sexta-feira, junho 21, 2024

Um sincero obrigado, Sô Francisco


Numa noite de 1966, no programa de rádio escolhido pelo motorista, no percurso entre o Porto e o pavilhão dos Carvalhos, dentro de autocarro que levava a equipa de andebol da Faculdade de Ciências, em que eu era um esforçado guarda-redes, ouvi, pela primeira vez, "A Banda". Fixei bem a ocasião, sei lá bem porquê.

À época, eu não fazia ideia de quem cantava aquilo. O som era diferente daquilo que eu conhecia da música do Brasil - e, verdade seja, conhecia muito pouco. Nesse tempo, era aquilo que vinha do mundo anglo-saxónico que mais me interessava, à mistura com alguma música francesa e até italiana. O Brasil que estava na moda, por cá, era o primeiro Roberto Carlos, do "Calhambeque" à "Namoradinha de um Amigo Meu". Na nossa (única) televisão, passavam outros sons do Brasil, da importada Mara Abrantes aos dramas vocalizados roucamente pela Maysa Matarazzo. A Bossa Nova, que vinha já dos anos 50, só nos iria conquistar mais tarde.

A simplicidade de "A Banda" era magnífica. "A moça feia debruçou na janela, pensando que a banda tocava pra ela" era uma bela imagem. Começou aí, para mim, Chico Buarque de Hollanda que, nesse ano de 1966, tinha 22 anos e que agora tem 80. Deixo meu sincero agradecimento ao meu homónimo, pelo tanto que, desde então, nos deu. Eu sou, agora, como ele, "o velho fraco (que) se esqueceu do cansaço e pensou que ainda era moço pra sair no terraço e dançou".

Ouçamos uma vez mais "A Banda" aqui.

6 comentários:

Flor disse...

Sr. Embaixador, revejo-me inteiramente no seu texto. Só comecei a gostar da música brasileira muito mais tarde com a Bossa Nova. A minha música preferida era sem dúvida a francesa.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Parabéns ao grande Chico!

Carlos Fonseca disse...

"A Banda" foi "lançada" em 1966. Nesse ano, eu estava em Angola no 2º ano da minha comissão de serviço. Por coincidência, e aproveitando os 5 dias de folga a que tinha direito de 3 em 3 meses, estava em Luanda, onde também tinha aportado um navio brasileiro, que trazia a bordo uma orquestra, que todas as tardes. dava um concerto no convés, com muitos luandenses a assistir.

Numa dessas tardes, o presidente da Câmara Municipal de Luanda foi apresentar cumprimentos ao comandante do navio. Pouco antes de chegar ao portaló a orquestra começou a tocar "A Banda" do Chico. Surpreendentemente, o carro do Presidente parou, ele saiu do carro, tirou o chapéu da cabeça e ficou imóvel até "A Banda" acabar.

O homem deve ter pensado que estavam a tocar o Hino do Brasil. Pelo menos era o que se dizia em tudo quanto era lugar público, à medida que se ia tomando conhecimento da história, que se espalhou como capim seco em chamas.

Anónimo disse...

o génio da 2ª metade do século XX da música brasileira e mundial. só de pensar que os bolsonaristas queriam enxovalhá-lo...
"comeu feijão com arroz como se fosse sábado"

Unknown disse...

História deliciosa, a de Carlos Fonseca.

Retornado disse...

A Banda do Navio brasileiro que aportou a Luanda , percorreu toda a baixa de Luanda tocando a Banda, com as ruas pejadas de gente dançando.

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