quinta-feira, outubro 27, 2022

Pontualidade


Há pouco, no Facebook, chegou-me um pedido de “amizade” de um velho amigo brasileiro, René de Mesquita Júnior. 

Sei lá bem porquê, lembrei-me de uma historieta antiga.

Era na Noruega, creio que em 1980. Um colega, diplomata brasileiro, ia regressar ao seu país. Havíamos decidido fazer-lhe, em nossa casa, uma festa de despedida, com colegas de outras nacionalidades, além de seus conhecidos locais. 

Acontece que ele era famoso pelos seus históricos atrasos, em todos os jantares e atos sociais para os quais era convidado. Numa certa “tradição” brasileira...

(Uma grande tolerância em matéria de horários, em ocasiões sociais, faz parte dos hábitos brasileiros. Aprende-se a viver com ela e, no Brasil, é essencial interiorizá-la, saber interpretá-la e segui-la. Recordo-me de, pouco tempo após a nossa chegada ao Brasil, termos sido convidados para uma festa de aniversário. Era uma sexta-feira ou um sábado, dias da semana em que a flexibilidade nos horários costuma ser ainda maior. O convite dizia 20.30. "Maçaricos" das práticas locais, chegámos cerca das 20.40. Entrámos na sala vazia, onde ficámos por cerca de dez minutos, sendo servidos de uma bebida pelos empregados. Chegaram entretanto outros convidados? Não, chegou o dono da casa, pedindo desculpa pela sua mulher, que ainda não estava "arrumada". Todos os convidados, vá lá!, antecedidos da pessoa aniversariante, chegaram bem depois das 21.00. Foi uma instrutiva lição!)

Só que nós não estávamos no Brasil. Estávamos na Noruega. E, na Noruega, os convidados costumam entrar nos jantares ao bater da badalada da hora que está escrita no convite. Nem um minuto mais tarde. E os restantes colegas diplomatas, se bem que sem o rigor local, iriam chegar, seguramente, dentro dos quinze minutos posteriores a essa hora.

Ao organizar a festa, começámos a preocupar-nos: se o nosso amigo brasileiro mantivesse os seus hábitos, isso quereria dizer que chegaria muito depois dos convidados para a sua festa, o que era um pouco desagradável, até para ele próprio. E dissemos-lhe isso mesmo. Ele assegurou que não, que dessa vez faria um esforço para vir a horas. Mas nós não acreditámos. "Old habits die hard". 

(De uma coisa tinhamos a certeza: aquele amigo iria chegar no seu carro, de um amarelo feiíssimo, como ele próprio reconhecia, ao ter atribuído à viatura o perfumado nome de “P…o”. Ele explicava porquê: “Só o dono é que gosta!”)

No dia da festa, o nosso amigo brasileiro chegou... com 20 minutos de atraso! Desfez-se em desculpas. Nós sorrimos: ainda ninguém tinha chegado! Nos convites enviados aos convidados tínhamos informado que os esperávamos... meia-hora depois daquela hora a que tínhamos dito ao nosso amigo brasileiro que a festa começaria.

Lembras-te, René? 

Um abraço aí para o Brasil! E vota bem, no domingo! Queres beber um copo, no Rio, no dia 6 ou 7 de novembro? Vou estar aí.

2 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Uma estratégia a registar e implementar com algumas pessoas.

maitemachado59 disse...

Hoje em dia, nao sei, mas nos anos 60 tambem os Portugueses nao eram muito pontuais; nao tanto como os Espanhois, mas mesmo asssim. Eu,como sempre gostei de ser pontual, masmo antes de vir para Inglaterra, era motivo de troca pelas pessoas minhas amigas!

maitemachado59

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...