Faço parte das pessoas - e somos bastantes, a maioria, como se tem visto - que vivem muito confortáveis com o facto de António Costa estar hoje a liderar o governo. Não vislumbro, no “mercado” político doméstico, ninguém que junte em si mais qualidades para gerir o nosso país.
Não esqueço, e agradecerei sempre, a serenidade firme com que nos conduziu durante a pandemia. O peso que tem vindo a ganhar no plano europeu - um prestígio cujos efeitos desejo que se esgotem exclusivamente no plano nacional - é a prova provada do seu êxito.
Até na gestão do “tandem” que tem feito com o presidente da República, dossiê bastante mais complexo do que parece, António Costa tem revelado uma sábia habilidade. E faço parte de quantos valorizam bastante este último conceito.
Chegado a este ponto, os leitores devem estar à espera daquela frase com que os ingleses relativizam o que acabam de afirmar: “Having said that…” Ela aqui vai: não aprecio, mesmo nada, o tom que, crescentemente, António Costa tem vindo a adotar nas suas intervenções parlamentares.
Era expectável que, com o reforço de dois partidos da direita radical nas últimas eleições, o parlamento entrasse em crescente crispação. Com ambos a apelar ao pior dos sentimentos dos portugueses - um pelo populismo mais baixo, outro pela arrogância a-social -, posso perceber que António Costa se sinta frequentemente irritado e propenso a uma reação vocal mais robusta. Mas é aqui que reside o seu erro.
O primeiro-ministro de Portugal deve demonstrar, em todas as ocasiões, que se recusa a descer ao patamar dos preconceitos, rasteiros ou sobranceiros, com que aqueles grupos de representação ideológica extrema ali sustentam as suas intervenções. Fazê-lo é entrar numa chicana que só confere visibilidade e relevância a quem procura ganhar protagonismo à sua custa.
Tratá-los com educada frieza de Estado, oferecendo-lhes os mínimos de tratamento democrático, deveria ser a posologia a adotar. É que, contrariamente ao que as Seleções do Reader’s Digest defendem, rir, mesmo que deles, nem sempre é o melhor remédio.
Esta é a minha opinião. E, pelo que vou ouvindo, não estou sozinho, mesmo em quantos, como eu, continuam a apreciar muito António Costa.
16 comentários:
Está no seu direito, Sr. Embaixador, mas não exagere, por favor. Uma coisa é a habilidade política e retórica, que é imensa, outra é dizer que é o melhor para gerir o nosso país. Se Costa é o melhor, pobre país o nosso, que anda a rivalizar com a Roménia e a Bulgária. Mas uma coisa que me tira do sério, passe a expressão, é elogiar a gestão da pandemia, que foi uma verdadeira catástrofe: 20 e muitos mil mortos. E uma ministra da saúde às aranhas. A não ser que se tribute o sucesso do Almirante a António Costa...
É preciso o bom e velho jogo de cintura, sem dúvida.
Quanto aos elogios, "exagere" à vontade, que não disse mentira alguma.
Não posso estar mais de acordo Sr embaixador, também considerei despropositados os termos e os modos que usou nas respostas.
Olhando para o que anda aí pela Europa e pelo mundo, António Costa é um imenso alívio. Que lá fique mais 8 anos é o que espero.
«Não vislumbro, no “mercado” político doméstico, ninguém que junte em si mais qualidades para gerir o nosso país.»
Até lhe fica mal, senhor embaixador.
«Era expectável que, com o reforço de dois partidos da direita radical nas últimas eleições, o parlamento entrasse em crescente crispação.»
Dois? Qual é o outro, senhor embaixador? A IL é "direita radical"?
Claro que é, João Cabral - resposta comum para os dois comentários, claro.
«Era expectável que, com o reforço de dois partidos da direita radical nas últimas eleições, o parlamento entrasse em crescente crispação.»
"Dois? Qual é o outro, senhor embaixador? A IL é "direita radical"?"
"Claro que é, João Cabral - resposta comum para os dois comentários, claro."
Meu Deus, ao que chegamos! É triste,Sr. Embaixador, perceber a sua falta de objetividade para além da tirânica cartilha socialista.
Até me arrepio ao pensar o que seria se não houvesse uma maioria absoluta.
Tal como frequentemente se distingue extrema esquerda de esquerda radical, o IL é um bom exemplo do que se pode chamar direita radical, pois é nesse espectro que caem as suas propostas sob o ponto de vista económico, o suposto liberalismo de costumes ou não-conservadorismo é completamente lateral e aplica-se a quem pode e não a quem quer.
Ou seja: até aqui tínhamos um partido de "extrema direita" e, agora, passámos a ter dois partidos de "direita radical".
O truque percebe-se facilmente.
Por um lado, ameniza-se a reputação do Chega, tornando-o mais apetecível para os moderados do PSD/CDS. Por outro lado, torna-se a IL "perigosa para a democracia", fazendo com que ela passe a ser menos desejável para uma coligação com o PSD.
Resultado: tira-se ainda mais votos ao PSD e diminui-se-lhe as hipóteses de coligação. Tão simples, não é? Confiram se o Costa vai - ou não -, começar a malhar forte e feio na IL.
Aos leitores destes comentários não deve escapar o facto de que anda por aqui a mesma pessoa a escrever sob nomes diversos. Deixei publicar, para melhor se ver a marosca. Agora, acabou a brincadeira.
having said that...I agree.
Nesse caso, senhor embaixador, o CDS era/é o quê? É que "ainda sou do tempo" em que a extrema-direita era o CDS...
Portanto, um partido liberal é de direita radical - e eu pergunto, quais as propostas concretas (bem concretas, por favor) da Iniciativa Liberal se classificam dessa forma - e António Costa, que aprisionou o povo todo, durante a pandemia, incluindo as crianças em idade escolar, para salvar seis meses de vida aos velhos, foi um benévolo "condutor" (duce, ou Fuehrer, ou caudillo) do seu rebanho nessa época.
O Francisco vê ditaduras onde elas não existem, não as vê onde elas estão. O que aliás não é surpreendente, porque a ditadura agora beneficia-o.
O sorriso de Costa continua espontâneo e natural, quase semelhante ao do inglês.
Claro que os países são completamente diferentes.
Isto não está para sorrisos!
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