Vou dizer o que pode ser tido como uma banalidade, mas que é o que sinceramente sinto: as decorrências do ataque russo à Ucrânia estão a começar a deslizar para o que pode ser uma grande sarilhada à escala global. Desejo estar a ser pessimista.
Concordo plenamente. Uma enorme sarilhada. E é incrível como só agora as pessoas se dão conta. Há muitas pessoas que ainda julgam que os EUA são o maior produtor mundial de cereais. E o maior problema nem vai ser na Europa. O problema vai ser em África e no Sul da Ásia, que não podem passar sem o trigo produzido na Rússia. Vai haver muito mais gente a morrer de fome lá, do que a morrer na guerra na Ucrânia. Por isso é urgente, não só acabar com a guerra, mas também reintegrar plenamente a Rússia e a Ucrânia na economia global.
No domingo ouvi dizer que a Autoeuropa, tal como outras fábricas de automóveis, pode parar, porque os carros alemães não podem ser produzidos sem as cablagens que eram importadas da Ucrânia.
Luis Lavoura tem razao: O preço dos alimentos aumentará, começando pelo trigo (Rússia e Ucrânia respondem por 25% das exportações mundiais de trigo). Isso pressionará muitos países com déficit alimentar no Oriente Próximo e no Sul Global, piorando a sua balança de pagamentos e ameaçando-os com a inadimplência das dívidas externas.
As exportações de matérias-primas russas podem ser bloqueadas pela Rússia em resposta à moeda atual e às sanções SWIFT.
Essa ameaça pode causar interrupções na cadeia de suprimentos de materiais estratégicos, incluindo cobalto, paládio, níquel e alumínio (cuja produção consome muita energia elétrica como custo primário – tornando o metal ainda mais caro).
Se a China decidir se ver como a próxima nação sob ameaça e se juntar à Rússia num protesto comum contra a guerra comercial e financeira dos EUA, as economias ocidentais sofrerão um sério choque.
O sonho de longo prazo dos guerreiros da Nova Guerra Fria dos Estados Unidos é quebrar a Rússia, ou pelo menos restaurar a cleptocracia gerencial de Yeltsin e dos Harvard Boys, com oligarcas buscando lucrar com as suas privatizações nas bolsas de valores ocidentais.
A OGAM (Petróleo, gás, mineração) ainda sonha em comprar o controle majoritário da Yukos e da Gazprom. Wall Street adoraria recriar o boom do mercado de acções russo. E os investidores da MIC (armas) estão antecipando alegremente a perspectiva de vender mais armas para trazer tudo à tona.
SARILHADA ? Palavra simples para o maior PAIOL DE POLVORA, desde a ultima guerra.
Não sei se está a referir-se ao mesmo, mas o que eu entendo que pode dar "uma grande sarilhada à escala global" é a tentativa da administração Biden, prosseguindo a estratégia iniciada por Trump, de querer envolver a China no conflito.
Os leaks para os media a partir de fontes oficiais do governo americano acerca de um pretenso apoio militar da China à Rússia, que foram desmentidos pelos chineses, visa fazer a UE alinhar com os US nessa estratégia. É uma aventura irresponsável que pode fazer escalar o conflito à escala global e que comporta elevados riscos para a paz.
4 comentários:
Concordo plenamente. Uma enorme sarilhada. E é incrível como só agora as pessoas se dão conta. Há muitas pessoas que ainda julgam que os EUA são o maior produtor mundial de cereais.
E o maior problema nem vai ser na Europa. O problema vai ser em África e no Sul da Ásia, que não podem passar sem o trigo produzido na Rússia. Vai haver muito mais gente a morrer de fome lá, do que a morrer na guerra na Ucrânia.
Por isso é urgente, não só acabar com a guerra, mas também reintegrar plenamente a Rússia e a Ucrânia na economia global.
No domingo ouvi dizer que a Autoeuropa, tal como outras fábricas de automóveis, pode parar, porque os carros alemães não podem ser produzidos sem as cablagens que eram importadas da Ucrânia.
Luis Lavoura tem razao: O preço dos alimentos aumentará, começando pelo trigo (Rússia e Ucrânia respondem por 25% das exportações mundiais de trigo). Isso pressionará muitos países com déficit alimentar no Oriente Próximo e no Sul Global, piorando a sua balança de pagamentos e ameaçando-os com a inadimplência das dívidas externas.
As exportações de matérias-primas russas podem ser bloqueadas pela Rússia em resposta à moeda atual e às sanções SWIFT.
Essa ameaça pode causar interrupções na cadeia de suprimentos de materiais estratégicos, incluindo cobalto, paládio, níquel e alumínio (cuja produção consome muita energia elétrica como custo primário – tornando o metal ainda mais caro).
Se a China decidir se ver como a próxima nação sob ameaça e se juntar à Rússia num protesto comum contra a guerra comercial e financeira dos EUA, as economias ocidentais sofrerão um sério choque.
O sonho de longo prazo dos guerreiros da Nova Guerra Fria dos Estados Unidos é quebrar a Rússia, ou pelo menos restaurar a cleptocracia gerencial de Yeltsin e dos Harvard Boys, com oligarcas buscando lucrar com as suas privatizações nas bolsas de valores ocidentais.
A OGAM (Petróleo, gás, mineração) ainda sonha em comprar o controle majoritário da Yukos e da Gazprom. Wall Street adoraria recriar o boom do mercado de acções russo. E os investidores da MIC (armas) estão antecipando alegremente a perspectiva de vender mais armas para trazer tudo à tona.
SARILHADA ? Palavra simples para o maior PAIOL DE POLVORA, desde a ultima guerra.
Não sei se está a referir-se ao mesmo, mas o que eu entendo que pode dar "uma grande sarilhada à escala global" é a tentativa da administração Biden, prosseguindo a estratégia iniciada por Trump, de querer envolver a China no conflito.
Os leaks para os media a partir de fontes oficiais do governo americano acerca de um pretenso apoio militar da China à Rússia, que foram desmentidos pelos chineses, visa fazer a UE alinhar com os US nessa estratégia. É uma aventura irresponsável que pode fazer escalar o conflito à escala global e que comporta elevados riscos para a paz.
Enviar um comentário