domingo, setembro 25, 2022

Fascismo (2)

Tem imensa graça observar o coreografia verbal relativizadora dos que, argumentando com o rigor conceptual, procuram afastar os termos “fascista” e “extrema-direita” como qualificadores dos políticos ou regimes dessa área. Estejam atentos!

8 comentários:

Unknown disse...

Mas há alguém que defenda o "fascismo" do Mussolini nos dias de hoje? E "extremas-direitas" que sejam contra as regras da democracia?
Em termos de ditaduras, a extrema-esquerda está mais bem servida!

manuel campos disse...


Não consigo perceber como é que uma eleição democrática em 2022, num país democrático da Europa ocidental, pode levantar questões do tipo "olhem para Itália, vem aí o fascismo" ou "a extrema direita (italiana) come criancinhas ao pequeno-almoço".
Aqui andámos com partidos de extrema esquerda ao colo dezenas de anos (e com medo de os melindrar) e não vi tanto rasgar de vestes apesar de ser aqui que nós vivemos.

Não me parece que italianos e suecos sejam uma cambada de burros e o esperto seja eu, pois que ainda que não sendo porventura muito esperto, o voto popular para mim é sagrado (começo a desconfiar que é por ser de facto pouco esperto que ainda acho que o voto popular é sagrado).
Essa coisa do do povo não saber o que quer remete-nos sempre para algo que não aceito, o resultado de sinal contrário que é o que nós queremos.

Já contei aqui o suficiente sobre mim e o meu modo de ver a política para afirmar que "é peditório para que não dou", logo eu que por esta altura do ano, em 1975, estive para ser saneado como "fascista" porque me opus numa empresa cheia de comunistas a uma série maluca de "linchamentos sumários"
(e nessa altura já tinha 2 filhos para criar).
Até um panfleto das FP-25 de Abril tenho ali numa gaveta com "dedicatória".
Não conseguiram sanear-me porque eu não era saneável dado o meu recente - na altura - percurso militar.

Nunca usei as palavras "fascismo" e fascista" em vão em toda a minha vida, são assuntos demasiados sérios para os banalizarmos.
Se o que aí vier pela via democrática em eleições livres e respeitáveis (o que não me parece que possa ser posto em causa no caso da Itália) der para o tôrto nessa matéria, os próprios italianos tratarão de resolver rápidamente o assunto, se há povo na Europa mesmo bom a depôr governos é aquele e se há políticos mesmo bons a deixarem-se depôr também são aqueles.

Mas antes disso há que ver o que vai acontecer, começar já a assustar com o "papão" é um sinal de fraqueza e receio antecipados que não subscrevo, não faz o meu estilo.
E não me venham com o poema do Bertold Brecht.


manuel campos disse...


Em tempo.

Claro que o panfleto das FP é de 1981 mas o local era o mesmo, pelos vistos eu não tinha emenda e por aquelas bandas o PREC só acabou para aí uns 10 anos depois do resto do país.
Mas devia ser da "secção local", não passou nem passa de uma curiosidade para exibir aos conhecidos.

aguerreiro disse...

Mas que raio
O fascismo é o filho mais velho do socialismo e foi até quase ao final da 2ª grande Guerra o socialismo italiano. Depois disso os comunistas (outro ramo do socialismo) tentou (e conseguiu) anatemizar o socialismo á italiana (fascismo).
concluindo: - são ramos do mesmo (comunismo e fascismo) tronco socialista.

José disse...

O comentário do Manuel Campos devia ser emoldurado e afixado em todas as redações de jornais.

Hoje, o SAPO publicava uma foto da Meloni com a cabeça "cortada".

Um "jornal de referência" optava por uma imagem da nova PM apontando para algo mas num ângulo em que parecia estar a fazer a saudação "fascista".

Outro "jornal de referência" repetia a "graçola" mas, desta vez, com a Meloni claramente de mão aberta como quem se despedia do público mas... um braço estendido é um braço estendido e, logo, é uma saudação fascista.

Eu, que também já dei para este peditório, lá perdi um certo tempo a conferir os principais pontos do programa da Meloni (indicados pela Al Jazeera): eleição universal do PR, combate à corrupção, luta contra a Máfia, agilização da Justiça, apoios às mães solteiras, combate à violência contra as mulheres (agenda sexista e de esquerda, digo eu), reformulação de certas burocracias na UE, apoio à NATO, apoio à Ucrânia, maior autonomia para as regiões de Itália...

Faz-me lembrar quando mostrei o programa da Le Pen a um comunista (sem referir a origem), e ele disse "Concordo com tudo".

Parece que o grande pecado destes "fascistas" é acharem que o governo de um país, eleito pelos seus cidadãos, se deve preocupar com estes em vez de ter como principal tema os imigrantes indesejados. Isso e - pecado capital! -, achar que a Europa tem uma ligação umbilical à cultura judaico-cristã. São loucos estes romanos!


(o que me ri com a referência ao "poema de Brecht" que, na realidade, foi escrito por um tal "Martin Niemöller")

Luís Lavoura disse...

Excelentes, os comentários de manuel campos e de "Unknown".
Não há em Meloni fascismo nem extrema-direita nenhuns. Nem os há no povo que votou nela. Há apenas opiniões políticas legítimas, diferentes das do Francisco (e de outros como ele) e que ele pretende anatemizar. Uma atitude antidemocrática da parte do Francisco (e dos outros como ele).

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Estejamos mesmo!
Convém não esquecer que muitos dos movimentos de extrema direita não vêm do submundo, mas de cisões de partidos de centro direita, que no nosso caso foram o albergue de muito fascista "convertido".
O whataboutism da extrema esquerda é outra coisa com graça, parece que a RAF / Baader-Meinhof ou as Brigadas Vermelhas ressuscitaram e estão nas vascas de governar onde quer que seja.

João Cabral disse...

Tem-se visto mais, incluindo do seu partido, relativizar o conceito de extrema-esquerda... E a que propósito? Pois.

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