quarta-feira, setembro 14, 2022

O outro lado

Ontem, ao ouvir uma intervenção, num determinado contexto, lembrei-me do famoso comentário de Margareth Thatcher de que gostaria que todos os seus assessores fossem manetas. Explicava a antiga primeira-ministra britânica: "quando me dão um parecer, para se não comprometerem, apresentam logo uma outra possibilidade oposta: ‘on one hand’ e ‘on the other hand’ “.

Lembrei-me então dos tempos em que algumas "informações de serviço" no MNE assumiam um estilo formalmente subserviente, marcado por um tom modestamente auto-dubitativo. Às vezes, o autor do texto sugeria opções possíveis, não raramente em contraste, e, no final, qual Pilatos, "lavava as mãos", com a frase clássica: "V. Exª, no seu alto critério, melhor decidirá".

Como devem imaginar, a apresentação de várias opções, sem coragem para as hierarquizar valorativamente, dá um jeitão, a quem tem de decidir...

6 comentários:

Luís Lavoura disse...

Quem tem que decidir deve arcar com as responsabilidades da decisão. Não deve poder transferi-las para os seus subalternos. Se alguém aceita ser pago para decidir, então que decida mesmo. Não transfira esse ónus para os outros.

manuel campos disse...


"Sr.(aqui título académico), no seu alto critério, melhor decidirá".


Um tipo de frase que me apareceu pela frente muitas vezes ao longo da carreira profissional.
À 3ª vez vinda da mesma pessoa informava-o que lhe tinha pedido parecer porque o achava útil e importante (era para isso também que essa pessoa lá estava) mas, se era para receber aquele tipo de texto, ía deixar de lho pedir pois só tínhamos perdido tempo, a responsabilidade final sendo sempre minha passava a decidir logo sózinho e pronto.
Invariàvelmente manifestavam-se "ofendidos" e
"desconsiderados" lá pelos corredores.
Mas a realidade é que conheci vários (todos conhecemos) que fizeram boas, calmas e duradouras carreiras à custa destas "meias-tintas".

Flor disse...

De acordo, em especial no último parágrafo.

manuel campos disse...


Uma adenda suscitada pela leitura do comentário do nosso inefável Lavoura.

O Lavoura não percebeu o que está em causa apesar de a mim o texto me parecer claro: é para isso que existem assessores normalmente bem classificados nas hierarquias, para enquadrar os assuntos sobre os quais um decisor tem que decidir e que óbviamente pode não dominar tão bem porque ninguém vai "a todas".

E portanto "disparou" uma daquelas frases feitas próprias de quem nunca teve que tomar decisões por assim dizer "empresariais" (na profissão dele é problema que não se deve pôr), nas quais incluo as dos órgãos do Estado.

É claro que, como disse atrás, ao decidir prescindir do assessor que não assessorava e tomar as decisões sem algum apoio técnico senão o faro e a experiência, lá me "lixei" várias vezes.
Nada de grave visto à distância mas pouco agradável visto de perto.

Mas como toda a vida disse, desde o mais modesto serviço à maior empresa, a responsabilidade final é de quem está acima, mesmo quando alguém abaixo extrapolou as suas competências e fez asneira da grossa.

Anónimo disse...

Fernando Neves
Também me lembro do tempo no M N E em que todos, o funcionário autor da informação, o então chefe de repartição e o DGrral tinham que apontar uma solução concreta, obviamente fundamentada e alertando para as possíveis consequências para o Ministro decidir.
O pior é quando são os amadores dos gabinetes a substituir os serviços

carlos cardoso disse...

Não se deve confundir o parecer com a decisão: o parecer deve dizer qualquer coisa como: “Há três opções, a opção A tem as consequências 1 e 2, a opção B tem as consequências 2 e 3 e a opção C tem as consequências 1 e 4.” Com esta informação aquele que deve decidir faz a sua escolha.

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