sábado, abril 03, 2021

São Cristóvão


Só os lisboetas de melhor memória poderão confirmar se a estátua do São Cristóvão, que se vê, à saída para o Norte, naquela que já mereceu o honroso nome de Rotunda do Relógio, já lá estaria no final dos anos 60.

Ontem passei por lá e, embora à distância, fotografei-a. Para quê? Porque me recordou que, no passeio em frente a ela, estive, numa manhã no final dos anos 60, a pedir boleia, de mochila às costas.

Não era nada de especial, para a época. Andar “à boleia”, nesse período, era uma coisa muito comum para gente nova. O que talvez não fosse tão vulgar era alguém ousar partir dali e, não sei quantos dias depois, com paragens numa multiplicidade de sítios (10 dias em Paris, cinco em Amesterdão, entre outros belos poisos), chegar à cidade sueca de Falkenberg, a caminho da Noruega, regressando depois, “para baixo”, procurando não repetir percursos.

Pelas minhas contas, devem ter sido mais 6000 quilómetros, até porque caprichei em escolher, quase sempre, estradas nacionais normais, fazendo ainda bastantes desvios para ir a determinados locais que levava em agenda para ver, o que deve ter aumentado muito o trajeto.

Ao olhar ontem para o São Cristóvão pus-me a pensar o que é que, por essa altura, me passaria pela cabeça. Não cheguei a nenhuma conclusão, salvo a absoluta certeza que tenho de que fui muito feliz nessa aventura, quase sempre, mas nem sempre, solitária.

2 comentários:

jj.amarante disse...

Em 1970 era económico ir em voos nocturnos de estudantes que vendiam na AEIST, julgo que o Lisboa-Paris ou -Londres custava 1000 e poucos escudos, mais barato que o combóio. Dizia-se nessa altura que onde era fácil apanhar boleia era na Inglaterra. Estive 10 dias em Paris, outros 10 em Londres e depois mais 10 em que fui à boleia dormindo em Oxford, Birmingham, Manchester e Edinburgo. De Manchester para Edinburgo tomámos um combóio em Carlisle. No regresso de Edinburgo viemos em autocarro nocturno.
Para esse seu trajecto dava preferência a camiões? Quantos meses gastou nessa viagem até à dispendiosa Suécia?

Francisco Seixas da Costa disse...

Caro JJ Marante. Também andei, em outros anos, nesses voos comprados na Associação do Técnico. Mas ir à boleia tinha outra graça, pelos contactos que se ia tendo, pelas vilórias e cidades que se visitavam. Demorei 40 dias. Gastei três mil e quinhentos escudos e dormi sempre em pousadas de juventude ou equivalentes. Eu sou, desde que me conheço, um hiper-comodista muito bem organizado. Nunca tive surpresas desagradáveis e tive muitas bem agradáveis. Fiz ainda uma outra viagem à boleia em que, no regresso, vim de Copenhague num desses voos que referiu.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...