quarta-feira, setembro 25, 2024

"Raposo"


Não verifiquei se o nome vem (nem viria o menor mal ao mundo se não viesse) no Michelin, no Time-Out ou no Boa Cama - Boa Mesa (um dia falaremos dos mitos existentes a propósito disto e de alguns truques associados). Nunca é fácil estacionar por ali (o restaurante é na Passos Manuel, em Lisboa, perto do Jardim Constantino). Às vezes, o espaço interior torna-se um pouco barulhento. E, se não reservar, arrisca-se a ter de ir comer o sinistro bife da Portugália, ali perto.

Mas por que diabo será - a mim, que me gabo de conhecer imensas mesas por Lisboa e seus arredores, isto é, de Melgaço e Sendim a Sagres e Monte Gordo, da Camacha a Vila Praia da Vitória - que, quando me apetece jantar fora (cada vez me apetece menos, confesso), o nome do "Raposo" me vem logo à ideia? Por alguma razão será!

O ambiente é, por ali, desde que o frequento, o mesmo de sempre. Guardanapos de pano, "linha vermelha" que impus a mim mesmo, sempre que fora das tascas (e, em algumas, já exijo). O serviço é muito atento - mas, honestamente, tenho de fazer o desconto de me conhecerem há muito e de me tratarem sempre bem. A comida tem uma constância admirável. É cuidada, embora sem "efes e erres", honesta, no melhor sentido do termo - e tem outros. Além disso, a casa apresenta ótimos vinhos a preços bem razoáveis. A conta final esteve, como sempre está, na conta certa.

Voltei ontem ao "Raposo", como adivinharão. Se acaso tivesse de regressar por lá amanhã sentir-me-ia feliz. Há melhor elogio que se possa fazer a um restaurante?

terça-feira, setembro 24, 2024

Pior que Obama!

Biden consegue a proeza de ser ainda pior do que Obama, em matéria de política externa. Deixa o mundo num caos. Não corrigiu Guantanamo. Não reverteu Trump no acordo nuclear com o Irão. Saiu humilhado do Afeganistão. Não impediu a agressão de Putin. Cedeu à chantagem de Israel. 

Ela aí está !

 


Livraria Martins


O nome é simples, o conceito também. É uma livraria arrumada, pela mão de quem sabe da poda. É na Guerra Junqueiro, a dois passos da Mexicana (que agora se chama Tasca!). Tem o sereno ambiente de algumas livrarias de Londres ou de Nova Iorque. Pode beber-se um copo (saudades da "Opinião"!) e tem cadeiras no passeio, para por ali ficar um pouco. Passei lá há minutos. Ainda bem que a "Livraria Martins" fica muito longe de minha casa. Ia ser o bom e o bonito...

Pela lógica...

Estou convicto de que aqueles que se extasiam perante a genialidade da ação israelita de armadilhamento dos pagers e walkie-talkies devem manter uma admiração infinda, embora quiçá discreta, pela ainda mais criativa inventividade que esteve subjacente aos atentados do 11 de setembro contra as Torres Gémeas.

Ponto final


Tudo na nossa vida tem um fim, até ao dia em que ela própria terá o seu. Decidi agora colocar um ponto final na colaboração que, desde há quase três anos, mantinha com a CNN Portugal. Foram 33 meses!

Tive um imenso gosto em fazer parte dos colaboradores da estação, desde o seu primeiro dia. Conheci por lá gente fantástica, de um imenso profissionalismo, de uma grande simpatia. Fiz ali muitos amigos e, creio, nenhum inimigo (pelo menos, que eu tenha dado conta). Contudo, depois de algumas semanas de deliberada pausa, concluí que aquele meu ciclo de trabalho, no comentário político na área internacional, estava esgotado.

Fico gratíssimo ao Nuno Santos pelo magnífico acolhimento que me deu naquela casa, que continuarei a ter como "minha", bem como à amável e insistente tentativa que nas últimas semanas fez para que eu não levasse esta minha decisão por diante. Mas cada coisa tem o seu tempo e, depois de alguma ponderação, concluí que este era o tempo certo para deixar a colaboração regular com a CNN Portugal, embora não exclua, no futuro, poder dar uma saltada pontual a Queluz de Baixo, se a ocasião se proporcionar e surgir um convite para tal. 

Não vou nomear, porque são muitas, as pessoas de cujo convívio regular vou sentir alguma falta - da produção à maquilhagem, da redação aos pivots, dos colegas comentadores a tanto do restante pessoal. Elas e eles sabem a quem me refiro. A muitas dessas pessoas fico a dever atenções que não esqueço.

Uma nota especial para o "painel da guerra", às quintas-feiras, que sempre me deu muito prazer fazer: um abraço à Diana Soller e ao Agostinho Costa. Os três ajudámos a provar que o pluralismo opinativo - que é o contrário do unanimismo - é a imagem de marca única do excelente jornalismo internacional da CNN Portugal.

segunda-feira, setembro 23, 2024

Crise

Não gostei das declarações do Senhor Presidente da República sobre o orçamento e a crise. Não gostei do comunicado provocatório do governo, sem o menor sentido de Estado. Não gostei do comunicado do PS, reagindo no mesmo tom de chicana. Chego à conclusão que o problema sou eu.

"Much ado about nothing"

A França já tem governo. A ruidosa barragem política - o "Front Républicain" - construída nas eleições legislativas para travar a extrema-direita acabou por ter, como resultado prático, uma aliança de governo entre o centro-direita e a direita democrática, que só consegue subsistir com a complacência daquela mesma extrema-direita. O inimigo comum, o verdadeiro inimigo, é a esquerda. Nada de novo, mas é bom que isso tenha ficado bem claro.

domingo, setembro 22, 2024

Um belo museu


Do Entroncamento não nos chegam apenas coisas estranhas, como reza a lenda. É também ali que funciona o excelente Museu Nacional Ferroviário, dotado de um pessoal atento, que gosta e tem orgulho no que faz, e com algumas peças notáveis. Passem por lá! Eu fui hoje. 

Ai, Sporting!

A carreira do (meu) Sporting parece tão sólida que até eu, um cético pessimista sempre preparado para viver com o pior, escaldado por tantas desilusões, começo prudentemente a acreditar que, daqui a uns meses, até posso vir a não ter mais uma.

Já chegámos?

Eu até nem gosto muito da ideia preconceituosa de que "não há fumo sem fogo", mas devo confessar que a sucessão de casos que associam o governo regional e outros poderes públicos da Madeira a irregularidades dá que pensar. 

Mau sinal

Acho muito mau sinal: quando os líderes do governo e da oposição desejam obter um acordo encontram-se discretamente, não anunciam a hora da sua reunião. E à saída? Cada um dá uma conferência de imprensa?

No reino de sir Keir


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Palestina


Ver aqui.

A América a caminho do voto


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sábado, setembro 21, 2024

Fim da tarde

 


"Um Mundo Dividido"


Estão abertas as inscrições para a 6a Conferência de Lisboa, um encontro internacional organizado a cada dois anos pelo Clube de Lisboa. 

Na Conferência deste ano, que terá lugar em 10 e 11 de outubro, o tema de "Um Mundo Divido" mobilizará os oradores oriundos de vários países.

Clique aqui para saber mais.

Tupperware


Recebo com alguma nostalgia a notícia de que a Tupperware faliu.

Lamento imenso que ao inventor do seu genial saca-rolhas, uma das obras-primas do mundo da vida prática, não tenha ainda sido atribuído o Prémio Nobel, em paralelo com esse génio que foi o criador das rodinhas nas malas e, acima de tudo, dessa imensa figura que nos trouxe o ar condicionado.

Ao três, figuras anónimas a quem muito devo, a minha eterna gratidão.

A nova Comissão Europeia


Ver aqui.

sexta-feira, setembro 20, 2024

Desvario

O tratamento mediático das eleições americanas que nos chega está visivelmente enviesado contra Trump. Mas mesmo descontando isso, fica a sensação de que a campanha deste entrou em desvario e numa onda de quase desespero. Foi extraordinário, em poucas semanas, o efeito Harris!

Cisjordânia

Ao votar ao lado da maioria dos Estados que, na Assembleia Geral da ONU, aprovaram uma resolução condenando Israel pela sua ilegal presença com colonatos na Cisjordânia, a diplomacia portuguesa esteve do lado certo - do lado da preeminência do Direito Internacional. 

A União Europeia dividiu-se na votação sobre o fim dos colonatos ilegais na Cisjordânia - uns Estados a favor, outros contra, outros abstendo-se. 

Assim se confirma ser um perfeito mito a possibilidade de poder vir a existir uma política externa comum, como também fica claro que, para alguns Estados com os quais partilhamos o "clube", a legalidade é um pormenor mais ou menos despiciendo.

Eutanásia

A canhestra fuga do governo à necessidade de regulamentação da lei da eutanásia representa um escandaloso desrespeito pela imperatividade da sua implementação. É uma clara "chico-espertice" antidemocrática, que se traduz no "arrastar de pés" de quantos foram derrotados no voto.

Próximo Oriente


Veja aqui.

quinta-feira, setembro 19, 2024

E assim acontece


Hoje, durante um almoço com algumas pessoas, entre as quais o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, veio à conversa uma historieta passada com ele em Paris, há cerca de 12 anos. 

Eu tinha convidado Carlos Moedas, na altura secretário de Estado envolvido nas negociações com a Troika, para conhecer o antigo diretor-geral do FMI e antigo governador do Banco de França, Jacques de Larosière, na altura consultor do BNP Paribas. 

Larosière, uma grande figura da vida económico-financeira de França, tinha-me dito, semanas antes, na ocasião em que eu lhe fora apresentado por Artur Santos Silva, que teria muito gosto em trocar impressões com alguém do governo português de então. Amigo de Portugal, o antigo banqueiro, homem com uma experiência internacional ímpar em França, disse-me ter algumas ideias que, no seu entender, poderiam ser úteis ao nosso país. 

Organizei então um encontro na embaixada entre Moedas e Larosière. Foi uma conversa interessante e, quero presumir, com alguma utilidade para nós.

"Que será feito de Larosière?", hoje com 95 anos, interroguei-me hoje durante o almoço.

A realidade respondeu-me. No final, passei pela FNAC do Chiado e comprei o "Le Point" de ontem. Traz uma entrevista com Larosière, em torno de um livro que acaba de publicar.

E assim acontece a vida, como diria o Carlos Pinto Coelho.

O periscópio

Portugal vai cair no ridículo pelo mundo quando se souber que pode surgir como candidato presidencial alguém a quem ninguém conhece uma singela ideia política e que ficou famoso por ter montado com eficácia um sistema de distribuição de vacinas. Quantas gargalhadas vamos ouvir! 

Temor?

Noto o embaraço da maioria dos meus amigos professores universitários quando lhes pergunto por que não reagem à continuação das praxes e não tomam uma atitude contra essas práticas degradantes, nos órgãos próprios das suas escolas. Será um temor reverencial face aos estudantes?

Favas

Em 2017, quem "pagou as favas" políticas foi a sempre presente no terreno ministra da Administração Interna. Já se percebeu que há uma solução para evitar essa situação: desaparecer.

quarta-feira, setembro 18, 2024

José Bento dos Santos


Chama-se Medalha Municipal de Mérito Cultural da Cidade de Lisboa. Foi hoje atribuída por Carlos Moedas a José Bento dos Santos, sem sombra de dúvida a mais importante figura na promoção da Gastronomia portuguesa nas últimas décadas.

Um forte abraço de parabéns, caro Zé.

A importância de um comissário

Para avaliar a importância de uma pasta no colégio de comissários europeus importa saber se o seu "portfolio" controla, nos termos dos tratados, competências próprias da União ou se apenas temáticas que ainda relevam dos poderes nacionais. É nas primeiras que reside o verdadeiro poder.

Contrariamente ao critério saloio de que, para um país, o importante é que ao "seu" comissário seja atribuída uma pasta que cubra os seus interesses nacionais diretos, a experiência prova que muito mais relevante é que ele controle áreas em que os outros Estados lhe tenham de vir "comer à mão".

Finalmente, um critério simples, e quase "numérico", para avaliar a importância de uma pasta no colégio de comissários é conhecer o envelope financeiro que por ele passa a ser diretamente controlado. Há comissários que não dispõem de quaisquer verbas dessa natureza.

Coincidências

Ouviram falar de José Emílio da Silva? 

A muitos leitores deste blogue imagino que o nome deve dizer pouco ou nada. Outros, com alguma idade e memória política, recordar-se-ão do militar do MFA que teve um papel relevante no processo de descolonização de Angola e que, por cá, chegou a ocupar o cargo de ministro da Educação e Cultura, em dois governos do período revolucionário, além de presidente da RTP.

Ontem, almocei com dois amigos que, tal como eu, também viveram em Luanda. 

A certo passo da conversa, um deles recordou José Emílio da Silva. Falou-se então da atividade político-militar dessa figura, das suas opções ideológicas e do impacto da sua ação em Angola. Lembro-me de ter comentado o facto de, desde há muitos anos, o nome daquele oficial daquele ter desaparecido das notícias.

Horas depois, a meio da tarde, abri a caixa de emails e deparei com uma comunicação acabada de chegar, da Associação 25 de Abril. Dava conta do falecimento de José Emílio da Silva.

terça-feira, setembro 17, 2024

Os Tapados


"Era a propriedade de que o teu avô mais gostava", dizia-me sempre a minha mãe, a quem, em herança, coube esse terreno, em Bornes de Aguiar, ali ao lado das Pedras Salgadas. E que eu, como filho único, vim a herdar, há bem mais de duas décadas. 

Para além de uma casa em Bornes que, felizmente, ainda hoje permanece nas mãos de pessoas da minha família, todas as pequenas parcelas rurais, algumas minúsculas, quase simbólicas e sentimentais, que o meu avô materno tinha deixado aos seus cinco filhos, foram entretanto alienadas.

Restou a maior de todas elas, a quinta dos Tapados, que eu nunca vendi. É um terreno bonito, com mais de uma dezena de hectares, parte num cénico declive, de onde se olha a velha estrada entre as Pedras e Vidago. Já teve pinheiros e castanheiros. Nos últimos anos, a terra tem servido apenas para pastoreio.

Por temperamento, sou muito pouco dado a áreas rurais, salvo para visitas de toca-e-foge. Na vida, que me lembre, fui meia dúzia de vezes aos Tapados, se tanto. Um dia, cheguei a pensar fazer por lá uma casa, mas logo concluí que não iria ter nem vida nem paciência para a usar devidamente. Cada um nasce para o que é.

A circunstância de ser feita a limpeza básica regular dos terrenos não impediu que, na noite de ontem, como agora me chega, os Tapados, como muitos dos terrenos à sua volta, tivessem sido afetados pelo forte incêndio que rondou a aldeia de Bornes e áreas adjacentes. 

Sinto tristeza pelo facto dos Tapados terem ardido. Porque sei que esse seria o sentimento da minha mãe e do meu avô, que me antecederam na posse daquela terra que, afetivamente, lhes dizia bastante.

segunda-feira, setembro 16, 2024

Já agora

Haverá quem venha responder que "isso agora não interessa nada". Mas seria importante saber: que avaliação faziam as autoridades sobre o grau de efetivo cumprimento das medidas obrigatórias de limpeza de terrenos nas zonas rurais, em vigor no início deste verão de 2024?

SIC

O meu prezado amigo Dr. Luís Marques Mendes é um putativo candidato à presidência da República. Está no seu pleno direito. Mas nós também temos o direito de pensar que, ao se ter abstido de comentar, na sua rubrica na SIC, a caricata questão Melo/Olivença, isso pode ter algo a ver com um apoio futuro do CDS às suas pretensões. Esse é o problema deste estranho ambiente português de termos profissionais do comentário com ambições políticas.

domingo, setembro 15, 2024

"Deixar África" (1974 - 1977)


Em 2013, apresentei no Porto o livro de Alexandra Marques "Segredos da Descolonização de Angola". 

Era um retrato muito frontal sobre o processo político-militar que envolveu a independência de Angola, com um polémico apontar de dedo a gente que, à época, teve responsabilidades nas decisões que, por ação ou omissão, marcaram muito daquilo que acabaria por suceder no terreno. 

Alexandra Marques, uma década depois, volta ao tema, alargando o âmbito geográfico do estudo, com "Deixar África" (1974-1977), subtitulado "O trauma dos portugueses de Angola e Moçambique" 

A autora, antiga jornalista entretanto doutorada, traz-nos agora uma recolha de testemunhos de imensa gente que, por esses dias, acabou atropelada pela História e, em grande parte sem a menor culpa no cartório histórico, sofreu a circunstância de estar no mau momento no lugar errado, vendo por essa razão as suas vidas voltadas do avesso. Soma a esses desabafos, cuja leitura é um filme desses dias de angústia, o teor de alguns relatórios oficiais, portugueses e não só, que nos aportam perspetivas diversas e interessantes. 

Ainda que descontado o pontual exagero emotivo de algumas leituras a quente, em particular de quem sofreu - na pele, nos bens e na família - esse complexo quotidiano, o retrato que resulta da leitura do livro oferece ampla matéria para que se continue a refletir sobre esse tempo traumático na vida do nosso país. 

Na forma como ocorreu, a descolonização foi o outro lado da moeda da Revolução libertadora do 25 de Abril. Melo Antunes disse, um dia, que a descolonização foi uma tragédia, como trágica havia sido a colonização. Sempre estive de acordo com essa dupla perspetiva. 

"Clube dos Jornalistas"


Como é possível que um dos mais simpáticos pátios/esplanadas de Lisboa, com uma preciosa, magnífica e agradável sombra, praticamente ímpar, neste dia de braseiro, local que está sempre aberto aos domingos (aleluia!), com uma lista muito criativa (mas já a precisar de um "refreshment", cara Luísa, digo isto com a autoridade de ser um cliente habitual), estivesse assim à hora de almoço? 

Fiquei a pensar nisto

 


Bebinca


Ao final da tarde de sexta-feira, numa conversa em viagem entre Coimbra e Lisboa, falou-se de cozinha goesa. Sou pouco conhecedor do assunto, mas recordei uma extraordinária sobremesa da culinária indiana: a bebinca. Nem sei como o nome me veio à ideia! Há muitos anos que não como bebinca e, à despedida,  ficou encontrada uma solução para eu, proximamente, matar saudades desse doce. 

Cheguei a casa. Minutos depois, ao olhar net, vejo a notícia de que há um furacão a assolar as Filipinas. O nome do furacão? Bebinca.

Não há coincidências, mas sei lá!, para combinar títulos de dois livros de uma autora que já andou mais em moda.

Só para lembrar...


... que os dias de sol estão a acabar. 

Depois, não digam que não avisei! 

Jogos parisienses

Os jogos olímpicos e paralímpicos em Paris correram muito bem. E ainda bem! Mas fica a sensação de que os franceses estão a ir um pouco longe demais na exploração desse êxito. Caramba! Uma cidade como Paris não precisa de todo este "foguetório" à sua volta. "Ça suffit!"

sábado, setembro 14, 2024

Olivença - a simplicidade de uma questão complexa

Olivença é um território que, nos termos inequívocos de um tratado internacional de que Madrid foi livre subscritor, pertence a Portugal. Na sequência desse tratado, a Espanha deveria ter transferido o território, ainda no século XIX, para a soberania portuguesa e não o fez. 

O Estado português, em muitos, diversos e contrastantes ciclos políticos, fez questão de nunca abdicar formalmente dessa soberania. Mas, do mesmo modo, e nesses mesmos tempos políticos, optou por jamais suscitar a questão no terreno jurídico internacional. 

Por que razão não o fez? Porque Portugal entende, num juízo de meridiano bom senso, que encetar um contencioso internacional com Espanha a esse respeito, em particular num tempo em que em terras de Olivença se vive em democracia, de onde não emerge um qualquer surto significativo de vontade de reversão da atual soberania política, acarretaria um grave custo para a importante relação bilateral que desenvolve com o nosso único vizinho terrestre. E também porque Portugal teve sempre a consciência de que a possibilidade de vir a ter vencimento nessa questão era quase nula, por não haver plausivelmente um cenário prático de resolução - repito, prático - que lhe viesse a ser favorável. 

Foi essa a decisão, explícita ou implícita, dos sucessivos governos portugueses, que, no entanto, acabaram sempre por ir no sentido de não abdicar formalmente desse direito de soberania, nunca assumindo, aliás, atitudes que pudessem ser interpretadas como significando uma abdicação dele. 

Tive o gosto de fazer parte de um governo que, perante o interesse português e espanhol em levar a cabo uma obra pública na zona geográfica cuja soberania sofre contestação, soube encontrar com Madrid, com bom senso, imaginação e sem abdicação mínima de princípios, uma solução prática que satisfez ambas as partes.

No atual contexto europeu e internacional, ressuscitar a questão de Olivença pode ser um exercício com algum interesse académico. Contudo, ser um governante portuguêsa fazê-lo, ainda por cima alguém que tem a seu cargo uma pasta de soberania e no quadro de uma cerimónia militar, confessadamente a título meramente partidário e sem a menor coordenação no seio do executivo a que pertence, é um grosseiro ato de irresponsabilidade, que aliás o obrigou a uma retratação atabalhoada e humilhante. Para somar a tudo isso, basta apreciar o nível dos aplausos que a "boca" do ministro suscitou para se ficar com uma bela montra qualificadora do grau de seriedade da mesma.

Esta senhora faz hoje 80 anos!


Se acaso fosse verdade a existência de divindades, e se, nessa improvável circunstância, elas tivessem um mínimo de bom senso e bom gosto, nunca seria permitido que isto acontecesse. Por estas e por outras é que continuo ateu.

A Alemanha, a Ucrânia e uma nota sobre Gaza


Ver aqui.

sexta-feira, setembro 13, 2024

A boca do senhor ministro


Estou certo que o senhor presidente da República, o senhor primeiro-ministro e o senhor ministro dos Negócios Estrangeiros terão, neste momento, a consciência muito clara do caráter profundamente inconveniente das palavras que hoje foram proferidas pelo senhor ministro da Defesa, pessoa que, pelos vistos, não entende que uma coisa é ser membro do governo português e outra é ser eventual associado do grupo dos amigos de Olivença. 

Ou então, como já antes aconteceu, ele virá a terreiro dizer que falou "a título pessoal", embora tenha sido filmado a dizer o que disse num enquadramento de tropas e não num banho estival nas águas do Caia. 

Às palavras do dr. Nuno Melo faltou um mínimo de sentido de Estado e de respeito pelos delicados equilíbrios da nossa política externa, que o Estado português, através da sua diplomacia, demorou muito tempo a estabilizar e não podem ficar à mercê de impulsos patrioteiros, populistas e, também por isso, irresponsáveis.

(Em tempo: entretanto, o senhor ministro, como já se estava à espera, à luz de comportamentos anteriores, já veio dizer, depois de devidamente "apertado" por que tem responsabilidades e sentido das mesmas, que falou "como presidente do CDS, embora num contexto equívoco, porque presente numa cerimónia como ministro". Escrever "num contexto equívoco" é extraordinário! E, não fosse alguém suspeitar do contrário, logo acrescentou: "Como é óbvio, essa opinião não vincula o Governo". Também era só o que faltava! Da próxima vez, aposto que o dr. Nuno Melo, contra quem nada me move no plano pessoal mas tudo me move por via destas infantilidades em terreno sério dos interesses nacionais, ainda vai acabar por dizer que falou em nome do Sporting de Braga... Na verdade, o único "contexto equívoco" em tudo isto é aquele que permite que o dr. Nuno Melo continue ministro, depois de uma gafe destas.)

Le Pen aceita Barnier


Ver aqui.

"Sharing Knowledge"


Gostei muito do debate em que hoje participei, na Universidade de Coimbra, com Carlos Costa, antigo governador do Banco de Portugal. O tema foi a Europa atual e os seus desafios. 

Acolhidos pelo vice-reitor professor João Calvão da Silva, ambos ali procurámos estimular uma livre reflexão, que se prolongou por algumas horas. 

Maria Manuel Leitão Marques, Manuel Lopes Porto, António Tavares e Vital Moreira foram alguns dos intervenientes nesta animada jornada.

Sob o incansável estímulo de Jaime Quesado, que há anos dirige a iniciativa "Sharing Knowledge" - uma espécie de tertúlia aperiódica dedicada a trocar conhecimentos e a refletir, sem o menor sectarismo, sobre temáticas económicas e sociais de interesse geral - concluímos mais uma utilíssima jornada de troca de ideias.

Parabéns ao Jaime Quesado por mais esta bela iniciativa, que julgo enriqueceu todos quantos nela participaram.

O último debate?

 


Ver análise aqui.

Ainda há postais?


É que "fiz" agora um bilhete postal. 

O "basófias"

quinta-feira, setembro 12, 2024

Ninguém tem dúvidas de que uma mera "recomendação" do Ministério da Educação, para que seja limitado o uso dos telemóveis nas escolas, dando a cada uma a liberdade de decidir, vai ser resistido pela esmagadora maioria delas. Isto é cobardia no exercício da autoridade do Estado.

Não há coincidências? Que ideia!


A conversa durou quatro horas. Foi ontem, ao jantar, numa tasca da Baixa lisboeta. Não me perguntem por onde andou o diálogo, entre mim e o meu amigo José Ferreira Fernandes, esse mesmo!, o grande mestre da crónica jornalística. Falámos de imensas coisas, com a agenda bem cheia de coisas de quem não tem agenda. 

Acabámos a noite a passear naquele lugar onde os Restauradores afunilam, a caminho do Rossio. Falei-lhe então de um túnel que, no passado, levava os passageiros que chegavam à estação do Rossio diretamente para o Hotel Avenida Palace. A propósito de eu lembrar estarmos a dois passos do local onde, em "O Leão da Estrela", o António Silva andou desesperadamente à cata de um bilhete para o Porto-Sporting, o José Ferreira Fernandes contou-me que o autor do "script" do filme era um ferrenho benfiquista. E também me revelou algo que eu estava longe de saber: que "O Pátio das Cantigas" foi inteiramente filmado em Coimbra. Aproveitei para lhe contar que a Maria Paula, uma das atrizes do filme, tinha tido um bar perto da Artilharia 1, onde, aí por 1976, a ouvi cantar ao piano canções reacionaríssimas. O José Ferreira Fernandes disse-me que a Amália estivera para entrar no filme e que tinha sido por pressão do galã António Vilar que isso não tinha sucedido.

Nessa altura demos connosco a pensar quão decisivas e relevantes eram as informações que estávamos a trocar para o que importa ao mundo de hoje. Perguntámo-nos, aliás, sobre o que diriam, se inquiridos sobre esses assuntos, os muitos jovens com os quais por ali nos cruzávamos, nessa primeira hora de quinta-feira O mais certo é que achariam que aqueles cotas já se tinham passado de vez.

Na noite fresca que já entrava pelo dia seguinte, e não sei a propósito de quê, o José Ferreira Fernandes falou da Grande Guerra, da guerra 14/18. E referiu um livro que, há uns anos, tinha lido sobre o conflito e que muito o impressionara. À medida que descrevia episódios da obra, aquilo começou-me a soar a algo de familiar. Lembrei-lhe uma cena e a conclusão foi imediata: tínhamos ambos lido o mesmo livro.

Recordei então o título da obra: "Au revoir, là-haut", do escritor francês Pierre Lemaître. E contei que, há 10 anos, tinha sido eu quem apresentou a sua edição portuguesa, no que fui acompanhado pelo autor, no Centro Cultural Luso-Francês, ainda na sua antiga morada. A isso, recordava, tinha-se seguido um jantar com Miguel Sousa Tavares, na Tágide, Até aqui, nada de novo.

Então? Nesse ano de 2014, o contacto para eu vir a apresentar o livro fora feito por Eduardo Marçal Grilo. Ora, há poucas horas, exatamente ontem!, o Eduardo tinha-me telefonado, a propósito de outro assunto. E eu e o ele raramente falamos. Durante a mesma tarde, também ontem, recebi da responsável pela edição do livro, pessoa com quem eu já não me correspondia há mais de dez anos, um email a convidar-me para elaborar um prefácio para um outro trabalho que vão publicar. Ambas as coisas, repito, ocorram ontem.

Não há coincidências? Pois não!

quarta-feira, setembro 11, 2024

Direitos


Tenho de pagar direitos de imagem por fotografar as flores do vizinho?

10 milhões de visitantes


Acabo de notar que, há cerca de dois dias, este blogue passou de 10 milhões de visualizações. 

Assim, e em média, desde a data de 2 de fevereiro de 2009, em que publiquei por aqui o primeiro post, houve um número superior a 1757 visitantes diários. Ontem, por exemplo, foram 2.546.

Creio que, desde há uns anos, deixaram de se publicar estatísticas sobre os blogues portugueses. Por essa razão, não faço ideia se este número é muito ou pouco, para um blogue "unipessoal" que tem a rara caraterística de "sair" todos os dias. E foram 5.694 dias seguidos! 

Deixo um outro mapa, com a evolução das visitas, de 2009 a 2024.

6ª feira, 13

Boys and girls


Pensando bem, só há uma forma de acabar de vez com os "jobs for the boys": é nomear apenas "girls".

Depois do debate

Foi um debate estranho. Trump faz parte de um mundo assente um emoções simplórias, medos e mitos. A verdade ou a mentira são pormenores irrelevantes. Harris está próxima de outro mundo, mais racional, às vezes repetitivo nas fórmulas. Quem está no meio, como reagirá? A ver vamos.

Os moderadores mostraram-se, em alguns momentos, demasiado "biased" contra Trump. As contradições que procuraram em Harris foram sempre apresentadas com muito maior suavidade e simpatia. A aversão de Trump aos factos e à verdade terá ajudado a convocar essa atitude mais hostil.

Harris conseguiu provar, com à vontade, que está muito longe de ser a vice-presidente "flop" de que muita gente falava. Talvez Biden tenha deliberadamente contribuído para isso. O seu discurso é fluído, às vezes demasiado formatado, mas mostrou ser uma boa "performer".

Quem segue com alguma atenção a política americana não pode deixar de colocar-se uma questão, ao mesmo tempo simples e intrigante: o que é que aconteceu para o Partido Republicano ter chegado a este nível?

terça-feira, setembro 10, 2024

O debate


Daqui a umas horas, milhões de pessoas vão ficar presas aos écrans, a ver o debate entre Donald Trump e Kamala Harris.

Muitos desses milhões serão americanos. A menos que haja um pouco provável cataclismo, a esmagadora maioria dessas pessoas não mudará o sentido de voto que já fixou num dos candidatos. E, como é da lei da vida e das regras do sectarismo político, essas pessoas vão acabar por achar o "máximo" a prestação daquele em quem irão votar e irão considerar "péssima" a do candidato do outro lado. No meio, há ainda uma América hesitante, movida por questões muito diversas, temas de nicho, interesses e crenças próprias. São eles quem pode fazer a diferença. E é a eles que, essencialmente, este debate se dirige.

Convém, contudo, ter presente que um candidato pode, no final da eleição de 5 de novembro (quase dois meses!), vir a obter mais votos do que o real vencedor. Isso é fruto do sistema de colégio eleitoral, onde as contas dos votos podem não bater certo com os números do que sairá da vontade política apurada em cada Estado. É um sistema pouco democrático? Os Estados Unidos são isso mesmo, são fruto do entendimento entre estados que se uniram para desenhar um país e isso levou a compromissos que também se refletem sobre o seu sistema eleitoral. Ah! E lembremo-nos: nós não temos nada a ver com isso, essa é uma questão entre os americanos.

Comecei por dizer que haverá milhões a ver o debate. E que a maioria será, naturalmente, de nacionalidade americana. Mas há um mundo, fora da América, que vai estar muito atento ao debate. Desde logo, os países que detestam os EUA. Mas também aqueles que gostam mais de uma América do que de outra. Nós não votamos nas eleições americanas, mas, queiramos ou não, vamos sofrer as consequências do voto dos americanos. É também por aqui que se mede a importância e a força da América.

Três anos sem Jorge Sampaio

 

(Fot. João de Vallera)

segunda-feira, setembro 09, 2024

" High life"


Todos nos damos conta de que algumas coisas, que outros tempos admitiam como naturais, passaram a ser vistas, nos dias que correm, como ofensivas a novos padrões - hesitei em escrever valores, porque isso é mais discutível - que entretanto se ergueram e ganharam terreno, passando frequentemente a dominantes. 

Vemos isso em múltiplos aspetos da nossa vida, das relações pessoais à relutância na exposição pública de certas realidades, tidas como ofensivas por alguns. Atitudes e práticas que eram correntes passaram a ser desaconselhadas ou mesmo banidas. 

Em termos de evolução dos padrões geracionais, houve manifestamente um salto muito rápido no tempo, diferente das ruturas ocorridas no passado e, não por acaso, algumas dessas mudanças continuam a defrontar-se com alguma resistência. Setores das novas gerações absorvem as alterações comportamentais com maior facilidade, em alguns casos mesmo com adesão entusiástica, enquanto que pessoas mais velhas tendem resistir-lhes. Isto prende-se, em especial, com o tema da cultura que o mundo conservador qualifica como "woke", que está hoje no centro de um fortíssimo debate à escala global. 

Na sábado passado, por mero acaso, cruzei-me num restaurante com o meu amigo Pedro Correia, que recentemente escreveu "Tudo é tabu - cem casos de novas censuras". O livro, muito bem escrito e muito polémico, é sobre isso mesmo. No texto, o autor sublinha o que entende serem os exageros desta onda avassaladora de pressão para a adoção de novas atitudes. Estou a lê-lo aos poucos. Há coisas com que estou de acordo, outras bastante menos. Mas recomendo francamente a leitura. 

Curiosamente, eu tinha levado para esse meu almoço solitário, na "Imperial de Campo de Ourique", onde ia pelo bacalhau à minhota da dona Adelaide, um pequeno e bem antigo livro de um autor hoje quase maldito. Tinha-o descoberto há cerca de um ano num alfarrabista. O autor chama-se Taki e para os que costumam ler, com regularidade, a revista conservadora britânica "The Spectator", foi um velho conhecido, com a sua coluna "High Life". 

Escrevi "foi" porque, desde o ano passado, ele interrompeu por ali a sua colaboração de décadas. De que nos falava Taki? Em síntese, da vida dos muito ricos, dos "parties", dos jantares requintados, das estadas nas estâncias de turismo de neve na Suíça, dos veleiros dos magnates amigos, dos restaurantes, hotéis e vinhos mais caros, dos automóveis e viagens de hiper-luxo e de outras coisas assim. Ele próprio milionário, Taki abordava esses temas com uma sobranceria elitista tão radical, quase obscena na sua insuportável arrogância, que a coluna acabava por ganhar a sua graça, como exercício de estilo, em especial pela imensa qualidade que imprimia à sua escrita. 

Taki conhecia, e conhece, o "who's who" desse seu mundo e era temido por esse "social set" exclusivo em que se movimentava. De origem grega e americana, é um reacionário à antiga, e que não só nunca pediu desculpa por sê-lo como exagera deliberadamente, para chocar, no seu conservadorismo extremo. As desigualdades do mundo preocupavam-no muito pouco, os privilégios e a necessidade filosófica da sua preservação eram, para ele, um "fact of life". As suas crónicas, algumas vezes, passaram dos limites que o próprio "The Spectator" consentia. Taki, que em tempos chegou a estar preso e que se meteu em trapalhadas várias, saiu entretanto da revista britânica e, ao que parece, escreve hoje em publicações americanas de extrema-direita. 

Mas que graça pode ter ler um tipo tão fora do tempo como Taki?, estarão a perguntar-se alguns. Vou repetir o que já por aqui escrevi por diversas vezes: gosto imenso de ler aquilo com que, à partida, sei que não vou concordar, desde que isso me divirta, pela qualidade da escrita ou pela bizarria do estilo. Para pensar como eu, basto eu. 


(Fotografei um extrato do livro de Taki, onde a extrema sobranceria snob se soma a uma condescendência que roça a misogenia. Mas digam lá se o estilo não tem graça!)

domingo, setembro 08, 2024

Os factos são o que são


Temos direito às nossas opiniões, não temos direito aos nossos factos. Quantos manifestantes estiveram nas manifestações de ontem, em Paris? Os manifestantes dizem 300 mil, a polícia diz 26 mil. A democracia ideal será talvez o país onde, um dia, estas avaliações coincidam.

sábado, setembro 07, 2024

A América há 80 anos


Recomendo vivamente uma visita a esta mostra da América dos anos 40 do século passado, um conjunto de fotografias cuja cor foi recuperada de forma magnífica.

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França e Alemanha


Líderes têm razões para rir? 

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Ucrânia / Rússia


Um claro traumatismo ucraniano no orgulho russo.

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"Déjà vu"


Por que será que ambientes como este me recordam sempre o "Watergate"? 

Foi hoje


O meu outono começa quando constato que tenho de ir buscar "une petite laine", como dizem os franceses.

"De Rodriguez"


Todos os espanhóis de uma certa idade sabem bem o que significa "estar de Rodriguez". Há mesmo um filme sobre isso. Trata-se da situação de um cidadão que permanece na capital enquanto a família passa férias de verão em outro local. Não faço ideia quem possa ter sido o "señor Rodriguez", mas a verdade é que ganhou o seu lugar no imaginário social madrileno e espanhol.

Na leitura clássica que consagrou a expressão, estar "de Rodriguez" pressupõe a potencial adoção de comportamentos, em termos de entretenimento pessoal por parte dos maridos, eventualmente algo disruptivos face àquilo que uma cultura matrimonial tradicional poderia recomendar. (Espero tenham apreciado o eufemismo da fórmula que acabam de ler. Deu trabalho a construir!)

Pois, para mim, no dia de hoje, o estatuto "de Rodriguez", como se vê pela imagem junta, levou-me simplesmente a ir às compras. Quanto gastei? Toda a virtude tem o seu preço.

Barnier

"Racista" e "sexista" são alguns dos qualificativos com que Michel Barnier foi hoje brindado em cartazes, nas manifestações contra a sua indigitação como primeiro-ministro de França. 

Ontem, no "Le Monde", um seu amigo, preocupado, dizia que Barnier, cujo percurso político passou sempre à margem de grandes polémicas, mesmo as que ocorreram na sua própria família política, talvez não estivesse bem consciente do nível da crispação que atravessa o mundo partidário com que agora terá que se confrontar.

Agora já sabe.

Cheney?!

O antigo vice-presidente de George W. Bush, Dick Cheney, anunciou o seu apoio a Kamala Harris. Na lógica de que "tudo o que vier à rede é peixe", isso pode ser considerada uma boa notícia para a candidatura. Mas, pensando bem, ter o apoio de uma das figuras mais sinistras da política americana, um dos pilares da criminosa invasão do Iraque em 2003, que provocou um incêndio ainda não extinto no Médio Oriente, causou milhões - sublinho, milhões - de mortos e proporcionou a emergência do Daesh, é uma óbvia e grave fragilidade moral para a campanha de Harris. Vale tudo para não ter Trump?

A França é de direita

A França é de direita, afirmava convictamente o antigo presidente Nicolas Sarkozy, depois de ter sido ouvido há dias no Eliseu. Pelo menos o poder, em França, é, de facto, de direita. Se se somar a extrema-direita de Le Pen, o grupo de Éric Ciotti que a ela se juntou depois de se cindir do Les Républicains, a ala maioritária deste mesmo partido e as três ou quatro componentes do campo macronista, está encontrada uma sólida maioria de direita em França. Mas as coisas não podem ser contabilizadas assim!, dirão alguns. Ai não? O que é Michel Barnier senão o símbolo e a prova provada dessa união das direitas francesas? Oriundo do Les Républicains, partido que estava afastado do poder macronista e do qual resistia a vir a ser um parceiro menor, formação de onde Macron tinha inicialmente "pilhado" quadros para a constituição do seu próprio grupo (e onde regularmente ia sacar trânsfugas benévolos para os seus governos, com Rachida Dati como último exemplo), Barnier tem hoje o natural aval do Les Républicains, com maiores ou menores reticências vai acabar por ter o apoio dos grupos macronistas e, como cereja no bolo, garantirá um "nihil obstat" das gentes de Le Pen e Ciotti. São momentos como este que acabam por provar que as diferenças entre as direitas - da direita envergonhada que se auto-intitula de "centro-direita" até à extrema-direita pura e dura - se atenuam e encontram sempre um lugar geométrico de entendimento quando se trata de isolar a esquerda. É que a esquerda é, como sempre foi, o grande inimigo da direita, como convem lembrar aos distraídos. E quando a esquerda, como agora aconteceu, se perde em erros táticos e embarca em algumas ilusões estratégicas, fragiliza-se e convoca de imediato contra si, com toda a naturalidade, a "frente direitista" de que Barnier é o expoente e Macron o indisfarçado promotor. O resto é conversa.

Israel. Palestina


Israel vive na ilegalidade internacional e não vai ter sobre si uma pressão americana para mudar de atitude. 

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sexta-feira, setembro 06, 2024

Augusto M. Seabra


Eu tinha entrado por concurso público para as Necessidades em 1975. Há já uns anos que saíra do Instituto de Ciências Sociais e Políticas (até ao 25 de Abril, de "Ciências Sociais e Política Ultramarina"), cuja última cadeira do curso, depois de muitas atribulações, tinha terminado escassos meses depois da Revolução. 

Um dia, constou-me que no ISCSP havia sido criada uma nova licenciatura em Ciências Sociais e Políticas. Eram dois anos "complementares", com 15 cadeiras, um curso novo, com matérias muito interessantes.

O trabalho no MNE era pesado, mas achei graça, embora não precisasse disso rigorosamente para nada, tentar fazer também esse novo curso. Inscrevi-me como "voluntário" e, entre 1977 e 1978, por puro diletantismo, concluí essa licenciatura. Porque utilizei o chamado "regime militar", podendo, julgo que durante dois ou três anos, solicitar exames quando me considerasse preparado (mesmo que ainda não tivesse sido dada uma única aula de algumas das cadeiras, o que acontecia com todas as do segundo ano do curso), creio ter sido a primeira pessoa a concluir o novo curso.

Não foi fácil compatibilizar a profissão com o estudo e conclusão das disciplinas, mas quando se tem 30 anos parece que tudo é possível. Acresce que eu tinha, na altura, uma outra atividade profissional na Ciesa-NCK, um pouco "clandestina" e à margem do MNE, que me arredondava as contas.

O novo ISCSP tinha, entretanto, por qualquer razão, saído do velho e magnífico Palácio Burnay, na Junqueira. Dividia-se entre duas instalações do ISCEF (agora ISEG), no velho Quelhas e na rua de Buenos Aires. 

Num desses dias, em que tinha marcado um exame, comigo a ser dispensado do MNE para poder fazer a prova, entrei no edifício do Quelhas e dei de caras com o Salgueiro Maia (sim, esse mesmo !) que por ali também andava a acabar uma licenciatura, creio que em Antropologia. Conheciamo-nos das "guerras" do MFA, três anos antes. "Escusas de te apressar! Parece que há uma greve", disse-me. Eu não fazia a mais pequena ideia do tempo académico que se vivia no ISCSP, mas, claro, se havia uma greve associativa decretada, haveria que respeitá-la. Logo eu que, durante anos, tinha andado bem envolvido na agitação académica! E preparei-me para regressar ao MNE, onde tinha muita coisa para fazer. 

Íamos ambos de saída por um corredor, à conversa, quando surgiu o Augusto M. Seabra. O Salgueiro Maia sabia que ele era uma das figuras do associativismo universitário no ISCSP. Eu conhecia-o muito vagamente do MES e o seu mundo era - e iria continuar a ser, para sempre - muito distante do meu. O Maia perguntou-lhe se se confirmava a greve aos exames. "Vocês são "voluntários"? Vêm para os exames? Não, para vocês não há greve, foi feita uma exceção. A greve é só às aulas". 

Olhei para o Salgueiro Maia e ambos voltámos a encarar o Seabra: "Tens a certeza que isso é assim? Era só o que faltava nós os dois virmos a ser acusados de ser "fura-greves"! ". O Seabra riu-se: "Não! Foi feita uma exceção para quem trabalha. Podem fazer os vossos exames à vontade. Ninguém vos vai acusar de ser contra-revolucionários! Ninguém vai dizer isso do Salgueiro Maia!" Rimos os três e lá fomos os dois fazer umas provas escritas, sei lá bem de quê!

Desde essa data, há mais de 45 anos, só voltei a "ver" o Augusto M. Seabra por escrito. Tinha a consciência de que era um ecletico e severo crítico cultural, que quem me merecia respeito especializado sempre qualificava por genial, com forte propensão para a polémica. Morreu agora e o modo como convocou imensos elogios confirma que o país perdeu alguém de grande qualidade. 

quinta-feira, setembro 05, 2024

Michel Barnier


Barnier foi a agulha no palheiro descoberta por Macron: um nome que garanta que o primeiro governo francês pós-dissolução não será censurado de imediato à chegada à Assembleia Nacional. Com a esquerda fora de jogo, Barnier vai necessitar da "neutralidade colaborante" de Le Pen.

"A Arte da Guerra"


Regresso pós-vilegiatura de "A Arte da Guerra", o podcast do Jornal Económico sobre temas internacionais, em que falo com o jornalista António Freitas de Sousa sobre a situação política em França, a guerra na Ucrânia e o conflito Israel/Palestina. 

Ver clicando aqui.

Leitura


Várias pessoas têm-se-me queixado de que a letra dos textos deste blogue era de difícil leitura. Assim, "a pedido de várias famílias", passo a usar uma letra mais "reader's friendly". Espero que gostem!

quarta-feira, setembro 04, 2024

terça-feira, setembro 03, 2024

Édouard Philippe

Edouard Phillipe, o primeiro dos quatro primeiros-ministros de Macron, que diz de si próprio ser um "homme de droite" (vem do antigo UMP/LR, fação Juppé), anunciou que será candidato à Presidência. Estranho "timing"! Dentro de horas, quando for anunciado o próximo primeiro-ministro, este anúncio irá "morrer" nos media.

Realismo

Neste tempo em que muita gente acordou para a ausência de soluções para pôr cobro a certos conflitos internacionais, lembro que a História ensina que, muitas vezes, o máximo que se pode fazer é mantê-los num registo de baixa intensidade, minorando-lhes as consequências.

Carlos Branco

A minha leitura do mundo não coincide, em alguns aspetos, com a do general Carlos Branco. Conheço-o há muitos anos, prefaciei-lhe um livro e...