A Rússia tem vindo a ser acusada de “revisionismo” da ordem política internacional, isto é, de tentar rever os equilíbrios a que, num certo momento, nem que fosse pela força das coisas, dera sinais de se ter acomodado. (Mas, por favor!, peço que não abramos uma discussão sobre isto, porque esse não é o objeto deste texto.)
Há dias, ao ouvir numa televisão um consagrado especialista em questões internacionais utilizar o termo, claramente nesse sentido, contra a política atual de Moscovo, tive um “déjà vu”.
É que eu já tinha ouvido aquela mesma pessoa a utilizar esse exato termo, mas com outro bem diferente sentido, embora também com um caráter pejorativo, face ao governo de Moscovo.
Mas isso tinha sido há 50 anos!
Essa pessoa era, então, maoísta. Acusava, por esse tempo, o Partido Comunista da União Soviética, de que o “nosso” PCP era então um discípulo fiel, de se afastar da leitura ortodoxa do marxismo, deslizando para a “social-democracia” de figuras como Kautsky e Bernstein, então diabolizada por aqueles que Cunhal considerava estarem afetados pela “doença infantil do comunismo”. Para esses radicais maoístas dos anos 70, a URSS e o PCP eram então “revisionistas”. Na linguagem de café dessa época, o pessoal do PCP não passava de “um bando de revisas”! “Revisa” era uma abreviatura depreciativa em voga…
Uma coisa é certa: Moscovo, por uma medida ou por outra, está condenada a ser “um bando de revisas”!
3 comentários:
Quem é esse "consagrado especialista em questões internacionais" que foi maoista?
O Luís Lavoura não entendeu que, se eu quisesse ter escrito o nome da pessoa, tê-lo-ia feito?
Eu reparei que essa pessoa, que fez uma evolução notável nas suas posições políticas, enriquecendo-as com as informações que foi recolhendo da realidade, em vez de se limitar a reproduzir o livrinho vermelho, terá reutilizado um termo que se adequava bem à notável entrevista, se bem que essa reutilização revelasse anteriores hábitos argumentativos.
No software dos computadores fala-se muito nisso, na virtude da reutilização de software desenvolvido anteriormente, prática muito recomendada por poupar recursos.
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