Para já, os acontecimentos violentos em Belfast parecem titulados por adolescentes protestantes em raiva, face ao que entendem ser uma objetiva derrota dos unionistas, que interpretam o estabelecimento de uma “fronteira” marítima entre a Irlanda do Norte e a Grã-Bretanha (Inglaterra, Gales e Escócia), indispensável para que o território se mantenha no Mercado Interno da UE (isto é, sem uma fronteira física com a República da Irlanda), como uma cedência às pretensões dos católicos que desejam a ligação à República da Irlanda. Porém, se os movimentos políticos unionistas, que já informaram, há semanas, os governos de Londres e Dublin de que se dissociavam politicamente do “Acordo da Sexta-Feira Santa” (processo de paz assinado em 1998), vierem a assumir essas reivindicações (e o surgimento de vítimas pode facilmente ser um rastilho) e a assinalar uma espécie de “nil obstat” à retoma de atividade das fações armadas protestantes que, nos últimos anos, se têm mantido em sossego, as coisas podem descambar perigosamente. É que, do lado católico, haverá um mimetismo automático.
1 comentário:
Um dos dilemas do Brexit foi: por onde vai passar a fronteira entre a UE e o Reino Unido? Lógicamente seria pela linha que separa a República da Irlanda do Ulster, mas isso criaria imensos problemas locais e ia contra o espírito, senão a letra, do "Good Friday Agreement". A alternativa era passar pelo mar da Irlanda, dividindo de facto o até então Reino Unido. Nenhuma era aceitável, como não era aceitável que não existisse tal fronteira.
O Brexit só foi possivel sem este dilema estar resolvido porque, ao contrário de Theresa May que precisava dos unionistas do Ulster para ter a maioria no parlamento, Boris Johnston tem a maioria sem eles.
Como acontece amiude com Bruxelas, a decisão foi varrer a questão para debaixo do tapete com um "logo se vê". Estamos agora a começar a ver...
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