sexta-feira, setembro 23, 2022

Ucrânia

É óbvio que os referendos organizados pela Rússia nas quatro zonas da Ucrânia não têm o menor valor, à luz do Direito Internacional. Mas que ninguém se iluda: a esmagadora maioria daqueles votantes é, de facto, favorável à Rússia, mesmo que os resultados possam ser inflacionados.

A tragédia dos russos ou russófilos que vivem na Ucrânia é que a não aplicação do Acordo de Minsk impediu que pudessem ter a sua identidade respeitada no quadro de uma Ucrânia democrática. A invasão russa, que para muitos foi bem vinda, consagra o fim dessa outra alternativa.

4 comentários:

Carlos Antunes disse...

Caro Embaixador
O problema é que os Acordos de Minsk fracassaram por violações de ambas as partes, e não só pela inobservância (por parte da Ucrânia) da identidade dos russos ou russóflilos que vivem no Dombass. Essa parece ser a linha oficial russa sobre o conflito no Dombass de que os russos étnicos e os falantes dos russos estão a lutar para proteger os seus direitos culturais.
Por exemplo, já depois dos acordos assinados, juntaram-se mais exigências por parte dos pró-russos, como o de Donetsk e Lugansk passarem a ter responsabilidade pela regulação jurídica da fronteira da Ucrânia com a Rússia – quando no Acordo Minsk II tinha ficado claramente estabelecido que a Ucrânia retomaria o controlo da fronteira, já sem a zona-tampão, antes de todos os passos do acordo serem concluídos – o direito de celebrar acordos com Estados estrangeiros, autonomia financeira, e da Ucrânia consagrar uma cláusula de neutralidade na sua Constituição, exigências que nunca foram acordadas em quaisquer dos Acordos de Minsk I e II, e que poriam em causa as linhas vermelhas que o regime de Kiev nunca podia ultrapassar: o não comprometimento da integridade territorial, a não negociação directamente com separatistas, e a não permissão de qualquer interferência na sua política externa.
Com todo o respeito, julgo que as raízes do prolongado conflito no Dombass, são mais profundas do que a simples identidade cultural russa ou russófila na região.
Cordiais saudações

Unknown disse...

O Francisco não se iluda nem nos iluda a nós: não conhece a vontade da maioria dos habitantes do Donbass.
Lá por falarem russo não quer dizer que queiram ser cidadãos da Rússia. Os alsacianos também falam um dialeto alemão, porém não consta que queiram ser cidadãos da Alemanha.

João Cabral disse...

«É óbvio que os referendos organizados pela Rússia nas quatro zonas da Ucrânia não têm o menor valor, à luz do Direito Internacional»
Tudo o que se conjecturar depois desta observação não tem o menor sentido, senhor embaixador. Aliás, basta ver como está a ser feita a votação.

Anónimo disse...

Ao Carlos Antunes: não conhecendo o teor dos acordos de Minsk não sua especialidade, parece que não terá, de todo, sido a existência dessas exigências que deitou por terra a sua aplicação. Isto é, não acredita que, se a Alemanha e a França tivessem cumprido a sua missão de aplicadores desses acordos, em conjunto com a Rússia, hoje não estaríamos a viver o que estamos a viver? Por mim, penso: o facto de a NATO estar totalmente envolvida neste conflito explica porque dois dos seus membros não se empenharam totalmente na paz. Este conflito podia e devia ter sido resolvido sem a NATO (em teoria). Mas ninguém, realista, pode negar que o envolvimento dos EUA na Ucrânia desde pelo menos 2014 condicionou o (in)êxito dos Acordos. Os Acordos estavam à partida feridos de ineficácia: os ucranianos diziam que não eram para cumprir.

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