Tenho a sensação de que o programa de ”ir ver uma Revista ao Parque” não surge, nos dias de hoje, como uma das primeiras ideias na cabeça dos lisboetas, quando pensam sair à noite.
Pois fazem mal! Ontem decidi ir ver, com amigos, uma revista ao Maria Vitória, um espetáculo que comemora os cem anos da abertura do Parque Mayer. Por isso se chama ”Parabéns, Parque Mayer!”.
Não nos arrependemos. A revista é divertida, enche quase duas horas de música, de graças e, claro, de coristas - porque gosto das revistas como gosto da ginginhas, isto é, com elas.
Acho, além disso, que os lisboetas têm um dever de solidariedade com a companhia teatral que ali se mantém há vários anos, sem obter subsídios.
O Parque Mayer tem um estacionamento muito fácil e por ali janta-se bem e a custo módico.
Ontem, recordei que foi precisamente no Maria Vitória que, em 1965, vi a minha primeira revista em Lisboa. Chamava-se “E viva o velho!”. Um jovem chamado António Mourão estreava ali o seu maior sucesso, o “Ó tempo volta p’ra trás”. Menos de uma década depois, felizmente, a História não lhe fez a vontade.
Ainda no ano anterior, com o Cine-Teatro Avenida, de Vila Real, a abarrotar, tinha assistido à revista ”De Biquini e Chapéu Alto”. Ainda hoje me interrogo como tive a lata de falsificar, nessa noite, com uma resura de tinta, o meu bilhete de identidade, porque só se entrava com 17 anos - e eu tinha 16…
Voltando à minha ida ao Maria Vitória, em 1965. Entrei, com uns primos, com um ”bilhete de claque”, comprado junto de uma figura conhecida de uma certa Lisboa, que parava, ao final da tarde, na porta da Estação do Rossio. A ”obrigação” decorrente da aquisição desse tipo de bilhetes, que custavam um quarto do preço regular, era a de bater palmas ao sinal do “claqueiro”, que se encostava à parede lateral do teatro.
Não sei quando acabaram os “claqueiros”. Ontem, não precisei deles para bater bastantes palmas, durante toda a revista.
4 comentários:
Também terá sido a primeira revista que vi, recém univeritário tinha um colega cujo pai estava ligado ao Parque Mayer não me lembro já porquê, a partir daí vi muitas "à borla".
Tempos difíceis de explicar agora a gerações que, até a atravessar a rua fora da passadeira, não tiram os olhos do pequeno ecrã, um sinal triangular de perigo com "beware of smartphone zombies" acabará por ír parar aos códigos da estrada por esse mundo fora.
Lembro-me bem do António Mourão em palco, a música era simples e ficava no ouvido, o título foi o que perdurou em "frase feita" a propósito e a despropósito no dia-a-dia das conversas, ainda hoje se ouve com frequência como saída irónica a propósito disto ou daquilo.
Fui agora reler a letra da canção e aquilo tem muito a ver com o que ouço e sempre ouvi todos os dias de pessoas que vão entrando na idade, ou já lá estão, ou a quem a vida vem pregando muita partida, suspeito mesmo que a esta luz se esteja a tornar outra vez actual.
Da ponta esquerda à ponta direita tenho bons conhecidos, portanto nada disto mete política, mas com a idade e os contratempos da vida e da saúde vem sempre alguém falar dos bons velhos tempos e aí lembro-lhe logo que os
tempos nunca foram bons e até foram bem piores, nós é que éramos mais novos.
Como canta o Bing Crosby numa das canções de um LP que tenho aí (e que fui ali espreitar ser de 1973 mas que comprei decerto mais tarde num saldo qualquer):
You hear them talk a lot
About the good old times
But at the time they didn't seem that good
Fui algumas vezes na minha adolescência e achava um espectáculo muito engraçado, cheio de colorido e bons artistas.
Sr. Embaixador peço desculpa por deixar aqui um link sobre a História do Parque Mayer.http://cvc.instituto-camoes.pt/teatro-em-portugal-espacos/parque-mayer.html#.Y0GIdhLOU1I
... que as coristas dos teatros de revistas, sejam vistas e revistas antes de serem
coristas.
Not politically correct!!!
maitemachado59
Em relacao ao Parque Mayer, fui la varias vezes com uma das minhas irmams, nos principios da decada de 60. Alem as revistas, tambem frequentavamos o Cantinho dos Artistas", onde conheci varias pessoas do "demi-monde" lisboeta de entao. A minha irmam apaixonou-se doidamente por um jovem diplomata, Antonio Cascais, mas nao deu. Porem acabou por casar com outro diplomata. Tambem conhecemos um fulano que era forcado no grupo do Nuno Salvacao Barreto, onde tambem estava um dos meus irmaos. Ficou escandalizadissimo por meninas supostas "rangee" frequentarem tal sitio. O tempora, o mores! Fiquei surpreendida por o Parque Mayer ainda existir. Julgava que tivesse sido "saneado2 com o 25 de Abril! Na proxima visita a Portugal tenho que la ir. Regra geral, nostalgia e "rose-tinted glasses" nao andam de maos dadas mas o embaixador conseguiu! Maitemachado59
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