quinta-feira, setembro 12, 2024

Não há coincidências? Que ideia!


A conversa durou quatro horas. Foi ontem, ao jantar, numa tasca da Baixa lisboeta. Não me perguntem por onde andou o diálogo, entre mim e o meu amigo José Ferreira Fernandes, esse mesmo!, o grande mestre da crónica jornalística. Falámos de imensas coisas, com a agenda bem cheia de coisas de quem não tem agenda. 

Acabámos a noite a passear naquele lugar onde os Restauradores afunilam, a caminho do Rossio. Falei-lhe então de um túnel que, no passado, levava os passageiros que chegavam à estação do Rossio diretamente para o Hotel Avenida Palace. A propósito de eu lembrar estarmos a dois passos do local onde, em "O Leão da Estrela", o António Silva andou desesperadamente à cata de um bilhete para o Porto-Sporting, o José Ferreira Fernandes contou-me que o autor do "script" do filme era um ferrenho benfiquista. E também me revelou algo que eu estava longe de saber: que "O Pátio das Cantigas" foi inteiramente filmado em Coimbra. Aproveitei para lhe contar que a Maria Paula, uma das atrizes do filme, tinha tido um bar perto da Artilharia 1, onde, aí por 1976, a ouvi cantar ao piano canções reacionaríssimas. O José Ferreira Fernandes disse-me que a Amália estivera para entrar no filme e que tinha sido por pressão do galã António Vilar que isso não tinha sucedido.

Nessa altura demos connosco a pensar quão decisivas e relevantes eram as informações que estávamos a trocar para o que importa ao mundo de hoje. Perguntámo-nos, aliás, sobre o que diriam, se inquiridos sobre esses assuntos, os muitos jovens com os quais por ali nos cruzávamos, nessa primeira hora de quinta-feira O mais certo é que achariam que aqueles cotas já se tinham passado de vez.

Na noite fresca que já entrava pelo dia seguinte, e não sei a propósito de quê, o José Ferreira Fernandes falou da Grande Guerra, da guerra 14/18. E referiu um livro que, há uns anos, tinha lido sobre o conflito e que muito o impressionara. À medida que descrevia episódios da obra, aquilo começou-me a soar a algo de familiar. Lembrei-lhe uma cena e a conclusão foi imediata: tínhamos ambos lido o mesmo livro.

Recordei então o título da obra: "Au revoir, là-haut", do escritor francês Pierre Lemaître. E contei que, há 10 anos, tinha sido eu quem apresentou a sua edição portuguesa, no que fui acompanhado pelo autor, no Centro Cultural Luso-Francês, ainda na sua antiga morada. A isso, recordava, tinha-se seguido um jantar com Miguel Sousa Tavares, na Tágide, Até aqui, nada de novo.

Então? Nesse ano de 2014, o contacto para eu vir a apresentar o livro fora feito por Eduardo Marçal Grilo. Ora, há poucas horas, exatamente ontem!, o Eduardo tinha-me telefonado, a propósito de outro assunto. E eu e o ele raramente falamos. Durante a mesma tarde, também ontem, recebi da responsável pela edição do livro, pessoa com quem eu já não me correspondia há mais de dez anos, um email a convidar-me para elaborar um prefácio para um outro trabalho que vão publicar. Ambas as coisas, repito, ocorram ontem.

Não há coincidências? Pois não!

4 comentários:

manuel campos disse...

Foi de facto inteiramente filmado em Coimbra, ainda que tivesse também já ouvido falar nos estúdios da Tobis no Lumiar, o que não é verdade.
Maria Clara ("Figueira da Foz", "Zé Aperta O Laço" e "Hás-de Voltar") em "O pátio das cantigas" de 1942?

Luís Lavoura disse...

Foi ontem, ao jantar, numa tasca

O Francisco também come em tascas?! Homessa! E não nos reporta sobre elas, somente sobre os restaurantes? Eu quero saber sobre as tascas (baratas) que o Francisco frequenta e recomenda!

Tony disse...

Caramba, Sr. Embaixador. Tantas, boas e agradáveis coincidências. E junto de um homem, que preso muito (JGF. E junto-lhe o Setubalense Leonídio). Sugiro-lhe que amanhã, sexta-feira 13, faça o euromilhões. Saudações cordiais.

manuel campos disse...

Há uma eternidade atrás (ainda havia escudos) também apanhei um dia cheio de coincidências que culminaram com a mesma nota de 100 escudos me voltar às mãos ao fim de 5 horas, num sítio completamente diferente da cidade.
A nota tinha uns escritos e um canto ratado, quanto muito alguém andava a escrever nas notas as mesmas frases nos mesmos sítios e a ratar-lhes os mesmos cantos, mesmo assim foi uma coincidência.
Nunca joguei nem jogo a nada e sou suficientemente inculto para não fazer a mais pequena ideia da gama de raspadinhas que hoje há por aí, fico sempre banzado com o dinheiro que vejo gastar naquilo, aqui na minha área é mais chocante porque ao fim de quase 50 anos conheço muita gente para saber que o que vai para ali é uma parte importante do que têm.
Mas naquele dia fiz o que o amigo Tony sugeriu, fui jogar no Totoloto e não acertei nem uma para amostra.
Quando estava a tratar da minha boa fortuna entrou uma senhora na loja, lembro-me ter sido na Rua da Conceição, agora deve estar lá uma loja de “souvenirs”.
Começou a dizer à empregada que não sabia porque jogava, nunca saía nada.
A rapariga lá lhe foi dizendo o habitual, que não desistisse, que há dias de sorte, era preciso insistir.
E diz-lhe a senhora “É que eu só comecei a jogar há 3 meses e por acaso até me saíram 200 contos da 1ª vez, mas acho que nunca mais me vai saír outra vez”.

Bernardo Pires de Lima

Leio no "Expresso" que Bernardo Pires de Lima vai para Bruxelas, reforçar a equipa de António Costa. É uma excelente notícia. O pr...