Este texto é para gente com alguma idade.
Lembram-se do 25 de Abril? Claro que se lembram! O tempo que já passou depois dessa data, não é? Vai para quase meio século. Só gente com mais de 60 anos tem memórias sólidas desse tempo de transição entre a ditadura - que começou nos militares do 28 de maio, depois seguiu com Salazar e caiu com Caetano - a democracia dos cravos vermelhos.
E agora pensem: só daqui a dois dias é que o período democrático, inaugurado pela Revolução de Abril, irá igualizar, em tempo, o período do regime ditatorial inaugurado em 28 de maio de 1926.
Já pensaram bem no que isso significa? Portugal viveu uma das mais longas ditaduras do mundo - e não venham com versões edulcoradas de um regime que censurou, excluiu, prendeu, torturou e matou gente!
3 comentários:
A questão tb passa por saber se Portugal poderia ter tido outro regime na conjuntura internacional daquele tempo e com o tecido social que tinha. O Marquês de Pombal não foi um político aclamado pelo regime que lhe sucedeu e, no entanto, ocupa hoje um lugar cimeiro na nossa História. Tb ele censurou, exclui, prendeu, torturou e matou gente! Admitindo a minha ignorância nesta matéria, parece-me que ao Dr. Salazar não sucederá o mesmo simplesmente porque não soube sair na altura devida: o fim da 2a grande guerra. Tivesse ele sabido iniciar a transição democrática no pós-guerra e a ponte que hoje celebra o 25 de Abril, celebrá-lo-ia a ele.
Sim, mas embora a ditadura tenha formalmente durado 48 anos, na verdade ela teve pelo menos três fases diferentes. A ditadura variou bastante de caraterísticas ao longo do tempo.
É de recordar que a ditadura foi praticamente benvinda por toda a gente em 1926. Nessa altura, tratava-se somente de um golpe militar, que instaurou um regime que não era lá muito diferente de outros que tinha havido ao longo da 1ª República.
Primeira República que, aliás, também não era lá muito democrática.
Sim. O dia em que comento é a data em que igualizamos os dois períodos. Vi o que mudou na nossa sociedade e também o que perdurou e se manteve. O legado que a ditadura ainda tem nalgumas das nossas práticas, quer a nível institucional, quer a nível da vivência diária, não deve ser ignorado. Aceito que esta visão possa ser desagradável, mas existem muitos casos que a corroboram.
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