"Era a propriedade de que o teu avô mais gostava", dizia-me sempre a minha mãe, a quem, em herança, coube esse terreno, em Bornes de Aguiar, ali ao lado das Pedras Salgadas. E que eu, como filho único, vim a herdar, há bem mais de duas décadas.
Para além de uma casa em Bornes que, felizmente, ainda hoje permanece nas mãos de pessoas da minha família, todas as pequenas parcelas rurais, algumas minúsculas, quase simbólicas e sentimentais, que o meu avô materno tinha deixado aos seus cinco filhos, foram entretanto alienadas.
Restou a maior de todas elas, a quinta dos Tapados, que eu nunca vendi. É um terreno bonito, com mais de uma dezena de hectares, parte num cénico declive, de onde se olha a velha estrada entre as Pedras e Vidago. Já teve pinheiros e castanheiros. Nos últimos anos, a terra tem servido apenas para pastoreio.
Por temperamento, sou muito pouco dado a áreas rurais, salvo para visitas de toca-e-foge. Na vida, que me lembre, fui meia dúzia de vezes aos Tapados, se tanto. Um dia, cheguei a pensar fazer por lá uma casa, mas logo concluí que não iria ter nem vida nem paciência para a usar devidamente. Cada um nasce para o que é.
A circunstância de ser feita a limpeza básica regular dos terrenos não impediu que, na noite de ontem, como agora me chega, os Tapados, como muitos dos terrenos à sua volta, tivessem sido afetados pelo forte incêndio que rondou a aldeia de Bornes e áreas adjacentes.
Sinto tristeza pelo facto dos Tapados terem ardido. Porque sei que esse seria o sentimento da minha mãe e do meu avô, que me antecederam na posse daquela terra que, afetivamente, lhes dizia bastante.
5 comentários:
A minha solidariedade!
Tony Fedup
Lamento muito.
Só se confirma o que aqui por mim foi dito há dois dias.
E o que é que o Senhor Embaixador pensa fazer a esse "inútil social".
MB
Tenho muita pena. Toda esta situação me deixa muito triste.
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