”A quem é que interessa que morreu Shirley Williams?” Coloquei a pergunta a mim mesmo, claro, antes de iniciar este texto, na certeza de que haverá gente que por aqui passa que hesitará entre duas questões: “Mas quem será a senhora?”
Outros, mais cruéis, repetirão o que andam a pensar há muito: “Este tipo está a transformar a sua página do Facebook numa espécie de obituário”.
Neste caso, haverá talvez uma terceira e mais sofisticada “raça”, constituída pelos que pensarão: “Vá lá! Depois de ter falado ontem do Soares Martinez, ao menos que se lembre da Shirley Williams!” Tentarei, prometo, fazer ”a long story short”.
A baronesa Williams, porque era isso que ela era até ontem, como “life peer” (membro da Câmara dos Lordes apenas para o período da sua vida, ”nobilitada” pela rainha e não por ter tido avoengos recompensados com um título hereditário por um rei que ajudaram à espadeirada) foi uma figura interessante, embora não de topo, na vida política britânica.
Ministra trabalhista na transição dos anos 60 para 70, em governos de Harold Wilson e James Callaghan, pertenceu sempre à ala mais conservadora. Quando a liderança “labour” se começou a esquerdizar, sob a liderança de Michael Foot, Williams e mais quatro figuras dessa “direita” trabalhista titularam uma cisão, em 1981, e criaram o SDP, o Partido Social-Democrata.
Foram acompanhados por um grupo de outros deputados trabalhistas (e até de um deputado conservador), mas o SDP, esmagado pela bipolarização a que o sistema maioritário britânico quase obriga, acabou por ter um sucesso eleitoral muito inferior à importância mediática que acabaria por ter. Uns anos depois, em 1988, o partido veio a fundir-se com uma formação histórica da política britânica, o Partido Liberal, vindo a criar, em 1988, o Partido Liberal-Democrata.
Vale a pena recordar quem eram os três parceiros de Shirley Williams na aventura cisionista: Roy Jenkins, que tinha sido presidente da Comissão Europeia, David Owen, ex-MNE britânico, e William Rodgers, várias vezes ministro.
De comum, e não era pouco, estas quatro figuras alimentavam um forte europeísmo e opunham-se a uma deriva desarmamentista unilateral que, à época, marcava o debate no Reino Unido e fazia escola no seio do seu trabalhismo mais radical.
O grupo ficou conhecido como o “Bando dos Quatro” (na fotografia). O nome advinha, por graça, de quatro figuras políticas chinesas que haviam tido a falta de senso de conspirar contra o poder conjuntural, o que, lá por Pequim, fez com que a sua esperança média de vida útil tivesse sido reduzida de forma abrupta.
Shirley Williams tornou-se, com os anos, uma figura com frequente presença nas televisões e em debates. Tive o gosto de participar, a seu lado, num painel organizado em Brighton, no final dos anos 90, sobre temas europeus. Pode dizer-se que, em termos dos equilíbrios da vida interna do Partido Trabalhista, acabou por ser uma “blairista” bastante antes do tempo.
Morreu agora, com uns respeitáveis 90 anos.
4 comentários:
Caro embaixador,
Este seu parágrafo
«O grupo ficou conhecido como o “Bando dos Quatro” (na fotografia). O nome advinha, por graça, de quatro figuras políticas chinesas que haviam tido a falta de senso de conspirar contra Mao Tse Tung, o que, lá por Pequim, fez com que a sua esperança média de vida tivesse sido reduzida de forma abrupta.»
parece-me questionável.
A tese mais simples é que esses 4 foram os executores zelosos das directivas do Mao quando lançou a Revolução Cultural para retomar o poder e que apenas caíram em desgraça cerca de um mês depois da morte de Mao, tendo servido de bodes espiatórios para uma mudança de rumo que levou Deng Xiao Ping ao poder, pois a figura de Mao era inatacável, dado o seu papel na libertação da China das ocupações estrangeiras. Mesmo agora a fotografia dele está na entrada a Cidade Proibida e o guia chinês de uma excursão que fiz à China em 2009 diziz que o Mao tinha acertado em 70% das suas actividades tendo-se enganado apenas em 30%.
Concordo com o comentário de jj.amarante. Aliás, convém lembrar que um dos membros do Bando dos Quatro era a própria esposa de Mao Zedong, a qual certamente não esteve a conspirar contra o marido.
Comentários anotados e texto corrigido. Isto de não ter sido maoísta na vida embota a memória.
Convem mencionar que a sua Mae era a notavel Vera Brttain - Testament of Youth, etc
maitemachado59
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