Eu também acho que a ação de Putin é criminosa, que a Rússia se transformou numa mera ditadura e que a invasão da Ucrânia é uma grosseira violação do Direito Internacional, que deve ser punida. Só que, ao contrário de muitos, quero continuar a ouvir e ler quem não pensa como eu.
9 comentários:
Deve ser punida? Como?
O direito internacional é um conceito sem sentido quando se aplica apenas aos inimigos dos Estados Unidos.
Não apenas ninguém puniu Bush e Blair: foram recompensados. Foram reeleitos .
Se queremos ver Putin na sua verdadeira luz, imaginemo-lo pousando num F-16 e depois declarando 'Missão Cumprida'."
Caro Senhor Embaixador:
Nem de propósito. Quem lhe escreve neste momento é o mesmo comentador que sempre comentou aqui com muito respeito e até com admiração, confesso, pela forma como sempre comunicou com muita sabedoria e sobretudo com muito bom senso neste nosso tempo. E vou já direito às duas perguntas que objetivamente me trouxeram aqui hoje e que caso o Sr. Embaixador entenda responder deixava-me muito feliz.
Considera que os EUA podiam ou não ter conseguido que esta invasão à Ucrânia nunca tivesse acontecido? E já agora, que ainda hoje podem parar esta guerra desumana como todas as guerras quando quiserem?
O que como já deve ter percebido implica um ponto muitas vezes focado pelo Sr. Embaixador desde o dia 25 e nomeadamente que a Rússia mentiu a toda a gente quando disse que não estava a pensar entrar na Ucrânia. Porque sob o meu ponto de vista essas declarações sempre estiveram intimamente ligadas às negociações que decorreram antes da invasão. O que também que só permite concluir que falharam. E falo como é óbvio da questão Nato que a Rússia já vinha a levantar junto da comunidade internacional há muitos anos. E não vou agora maçá-lo com o compromisso do Ocidente aquando da queda do muro ou com o que a Rússia pode ou não temer como virou quase um desporto nacional. Ou sequer com o pensamento de antigos conselheiros da casa Branca porque quero manter-me o mais objectivo possível quanto às duas questões que deixei acima. Independentemente do que cada um pensa sobre mais uma série de questões. Como a total falta de autonomia estratégica da UE que além de também ter contribuído para o conflito já está a passar essa factura aos europeus. E para quem sempre quis ver a UE como um actor global constatar que nem como actor europeu…
Sobretudo num tempo em que estão acontecer fenómenos em que eu nunca acreditaria ainda há muito pouco tempo. Logo a começar pela mais que óbvia pandemia no tempo presente. Que até para quem nunca foi dado a teorias da conspiração, muito pelo contrário, não sei se algum dia saberemos tudo. E até no plano interno, permitindo um patamar muito menos relevante e completamente distinto, começo logo por me lembrar do epifenómeno no clube que sei que partilhamos, BdC. Que todos os sócios também tinham a obrigação de saber que nunca passou de um vigaristazeco. Mesmo que a faceta de sociopata possa ter surpreendido no fim. Que não é muito diferente do fenómeno André Ventura ou até da adoração a Navalny, que ainda há pouco tempo também queria espezinhar os imigrantes como baratas. E todos estes exemplos porque em todos eles vejo o mesmo mundo a preto e branco de ignorância e intolerância, como andam sempre associados, em que vale tudo para contrariarmos qualquer coisa de que ainda gostemos menos?! E também não vale a pena particularizar agora o quê em cada caso. Num mundo que julgava mais esclarecido e sobretudo informado. Resta esperar que por cá nenhum comediante chegue um dia a S. Bento patrocinado por algum gangster como o nosso ilustre ex-Cônsul, César do Paço.
Continua...
E como lamentavelmente não foi possível inserir o comentário todo na mesma caixa, solicito só um pouco mais de atenção para esta segunda parte mais breve caro Sr. Embaixador.
E não queria terminar sem antes dizer que também gostei sempre muito de ouvi-lo sobre a Ucrânia até ao fatídico dia 25. Que fique claro que também condeno. Só não acompanho que só se deve à mente de um louco. E que tentar compreender mais nunca seja visto como tomar parte. Inclusive recordo quando criticava e bem não tanto o golpe de estado de 2014 mas algumas das figura que saíram dele como o corrupto Poroshenko. Que é muito mais que um corrupto se também me permite um link inquietante. Sobretudo como foi possível esconder tanta perfídia do mundo em geral. Em que agora mergulhou a Ucrânia toda.
https://youtu.be/ErHppcFuz9g
Talvez porque por vezes quem semeia ventos colhe tempestades. Não querendo reduzir de qualquer maneira um problema muito mais complexo como o conflito que corre na Ucrânia à questão neonazi que também é efectivamente um grande problema da Ucrânia. E foi muito bem escondido do mundo durante demasiado tempo. Pelo menos na escala da insanidade. Para mim quase como os campos de concentração nazis geminados com algumas cidades alemãs que os seus habitantes também garantiam que nunca tinham percebido. Ainda hoje me arrepia o discurso de Poroshenko logo no início do vídeo que deixei. Que podia ser perfeitamente proferido por Himmler. Mas no fim do dia o que me assusta mesmo, para lá do conflito, é o grau de desinformação a que estamos votados. Ou como dizia ainda há dias Lara Logan, uma jornalista americana depois de 35 anos a cobrir conflitos, nunca se lembra de ver o seu próprio país mentir tanto ao mundo. Falando mesmo numa escala épica. E é mesmo esta ditadura pelo pensamento único sobre este conflito que me incomoda quase tanto como o próprio conflito. Até porque nunca o vamos conseguir parar com tanta falsidade. Como de alguma forma também aborda neste post diário. Convinha que se chegassem mais alguns responsáveis à frente para obtermos a paz que todos desejamos
De acordo com o Senhor Paulo Guerra.
Durante a conferência sobre segurança na Europa, em Março de 2007, Vladimir Putin já perguntava aos ocidentais: “A OTAN colocou as suas forças de linha de frente nas nossas fronteiras! Contra quem se volta essa expansão?
E o que fizeram das garantias dadas após a dissolução do Pacto de Varsóvia? Um silêncio glacial saudou essas observações de bom senso, e a NATO continuou cegamente a (empurrar para o leste.
Continuando a política por outros meios, a guerra logo se encarregaria de atribuir limites a essa expansão mortífera.
Os russos, porém, não são os únicos a alertar os países membros da Aliança Atlântica. Altos funcionários do "mundo livre" também os alertaram para o perigo da transgressão final, aquela que viraria tudo de cabeça para baixo: após a imprudente extensão da Aliança Atlântica à maioria dos países do Leste Europeu, a absorção da Ucrânia ser a faísca que inflamaria a polvora.
Ao transformar este país irmão da Rússia em um bastião avançado da NATO, completaria o perigoso cerco do território russo.
Colocaria as suas principais aglomerações urbanas a poucos minutos de um ataque de míssil. Isso transformaria o Mar Negro em uma piscina de exercícios para a Marinha dos EUA. Incapaz de recuar mais, de costas para a parede, Moscou não ficaria sem reagir. Seria guerra. Inevitável.
Esse prognóstico realista, alguns espiritos esclarecidos do chamado "mundo livre", pouco suspeitos de constituir uma quinta coluna pró-russa, já o formularam há muito tempo.
O ex-embaixador dos EUA na União Soviética Jack F. Matlock Jr. declarou em 1997 que a expansão da OTAN era "um erro estratégico profundo, incentivando uma cadeia de eventos que poderia produzir a mais grave ameaça à segurança desde o colapso da União Soviética".
Um famoso estrategista da Guerra Fria, George Kennan considerou em 1998 que a expansão da NATO era um “erro trágico” que provocaria uma “má reação da Rússia”.
O ex-diretor da CIA William Burns disse em 2008 que "a entrada da Ucrânia na NATO é a mais brilhante de todas as linhas vermelhas".
O secretário de Defesa de Bill Clinton, William Perry explica em suas Memórias que o alargamento da NATO é a causa do "colapso das relações com a Rússia".
Com o golpe que derrubou o presidente Viktor Yanukovych do poder em Fevereiro de 2014, a situação agravou-se.
Na cúpula de Bucareste em 2008, George W. Bush propôs que a Ucrânia se juntasse à NATO.
A tomada do poder por uma junta pró-ocidental abre caminho para a adesão, cujo princípio está consagrado na nova Constituição ucraniana pelas autoridades de Kiev.
Mais uma razão para Henry Kissinger soar o alarme: o ex-secretário de Estado afirma sem rodeios que “a Ucrânia não deve aderir à OTAN”.
Robert Gates, ex-secretário de Defesa, escreve nas suas Memórias que “agir tão rapidamente para expandir a NATO é um erro.
Tentar trazer a Geórgia e a Ucrânia para a NATO é realmente um exagero e uma provocação particularmente monumental.” Um ponto de vista partilhado por Noam Chomsky em 2015: "A ideia de que a Ucrânia poderia aderir a uma aliança militar ocidental seria completamente inaceitável para qualquer líder russo", e este desejo de aderir à OTAN "não protegeria a Ucrânia, mas a ameaçaria com uma grande guerra".
Uma previsão sombria que se junta à de Roderic Lyne, ex-embaixador britânico na Rússia, que declarou em 2021 que “empurrar a Ucrânia para a OTAN é estúpido em todos os níveis”. E acrescentou: “Se você quer começar uma guerra com a Rússia, esta é a melhor maneira de fazê-lo”
Hoje, está feito. A guerra está aqui, e a NATO tem a esmagadora responsabilidade por ela.
Nunca me perpassando o espírito a ideia de discordar, absolutamente, daquilo que parece evidente, ocorrem-me algumas reticências baseadas em declarações que, porventura por falta de um conhecimento aprofundado dos factos, tenho séria dificuldade em entender ou, sequer, enquadrar.
Não parece discutível o facto de que o Presidente da Federação Russa mentiu despudoradamente. Não obstante, as inviáveis reivindicações do Presidente da República Democrática da Ucrânia parecem difíceis de explicar.
Aflorei o tema em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2022/03/tempos-novos-mentiras-velhas.html, que tenho gosto em convidar a visitar e comentar.
Caro Paulo Guerra
Li, e apreciei os seus comentários sobre o post do Embaixador.
Com todo o respeito, permito-me discordar de algumas das suas considerações, fundamentalmente porque, na minha modesta opinião, a invasão da Ucrânia se traduz numa violação do direito internacional e, designadamente, do suporte jurídico estabelecido pela NATO e Rússia nas Acta Final de Helsínquia de 1975, Carta de Paris de 1990, Memorando de Budapeste de 1994 e Acto Fundador NATO-Rússia de 1997.
Em particular, a alegação russa de que em 1990 os responsáveis da NATO se comprometeram de que esta não se alargaria para a Europa Central e Oriental, e não construiria infraestruturas militares junto das fronteiras russas, nem destacaria tropas para essas fronteiras, são incorrectas. Com efeito, no Acto Fundador, a NATO reiterou que “no actual ambiente de segurança e no ambiente previsível no futuro, a Aliança levará a cabo as suas missões de defesa colectiva e outras, garantindo a necessária interoperabilidade, integração e capacidade de reforço, em vez do destacamento adicional de forças de combate permanentes substanciais. Neste contexto, é possível que haja reforço, quando necessário, em casos de defesa contra uma ameaça de agressão e missões de apoio à paz coerentes com a Carta das Nações Unidas e com os princípios governativos da OSCE, bem como para exercícios em consonância com o Tratado CFE (Tratado sobre Forças Convencionais na Europa)”.
Por isso, no âmbito deste Acto Fundador, a NATO tem-se limitado a apoiar a modernização das infraestruturas militares, como bases aéreas, nos países que aderiram à Aliança, na medida do necessário para reforço e exercícios. Mesmo antes da crise na Ucrânia, o único sinal de forças Aliadas nos novos países membros eram os caças da NATO utilizados nos Estados bálticos em missões de policiamento aéreo, forças defensivas mínimas que não podem ser descritas como forças de combate substanciais no contexto do Acto Fundador. Desde o início da crise, a NATO tem tomado medidas para apoiar as defesas dos seus membros da Europa Oriental, medidas que também estão em consonância com o Acto Fundador e são um resultado directo das acções militares desestabilizadoras por parte da Rússia.
Por fim, o Acto declara igualmente que “a Rússia exercerá uma contenção semelhante no destacamento das suas forças convencionais na Europa”, pelo que a agressão da Rússia contra a Ucrânia é uma violação flagrante desse compromisso, tal como a suspensão unilateral do cumprimento do Tratado CFE, sustentada pelo revisionismo militarizado do Presidente Vladimir Putin, que desvinculou a Rússia do espaço euro-atlântico, e que é efectuado à custa de milhões de vítimas inocentes e um movimento nunca visto desde a Segunda Guerra Mundial de mais de três milhões e meio de refugiados ao fim de apenas um mês.
Escreve: "a NATO tem-se limitado a apoiar a modernização das infraestruturas militares, como bases aéreas, nos países que aderiram à Aliança, na medida do necessário para reforço e exercícios."
Exercice n°1: Dez anos após a intervenção da OTAN na Líbia, o que aconteceu com o país há muito considerado um dos mais prósperos da África? Esta intervenção, que não só criou um caos de segurança em solo líbio, mas também em muitos países da região, simplesmente destruiu os fundamentos básicos do Estado.
E 2,8 milhões de refugiados.
Exercice n°2: Não é a Ucrânia, é Belgrado na Sérvia (ex-Iugoslávia) sob bombardeio da OTAN em 1999, que durou 78 dias. Nao houve trégua, nem mesmo durante a Páscoa Ortodoxa
Hà outros, mas estes dois são exemplares da caracteristica "defensiva" da NATO...
O exercício n. 2 não está completo e apresenta na minha opinião informações muito parciais. A ação da NATO foi ao abrigo de uma resolução das Nações Unidas depois das ações de guerra da Sérbia como a que se viu em Srebenica. Depois do cerco de Sarajevo depois de uma série de acções de prepotência de Milosevic e do seu fiel Karadzic um aliado na Bosnia.
Quanto ao exercicio n.1 efetivamente as ações de guerra na Líbia e no Afeganistão sem falar da pouca influência exercitada sobre a Arábia Saudita para interromper as ações de guerra no Yemen são muito criticáveis tendo causado muita instabilidade regional. Sem falar da questão da 2.a guerra do Iraque (era presidente nos EUA George W. Bush) que se seguiu ao 11 de Setembro. O mundo democrático não é nada perfeito o sistema capitalista é absolutamente criticável mas ao mesmo tempo é suficientemente perfeito para deixar espaço a opiniões e contrastes que na Rússia de Putin assim como em outras autarquias no mundo são um mero sonho. Aliás as respostas ao blog do embaixador revelam essa mesma liberdade.
Seja como for se a situação na Ucrânia fosse como a pintavam e a pintam ainda hoje quem apoiou o Putin ou com ele teve relações políticas ou de interesse(e de certo não os russos, que não podem protestar com o mesmo efeito que por exemplo tiveram os protestos contra a guerra do Vietnam nos EUA) porque encontrou tanta oposição? Porque as forças armadas desse país não se desmoronaram como aconteceu ao exército afegão em Setembro do ano passado depois do avanço das forças Taliban? Não me digam que é tudo propaganda poeira nos nossos olhos?
O opor-se a ações de guerra não significa que se não se possam compreender e simpatizar com as ações de defesa extrema contra um invasor. Qual era a alternativa? Que esperassem tempos melhores e deixassem ocupar todo o país para evitar a guerra com o seu débito de mortos e feridos e de ódio? E que faríamos nesse caso sucessivamente? Deixar que Putin ocupasse pelo mesmo motivo a Polónia, a Arménia, a Geórgia, os países bálticos ou todos os países que faziam parte do pacto de Varsóvia?
O facto que muitas ações de guerra do "nosso" Ocidente sejam injustas (e desculpem-me os leitores mas tal foi sempre denunciado pelos nossos livres meios de comunicação!) não significa que a defesa da Ucrânia, o prestar assistência à resistência apresentada seja militar que civil seja um erro. Senão qual a justificação histórica para apoiar a resistência contra os Nazis durante a II guerra mundial?
Enfim acho que a expansão da NATO como justificação para a invasão da Ucrânia é outra poeira nos nossos olhos. O Putin já tinha ocupado a Crimeia, em 2014 tinha apoiado os movimentos rebeldes do Donbass, tinha forçado a criação da Transnipria na Moldávia, interveio na guerra entre o Azerbaijan e a Arménia a favor da primeira, a intervenção na Geórgia "a favor" das populações russófonas...
E pensava que a Europa e os EUA estavam adormentados que não teriam tido a resposta que tiveram, que eram fracos nas suas decisões pela contemporização em respeito às ações descritas em precedência. Talvez tenham feito uma análise pouco claro e o tiro saiu-lhe para já pela culatra...
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