segunda-feira, outubro 31, 2022

Brasis

Lula faz muito bem em sublinhar que “não existem dois Brasis”. É que alguma narrativa “sulista”, azeda com a derrota, que se observa em setores preconceituosos do Rio ou S. Paulo, sustenta que este é um presidente “nordestino”.

8 comentários:

Luís Lavoura disse...

Mas o facto é que existem, não só dois, mas de facto 27 Brasis. O Brasil tem 27 estados - praticamente o mesmo que a Índia, a Suíça, e a União Europeia.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

É a transposição das incapacidades relacionais das pessoas para uma dimensão macro.
Como disse na outra publicação: duas bênçãos nesta noite.

José disse...

Muito bem, Lavoura.

De facto o Brasil nasceu enquinado pela desmedida ambição territorial com a qual se mostrou incapaz de lidar. 26 estados - cada qual do tamanho de um (ou vários) países -, é um disparate.

Infelizmente, no que é mais uma manifestação tonta da nossa alma de poetas, continuamos a repetir a mantra de que a unidade do Brasil foi uma grande vitória nossa quando, na verdade, foi o pior que podia ter acontecido àquelas gentes.

É um gigante mas com pés de barro, eternamente promessa mas incapaz de se cumprir.
O seu tamanho arma-o com uma arrogância para com o pai e demais família enquanto se diminui perante os vizinhos.

É um país que não faz, nem deixa fazer. É demasiadamente diverso, demasiadamente grande, demasiadamente populoso.

Não há, no mundo inteiro, nenhum país que seja de escala continental, que tenha imensa população e que seja próspero e democrático. Mesmo os EUA são, cada vez mais, uma manta de retalhos (que já passou por uma guerra civil!), unidos por um Estado central forte e pela mitologia das forças armadas.

O Brasil não tem conserto. A única solução (impossível, concedo), seria a fragmentação daquela imensidão em Estados independentes que englobassem áreas com clima, população e cultura comuns.

Relembre-se que o Brasil Colónia (como agora se gosta de dizer), não era uma entidade unitária e foi com a independência que essa monstruosidade verdadeiramente surgiu.

Luís Lavoura disse...

o Brasil nasceu enquinado pela desmedida ambição territorial com a qual se mostrou incapaz de lidar

E a União Europeia, não estará a sofrer do mesmo síndrome?

E a Índia? Li nesta semana no Economist que a disparidade de riqueza entre os estados indianos vem constantemente a aumentar, com o estado de Goa (o mais rico) a ter um PIB per capita dez vezes superior ao do estado de Bihar, ao mesmo tempo que os estados mais pobres são aqueles em que a população cresce.

João Cabral disse...

O Brasil continuará bem dividido, senhor embaixador, quer se queira quer não.

José disse...

Como o Lavoura saberá, a Índia é outro projeto de mega-país, feito da união forçada de vários povos, línguas, religiões, etc. Por alguma coisa existem o Paquistão e o Bangladesh.

Quanto à UE, não só não é um país como é uma verdadeira tábua de salvação para os países mais pobres. Não há união forçada, há respeito e soberania dos diversos povos, etc.

Já se quiser falar da Espanha... mas aí não se trata de um gigantone desengonçado. Ao menos, isso.

Carlos Antunes disse...

Que há 2 Brasis, a eleição de ontem confirmou-o, contradizendo o que o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre que no seu livro mais célebre e mais significativo “Casa-Grande & Senzala” publicado em 1933, na senda da sua teoria do luso-tropicalismo (cujas concepções luso-tropicalistas serviram largamente de base ideológica à legislação do Ultramar promulgada por Adriano Moreira em 1961-1962, entre a qual a abolição do Estatuto do Indigenato) enfatizava a formação sócio-cultural da sociedade brasileira, como uma miscigenação entre os brancos descendentes dos europeus, os escravos negros e os diferentes povos indígenas que habitavam o Brasil.
A verdade é que essa miscigenação nunca ocorreu, tendo a divisão entre a Casa-Grande e a Senzala acentuado-se e persistindo até aos dias de hoje.
Ontem, a “Senzala” (Lula) venceu, mas o ódio aos pobres da “Casa-Grande” mantem-se, com a nuance de que com Bolsonaro esse ódio parece ter evoluído de uma direita democrática tradicional para uma extrema-direita nacionalista e autoritária.

José disse...

É só para dizer que, obviamente, o Brasil não nasceu "enquinado" mas sim "inquinado"...

João Miguel Tavares no "Público"