quarta-feira, abril 28, 2021

Se Conceição


A Se Conceição era mãe da Arménia. Ditas as coisas assim desta forma, as coisas ficam pouco compreensíveis. “Se” Conceição era o nome que eu e os meus primos dávamos a uma empregada da minha avó paterna, na nossa infância, lá por Viana do Castelo: abreviatura de Senhora Conceição. 

Tinha uma filha com um estranho nome, que me começou a “causar espécie”, como se dizia nesse tempo, quando aprendi alguma geografia: Arménia. Voltei a encontrar a Arménia, lá por Viana, nas ocasiões onde é costume cruzar pessoas conhecidas, de quando em vez: em alguns funerais. Nunca me lembro de ter falado com ela (era pouco mais velha do que eu, recordo-me) sobre o seu nome com topónimo de uma república do Cáucaso, que às vezes surge nas notícias e quase sempre não pelas melhores razões.

A mãe da Arménia, a Se Conceição, era uma mulher serena, que recordo silenciosa, de sorriso um pouco triste, com o cabelo apanhado em carrapito, de cujos dotes culinários não tenho a menor memória. Apenas me lembro do cheiro do café que ela fazia e que eu apanhava no ar quando ela o trazia pelo longo corredor que ia da cozinha à sala de jantar.

Nesse tempo, os pacotes de café (ou seria de cevada?) traziam dentro brindes, em forma de pequenas colheres, feitas num alumínio manhoso, que eu achava o máximo ajudar a descobrir quando se abria cada novo pacote. (A lógica era a mesma que está subjacente à graça que se ouvia, quando os conflitos de trânsito se passavam de forma educada: “Saiu-te a carta na Farinha Amparo!”)

Porque é que me lembrei hoje da Se Conceição? Sei lá! Talvez pelo azul do céu desta fotografia da bela estação da cidade.

1 comentário:

Luís Lavoura disse...

O meu pai tinha um amigo chamado Arménio. E mais outro conterrâneo com o mesmo nome. Acredito portanto que tanto Arménio como Arménia sejam nomes legítimos.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...