Teve graça ouvir o papa Francisco dizer, na CNN Portugal, que o próximo papa poderia chamar-se João XXIV. Diz muito do atual chefe da igreja católica vê-lo citar o nome de alguém que, um dia, abriu as janelas do Vaticano. Por que será que não disse João Paulo III ou Bento XVII?
2 comentários:
Para já estamos muito bem com Francisco, mas, sim, também espero que venha um "João XXIV" em seguida.
Para além da entrevista, gostei muito do debate e da análise do Sr. Embaixador.
Caro Embaixador
Porque para o Papa Francisco, João XXIII ao convocar o Concílio Vaticano II, que visando a renovação da Igreja e de uma nova pastoral da doutrina católica adequada ao mundo moderno – então muito contestado por vários grupos minoritários de católicos tradicionalistas, que o acusaram até de ser maçom, radical esquerdista e herege modernista, por ter promovido a liberdade religiosa e o ecumenismo – pela semelhança de uma Igreja mais aberta e acolhedora, da preocupação com os pobres e do compromisso com o diálogo inter-religioso, e até pela mesma bondade, simpatia, sorriso, jovialidade e simplicidade revelada por ambos, foi o seu mentor, compreendendo-se, por isso, a razão de alvitrar que o seu sucessor devia chamar-se João XXIV.
O problema da Igreja é que as janelas do Vaticano abertas por João XXIII no Concílio Vaticano II foram fechadas pelos seus sucessores, e que a “Igreja mais aberta e acolhedora” defendida pelo Papa Francisco, acolhida, por exemplo, pela mudança do Código de Direito Canónico autorizando as mulheres leigas a ler a palavra de Deus, a ajudar no altar durante as missas e a distribuir a comunhão e de serem ordenadas “diaconisas” (direito que as mulheres tiveram até ao séc. XII, e que depois lhes foi retirado e que teria porventura impedido a pedofilia que grassa na Igreja Católica) ou pela luta constante travada contra a pedofilia na Igreja, dificilmente subsistirá à morte do Papa Francisco.
Tal como sucedeu com João XXIII, um Papa representante da Igreja hierárquica, clerical e resistente à mudança, vai suceder à morte do Papa Francisco.
E depois queixem-se do crescimento dos evangélicos (no Brasil ou em Angola), da intensificação do “islamismo” ou até do recrudescimento do “animismo” por toda a África.
Cordiais saudações
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