quinta-feira, setembro 08, 2022

Isabel II e as mãos de Paredes


Carlos Paredes tinha acabado de tocar para Isabel II, acompanhado por Luisa Amaro, naquela noite de 1993, antes do jantar no Guildhall, em Londres. Esse era um dos pontos do programa da visita de Estado que Mário Soares então fazia ao Reino Unido.

Um grupo selecionado de entre os convidados para o jantar tinha tido o privilegio de acompanhar a rainha e Soares, numa sala mais privada, para esse curto espetáculo. Haviam sido uns minutos extraordinários, com a genialidade de Paredes a emergir nos sons que saíam da sua guitarra. Anos antes, em 1985, a rainha já tinha ouvido Paredes, pela primeira vez, na visita de Estado que fez a Portugal.

Acabada a música, toda a a gente se levantou, rainha incluída. Esta aproximou-se então de Carlos Paredes, para o felicitar. E pediu-lhe: “May I see your hands?”. Pegou nas mãos do guitarrista, olhou-lhe os dedos, e disse: “Extraordinary!”

Soares saiu com a rainha e a corte dos convidados. Eu fui cumprimentar Carlos Paredes, comentando com ele o inusitado gesto da rainha. E foi então que ouvi o compositor e genial intérprete a revelar aquela que era a sua proverbial modéstia: "O amigo acha que eu estive bem? É que não estava bem nos meus dias..."

10 comentários:

Unknown disse...

Uma curiosidade tão simples, vinda de uma soberana!

Flor disse...

Genial!!!!

Figueiredo disse...

08 de Setembro de 2022 passará a ser uma data Histórica, um ponto de viragem, para a Irlanda e a Escócia.

Anónimo disse...

Fernando Neves
Muito bom

maitemachado59 disse...















Isabel II morreu hoje - paz a sua alma

maitemachado59







José disse...

Como eu compreendo esta historieta.

Uma vez, numa apresentação numa loja de música, em Lisboa, perguntei a um grande guitarrista canadiano se a "anatomia tinha um papel importante no seu talento como guitarrista". Fez-se silêncio entre o reduzido número de pessoas que ali estavam. O artista olhou para mim, repetiu a pergunta, mirou brevemente as suas mãos e disse "Tem piada, nunca tinha pensado nisso".

Foi um momento magnífico, fantástico - genial! -, de uma simplicidade arrebatadora vinda de um homem que há dezenas de anos pisa palcos de todo o mundo atuando perante multidões entusiasmadas. Calculo que esta história vá constar da biografia do artista, para meu grande orgulho.

Francisco disse...

Este - como habitualmente sucede, mesmo que a propósito de "private stories" - interessante "post" (tenho que ver se para aí arranjo substantivo nacional alternativo), convoca-me para dois comentários paralelos.
O primeiro, é dirigido ao ser humano que faleceu: que repouse em paz, como é desejo também de que um dia, tão tardio quanto possível, suceda com cada um de nós.
O segundo comentário, respeita à monarquia enquanto instituição que, para um plebeu republicano como eu, continua a ser um mistério insondável.
Cada um de nós é fruto do encontro casual entre um espermatozóide e um óvulo, de cuja fertilização nascemos. Ora, que por força deste acaso da biologia alguém fique automaticamente investido de um poder legítimo, é que me parece uma absoluta reminiscência baixo-medieva, a que o Renascimento, pelos vistos, tirou algumas penas mas não cortou as asas. E nem falo aqui no cerimonial (Vitoriano, por sinal, como tantas vezes soe dizer-se) dos homens e mulheres da coroa, que mais não visa no fundo, do que perpetuar, ainda que subliminarmente, uma certa ideia de que não estamos bem na presença de homens e mulheres como nós, mas antes perante seres (lá está o Iluminismo cerceado) cuja proveniência os distingue, se não por uma luz Divina, seguramente por outra causa transcendental mais ou menos insondável. Em momentos mais dados à brejeirice - e porque tudo isto me parece muito risível, ainda que muitíssimo explicável... - ocorre-me até pensar em dimensões tão estritamente humanas como as do amor, dos afectos e do sexo. E aí a dúvida persiste: sendo certo que os monarcas também se reproduzem, será que os preliminares dos preliminares começam com um solene "Se Vossa Alteza Real me permite..."?

Anónimo disse...

A Rainha Isabel II era a personificação do que é estar atento aos outros, o que de resto deve ser requisito e exigência dos membros dos governos de qualquer país, incluindo o nosso!

Corsil disse...

Queen Elizabeth II, era uma fã de blues e jazz.

Anónimo disse...

Anónimo disse...
A Rainha Isabel II era a personificação do que é estar atento aos outros, o que de resto deve ser requisito e exigência dos membros dos governos de qualquer país, incluindo o nosso!

14:35

Um bocado exagerado. A Rainha, volta e meia, fazia pequenos comentários nas visitas, só isso. Não me parece que falar nas mãos de alguém revele uma extraordinária preocupação pelos problemas dos outros.

Carlos Antunes

Há uns anos, escrevi por aqui mais ou menos isto: "Guardo (...) um almoço magnífico com o Carlos Antunes, organizado pelo António Dias,...