje outra vez falidos e com uma divida totalmente impagavel com implicações para todas as nações do mundo! Só à espera que 80% da população global hoje à volta da Inciativa Belt and Road da China e da energia da Russia - obrigada a virar-se para o Oriente para se defender das sanções Ocidentais à la carte - com todos os maiores produtores de petróleo, Sauditas inclusive, lancem a sua própria moeda global ou uma cesta de moedas com lastro em ouro e/ou commodities para que a inflação que já nos desespera, disparar ainda mais! Foi aqui que chegámos todos!

A interferir com a paz dos povos, seja a destruir países pela guerra seja a construí-los artificialmente com o mesmo MO. Já Portugal devido à ditadura em 1973 ainda nem tinha chegado à marcha! Hoje penso muitas vezes que se devia propor ao povo de Israel o regresso à Europa oferecendo-lhe um território maior no Oeste da Ucrania. Aproveitavam e tomavam conta do Banderistão! Que era um favor que faziam a todos e uma boa penitência pelo que têm feito na Palestina que a poucos preocupa no Ocidente. Mais preocupados por uma guerra de hegemonia por procuração que insistem em ver como uma guerra territorial de uma nação com 11 fusos horários?! Se não tivesse tantas implicações para todos só dava vontade de rir!

Paulo Guerra disse...

Quanto ao comentário do Sr. Manuel Campos também diria sobretudo mais humano! Sobretudo para quem viveu nos dois tempos! E eu coloco a internet e o universo online em termos de choque geracional e acelaração do nosso tempo quase no mesmo patamar da máquina a vapor e a revolução industrial. Nos é que temos mais tendência a reter o homem que mordeu o cão e não pensamos muito no mundo antes e em todas as possibilidades que abriu, nomeadamente em áreas tão nobres como a medicina. Só para citar um exemplo.

Infelizmente ainda não foi o suficiente para impedir mais uma carnificina na Europa por mais que se escamoteiem os verdadeiros responsáveis bem inscritos no 1º draft da NATO para a Europa que nunca se alterou. Manter os EUA in, a Alemanha down e a Russia out! A que acrescentaria “e nunca juntos” como previa inclusive a Carta de Paris depois da reunificação da Alemanha. Como já sabíamos desde a WWI com a aproximação dos dois primos, Kaiser e Tsar! Com o primo de Inglaterra out! Talvez porque depois da revolução da Informação - precisamente com a revolução Informática - nunca houve tanta desinformação e tão pouco escrutinio jornalistico. A Russia era só o nosso principal fornecedor de energia de décadas que devia ser um parceiro estratégico. Membro da UE não porque a Russia nunva se vai dispôr para ceder soberania como por exemplo nós! O que é uma opção pefeitamente legitima e no caso da Russia mais que legitima, cultural. E ainda estamos para ver o futuro da UE e da NATO com este conflito. Já que cada vez vejo mais a Russia apostada nesse desgaste!

Acho aliás muita piada aos nossos novos russofobicos que muito provavelmente nunca tinham ouvido falar da Ucrania antes de 24 de Fevereiro e o mesmo para a nova Europa dos EUA. Onde os bancos centrais também estão a comprar ouro há 3 anos consecutivos! Minto, a nova Europa chegou ao discurso político português através das inevitáveis comparações do PIB que não podiam ser mais enganosas. Mas adiante… Depois de décadas descobriram agora através da propaganda ocidental que o gas russso era um grande problema?! Quase tanto como o Médio Oriente para os EUA ou Africa para os franceses. A big problem!

Só focar mais um ponto também notório no ambiente online e desta vez pela negativa na maioria dos casos, também na minha opinião. As redes sociais. O que não é o caso deste blogue extremamente civilizado. O que só prova que não é possível viver sem regras e Direito seja qual for o ambiente! O grande problema de muitas redes sociais que são autenticos esgotos.



Paulo Guerra disse...

Uma guerra com o nosso principal fornecedor de energia é quase tão inteligente como uma guerra com uma potência nuclear! Uma coisa é certa neste processo, alguém vai ficar sem luz. Nós ou o mundo mais pobre! Como aconteceu com as vacinas! Alastair Crooke ex- MI6 e ex-consultor da UE que muito estimo ler na Strategic Culture diz que só vê uma hipótese para a Alemanha ter entrado neste suicídio. A promessa dos EUA que o novo Guaidó moscovita continuava a fornecer o gás russo barato! O problema é que o Guaidó depois de entronizado em Washington apanhou com uma cadeira nos “cabeça” em Caracas! Onde não volta tão cedo! E na Alemanha depois das indústrias pesadas como siderurgia, metalurgia, vidro e cimento chegou a vez da indústria química também grande consumidora de energia. Com o sector a quebrar 20% só no último ano. E depois do encerramento da LINDE no princípio de Fevereiro, logo que também costumamos ver nos nossos hospitais, ontem foi a vez da maior indústria química do mundo, a BASF entregar a alma ao criador e as fábricas à China e aos EUA! Depois de fechar as duas ultimas unidades na Alemanha! Com tudo o que implica, desde adubos a medicamentos. E milhares de postos de trabalho como é óbvio.

Trabalhadores e falência e perda de soberania de que a famosa Analena Baerbock e o seu parceiro Habeck fazem gala de repetir que não se importam?! Os verdes mais belicistas da história?! Por isso é que além do suicídio industrial, com a desindustraliazação da Europa e nomeadamente da Alemanha a decorrer em frente dos nossos olhos, cheira tudo muito esturro! Até para mim que até há pouco tempo estava completamente convencido que nem a Russia nem a China deixariam tal acontecer! Mas é o que estamos a assistir todos os dias. Consequências do abandono da Carta de Paris depois da dissolução da URSS. Baseada numa segurança indivisível que não se faz à custa dos outros, igualdade soberana e linhas divisórias, tudo conceitos que deitamos para o lixo e empurraram a Russia para fora da Europa com a expansão da NATO pela hegemonia dos EUA e uma relação completamente assimétrica da UE com os EUA! A Russia que desde Pedro, o Grande sempre viu o seu desenvolvimento na Europa Ocidental. Por maior interrupção com a cortina de ferro de Churchill. O populista europeu mais sobrevalorizado da história à conta de dois ou três soundbites durante a Batalha de Inglaterra. Depois de patrocinar tragédias como a do RMS Lusitania para envolver os EUA na WWI! Um russofóbico preparado para rearmar a Alemanha nazi no fim da WWII para continuar a combater a Russsia na frente oriental! Como aliás Patton! De quem FDR nem queria ouvir falar! E o mundo podia ainda hoje ser completamente diferente se FDR tem durado mais uma década!

Mas hoje era preciso desligar outra vez a Alemanha da Russia depis de tanto investimento de ambas as partes nos últimos anos! E alguém mais tarde ou mais cedo também vai ter que se justificar perante o povo alemão que já começou a sair à rua! Uma coisa é certa, mesmo com o primeiro Inverno ameno depois do conflito a Europa está como está. Mas o que é preciso é demonizar o líder da Russia, um germanófilo convicto para quem tem os olhos abertos - e não liga aos disparates ou aos cancros do MI6 - e o grande lar europeu de Gorbatchev! E volto a dizer, assim que o sul-global lançar uma nova moeda global a inflação dispara para o céu e rebentamos todos! Portanto quem está muito focado na batalha dos tiros não está a ver bem a verdadeira guerra!

GU RETURNS: Alastair Crooke-Europe a VASSAL of the US, Destroying Itself Over Ukraine-Russia War!: https://www.youtube.com/watch?v=tr-bFq-wnAE




Paulo Guerra disse...

Um dos meus parceiros online na coluna de opinião do Mestre Milhazes - que viveu décadas na URSS e nunca viu qualquer problema e só depois de perder o emprego na Russia é que reparou que os desgraçados dos ruskies nem tinham papel higiénico - no folheto neoliberal travestido de jornal que algumas viúvas do Passos fundaram há uns anos com o nome de Observador com mais colunas de opinião que notícias, onde confesso que nos divertíamos os dois a valer julgo que ao sábado à tarde até há uns tempos atrás porque passou a ser só para assinantes, ele um engenheiro dos mercados de energia, sempre me garantiu que os EUA nunca permitiriam a abertura do Nord Stream II.

Isto por altura da tentativa de “regime change” na Biolerrusia e no Casaquistão. Quando os EUA também combatiam alegrememente na Sriaia ao lado da AlQaeda e do ISIS para passar um gasoduto do Catar para a Europa. E assim que foram desalojados, como na Libia pela Russia - o que não perdoaM nos próximos 100 anos - vai de roubar mais uns barris de petróleo até hoje! E assim que a Russia começou a comprar ouro e a desdolarizar a economia e a divida, avisou-me que ia haver guerra! Que tinha acabado a paciência da Russia. E eu confesso que não acreditei! Mas está é que é a verdadeira guerra com muito graves consequências para nós como todos já deviamos ter percebido!

E não que alguém deva ficar indiferente à carnificina humana na Ucrania. Que não é diferente de todas as guerras de energia dos EUA nos últimos 30 anos! Onde o maior tiro de canhão no coração do Imperio foi o roubo das reservas russas! Totalmente consentido pela Russia para o sul global ver! Que a UE agora parece que também não encontra! E o que os medias ocidentais nunca divulgarão é quantos Biliões a Russia apreendeu aos 4 ou 5 maiores fundos de Investimento que governam os EUA e o mundo unipolar! E podemos estar descansados que eles também não se queixam. Se há algo que a ganancia detesta é divulgar perdas! Ao contrário de roubos escandalosos como no crash do subprime! É a natureza da ganancia. E onde chega a perversão da ganancia!

E como é que chegámos aqui sem jornalismo livre e independente no famoso mundo livre é talvez o que nos devia inquietar mais a todos acima de tudo! Pelo menos aos democratas! Nesta transição que já é uma realidade para um mundo multipolar. Felizmente! Porque a minha guerra é sobretudo contra o neoliberalismo e um mundo completamente desregulado com indicadores económicos, como a distribuição de riqueza, do seculo XIX! Onde segundo as mais prestigiadas organizações económicas ocidentais 1% da população global detem tanta riqueza como os restantes 99%. E se alguém pensa que não é preciso inverter este nível de distribuição de riqueza pornográfica só para alguns…

E a Russia, apesar de não ser a economia de Espanha como dizia a propaganda ocidental antes das sanções - imagine-se a Espanha cheia de petróleo - tem perfeita noção do seu atraso em áreas determinantes e eu pelo menos sempre percebi a Russia neste seculo com vontade de crescer com a Europa Ocidental. Mesmo que as sanções ocidentais tenham começado logo a seguir à grande derrocada dos anos 90. Já para não falar do assédio dos EUA também logo na Georgia e na Chechénia. Sempre com o mesmo objectivo de dividir para reinar. Alguma coisa aprenderam com os ingleses a quem roubaram o Império. Enfim... Economicamente para a Russia livrar-se de alguns oligarcas já contrabalança de alguma maneira o lucro das armas que os EUA descarregam na UKR desde 2014.

Michael Hudson: A UE DESTRUÍU sua economia para a guerra por procuração da OTAN na Ucrânia: https://www.youtube.com/watch?v=5fbe4-POp34

Genial

Devo dizer que, há uns anos, quando vi publicado este título, passou-me um ligeiro frio pela espinha. O jornalista que o construiu deve ter ...