segunda-feira, setembro 26, 2022

Extrema-direita


Fará 23 anos no próximo mês de janeiro, um partido de extrema-direita foi cooptado para uma coligação de centro-direita na Áustria. O líder do novo governo austríaco era uma figura respeitada da direita moderada, que tinha sido, por bastante tempo, ministro dos Negócios Estrangeiros de Viena. A posição da extrema-direita no governo era a de um parceiro menor.

Nesse ano de 2000, a Europa política entrou em estado de choque. Ter a extrema-direita num governo dessa Europa dos 15 era impensável!

Jacques Chirac e outros líderes europeus, de direita e de esquerda, pressionaram António Guterres, então primeiro-ministro, para que a Presidência Portuguesa da União Europeia, em nome dos 14 restantes Estados membros, estabelecesse um “cordão sanitário” em torno no governo austríaco.

A nossa Presidência tentou compatibilizar a preservação do estatuto de Viena como membro pleno da União com algumas medidas de caráter bilateral, por parte dos restantes Estados membros, tendentes a sublinhar o isolamento em que o novo governo se colocava, ao ter a ousadia de integrar figuras daquela área política. Foram as célebres “sanções” à Áustria. O Tratado de Nice, então em discussão, passou a incluir medidas tendentes a “prevenir” semelhantes casos, o que o Tratado de Lisboa reforçou. Depois, com a chegada da Presidência francesa da União, o zelo de Paris esmoreceu.

E depois?

Depois, houve os alargamentos e, dentro destes, com o tempo, emergiram casos que acabaram por tornar o “caso austríaco” numa brincadeira de crianças.

Ontem, a terceira economia europeia, um dos países fundadores do processo de unidade europeia, passou a ter uma primeira-ministra de extrema-direita.

De Bruxelas, chegam uns gemidos políticos sem consequências. Como diria Bob Dylan, “ the times they are a-changin’ ”.

7 comentários:

Unknown disse...

Deixe lá que num país do tamanho da Áustria houve um partido no poder que esteve aliado à extrema-esquerda anti-europeia (com um partido anti-Nato e com outro anti-democrático e contra os direitos dos homossexuais) e ninguém se comoveu! Isto não é como começa, é como acaba...

manuel campos disse...


A terceira economia da UE após a saída do Reino Unido, contribuínte líquido que só por si cobre o que Portugal e a Grécia recebem como beneficiários líquidos.
Práticamente ao nível da França, segundo contribuínte.
Terceira no que respeita a forças armadas europeias, depois da França e do RU.

Após a saída do RU, que era o segundo contribuínte, o que vinha mais a calhar nesta altura do campeonato "europeu" era começar a chateá-los a sério, alguém deve ter lembrado a Bruxelas (habitada por burocratas frios) que a Itália é habitada por gente de "sangue na guelra", terão eventualmente projectado algumas películas neo-realistas italianas para lhes avivar a memória.

Sabendo-se que a Itália dominou durante anos e desde sempre muitos dos lugares-chave nessa mesma Bruxelas, espalhando diretores-gerais (e menos gerais) por tudo o que era comissão ou comissãozinha, muita gente se deve ter assustado que lhe pusessem a careca à mostra.
É que há por lá muito capachinho.

AV disse...

Lembro-me dessa altura e da polémica à volta de Jörg Haider. O mundo deu algumas voltas desde então. Lembro-me também das expressões de orgulho, não há muitos anos atrás, por a extrema direita não ter uma presença expressiva em Portugal. Não faltou muito. Estamos sempre um pouco atrás, mas estas tendências acabam por chegar.

José disse...

Nesta história só fica por explicar uma coisa: e a tal Extrema Direita, acabou por fazer mal à Áustria e à UE?

Os austríacos foram esmagados pela intolerância?
As instituições locais soçobraram perante uma ditadura?
A Europa foi dinamitada pelo nacionalismo vienense?
A alternância democrática deixou de existir?

Ou... afinal, nada se passou?

Ricardo disse...

Lido por aí:
"Obviamente, Meloni não é fascista. É uma conservadora e nacionalista, com algumas semelhanças com os conservadores britânicos. Ao contrário dos comunistas portugueses, na guerra da Ucrânia está ao lado de quem luta pela liberdade nacional e pela democracia, contra o imperialismo militar russo. Sim, defende “Deus, pátria e a família.” Mas isso não significa ser “fascista”. A esmagadora maioria dos Católicos, dos patriotas e daqueles que consideram a família como o elemento central das nossas sociedades não é fascista. (...) Aliás, vale a pena recordar uma data: 20 de Setembro de 2019, 80 anos depois do início da Segunda Guerra Mundial. No Parlamento Europeu, o grupo dos Conservadores, do qual o partido de Meloni faz parte, apresentou uma resolução a condenar os crimes dos totalitarismos comunista, fascista e nazi. Mais de 80% dos deputados europeus votaram a favor da resolução. No caso dos representantes portugueses, o PS, o PSD, o CDS e o PAN votaram a favor. O PCP e o Bloco votaram contra. Na questão política mais importante da história europeia do século XX, democracia vs totalitarismos, o PCP e o Bloco votaram ao lado dos totalitarismos, e o partido de Meloni votou ao lado das democracias." (...)

Anónimo disse...

É simples, a extrema direita austríaca saiu do governo

João Cabral disse...

O texto fala da Áustria, mas a imagem tem a bandeira da Austrália, senhor embaixador? Não entendi a ligação.

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