Há quatro anos, no Chiado, tirei esta fotografia. A figura retratada é Pedro Soares Martinez, a olhar a montra lateral da Bertrand.
Martinez foi ministro da Saúde de Salazar e morreu agora, aos 98 anos. Durante muito tempo, via-o, com relativa frequência, a almoçar no Círculo Eça de Queiroz, onde ambos éramos sócios. E vislumbrei-o, várias vezes, em restaurantes.
Martinez foi um académico prestigiado de Direito. Fiel defensor da memória do regime que serviu, monárquico por convicção, foi uma figura polémica na vida universitária portuguesa, ao ter sido responsável por políticas repressivas da atividade associativa dos estudantes. Não veio a ter vida fácil no 25 de abril, mas a democracia passou depois um pano sobre tudo isso, com a generosidade que a ditadura, com a naturalidade que lhe estava nos genes, antes não tivera para com os seus adversários.
Não menos polémica era, igualmente, e durante bastantes anos, a forma como se processava a participação de Soares Martinez nos júris dos concursos de acesso à carreira diplomática. Assumindo que afirmo isto com base em testemunhos que colhi de várias pessoas, cujo critério de apreciação tem um grau de subjetividade que há que ter em conta, era voz corrente nas Necessidades que Martinez conduzia as suas temíveis provas orais de uma forma que lhe permitia detetar a orientação política dos candidatos. E que isso poderá não ter deixado de ter as suas consequências na seleção do pessoal diplomático desse tempo - isto é, repito, durante a ditadura.
Com a morte de Martinez (nascido em 1925), restam apenas três ministros que serviram em governos de Salazar: João Dias Rosas (n. 1921), ministro das Finanças (1968/72), Adriano Moreira (n. 1922), ministro do Ultramar (1961/63), e Mário Júlio de Almeida Costa (n. 1927), ministro da Justiça (1967/73).
1 comentário:
De mortuis nihil nisi bonum
Margarida Palma
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