
Há muitos anos, o ministro dos Negócios Estrangeiros João de Deus Pinheiro organizou em Lisboa uma reunião com cerca de duas dezenas de embaixadores portugueses, para abordar um qualquer tema da nossa política externa. Abriu a reunião e fez um "tour de table", pedindo muita concisão a cada um dos presentes. Um deles, um homem inteligente mas com uma expressão sincopada e quase gaguejante, com um discurso sem linearidade e com frequentes observações à margem, não conseguiu sequer terminar os prolegómenos daquilo que ia começar a dizer. A certa altura, o ministro interrompeu-o e passou ao colega seguinte. Algumas das pessoas presentes na reunião ficaram chocadas. Mas o ministro tinha razão: em Portugal, quando se diz a alguém que tem cinco minutos para expor uma ideia, é muito raro que essa limitação temporal seja observada. Pelo contrário, as pessoas chegam a ficar ofendidas pelo facto de os organizadores de um qualquer evento não mostrarem flexibilidade para se adaptarem ao seu ritmo pessoal de exposição. Em regra, por cá, ninguém respeita as regras do jogo definidas e as reuniões prolongam-se, quase sempre depois de já terem começado com atraso, como se tornou hábito.
Vem isto a propósito de uma reunião, por via digital, de que acabo de sair. Tratava-se de um grupo de "advisers" (talvez devesse dizer "advisors", porque a sede da empresa é nos EUA) de uma multinacional de um determinado setor. A reunião começou impreterivelmente às 14 horas. No início, na tela, ficou claro o tempo que cada intervenção iria ter - e começaram por falar os "big bosses", que acompanharam o que diziam com "power points" sintéticos. No final, no período de perguntas e respostas, nenhum dos intervenientes gastou mais de um minuto. O encerramento demorou cinco minutos. Às 14.57, com tudo dito e bem explicado, fechámos esta reunião quadrimestral. Muito informativa e extremamente útil.
Quando se constata que, em Portugal, se trabalha muito mas que a produtividade é escassa, algumas razões haverá. E a má utilização do tempo é, com certeza, é uma delas.
1 comentário:
Também nos debates, quando se entra no período de perguntas aos oradores, há sempre "perguntadores" que aproveitam para fazer longos discursos exprimindo as suas opiniões. Ninguém consegue pô-los na ordem e dizer-lhes que o restante pessoal não está ali para os ouvir a eles.
Como bem diz Pedro Arroja, Portugal é um país de meninos mimados, devido à educação muito protetora que as mães (sobretudo) conferem aos seus filhos. Isto depois vê-se nestas atitudes de quem pensa que só tem direitos, mas nenhuns deveres.
Enviar um comentário