terça-feira, outubro 25, 2022

O teatro do sorriso


A imagem de marca de Rishi Sunak era o seu sorriso. Mesmo nos tempos duros do Covid, quando por ele passaram as medidas com que o governo de Johnson tentou atenuar os efeitos negativos da pandemia na vida económica e social do Reini Unido, Sunak, para surpresa de muitos, manteve, em geral, um sorriso aberto, completado por um certo “boyish style”, até no modo desengonçado de andar.

No caminho político para Downing Street, nos últimos dias, Sunak não tinha abandonado o seu sorriso e esse seu estilo. 

Isso só veio a acontecer hoje. A coreografia da sua chegada ao nº 10 foi precisa, desenhada ao milímetro. Desde o momento em que saiu do carro até que entrou na porta negra, passando por todo o tempo do discurso, o seu registo facial endureceu. O passo perdeu a jovialidade quase adolescente. Sunak ganhou ”gravitas”. Era preciso transmitir ao país um ar de Estado. O sorriso aberto podia revelar ligeireza. Como a “profund economic crisis” a servir de pano de fundo à sua ação, Sunak pôs o sorriso de lado e tornou-se mais grave. Era expectável? Talvez. O contraste revela algum artificialismo, mas, também, um certo profissionalismo.

O teatro ao serviço da política.

20 comentários:

APS disse...

Demorou, mas Battenberg teve o seu contraponto histórico.

Nuno Figueiredo disse...

jogo de sombras.

Luís Lavoura disse...

os efeitos negativos da pandemia na vida económica e social

Não foi a pandemia quem teve esses efeitos. Foram as medidas tomadas pelo governo a pretexto da pandemia.

Luís Lavoura disse...

É hora de dizer ao povo britânico que ele vai ter que apertar muito, mas mesmo muito, o cinto.
Só para aquecer, vai passar um inverno a tiritar de frio. O inverno seguinte (o de 2023-2024) será ainda muito pior.
Enquanto não se decidirem a fazer a paz com a Rússia, estão lixados. E é se ainda a conseguirem fazer.

Francisco disse...

O Goldman Sachs, destituiu uma primeira-ministra e já designou um novo primeiro-ministro. No Brasil (ainda que por evangélicas vias) a aposta também é forte. E, apesar disso, continuamos a reconfortar-nos com a ideia dessa ideologia (glosando L. Canfora) a que insistimos em chamar democracia. Espantoso, de facto.

Erk disse...

O lavoura, como é que se faz a paz, se não há guerra, mas sim uma intervenção militar especial? Ainda por cima uma intervenção em território que, supostamente, passou a ser russo...

Lúcio Ferro disse...

Parece que já há bookies londrinos a dar odds, algumas chorudas, em modo lettuce, chega ao natal, não chega, cai em janeiro, cai em fevereiro? ^_^

maitemachado59 disse...

Esse Sunak e um usurpador. O verdadeiro vencedor foi LARRY THE CAT. Mais de 3.500.00 pessoas votaram nele. Tendo tido a oportunidade de observar as idas e vindas de varios PMs, a sua experiencia e conhcimento so poderiam trazer ao pais paz e prosperidade. Embora o rei Carlos nao goste muito de gatos o seu tacto (dele, Larry) facilitaria as reunioes de ambos.

Agora, nao ha remedio e temos que aceitar o trabalho dos "men in suits" que foram os resposaveis por este golpe.

Naturalmente, Larry enviou uma mensagem de bos vindas a Sunak, como cavalheiro que e.

maitemachado59

AV disse...

Foi reveladora a caída da máscara que Rishi Sunak tinha e a chegada da nova. Sunak vai ter de lidar com os problemas que começaram com o Brexit e que se acumularam. Vem com uma equipa de direita que não entende que o diálogo com a Europa é necessário. Não há milagres e com esta gente não há esperança.

Larry, the Cat, ao poder, digo eu.

Unknown disse...

Bem visto. Também me apercebi de alguma mudança. O que me espanta é o pragmatismo e a cultura democrática dos ingleses que colocam no poder um indivíduo de raça indiana porque lhe reconhecem qualidade. Aliás, é um espectáculo ver o colorido racial da Câmara dos Comuns.

Luís Lavoura disse...

Erk,

refiro-me à paz na guerra económica que o Ocidente está a mover à Rússia (e esta retalia, naturalmente). Não me refiro à paz na guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Falo exclusivamente na paz na guerra económica, ou seja, no fim de todas as sanções e contrassanções.

Luís Lavoura disse...

Unknown

a cultura democrática dos ingleses que colocam no poder um indivíduo de raça indiana

Desde que os ingleses começaram a colonizar a Índia, muito rapidamente se aperceberam que o povo indiano não era como outros povos colonizados, na medida em que tinha uma inteligência acima do usual, como muitos indianos a exibirem aptidões excecionais em, por exemplo, matemática.

Cá os portugas, pelo contrário, continuam a somente ver nos indianos "monhés".

manuel campos disse...


Duas questões.

A primeira começa a estar à vista e vai mesmo saltar muito em breve.
Os EUA como país, e não apenas como governo, têm um problema complicado chamado China e que foi "identificado" pela 1ª vez por Obama no seu 1º mandato, tendo levado desde essa altura a uma óbvia e nítida viragem para o eixo do Pacífico (Biden era o vice-presidente, deve saber do assunto).
E é agora ou nunca que podem retomar a dianteira como a maior economia do mundo, que a China vinha ameaçando, pois tudo se baralhou muito em termos de custos de fretes e disponibilidade de transportes desde a pandemia, a China deixou em parte de ser a "fábrica" do mundo (*) e o governo americano relançou recentemente um vasto (e caro) programa de substituição de equipamentos electrónicos "Made in China" por "Made in USA".
Aconteça o que acontecer nas "midterms" (e hoje já há poucas dúvidas sobre o que vai acontecer), o problema da guerra vai ter que ser resolvido e quanto antes melhor, uma recessão ou algo por aí nos EUA seriam o fim deste "sonho".

A segunda é que na Índia estão localizadas algumas das maiores empresas farmacêuticas e de tecnologias da informação do mundo, de que a "Infosys" (**) do sogro do actual PM britânico é um bom exemplo (muita informação útil por aí, é só procurar).
O facto de muita gente ainda continuar a ver a Índia pelo lado pobre e atrasado das fotografias que ganham prémios internacionais, só mostra quão
atrasados muitos de nós continuam, no conhecimento e estudo do estádio de desenvolvimento de países como a China e a Índia, apesar das suas gigantescas desigualdades internas.
Não saber que se encontram por lá muitos dos maiores cientistas de hoje é uma forma de paternalismo obtuso, que muitos na Europa continuam a alimentar, talvez porque por cá cada vez se encontram menos e ninguém o quer admitir (a mentalidade de "fidalgo falido" vai-se enraízando à medida que se "perdem as pratas" na emigração dos nossos jovens de maior valor).

(*) Estive 20 dias à espera de um "sensor de contrapressão" para um carro alemão com 5 anos, uma peça de 120€, algo que noutros tempos vinha ali dos armazéns que existem na periferia de Madrid da noite para a manhã. E ainda ouvi que tinha tido muita sorte, havia peças que estavam a demorar 4 meses porque algumas fábricas na China, com a nova situação, abriam 3 meses e fechavam outros 3.
(**) A "Infosys" vale 85 biliões de dólares e tem 280,000 trabalhadores.
Vai por extenso que isto é muita areia para muito boa gente aqui deste jardim á beira-mar plantado: um bilião destes é 1,000,000,000 (um milhar de milhões) e tem duzentos e oitenta mil trabalhadores (muito ou mesmo bastante classificados).

Anónimo disse...

"a cultura democrática dos ingleses que colocam no poder um indivíduo de raça indiana"

Os ingleses colocaram quem no poder? Os ingleses não elegeram o Sunak, foi indicado pelo partido. A "cultura democrática" dos ingleses não lhes chegou até agora, séculos depois, com tanta diversidade étnica no Reino Unido, e com tanto passado imperial, para elegerem uma pessoa de outra etnia para os governar. Obviamente, se ele for a eleições e ganhar, tal dever-se-á em grande parte, não aos "ingleses", como um todo, mas à numerosa comunidade indiana.

Carlos Antunes disse...

Luís Lavoura
No séc. XIX, nos Núcleos Islamizados do Norte de Moçambique (Sultanato de Angoche, o mais importante e que resistiu à ocupação portuguesa até 1910, data em que o Sultão Fareley foi derrotado e deportado para Cabo Verde, mas também os Xeicados de Quitangonha, Sancul e Sangage) os “muinhes” (termo swahili, donde deriva o aportuguesado “monhés”) pertenciam à classe superior (proprietários, comerciantes, que sabiam ler e escrever o arábico, não só para estudo dos preceitos do Alcorão, como também para a escrituração dos negócios e para a comunicação indispensável ao comércio longínquo com Mombaça, Zanzibar, Quíloa,) a que se subordinavam as restantes classes, inclusive o da pertença dos escravos, escravatura que era um status jurídico reconhecido.
Por exemplo, o dominicano Frei João dos Santos conta que “ele próprio incendiou uma mesquita onde estava sepultado um notável local, o “Muinhe Muhammad”, que o dominicano conhecera em vida e que, depois de morto, passara a ser venerado como santo tornando-se alvo de um culto pessoal” (João dos Santos “Etiópia Oriental e Vária História de Cousas Notáveis do Oriente”, 1999: 554).
Ou seja, ao contrário do entendimento geral, os “monhés” pertenciam à classe superior e eram mesmo considerados como notáveis.
Pelos vistos, ao longo dos tempos, o termo evoluiu e é hoje entendido como depreciativo.

José disse...

O Luís lavoura tem toda a razão no que toca aos "monhés".

Temos um "meio-monhé" como PM (eleito - ao contrário do britânico), depois de ter sido presidente da câmara da capital é, apenas um acaso.

O irmão do "meio-monhé" estar à frente de uma TV privada é outro acaso.

No anterior governo tivemos um ministro "monhé".

Antes, já tínhamos tido um Secretário de Estado da Cultura que é "monhé".

Um deputado "monhé" à AR e que lá esteve durante oito legislaturas num partido pequeno (dava nas vistas, portanto), é sempre ainda mais um acaso.

Cada vez que há incêndios, lá aparece um "monhé" apontado como o nosso grande especialista no assunto.

A Portugal Telecom (maior empresa nacional da altura), ter sido dirigida durante anos por um "monhé"... Ó Lavoura, foi uma coisa que aconteceu, pronto.

Se bem me lembro também houve um dinossauro municipal comunista que era "monhé".

Aquele rapaz dos concursos, o Vasco Palmeirim? Também é "meio-monhé".

A Catarina Furtado? Avó "monhé".

De facto, em Portugal somos pessoas com um preconceito especial contra os "monhés"...

Unknown disse...

É preciso distinguir, aqui em Portugal, tal como nas ex-colónias: os goeses, prestigiados, como jornalistas, magistrados, professores de todos os níveis de ensino, funcionários públicos; e os paquistaneses e outras etnias, maioritariamente associados ao comércio. Uns e outros dignos de respeito, mas com estatutos diferentes.

manuel campos disse...


O que vale é que já ninguém liga ao que os outros escrevem.
Claro que eu queria dizer, no fim do texto, que eram "muito ou mesmo bastante qualificados", mas desta vez safei-me.

De resto é natural que ele vá ter problemas pelo caminho.
A mulher tem 0.93% da "Infosys" (nem 1% portanto) o que lhe garante uns parcos 715 milhões de dólares de "valor" segundo a Forbes, a que se juntam os 95 milhões dele (também segundo a Forbes).
O coitado do actual rei é um teso com os seus 500 milhões.

Como é que se explica a quem não tem nada que vai ter que passar frio e fome por detrás desta fortuna?
O que é que os portugueses pensariam e diriam se isto fôsse cá, se já dizem o que dizem quando se sabe que A ou B têm uma casa ou um carro melhorzito (excluo óbviamente os casos de evidente má fé)?

Portanto volto a dizer que aquilo tudo não vai ser linear quando, tal como aconteceu na crise de 2008, muita gente já voltou a recorrer aos livros "a peso" dos alfarrabistas para substituír a demasiado cara lenha para a lareira.

Flor disse...

Manuel Campos ao ler o seu último parágrafo até comecei a asfixiar com o fumo e o cheiro do papel queimado :(

maitemachado59 disse...



O termo "monhe" e politicamente correcto?

maitemachado59

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...