segunda-feira, setembro 12, 2022

O tempo e o modo

Troca de palavras, ontem à noite, em Kansas City, com o motorista que me levava do aeroporto ao hotel. Falei da data, 11 de setembro, há precisamente 21 anos. Resposta: “In New York? Sad! But I like the new building!“. Idade do motorista: 20 anos.

12 comentários:

João Cabral disse...

É normal, senhor embaixador.

manuel campos disse...


Salvas as devidas proporções, penso que é um dos grandes problemas que os mais velhos que viveram no tempo do Estado Novo e depois vibraram com o 25 de Abril - e até lutaram por isso - ainda não interiorizaram cá pela terrinha, continuando a viver de memórias que pouca gente quer partilhar com eles nas restantes faixas etárias.

Se aos que andam entre os 40 e os 50 anos ainda resta alguma memória transmitida por pais e avós, isso já não existe de todo para os que andam entre os 20 e os 30 anos.
Eu próprio tenho um passado familiar e pessoal modesto mas real (antes do 25A) e como oficial miliciano (no período crítico), com filhos e netos naquelas idades e ninguém encara essas épocas com visões muito diferentes do "foi bom mas já lá vão muitos anos" e passam à vida que lhes interessa, a de hoje e de amanhã.

Flor disse...

Com a idade de 20 anos se calhar eu responderia o mesmo. "O que lá vai lá vai, o que conta é o presente".

Tony disse...

Triste, digo eu. Pelos vistos, nunca tinha ouvido falar desse triste acontecimento.

Joaquim de Freitas disse...

Senhor Embaixador: Com uma média de 7 homicídios por cada 100 000 habitantes em 2020, e por ano, desde o "Nine Eleven" morreram mais de 3 000 pessoas por ano nos EUA ...de forma violenta... Se multiplicamos por 21 anos...Alors, tudo é "big" nos States.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

A cultura histórica tem muito a ver também com o que se tem em casa. Eu nasci quase 13 anos depois do 25 de Abril e a cada ano celebro essa data como se a tivesse vivido, lá está, porque me transmitiram o amor por esse dia maior da nossa História.

manuel campos disse...


Francisco Sousa Rodrigues

Tenho a leve impressão que o seu comentário tem a ver com o meu mas, de facto, admito que seja uma leve impressão.
Melhor dizendo: espero que seja uma leve impressão.

Fui uma das 16863 pessoas que em 1969 votou na CEUD o que me trouxe várias chatices (*), levei com as "guerras" todas na universidade, tive uma participação discreta (et pour cause) mas permanente no período ante- e pós-25A como oficial miliciano de ligação entre três quartéis da zona de Lisboa, tenho uma infinidade de livros da época ou ligados à época (comprava tudo e ainda compro).

E não vejo o que é que me falta de cultura histórica (ainda por cima como interveniente e não "por ouvir dizer") para influenciar mais ou menos a maneira como os meus vêm hoje esses tempos.
Só que eles pensam o que e como entenderem, tão simples como isso para mim ainda que saiba bem que é complicado para outras pessoas.

Como disse alguém "antes de ter filhos tinha 6 teorias para os educar, agora tenho 6 filhos e nenhuma teoria".
E este nem tinha ainda netos adultos e independentes como eu tenho...

(*) Nas vésperas das eleições de 1969 o regime mudou à última hora o papel dos boletins e portanto eram fácilmente distinguíveis pelos presidentes das mesas de voto os da UN e os da oposição.
Assim fui parar a uma "lista negra" qualquer o que me trouxe alguns dissabores.
Tiveram a vantagem de, mais tarde, quando trabalhei na cintura industrial da Lisboa, ter conversas saborosas com aquela rapaziada que em 24 de Abril era da Mocidade Portuguesa e a 26 de Abril era duma esquerda qualquer porque "tinham andado enganados".







Corsil disse...

Essa sistemática estratégia de narrar episódios, camuflados no real objetivo da historieta, são de se lhe tirar o chapéu...!

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Manuel Campos, o meu comentário baseia-se naquilo que vou constatando por comparação com a minha experiência, não tem nada de pessoal com o seu comentário. Não tenho qualquer pretensão em tornar as minhas constatações em verdades universais.

manuel campos disse...


Francisco de Sousa Rodrigues

Agradeço a sua resposta porque é raro as pessoas se darem ao trabalho de ter esse cuidado.

Não me passaria pela cabeça considerar as suas constatações nem as de ninguém numa caixa de comentários como verdades universais, são opiniões que aqui trazemos e que valem o que valem, as mais das vezes pouco até porque "morrem" no post seguinte.

Mas como gosto de ser franco devo dizer que a sua frase "A cultura histórica tem muito a ver também com o que se tem em casa" me pareceu (e parece) menos feliz apesar do "também".

Toda a vida conheci filhos e netos de gente cultíssima que são "analfabetos funcionais" e conheci filhos e netos de "analfabetos reais" que são cultíssimos.
Outros méritos as pessoas têem porque todos somos ignorantes numa quantidade maluca de assuntos perfeitamente dominados pelos outros com que nos cruzamos a toda a hora na rua.


Quanto às Torres Gémeas tenho também uma "história de vida" para contar mas esta com um final feliz.
Um filho meu que faz 50 anos ainda este ano era director na altura de uma empresa ligada à aviação civil e tinha uma reunião na manhã do dia 11, à hora dos atentados, na Torre 2.
Chegou na véspera e telefonou a confirmar a reunião e alguém disse "como já cá estás vem agora que temos ainda tempo para resolver as nossas coisas".
Só que estas alterações eram situações banalíssimas da vida dele na altura e não era nada que justificasse comunicar nem à mulher, nem aos pais nem aos irmãos.
Como só conseguimos encontrá-lo três dias depois porque os sistemas de comunicações entraram em "loop" foi uma situação bem "simpática".


manuel campos disse...


A "história de vida" devia ter ido num comentário separado.

Peço desculpa ao Francisco de Sousa Rodrigues o facto de a ter misturado com a nossa troca de ideias.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Manuel Campos, não tem de pedir desculpa, gostei muito de as ler

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