segunda-feira, junho 03, 2024

"Ó meu alferes!"


Foi ontem, à saída do velório do José António Rosado. Eu ia a sair e uma figura alta dirigiu-se-me daquela forma. Achei curioso. A pessoa lembrou-me que, em 1973, eu tinha sido seu instrutor no curso de Ação Psicológica, na Escola Prática de Administração Militar (EPAM). E recordou alguns episódios dessa época, que eu já tinha esquecido. 

A verdade é que, nesse tempo, eu ainda não era alferes, era apenas aspirante a oficial miliciano. Ele, o meu interlocutor, era então soldado-cadete. Ambos tínhamos conhecido, naquela mesma unidade, o José António Rosado, ao tempo furriel miliciano, o amigo de quem ali nos estávamos a despedir. 

Foi através de Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, que fui alertado para a morte do Rosado, que também era diretor da Associação, de que sou associado. E foi com ele e com muita outra gente, e principalmente com Marco Rodrigues, o fadista, que orientou o coro, que, ao final da tarde de ontem, todos cantámos a "Grândola", dentro da casa mortuária, à volta do corpo do José António Rosado, como ele tinha dito à família que desejava que acontecesse. 

O Rosado foi um dos militares que, sob o comando do capitão Teófilo Bento, integrou o grupo que ocupou a RTP, na noite de 25 de Abril de 1974. Lembro-me bem do entusiasmo que manifestava, que o terá destacado para ser um dos operacionais para a tarefa de que a EPAM tinha sido incumbida. Era um homem de uma imensa afabilidade. Perdi-o de vista por muito tempo. Há uns anos, esteve na origem de uma associação de antigos membros da Administração Militar, para a qual me arrastou. Entre outras suas iniciativas, estivemos juntos na inauguração de uma placa memorial que hoje figura no edifício do que foi o antigo quartel. Há meses, andou empenhado na organização de uma sessão comemorativa do papel da Administração Militar no 25 de Abril, em que insistia que eu tomasse a palavra - comigo, desta vez, a resistir e a dar argumentos para que fossem outros a fazê-lo. 

Foi-se agora o furriel miliciano José António Rosado. Foi-se mais um capitão de Abril.

2 comentários:

Flor disse...

Que descanse em Paz.

José manuel Morais disse...

O Rosado era um homem bom, um bom garfo e bom conversador. Daí o perigo de almoçar com ele, porque nunca acabava antes das 16h00.
Paz à sua alma.

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