quinta-feira, setembro 01, 2022

Perda de gás

O entusiasmo “va-t’en-guerre”, que conquistou os corações de uma Europa onde não chegou o cheiro da metralha, vai diluir-se muito com as primeiras faturas “gordas” da energia. Putin seria o destinatário natural dessa raiva, mas os governos nacionais estão mais à mão.

7 comentários:

Luís Lavoura disse...

A culpa não é de Putin. Putin nunca se recusou a fornecer gás natural, petróleo e carvão à Europa, tanto quanto ele conseguisse produzir. A culpa é dos dirigentes europeus, que se puseram a hostilizá-lo e a dizer que queriam deixar de comprar os combustíveis dele. A culpa é integralmente da União Europeia e dos seus Estados-Membros. Incluindo de Portugal.

Anónimo disse...

Lamento muito, senhor embaixador, mas não foi Putin que nos colocou nesta desastrosa situação em termos energéticos. Foram os EUA e os seus governos vassalos da UE e da NATO, que fizeram de tudo para provocar esta guerra, com a sua insistência lunática em querer alargar a NATO e a postura totalmente arrogante dos governos ocidentais, que julgavam poder humilhar Rússia de forma impune, desconsiderando as suas respectivas preocupações em matéria de segurança, e tratando a mesma como se fosse uma potência de segunda categoria. Os governos da UE agora que se deitem na caminha que fizeram para eles mesmos...

Unknown disse...

Oxalá que isso não aconteça. As gerações mais novas não nos perdoariam. Nem, sobretudo, a Ucrânia. Se a Europa e os EUA não vacilarem, Putin, é também o que desejo, não se aguentará muito tempo. Não faz sentido que um país subdesenvolvido sustente uma guerra prolongada contra o resto do mundo, que está a milhas de distância, do ponto de vista tecnológico e económico. É só aguentar este Inverno mais frio e esperar que os franceses deixem de colocar obstáculos ao abastecimento de energia a partir da Península Ibérica

Luís Lavoura disse...

Se os governos nacionais não quiserem ser destinatários da raiva, é simples, só têm a fazer como o da Hungria fez e está cada vez mais a fazer: comprarem o gás natural disponível ao preço mais barato e com o fornecimento mais seguro, que é o da Gazprom, pagando honestamente e atempadamente na moeda do país fornecedor. Mais nada.
As faturas da energia voltariam imediatamente ao normal.

manuel campos disse...


Ainda que aceite bem a ideia não me parece que os governos nacionais estarem mais à mão seja a melhor conclusão.

Eu diría antes que os governos nacionais se puseram mais a jeito.

Francisco disse...

Parece que a Polónia "exigiu" reparações de guerra (em números gordos, que ninguém deve ser modesto a pedir) à Alemanha, que entretanto veio já informar que está tudo saldado. Que estranha ocasião para beliscar a "unidade europeia" e os seus desígnios. De facto, creio que perdura ainda algum saudosismo das cruzadas e da sua eficácia numa certa acumulação primitiva de capital. Hoje em dia, está tudo diferente e para pior. Até os Russos, que pareciam ter sido já devidamente aculturados (vejam-se os exemplos pinaculares dos falecidos Gorbachov e Yeltsin, sendo que no consulado deste segundo e segundo palavras do seu ministro dos negócios estrangeiros - programa convenientemente a desoras em canal nacional, mas que é uma produção da ORTF - era comum serem recebidos no ministério que alegadamente dirigia, bilhetes da embaixada dos EUA com os textos que deveriam, ipsis verbis, ser declamados depois pelos responsáveis políticos de turno naquela época), resolveram agora barafustar. É claro que o armamento ideológico ainda tem muitas pernas e braços, mas que o cobertor vai ficando a cada dia mais curto para os tapar a todos, disso não pode haver dúvidas. Mau presságio porém, é que o capital - afinal o elefante na sala - não tem preferências por Dupont ou Dupond e por conseguinte, se uma munição social-democrata já perdeu a sua eficácia, temos sempre a solução da direita dita extrema, cujas lebres aliás já começaram a ser lançadas nos últimos dias e semanas, algumas disfarçadas de micro-intelectuais. Não está mesmo tempo para a canasta. E o jeito que dava, nem que fosse uma prazeirosa bisca lambida, agora que o frio, climatológico e político, em certas latitudes, vai mesmo deixando de ser uma miragem.

Joaquim de Freitas disse...

Podemos filosofar o que quisermos, sabíamos que o desmembramento da União Soviética levaria inevitavelmente à ruptura do equilíbrio do desenvolvimento social mundial e, ao mesmo tempo, provocaria uma desestabilização completa do processo histórico planetário.

A contra-revolução foi guiada pela estratégia fascista do imperialismo norte-americano, visando estabelecer a sua dominação mundial e a restauração completa do capitalismo no globo, o que, objectivamente, era impossível.

Com o desmembramento da União Soviética, desencadeou-se a agressão imperialista mundial contra a humanidade, pois o mundo havia perdido o seu principal factor de dissuasão. Quantos fomos aqui, neste mesmo blogue, a dizer que os EUA tinham necessidade de um inimigo…

Foi assim que o imperialismo dos EUA trabalhou para provocar guerras civis, conflitos étnicos e religiosos, vimos gangues armadas prosperarem em diferentes "pontos quentes": Cáucaso, Balcãs, Ásia Central, Oriente Médio, Norte da África, Ucrânia e outros lugares do planeta. Eventualmente, a “guerra de interesses” aumentou significativamente em todo o mundo.

Com a destruição da União Soviética começou a fase final do colapso do sistema capitalista mundial e da ordem social baseada na propriedade privada. O colapso da velha ordem mundial acelerou significativamente, tornando-se uma avalanche.

A destruição da União Soviética foi imediatamente seguida pela escravização colonial do país desintegrado: aniquilação em larga escala das suas forças produtivas e transformação do seu território em um apêndice de matéria-prima para monopólios transnacionais, genocídio do seu povo.
O principal papel destrutivo foi desempenhado pela privatização dos meios de produção, visando a restauração do capitalismo no país desmantelado. Directamente oposta à sua socialização – a privatização resultou num fracasso catastrófico na economia nacional e um colapso total da produção social.

As consequências sociais da privatização foram o empobrecimento maciço da população, a polarização social da sociedade, a extinção da população do país. Os povos da União Soviética viram-se ameaçados pelo fim de sua existência como comunidade histórica de pessoas.

A queda na produção social foi ainda maior do que os danos sofridos pela economia nacional da URSS durante a Segunda Guerra Mundial. Como resultado, houve um declínio acentuado no padrão e qualidade de vida, a grande maioria das massas encontrou-se abaixo da linha da pobreza, grande parte da população do país foi atingida pelo desemprego, lumpenização, empobrecimento.

Os povos da URSS foram destruídos sob o domínio do capital comprador, a privatização da economia colocou a sua riqueza social sob o controle ou mesmo a propriedade directa de monopólios estrangeiros. Aquele rir satisfeito de Clinton nos braços de Eltsine, dizia tudo…

Assistimos agora a um caos global generalizado: o colapso da velha ordem social globalmente rejeitada que nega o poder egoísta das forças políticas actuais se acelerou. Quando o caos global começa a controlar o desenvolvimento social global, a própria existência da humanidade é colocada em risco.

O imperialismo moribundo tornou-se extremamente agressivo e perigoso. A agressão global da reacção fascista do imperialismo está empurrando a crise global para uma escalada que pode levar à catástrofe universal e à autodestruição da humanidade. Basta ler as declarações dos lobos enraivecidos da NATO à saída da Cimeira de Madrid. "Enfraquecer a Rússia na Ucrânia para, em seguida, a esquartejar". Foi isso o que os russos compreenderam.

Claro que o imperialismo moribundo ainda pode destruir dezenas de nações e lançar a humanidade para trás no caminho de seu desenvolvimento histórico.

Mas o imperialismo não pode mais sair vivo de sua própria crise global, que encerra a história secular da civilização baseada na propriedade privada. A sua crise global é a última crise na história do mundo. Nunca se contaram tanto as ogivas nucleares de cada protagonista potencial da última salva. De uma coisa eu estou certo: Será sem mim…

Ai Europa!

E se a Europa conseguisse deixar de ser um anão político e desse asas ao gigante económico que é?