O encontro na Suíça mostrou que um conjunto importante de países continua a apoiar a Ucrânia para que esta venha a obter, no termo da guerra, um resultado favorável àquilo que definiu serem os seus objetivos - recuperação das fronteiras que o Direito Internacional lhe reconhece.
A reunião também revelou que um número significativo de Estados pretende manter-se afastado da postura daquele grupo, titulado pela América e seus parceiros, que parte da assunção de que, neste conflito, a razão está toda do lado da Ucrânia e que só resta à Rússia recuar.
A Rússia deixou entretanto claro que não pretende abandonar os territórios ucranianos que ocupou, que aliás considera já constitucionalmente seus e que ainda pretende vir a completar. Moscovo quer também neutralizar a Ucrânia, impedindo a sua entrada para a NATO.
Não parece haver o menor ponto comum entre estas duas agendas. Tudo indica que apenas uma evolução da situação militar, em favor de qualquer dos lados, pode vir a mudar os termos de referência deste conflito de interesses bem desiguais.
Este não é, assim, um tempo para a paz, é essencialmente um tempo para a guerra, para o seu prosseguimento. Se, um dia, a balança militar se desequilibrar em desfavor da Rússia, alguém, em seu nome, surgirá a aventar alguma modulação dos termos do "diktat" que Putin tem mantido.
E se a Ucrânia perceber que não pode ganhar a guerra, ou que não poderá contar com apoios para a prosseguir indefinidamente, é quase inevitável que venha a ser revisitada a filosofia de compromisso subjacente ao Acordo de Minsk II e ao projeto mediado pela Turquia em 2022.
4 comentários:
Senhor embaixador
Creio que se os mandantes desta guerra (os EUA e o seu braço armado, a NATO) quisessem acabar com o sofrimento de tanta gente (gente dos "outros", os ucranianos...) e não pretendessem "vergar" a Rússia, um bom princípio de conversa seria voltar às cláusulas de Minsk II. E não acredito que a Rússia se opusesse a isso...
Mas o grande objectivo desta "operação" é vencer a Rússia, reduzindo-a a figurante de segunda e, depois, começar a moldar as cabeças do mundo inteiro para o "perigo chinês"...
MB
"assunção"
Nesta acepção, é pressuposto, "assumption" é em inglês.
Que fiasco foi isto. Nem Guterres, SG da ONU, lá quis pôr os pés. Fique descansado que a paz virá, ou isso ou a última guerra mundial. A única questão é de se saber se os termos da referida paz serão tão benovolentes como os atualmente propostos. O melhor mesmo era regime change, assim que o homem da t-shirt chegue a Kiev. Enfim, um fiasco completo e os que ainda não o perceberam são coniventes.
M. Prieto
a filosofia de compromisso subjacente ao Acordo de Minsk II
Este post do Francisco estava ótimo até esta referência.
O Acordo de Minsk 2 é passado. Nesse acordo previa-se que o Donbass permanecesse uma parte, ainda que autónoma, da Ucrânia. Isso não é coisa que, agora, a Rússia vá aceitar. O Donbass agora é russo e nunca, a não ser que seriamente perdedora da guerra, a Rússia aceitará desfazer-se dele.
Minsk 2, nunca mais haverá.
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