Foi curioso assistir ao debate televisivo entre Lula e Bolsonaro. Será difícil encontrar duas personalidades mais contrastantes. O frente-a-frente é sempre um teste clarificador.
Lula é um “animal” de debates, solta-se, tem traquejo para falar. Bolsonaro é “stiff” e pareceu, às vezes, aturdido.
Lula parece cansado, com a idade a pesar, fala demasiado do passado, do seu governo, quase sai aos ombros de si mesmo com tantos auto-elogios. Praticamente só promete um “reset”, ignorando que aqueles seus anos no Planalto tiveram um cenário económico irrepetível.
Bolsonaro debita uma cassete de “character assassination”, agarrado a três ou quatro bengalas acusatórias, desqualificantes, sobre o adversário. Tentou um “número” demagógico para o Nordeste, mas terá feito um erro ao procurar negar o êxito das medidas sociais de Lula.
Quem ganhou o debate? O debate importou pouco para quem já tem o seu voto decidido. É implausível que alguém que tenha votado Lula na primeira volta, mude agora para Bolsonaro. E os bolsonaristas ”de carteirinha” não se deixaram, pela certa, impressionar pelo ex-presidente.
Tendo esgotado cedo o seu tempo na parte final do debate, Lula deu a Bolsonaro, em tempo “prime”, oportunidade para um longo monólogo, “moralista”, com uma agenda conservadora a tocar a corda religiosa do país. Nenhum trouxe nada de novo, nenhum “coelho da cartola” mobilizador.
Bolsonaro precisava de ganhar eleitores que não tinham votado nele nem em Lula. Tê-lo-á conseguido? Não sei. Mas faltam duas semanas para a eleição e não é de excluir que algumas medidas do governo, sentidas ou prometidas nos bolsos, possam fazer a diferença.
Os lulistas não devem estar de acordo comigo, mas acho que Bolsonaro, no final das contas, conseguiu não perder este debate, embora ele lhe tivesse começado por correr bastante mal.
8 comentários:
Acho que a imagem escolhida resume bem o debate. Um apontar de dedos sem grande conteúdo. No fim da primeira ronda já não havia pachorra para ver o resto.
Lula parece cansado, com a idade a pesar
Pois.
Não se entende, mesmo, este costume que agora há de por a governar pessoas demasiadamente velhas.
O que vi, com olhos de ver, foi a primeira parte. E, de facto, o Bolsonaro perdeu 15 a 0, tal foi a diferença de classe entre um e o outro candidato. Quanto ao resto, limito-me a ouvir os especialistas.
Mas ajuizando pela minha própria cabeça, se estivesse no Brasil, o Bolsonaro não tinha hipóteses. É um tipo sem classe nenhuma.
Que tristeza, santo Deus.
Não haverá no imenso Brasil gente mais capaz que estes dois figurões?
Um texto muito equilibrado e sensato.
Otavio Frias Filho escreve, a certa altura, no prefácio a "Liberdade" de Victor Cunha Rego que o Brasil é "um país de vastas dimensões e sempre
voltado a si próprio", na altura para justificar que a cobertura de
notícias de politica internacional não era hábito da imprensa no tempo em que Cunha Rego lá viveu como continuava a não ser em 2009 quando escreveu
o prefácio.
Não me parece que a situação tenha mudado nada em relação ao que está entre aspas mas muitos de nós aqui, deste lado do oceano, a maior parte dos quais nunca lá foi ou, se foi, esteve lá como turista (que é a última maneira de se conhecer seja o que fôr do modo de ser de qualquer país) gosta muito de continuar a ter opinião sobre as opiniões dos brasileiros.
E toma-se partido pelos políticos de lá como se toma pelos de cá ou pelo Benfica e pelo Sporting.
Aquilo é "outro mundo", só a língua é a mesma (cada vez mais, aliàs).
já não hà saco.
Já agora.
Não há actividade mais pateta do que perguntar aos europeus em que é que votariam se tivessem que escolher o presidente dos EUA, actividade essa
que nas eleições de lá, de há uns 10/12 anos a esta parte, deve ter
rendido umas boas massitas a uns espertalhões que não percebi ainda quem paga (a intenção penso que percebi).
Depois a CS (a francesa é a pior nisso) titula em parangonas que "se fossem os franceses a votar o ... ganhava por 4 contra 1".
Agora esta excitação de em quem é que votaríamos se votássemos no Brasil é outra que tal: não votamos, ponto final.
Pois se nem aqui votamos.
É como pessoas com menos de 60 anos (pelo menos) me virem dizer que "no tempo da outra senhora " seriam sem dúvida da oposição.
Muito bonito mas falta provar.
E faltará sempre.
Vi ontem trechos do debate no telejornal da 2:
Achei aquilo um interessante espetáculo de teatro. Parecia mesmo coreografado, e bem coreografado. Os candidatos umas vezes viravam-se um para o outro, mas as mais das vezes viravam-se para a câmara. Recuavam e avançavam no palco, como atores. Tocavam-se. Não falavam um sobre o outro, antes falavam alternadamente. Em tudo pareciam bons atores.
Cá em Portugal bem poderiam tentar organizar debates como este. Como espetáculo de teatro, é curtido.
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