domingo, outubro 02, 2022

O discurso do rei

A imprensa inglesa diz que a presença do rei na cimeira do clima, onde faria uma intervenção sobre o tema de políticas públicas que mais o motiva, foi desaconselhada pela primeira-ministra Liz Truss. 

Até aqui, tudo normal, até porque o rei teria de ler exatamente o que o governo quisesse e não o que tivesse a veleidade de pensar. A questão é outra: está em saber se Truss não se estará a preparar para recuar nos compromissos climáticos, afastando-se de alguns parceiros ocidentais.

1 comentário:

manuel campos disse...


Toda a gente vai ter que recuar por uns tempos nos compromissos climáticos ainda que ninguém o vá alguma vez admitir.
Portanto ela não se vai afastar de ninguém, estará talvez e apenas a antecipar-se a outros.
Ou alguém acha que o que aí está, mais o que aí vai chegar, se compadece com compromissos climáticos como aqueles que têm estado em cima da mesa quando a vida da grande maioria das pessoas na Europa vai dar umas voltas tramadas?

As tecnologias "limpas" não estão suficientemente evoluídas nem distribuídas para carregarmos no interruptor e termos a luz acesa todos ao mesmo tempo, o que é chato para tanta gente mal habituada como os europeus.
Daí os cortes, para já 5% para não assustar, a seguir se verá.

Por muito bonitas que sejam as ideias há sempre o raio da realidade a estragar tudo: não há alternativas no curto/médio prazo às "sujas" porque, não tendo sido nada preparado porque não fazia falta, nada se prepara do pé para a mão porque não há infraestruturas quase nenhumas (e se houvesse estariam pôdres por falta de uso) para dar rápidamente esse salto.

E mesmo que se começasse a pensar no nuclear isso demoraria anos, incluíndo o "not in my backyard", pois apesar de haver no mundo 440 unidades em funcionamento e mais 50 em construção (com destaque para a China seguida da Índia) continua-se a invocar Chernobyl apesar de se saber que as razões do desastre não tiveram a ver com a fiabilidade da unidade em si.

Andei profissionalmente nesses mundos meia dúzia de anos, em todo o caso os suficientes para ter a certeza que muita gente anda a ver muitos filmes de ficção (ou de desenhos animados, para o caso pouco muda).



João Miguel Tavares no "Público"