sexta-feira, junho 13, 2025

Europa


Ontem, no Mosteiro dos Jerónimos, recordámos a assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às então Comunidades Europeias.

Há cinco anos, no mesmo local, fiz uma intervenção evocativa dessa mesma ocasião. Relembro-a hoje aqui.

quinta-feira, junho 12, 2025

Declaração Schuman


51 pessoas foram convidadas por Ana Catarina Mendes para escrever sobre os 75 anos da Declaração Schuman. Daí resultou o livro "Que futuro para a Europa?", onde tenho um texto meu.

Hoje, no Museu do Dinheiro, tendo Mário Centeno como anfitrião, Teresa de Sousa e José Pacheco Pereira fizeram a apresentação da obra.

Adesão


Nos 40 anos da assinatura do Tratado de Adesão.

"Olhe que não!"


Esteja atento a este titulo! Pode ser que, daqui a dias, possa vir a surgir "no ar" alguma coisa com esse nome, a lembrar polémicas de outros tempos. Se isso acontecer, a responsabilidade é minha e de Jaime Nogueira Pinto.

Ordem global

 


EUA, Ucrânia e Gaza


Ver aqui.

terça-feira, junho 10, 2025

Dia de Portugal



"Nós, portugueses, não somos ricos. Somos pobres e injustos. Mas, ainda assim, derrubámos uma longuíssima ditadura e terminámos com a opressão que mantínhamos sobre diversos povos e com eles estabelecemos novas alianças e criámos uma comunidade de países de língua portuguesa. E fomos capazes de instaurar uma democracia e aderir a uma união de países livres e prósperos que desejam a paz.

Assim sendo, por certo que ainda não temos as respostas, mas, perante as incógnitas que nos assaltam, sabemos que temos a força.

Leio Camões, aquele que nunca mais morreu, e comovo-me com o seu destino, porque se alguma coisa tenho em comum com ele, que foi génio, e eu não sou, é a certeza de que partilho da sua ideia, de que um ser humano é um ser de resistência e de combate. É só preciso determinar a causa certa."

(Palavras finais de Lídia Jorge, hoje, no seu discurso no dia de Portugal)

A propósito!


Ontem, na Feira do Livro, no pavilhão da Dom Quixote, dentro do espaço Leya, vi este livro. Dizem-me que é interessante, mas, em rigor, não posso garantir porque, devo confessar, por uma qualquer razão, nunca me deu para adquirir um exemplar. Ao preço de Feira, vi que era uma pechincha tentadora. Quer um conselho, caro leitor? Pelo sim pelo não, compre, leia e depois diga-me o que pensa. O que é o livro? Embora o título "alzheimeriano" possa induzir em erro, não se tratará das memórias da vida da pessoa que escreveu a obra, sendo apenas histórias pontuais, políticas e diplomáticas, que ela terá vivido, deliberadamente registadas sem qualquer lógica cronológica, num tom ligeiro e não raramente bem humorado. O livro vai na terceira edição, seja lá o que isso possa significar. Parece que, este ano uma vez mais, não vai haver aquela cena do autor estar numa mesinha num fim de semana na feira, "cara al sol", a assinar os livros aos compradores. Disseram-me que isso não faz o género dele. Feitios...

segunda-feira, junho 09, 2025

O meu saldo da Feira



Aproveitando a noite fresca, fui hoje à Feira do Livro. Estava esplendorosa, apinhada, com filas imensas de gente a aproveitar uma espécie de "happy hour" que parecia haver por lá.

A acreditar nas pessoas que compravam livros, imensa gente jovem, o futuro da edição está garantido. E isso é muito boa notícia.

Olhando os preços dos clássicos, tenho a sensação de que, com escassas centenas de euros, ficaria garantida a cultura literária básica de quem quer que seja. Só não lê o essencial da literatura portuguesa e universal quem não quiser. Não é pelo preço dos livros.

Quanto ao resto, quanto ao monte de escribas de auto-ajuda e ofícios correlativos que enche de papel aquelas casotas, isso é outra história. Quem quiser ler ou comprar o que anda na moda tem de pagar o preço que faz viver essa gente. É a lei do mercado, a lei das feiras.

Ontem, só gastei cinco euros na Feira. Foi o parco saldo da minha visita. Mas eu não sou exemplo: compro muitos livros durante o ano. Adquiri apenas estas cartas, que me pareceram interessantes. Ainda tenciono regressar à Feira, embora mais aos alfarrabistas do que ao resto.

Visitem a Feira do Livro. Os livros e quem os edita merecem-no.

Frederick Forsyth


Acabo de ler que morreu Frederick Forsyth, com 86 anos. Deve haver poucos escritores (Eça de Queirós é um desses poucos) de quem eu possa dizer, com total certeza, que li toda a sua obra. Forsyth era um deles.

Um dia de setembro de 1979, em Viena, à conversa em casa do meu amigo António Pinto Rodrigues, que já se foi há muito da vida, confessava-lhe que, até então, praticamente não tinha lido obras de ficção em língua inglesa. À época, tinha bastantes livros em inglês de outra natureza, da história a memórias e ensaios diversos, passando pelos inevitáveis "current issues", mas eram-me pesadas as incursões que tinha feito pela ficção anglo-saxónica, preferindo as traduções portuguesas dessas obras. Educado com o francês como primeira língua estrangeira, a adaptação ao inglês tinha sido um percurso voluntarista que, até então, ainda esbarrava nas obras de ficção.

O António era casado com uma americana, a Dee. Brincámos com o facto de ser mais fácil progredir no conhecimento da língua estrangeira da pessoa com quem se vive. Não era essa a minha conjuntura familiar. Foi então que ele me deu uma "chave" para iniciar a resolução do problema que eu tinha: "Começa a ler o Forsyth no original! Foi por ele que eu iniciei a leitura de ficção em inglês. Os temas são interessantes - e eu sei que para ti também são -, a linguagem não é complicada, o ritmo da escrita prende-nos e, mesmo que nos falhem algumas palavras, devemos ir em frente na leitura. Sobretudo, não pares nunca para ir ao dicionário: segue em frente! Acabarás por tirar as coisas pelo contexto." Foi um excelente conselho!

Já tinha lido, em versões portuguesas, alguns "clássicos" de Frederick Forsyth. Decidi relê-los. Fui assim ginasticando o meu inglês através desse género de ficção. Passei depois aos "thrillers" de outro tipo e de outros autores - e, desde então, nunca mais parei. Não consigo nem tenho a pretensão de alguma vez ir conseguir ler no original todos os livros de ficção em língua inglesa que me apeteça. No caso de alguns autores, continuarei a preferir as traduções portuguesas (e até francesas). Mas, nos dias de hoje, ler em língua inglesa, embora com grau diferente de dificuldade, é para mim quase tão natural como ler português, francês ou espanhol - sendo esse o definitivo limite do meu mundo linguístico.

No dia da sua morte, deixo este meu agradecimento a Frederick Forsyth - e ao meu saudoso amigo António Pinto Rodrigues, com um beijo à Dee e à minha afilhada Marla.

Sem comentários

 


A Ucrânia, a Rússia e a Ucrânia na Rússia.


Ver aqui.

Afinal, a felicidade


Li há pouco no site do "Expresso" um artigo sobre um tema curioso: o crescente desinteresse, detetado em qualificados quadros profissionais das gerações mais novas, em assumirem cargos de chefia. Segundo o texto, um pouco por todo o mundo desenvolvido, cada vez surgem mais pessoas que, ao contrário da lógica prevalecente em épocas anteriores, optam por não aceitar responsabilidades de natureza hierárquica. Chamam a isso "conscious unbossing".

O seu bem-estar e comodidade pessoais, o grau medido de satisfação profissional que pretendem ter, o tempo para o lazer e para a família são por essas pessoas colocados acima do tradicional carreirismo. Essa atitude, segundo o artigo, está a acarretar, para muitas empresas, um tempo diferente e mais exigente na gestão laboral. 

Ao ler aquele texto, veio-me à memória um episódio com cerca de três décadas. O tema não é exatamente o mesmo, mas tem algumas similitudes. 

Eu tinha acabado de assumir funções governativas, no seio de um ministério para onde entrara 20 anos antes. Era uma experiência muito diferente daquela que é mais comum: a maioria das vezes, os membros dos governos surgem de fora do setor da Administração Pública que vão tutelar. Para aquilo que aqui interessa, no meu caso era assim.

Um dia, veio à conversa o nome de um determinado colega da carreira diplomática. Era uma pessoa de um tempo profissional algo distante do meu, cujo percurso eu tinha perdido de vista. Acontece muito na nossa carreira: cada um vai para o seu lado, por várias partes do mundo, e é vulgar darmos por nós a perguntar: "que é feito de fulano?" Apenas sabia que, naquele caso, ele se tinha atrasado bastante na carreira, que falhara várias promoções. 

Estranhei a situação. Tinha-o conhecido razoavelmente bem, sabia-o uma pessoa inteligente, capaz, culta, com bom senso e de uma excelente relação pessoal. O que é que teria corrido mal na sua carreira? Algum episódio menos agradável? Uma perseguição por parte de alguém influente? Ou tratava-se apenas de um mero azar?

Chamei-o ao meu gabinete. Começámos, como é da natureza destas coisas, por falar de gente e de factos que tínhamos em comum. A certa altura, já não sei bem como (sou muito inábil para conduzir conversas delicadas), tive a coragem de dizer-lhe da estranheza com que via a sua situação profissional, que me parecia francamente imerecida. E adiantei que talvez ainda fosse possível vir a corrigir esse estado de coisas. Sem lhe prometer nada, inquiri se podia fazer algo por ele, se havia alguma função que ele ambicionasse.

A resposta daquele meu colega desarmou-me. Em síntese, deu-me a entender que tinha "desistido", que não procurara nunca grandes lugares de chefia, que se acomodara às ocasiões profissionais que lhe tinham sido sugeridas, sem nenhuma especial ambição, e que, em síntese, vivia cómodo dessa forma. Não desejava, em definitivo, assumir responsabilidades profissionais acrescidas. Agradecia muito a amizade do meu gesto, mas dispensava e achava desnecessária qualquer intervenção da minha parte. E assim ficámos.

Quando ele saiu do meu gabinete, dei por mim a pensar que, se calhar, cada um de nós acaba por encontrar o seu modo de ser feliz ou, o que é capaz de ser ainda mais verdade, uma forma hábil de conseguir não ser infeliz. E não será isso mesmo, afinal, a felicidade?

Pues!

Na vitória desta noite, nem só os espanhóis foram derrotados: foram-no também os especialistas de bancada que queriam a saída de Roberto Martinez.

domingo, junho 08, 2025

Muy bien!


Aljubarrota já lá vai há muito (procurem encontrar a batalha de Aljubarrota numa História de Espanha e terão uma surpresa), mas é sempre agradável, no cíclico confronto peninsular (no MNE, aprende-se a não dizer ibérico), ganhar à "nossa vizinha Espanha" ou a "nuestros hermanos", na falta de imaginação dos que foram educados na cultura de almanaque.

Nelson de Matos


"Claro que editamos". Foi a frase que logo ouvi de Nelson de Matos, creio que em inícios de 2002, quando lhe telefonei de Nova Iorque a propor a publicação de um livro meu pela Dom Quixote. 

Era apenas uma sondagem, nem sequer tinha o texto concluído, mas a resposta do Nelson deu logo um outro alento à ideia. 

Deitei-me ao trabalho e, em setembro desse ano, ele e eu lá estivemos no CCB, com o presidente Jorge Sampaio e meio mundo de amigos, numa bela sessão de lançamento do "Diplomacia Europeia", que teve a honra de um prefácio de Mário Soares.

Nelson de Matos é unanimemente reconhecido como uma das maiores figuras do mundo editorial português. 

Tinhamo-nos conhecido, e com ele tinha tido uma primeira bela conversa, num aniversário do Carlos Veiga Ferreira, outro grande editor, num almoço algures ali por Santa Catarina, uns anos antes. 

O simpático e irónico sorriso do Nelson, uma das suas imagens de marca, desaparece agora, aos 80 anos. O meu sincero pesar à sua família.

sábado, junho 07, 2025

O destino inesperado


Foi no início de 2024. O telefonema era de França. Eu conhecia mal o cônsul-geral português em que estava do outro lado da linha e que, simpaticamente, me convidava para intervir num colóquio, que estava a organizar com uma universidade da cidade, incluindo outros oradores portugueses, sobre os 50 anos do 25 de Abril. 

Como sempre acontece nestas coisas, e apesar de toda a boa vontade, revelou-me que estava a ser-lhe difícil juntar apoios para custear o alojamento e as viagens dos convidados portugueses, que naturalmente dispensavam qualquer outro encargo pela sua participação. 

Tempos depois, em uma outra conversa, informou-me que, em especial, estava a ser muito complicado garantir a verba para as passagens aéreas. Eu tinha feito as contas e constatado que, se compradas com grande antecedência, as viagens podiam sair bastante mais baratas, ainda que com a limitação de não poderem ser canceladas. Como já tinha decidido levar comigo a minha mulher, e passar por lá uns dias mais, em férias, comprei entretanto os bilhetes do meu bolso. Mas não avisei disso o nosso esforçado representante consular. 

Em casa, avisei que, acontecesse o que acontecesse, iríamos sempre passar uma semana de férias a Lyon. E, para apoio "teórico", mandei vir pela Amazon o guia da Michelin sobre a cidade.

Algum tempo decorreu. Um dia, o nosso cônsul-geral, desolado, telefonou-me a informar que, por mais esforços que tivesse feito, não havia conseguido juntar os apoios necessários à realização do colóquio. Lamentava, assim, ter de cancelar a iniciativa. 

Percebi perfeitamente. São coisas que acontecem! Para não o penalizar mais, não lhe revelei que já tinha comprado as passagens. No termo da nossa conversa, ainda o ouvi dizer: "É mesmo uma pena que o senhor embaixador não possa vir. Teria muito gosto em recebê-lo cá em Marselha."

Em Marselha?! Ó diabo! Eu tinha comprado passagens para Lyon! O cancelado colóquio era para ser em Marselha! Na nossa primeira conversa, devo ter feito confusão e, a partir de então, intimamente, dei por adquirido que o evento seria em Lyon. Imaginem se o colóquio tivesse tido lugar em Marselha e eu, alegremente, me apresentasse em Lyon! 

E lá fomos nós, um mês mais tarde, passar uma semana de férias a Lyon. Reservei um magnífico Airbnb, no topo de uma torre antiga na cidade velha, pedi ao meu amigo (e crítico magistral do Expresso) Fortunato da Câmara uma lista dos melhores bistrots da cidade (nenhuma das mesas que eu ali conhecia estava na lista e as indicadas por ele foram excelentes), visitámos mais de um museu por dia, dissecámos turisticamente a cidade e arredores, regressando a Lisboa atulhados de livros. E, no meu caso, com mais dois quilos e tal, porque Lyon é uma das grandes cidades gastronómicas de França.

Acabei assim, "sem saber ler nem escrever", como antes se dizia, por ter uma bela semana de férias em Lyon! Por puro erro meu! Podia ter sido em Marselha? Podia, mas não seria a mesma coisa. Há pouco, lembrei-me: e se, este ano, fôssemos a Marselha?

O coiso

O partido unipessoal de extrema-direita ganhou força mas vai ter de aprender a usá-la. Irá grelhar Montenegro em lume brando, numa Comissão de Inquérito? O país ainda se indignará com a Spinumviva? Não me parece. Portugal, país espertalhote, parece pensar: "Fez ele muito bem!"

O PPD

Ele aí está, o governo dito novo. Luís Montenegro, a quem a Spinumviva pode ter retirado uma maioria absoluta com a IL, não quis arriscar. Muda (claro!) no MAI, faz uma flor na Reforma do Estado e reaquece o mesmo menu. Na Cultura, a direita já nem disfarça. É a (nossa) vida!

O senhor almirante

Salvo uma desagradável surpresa, uma eventual vitória do senhor almirante não parece prenunciar nada de muito perigoso para o futuro democrático do país. O problema, em caso de futuras crises, está em quem o rodeará, nos ressabiados saídos dos partidos. Viu-se isso com o PRD.

O PS

Com José Luís Carneiro, o PS fica sob "a safe pair of hands". Melhor não parece possível. Olha-se as fotografias das reuniões e é um mar de cabelos brancos e de loiras de tinta. A juventude desertou e a atenuação do cheiro a poder (a assessorias) não ajuda. Não vai ser fácil!

sexta-feira, junho 06, 2025

BBB...

É extraordinária a infantilização subserviente revelada por alguma comunicação social ao referir-se reiteradamente à proposta de orçamento de Estado americano como a "Big Beautiful Bill" ou BBB, como se fosse normal e obrigatório respeitar o primarismo da linguagem de Trump.

Marcos de Azambuja


Li agora, numa nota do meu amigo Aristóteles Drummond nas redes sociais, que morreu, há dias, o embaixador brasileiro Marcos de Azambuja. 

Marcos Castrioto de Azambuja foi um diplomata brasileiro de grande mérito e com uma graça pessoal infinita. Foi secretário-geral do Itamaraty (lugar equivalente a vice-ministro), representou o Brasil em postos tão importantes para o seu país como a Argentina, a França ou junto das instituições internacionais, em Genebra. A sua carreira passou também pelo México, por Londres e pelas Nações Unidas, em Nova Iorque.

Conhecemo-nos, pela primeira vez, em Paris, em finais de maio de 1999, ao tempo em que eu estava no governo e ele representava o Brasil em França. Coincidimos na mesma mesa, num jantar nas instalações da OCDE, por ocasião da presidência mexicana da organização. No final da refeição, os mexicanos montaram uma divertida festa, com música entre as mesas. As canções eram de um repertório latino-americano que, geracionalmente, era comum ao Marcos e a mim. Por isso, não tardou até que ambos estivéssemos a trautear e a repetir as letras. 

Na nossa mesa, tinha ficado a subsecretária de Estado americana Evelyn Lieberman. Estava admiradíssima com a nossa familiaridade com os ritmos da festa e, a certa altura, voltou-se para o Marcos e para mim e inquiriu, bem a sério: "Have you had a part of your professional life connected to music?". Marcos Azambuja deu uma imensa gargalhada e eu lá tive de explicar à senhora que, em Portugal, e com toda a probabilidade também no Brasil, nos anos 50 e 60, os ritmos latino-americanos, de língua espanhola, eram muito conhecidos. E tinham-nos ficado na memória a ambos.

Por muito tempo, não voltei a encontrar o Marcos Azambuja. Numa manhã de 2007, ao tempo em que era embaixador no Brasil, viajava na ponte aérea entre S. Paulo e o Rio e veio sentar-se, precisamente ao meu lado, alguém cuja cara eu reconheci. Era Marcos Azambuja. A conversa durante a viagem foi divertidíssima, imagino que só interrompida pela relativa mas natural angústia que sempre era a aterragem na curta pista do Santos Dummont. 

Há pouco mais de um ano, convidado pelo Cebri - Centro Brasileiro de Relações Internacionais e pela nossa embaixada em Brasília, fui ao Rio de Janeiro fazer um debate com o embaixador Rubens Ricupero. O então conselheiro emérito do Cebri, embaixador Marcos Azambuja, fez a nossa apresentação e veio a intervir na parte posterior do painel, como a imagem documenta. Tive então oportunidade de dar-lhe os parabéns por dois magníficos artigos que, em 2011, tinha publicado na revista brasileira "Piauí", onde retratou, numa rica escrita, algumas interessantes memórias da carreira diplomática brasileira.

O Marcos Azambuja nunca se cansava de recordar, nas conversas comigo, que era sócio honorário dos Bombeiros da Azambuja, localidade onde, segundo creio, ele afirmava que se ancorava uma das suas raízes familiares. Esta era uma das suas muitas e agradáveis memórias de Portugal, um país que ele muito apreciava.

As minhas condolências à família do embaixador Marcos Azambuja.

quinta-feira, junho 05, 2025

quarta-feira, junho 04, 2025

A "qultura"

A "nossa" direita dos dias que correm não faz um mínimo esforço para disfarçar a "desimportância" que dá à Cultura. Ao assim proceder, projeta uma imagem troglodita de si própria, ajudando à caricatura que a esquerda, com toda a razão, dela regularmente dá.

Obrigado, Eduardo Gageiro

 


terça-feira, junho 03, 2025

"Sharing Knowledge"


Coube-me fazer a intervenção inicial na tertúlia que o "Sharing Knowledge", ao final da tarde de hoje, organizou no Gambrinus, sob a dinâmica batuta do Jaime Quesado. Um belo e animado debate, com ampla e diversificada participação. 

segunda-feira, junho 02, 2025

Isto anda tudo ligado


Tirada no mês de agosto de 1966, tenho uma fotografia comigo sentado numa esplanada em Caminha, com os meus pais e uns tios. Até hoje me pergunto por que estou ali de fato e gravata (muito fininha), com ar demasiado sério (ou seria aborrecido?). O meu pai também estava de fato completo e de chapéu. Era o período das nossas férias de verão, sempre três semanas em Viana do Castelo, terra do meu pai, como acontecia todos os anos. Filho único, esse iria ser o último ano em que passaria o Verão dessa forma. No mês seguinte, iria para o Porto, para a universidade. No futuro, ganharia liberdade e os meus programas de férias passariam a ser bem diferentes.

Há anos que tenho na memória que, a certa altura, connosco na cena fotografada, se aproximou da esplanada em que estávamos um amigo caminhense da família, o senhor Valencinha (seria esse o verdadeiro nome do homem ou chamar-lhe-iam assim porque era muito pequeno?), que revelou: "Morreu há pouco o António Pedro". 

A internet diz-me agora que António Pedro morreu em 17 de agosto de 1966, em Caminha, com apenas 57 anos. Até diz que era uma quarta-feira. Portanto, dá-se a coincidência de eu estar em Caminha no dia em que António Pedro ali morreu. E de até ter uma fotografia desse preciso dia. Verdade seja que a coincidência apenas a mim me interessa, modestamente reconheço.

Quem foi António Pedro? Era uma figura relevante da cultura portuguesa. Pintor e escritor, foi uma das personalidades do movimento surrealista português. Antes, tinha flirtado com a extrema-direita do nacional-sindicalismo, foi colaborador da BBC em Londres e viveu nos meios artísticos de Paris. Ao tempo da sua morte, António Pedro era uma das grande figuras do teatro português, como divulgador e encenador. 

Ao contrário dos dias de hoje, o teatro, por esse tempo, entráva-nos em casa, todas as segundas-feiras, pela televisão, pela RTP, o único canal existente. António Pedro era, à época, uma das caras pública que a todos nos era comum. Com uma voz cava e uma barba imponente, projetava autoridade e conhecimento. Por essa altura, em 1966, António Pedro era a figura tutelar do Teatro Universitário do Porto, depois de um  período em que tinha liderado o Teatro Experimental do Porto.

Também pelo Porto, poucos meses antes, tinha passado um extraordinário grupo teatral universitário brasileiro, que fizera uma histórica digressão pela Europa, apresentando "Morte e vida de Severina", de João Cabral de Melo Netto, que ali acompanhou a apresentação da obra, musicada por Chico Buarque, que igualmente integrava a delegação. (Melo Netto deve ter gostado da cidade: entre 1984 e 1987, regressou com cônsul-geral do Brasil).

Manuel Alberto Valente, num dos textos da sua obra "O Outro Lado dos Livros", hoje apresentada na livraria da Travessa, com casa a transbordar, fala da imagem que essa extraordinária apresentação deixou no país, e no Porto em particular. O Manuel tinha então 21 anos e viu esse espetáculo. Eu tinha 18, só cheguei ao Porto em setembro desse ano de 1966, e não vi essa peça. Mas, recordo muito bem, toda a gente falava ainda dela, com grande entusiasmo.

Terá sido por influência desse ambiente que, logo após ter chegado à universidade, decidi ingressar no Teatro Universitário do Porto, por onde passei dois anos bem agradáveis? Por aquela instituição, também recordo, vivia-se, à época, a visível orfandade da influência de António Pedro. A mesma pessoa que, mês anterior, morrera em Caminha, na tal tarde de que tenho uma fotografia. Afinal, só quase me cruzei com ele no dia da sua morte.

Saí hoje do lançamento do livro do Manuel Alberto Valente perto das oito, atravessei o Príncipe Real e fui jantar ao Snob. Ao passar junto da Travessa do Abarracamento de Peniche, mesmo ao lado, lembrei-me de que o Manuel tinha acabado de falar, minutos antes, num poeta que naquela mesma rua pusera fim à vida, em 2004. Era o Eduardo Guerra Carneiro. O Eduardo era da minha terra, de Vila Real, embora de uma geração mais velha. Poucos anos antes de ele decidir encerrar tragicamente a sua biografia, tínhamos passado, ali mesmo, no Snob, entre copos, umas boas horas à conversa, cruzando recordações comuns  sobre "lá em cima", como os transmontanos, aqui por Lisboa,  às vezes falam (ainda falarão?) da sua terra. Connosco na mesa estava um outro vila-realense do jornalismo lisboeta, Fernando Carneiro.

No dia 1 de janeiro de 2004, depois de um almoço de Ano Novo em Vila Real, com o meu pai, que estava já nos seus 94 anos, decidimos ir passar a tarde a Chaves. Esse era e é um percurso tradicional para os vila-realenses. Tomado um café no Aurora, indo nós pelo passeio da rua de Santo António, a descer para o Tabolado, vi o meu pai trocar abraços com um cavalheiro apenas um pouco menos idoso do que ele, que fez questão de me apresentar. Era o Dr. Mário Carneiro, que eu só conhecia de nome, figura flaviense muito prestigiada, antigo e histórico fundador e diretor das Caldas da cidade. O meu pai assinalou que um irmão do Dr. Carneiro, pessoa que já desaparecera e de quem fora amigo, tinha vivido, em tempos, em Vila Real. Eu sabia disso e referi que conhecia um filho desse senhor, o Eduardo Guerra Carneiro, sobrinho do Dr. Carneiro, que às vezes via por Lisboa. E a conversa ficou por ali. Regressámos a Vila Real, ao fim desse primeiro dia de 2004. Eduardo Guerra Carneiro suicidar-se-ia no dia seguinte.

O livro maior de Eduardo Guerra Carneiro chama-se "Isto Anda Tudo Ligado". E anda mesmo.

A preocupação tem raça

Sei que isto vai soar estranho a muitos ouvidos. Madeleine McCain desapareceu há 18 anos. Foi raptada, morta? Milhões de euros têm sido dedicados a procurá-la. No último ano, centenas de crianças morreram em Gaza. Milhares passam agora fome. O mundo preocupa-se da mesma forma? 

A Europa de Bruxelas

No sábado, em Viseu, ao falar na conferência aberta por Josep Borrell, em que se abordou a questão das crises na Europa, toquei em temas que, vai para uma década, tinha colocado num artigo na coluna semanal que então escrevia no "Jornal de Notícias", e em que usei o título em epígrafe. Ele aqui fica:

"Há a Europa e há a Europa de Bruxelas. Esta última é um corpo mais ou menos organizado que tem como cultura comum uma certa ideia evolutiva do projeto europeu. Essa cultura, decantada ao longo décadas, atravessa grande parte do funcionalismo da máquina europeia, a qual, sem o dizer, se considera ungida da missão de levar à prática uma espécie de desígnio “do bem”, cuja finalidade não é explicitada e que só é debatida na metodologia. Aliás, o mais das vezes, o objetivo final não é sequer referido, para evitar espantar a caça. De certo modo, esse projeto europeu funciona na lógica do socialismo reformista de Bernstein: “o movimento é tudo, o fim é nada”. Em português simplório é o “vamos andando e depois logo se vê”.

Há duas palavras-chave no glossário dessa ideologia. E há uma não-palavra que raramente é pronunciada. 

A primeira palavra é “ambição”. Na novilíngua da Rue de la Loi (rua de Bruxelas onde estão muitas das instituições), uma proposta tem mais ou menos “ambição” na razão direta da transferência de poderes que, através da sua eventual aprovação, se processa da esfera nacional para a máquina bruxelense. Dependendo do “l’air du temps”, os ventos estão mais ou menos favoráveis a esse desígnio centralista. Às vezes, o facto da opinião pública em alguns países estar “recuada” impede que a “ambição” possa colher apoio suficiente para conduzir as decisões a bom porto. Aumentar o número de decisões por maioria qualificada, evitando o irritante empecilho da unanimidade, é o caminho para que a “ambição” se concretize com mais facilidade.

Ligada à “ambição” surge a palavra “eficácia”, que designa o grau de operatividade que uma medida pode trazer à “ambição”. A eficácia é o conceito motor por detrás da propositura de muita da legislação ou regulamentação europeia. É “eficaz” aquilo que contorna os mecanismos que atrasam a implementação das medidas. Os parlamentos nacionais são vistos por essa cultura europeia como obstáculos irritantes à eficácia das medidas. E até o Parlamento Europeu, que no passado era um inóquo “compagnon de route” dos promotores da “ambição”, passou frequentemente a ser “parte do problema”, quando obteve mais poderes e responsabilidades.

O drama europeu é que os promotores das medidas com “eficácia”, que têm como finalidade dar corpo à “ambição’, fogem como o diabo da cruz da tal não-palavra incómoda, raramente pronunciada nesses meios, que é a “legitimidade”. Também por isso é que o Brexit aconteceu, que a recusa da “ambição” é cada vez maior, que a Itália reage como reage.

Por graça, há alguns anos, dizia-se que se a União Europeia pedisse adesão ... à União Europeia, receberia um rotundo não, porque o seu grau de democraticidade era insuficiente para ser aceite. Será verdade?"

Coisas da edição


Não sei se a história do jornalista alemão que, na feira do livro de Frankfurt, queria entrevistar o autor padre António Veira virá à baila esta tarde. 

Mas lá estaremos hoje, na livraria da Travessa, na rua da Escola Politécnica, pelas 18.30, para dar o nosso abraço amigo ao Manel, na apresentação destas suas belíssimas crónicas, editadas pela Quetzal, do Francisco José Viegas, retratos cultos e divertidos desenhados na escrita de um grande editor português. 

Ai Polónia

A vitória do candidato anti-Tusk na Polónia é um sério revés para a vontade de quem hoje prevalece no processo europeu. O presidente polaco não governa, mas tem poderes para bloquear decisões, como bem se viu com o atual. 

A Europa não é um país, é um espaço de democracias mutante. Há que saber viver com isto.

Ucrânia - Rússia

As conversações diretas são um "faz-de-conta" dos dois lados para confortar a vontade de Trump. A Rússia tem uma agenda de interesses inaceitável para a Ucrânia e vice-versa. Como ambos acham que o tempo corre a seu favor, teria de surgir sobre a mesa uma proposta de terceiros. 

Vejam isto


Fareed Zakaria revelou ontem que, dentre as 10 mais qualificadas instituições universitárias, em todo o mundo, em matéria de ciência e investigação, nove são chinesas. No topo, contudo, estava a universidade de Harvard. Ora é esta universidade que Trump parece decidido a fragilizar.

domingo, junho 01, 2025

A Rússia, agora

Está-se mesmo a ver que o assunto principal da conversa entre Marco Rubio e Sergey Lavrov foi a apresentação de condolências pelas vítimas civis no atentado a uma ponte...

A Ucrânia, agora

Gostaria muito de estar enganado, mas tenho um sério pressentimento de que a guerra na Ucrânia acabou de entrar num novo e muito delicado patamar.  

A China e o conflito comercial UE-EUA


Ver aqui.

sábado, maio 31, 2025

Israel e o mundo


Ver aqui.

A relação de Trump com Putin: estado da arte


Ver aqui.

Verdade incómoda

 


Idade

Nos últimos anos, tenho aprendido que, depois de velho, se fazem grandes amigos de infância.

Lembrar Pauleta

Apesar de ter grandes equipas nacionais de futebol, a França é um país com escassos clubes a ganharem troféus europeus. A extraordinária vitória de hoje do PSG deve ter agradado muito a alguém que ficou na história afetiva do clube, Pedro Pauleta. Que também está de parabéns.

Azedumes

O PSD está no poder e o poder abafa divergências. Mas o facto de Rui Rio ser o mandatário de Gouveia e Melo, combatendo abertamente a candidatura oficial de Marques Mendes, mostra que as laranjas estão bastante azedas.

Europa: gerir a diversidade


Intervim hoje, em Viseu, na conferência "As múltiplas crises da União Europeia", promovida pelo Beira – Observatório de Ideias Contemporâneas Azeredo Perdigão, iniciativa em que foi orador principal o antigo alto-representante da UE, Josep Borrell, e em que também participaram a jornalista Helena Garrido e o professor José Pedro Teixeira Fernandes, sob moderação de Henrique Monteiro. 

Abordei o tema da diversidade entre os Estados europeus e as suas decorrências para o processo decisório.

Para quem possa estar interessado, deixo acesso àquilo que comecei por dizer.

sexta-feira, maio 30, 2025

Colaterais

Comecei por estranhar a frase de um velho amigo que há tempos cruzei numa rua de Vila Real: "Cada vez mais me convenço de que o Covid deixa efeitos colaterais muito negativos". E perguntei: "Quais?" Fez um ar muito sério: "Olha! O Gouveia e Melo, por exemplo". 

O "Passar pela esquerda" acabou!


Até que enfim! Bem me cansou aquele programa que a SIC manteve no ar durante oito anos, para refletir o xadrez parlamentar de então. Lembram-se?

Era o "Passar pela esquerda" e lá tinha o Porfírio Silva, o Rui Tavares e o António Filipe. Disso, agora já basta, ou melhor: Chega!

Direitolices

O PSD anuncia estar fora da ideia da revisão constitucional. Sábia decisão, pela qual felicito Luís Montenegro, que assim mostra não se deixar arrastar para esta direitolice. 

Europas


 

quinta-feira, maio 29, 2025

Aqui chegámos

O senhor almirante apresentou hoje ao país a sua candidatura à presidência da República. Fê-lo com um discurso basicamente escorreito, uma "Christmas tree" de boas intenções onde, sem esforço, cada eleitor pôde reconhecer-se em algum ponto, em que nenhuma temática da atualidade foi esquecida. Sabemos como estas coisas se fazem. Pelo meio, estiveram as expectáveis referências motivacionais aos "mares nunca dantes navegados" e coisas assim, a puxar pela auto-estima nacional.

O senhor almirante, se for feito presidente por um país que pelos vistos pode vir a merecê-lo, não revela sinais de poder vir a fazer nenhum mal ao mundo. Meio século depois, o regime democrático já está suficientemente sólido para poder eleger o senhor almirante. 

Musk


A saída de Elon Musk do serralho de Trump é a novidade a que, há muito, só faltava a data.

Teixeira Gomes


Na passada terça-feira, em Portimão, lado a lado com o meu colega Luís Castro Mendes, participei numa conferência que homenageou o escritor, diplomata e político Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), no 165° aniversário do seu nascimento naquela cidade, onde está sepultado.

A organização foi da Casa Manuel Teixeira Gomes, sob direção científica de José Manuel Quaresma, biógrafo do homenageado.

Quem estiver interessado naquilo que eu disse na ocasião, pode ler o texto aqui.

Um leão bem atípico


O Sporting ganhou o campeonato e a taça de Portugal. Há anos que sou sócio do clube. Há anos que não vou a Alvalade. Porque, desde há muito tempo, no futebol como em quase tudo o resto, fujo das emoções como o diabo da cruz, não vejo em direto jogos do meu clube. (Logo eu, que adoro futebol, e vejo na televisão bastantes jogos entre clubes estrangeiros, cuidando sempre em não "puxar" por nenhum). Às vezes, vejo, em diferido, uns minutos de síntese dos jogos em que o Sporting intervem. Outras vezes, a maior parte das vezes, confesso, nem sequer isso. Limito-me a ficar satisfeito com as vitórias do Sporting, desagradado com as derrotas e a lamentar os empates. Reconheço ser, sem o menor complexo por sê-lo, um adepto muito atípico.

No passado domingo, para não variar, não vi o jogo da taça. E como andei ocupado com leituras e escrita, acabei por nem ver imagens dos golos. E, claro, por essa mesma razão, também não observei o que me disseram ser uma jogada altamente polémica, em que esteve envolvido um jogador do Sporting, que muitos consideram culpado por uma grave agressão. Mas esse lance, como todos os outros do jogo, por muito que isso possa parecer estranho, não mobiliza minimamente a minha curiosidade. Se o jogador foi culpado que o castiguem, se não foi que o ilibem. Nem sei bem o nome do homem, eu que, dentre os nossos jogadores, reconheço São Gyokeres e poucos mais.

Ao fim do dia, informado da vitória do meu clube na taça, e muito satisfeito com ela, e tal como já tinha feito na conquista do campeonato, coloquei uma brevíssima fotografia de congratulação pelo novo título, nas redes sociais que frequento. O que eu fui fazer! Convoquei com isso as iras de muitos que posso presumir serem adeptos de um clube que disputou o campeonato e a taça com o Sporting. Era lá possível que eu estivesse a comemorar, depois daquilo que se tinha passado? E houve logo quem, por essa razão, fizesse juízos de caráter sobre mim, pedindo-me satisfações pela minha alegria. Até mensagens privadas recebi nesse sentido.

Tenham juízo!

quarta-feira, maio 28, 2025

Ssudades de José Lello


Ao final do dia de hoje, lembrei-me muito de ti, meu caro Zé. Já saíste da vida há uns anos, mas deixaste muitas saudades. O teu sorriso, a tua alegria, o teu abraço, a tua amizade, fazem falta a quem gostava de ti.

Se eu te contasse que as comunidades portuguesas pelo mundo, por quem tu tanto lutaste, acabam de escolher dois deputados de um partido de extrema-direita, que detesta imigrantes, para os representar, acharias que eu não estava a falar a sério. "É lá possível! Estás a tanguear-me!" E explicarias o óbvio: "Então os portugueses que andam pelo mundo, que sentiram e sentem na carne a exclusão, o racismo e a xenofobia, iam lá escolhem gente dessa! Pode haver alguns que são "fachos", tu e eu conhecemos alguns, mas eles não são parvos!". Não sei o que eles são ou não, Zé, só sei é que as coisas são o que são.

Mas ainda não te disse outra coisa, Zé, e esta vai doer-te: o PS, pela primeira vez, não elegeu ninguém lá fora. Tu que foste o homem do 115, não do antigo número de emergências mas do número de deputados que, em 1999, o PS conseguiu. Em grande parte graças ao teu trabalho, à confiança que as comunidades em ti depositavam, nesse ano, pela primeira vez, dos quatro deputados ditos "da emigração", o PS obteve três. Desta vez, Zé, nem um só!

Não vou colocar aqui, porque este é um espaço de famílias, as imprecações que irias soltar. Mas quis que soubesses como isto anda. É a vida!, diria o engenheiro que chefiou os dois governos em que ambos participámos. É, mas ela não está fácil para as nossas cores. 

terça-feira, maio 27, 2025

Eu, maoísta?!


Acabo de saber, por um artigo de um colunista do "Sol", que terei sido um destacado militante ... do MRPP.  Eu, antigo maoísta?! Onde isto chegou!

segunda-feira, maio 26, 2025

Verdade?


Se isto é mesmo verdade (nos dias de hoje, só acredito no que me dizem na net depois de muita confirmação), é uma excelente notícia: para o mundo e para as corajosas mulheres do Irão, que merecem toda a nossa admiração.

... e estamos nisto!


É extraordinário como o destino do mundo pode depender da ciclotimia emocional de uma personagem deste calibre.

Acordei assim...


domingo, maio 25, 2025

Ucrânia, ao telefone


Ver aqui.

Os critérios da Europa

Cada vez que vejo um justo comunicado indignado da União Europeia sobre ataques russos que provocam vítimas civis na Ucrânia, vou à procura do comunicado diário que a mesma UE dever ter emitido sobre os mortos civis desse dia em Gaza. Que são sempre muitos mais. Mas não encontro.

Os Mortos e os mortos


Ver aqui.

Leis


Há leis para tantas coisas, por que não há uma lei para isto?

Está (re)feito!

 


Um viva a Espanha

A Espanha, na sua atitude face a Israel, honra, por estes dias, os valores e os princípios que a União Europeia vergonhosamente se recusa a assumir. Por uma vez, não ficaria mal a Portugal sair da política de colagem ao "mainstream" e ter a coragem de "chamar os bois pelos nomes"

Teixeira Gomes

 


sábado, maio 24, 2025

Os erros de Pedro Nuno Santos


Cumprindo o que disse na noite eleitoral, Pedro Nuno Santos saiu hoje da liderança do Partido Socialista. O PS vai ter de refazer o seu futuro imediato sem ele. O nome de José Luís Carneiro, que tinha ficado em segundo lugar na anterior escolha interna, para a substituição de António Costa, surge como a hipótese mais provável para titular o novo ciclo. Sem oposição? Ainda não se sabe, mas se ela vier a surgir o processo correrá com normalidade. Esta é a lógica serena de um grande partido democrático em democracia.

Estes momentos de mudança, propulsionados pelo voto popular, forçam a uma reflexão. Mais do que qualquer outra formação política, o PS tem de fazê-la. Os factos obrigam o partido a preparar-se para o novo tempo, com as "lessons learned" do passado. Aliás, o tema dessa reflexão é a resposta a uma questão imperativa: que aconteceu a um partido que, em menos de dois anos, passou de uma sólida maioria absoluta para um terceiro lugar no parlamento? 

Toda a gente tem explicações, mais ou menos adjetivadas, mais ou menos fulanizadas nas responsabilidades, para esta pergunta. Certas ou erradas, eu tenho as minhas. E faço já uma declaração de interesses: fui um dos derrotados no dia 18 de maio e tudo farei, naquilo em que puder ajudar, para criar condições para o reforço do Partido Socialista no futuro.

Pedro Nuno Santos substituiu António Costa com toda a naturalidade. Contrariamente à diabolização que a direita dele fez - e essa era uma excelente medalha que ele trazia ao peito - ele tinha sido, embora com alguns erros cometidos, um bom ministro. Tinha trabalhado dentro do partido para suceder a António Costa e o PS confiou maioritariamente nele. Pedro Nuno Santos é, contudo, o produto político de uma ilusão.

Em 2015, o Partido Socialista tinha chegado ao poder, de uma forma pouco comum na prática portuguesa, não sendo o partido mais votado. Mas António Costa, com toda a legitimidade, depois de Passos Coelho não ter conseguido convencer a Assembleia da República, formou um governo com apoio parlamentar de dois partidos à sua esquerda. Fê-lo com vista a uma governação destinada a repor, com sabedoria e sem extremismos, a normalidade em muitas políticas, que a "troika" tinha mudado de forma violenta. A Geringonça foi uma fórmula política pontual, que provou ter eficácia, razoabilidade e apoio popular. Pedro Nuno Santos, na pasta dos Assuntos Parlamentares, foi a cara dessa solução.

A Geringonça faliu ao fim da primeira legislatura. Os comunistas e o Bloco perceberam que António Costa tinha capitalizado em favor do PS a simpatia que a Geringonça tinha suscitado. E esgotada que tinha sido a agenda de 2015, e não estando António Costa disponível para ir além da reversão do essencial da agenda da "troika", os dois partidos à esquerda do PS não apenas mostraram indisponibilidade para renovar, num registo de mínimos, uma aliança que os estava a "grelhar", como caíram na patetice de não aprovar o orçamento que o novo governo minoritário do PS tinha apresentado. 

As novas eleições que se seguiram deram razão a António Costa e deram uma maioria absoluta ao PS. Pelo meio tinha havido uma pandemia que mostrara ao país o perfil de estadista de António Costa. Pedro Nuno Santos é um "general" dessas tropas. Mas não era só isso: era um "viúvo" da Geringonça. E essa é a tal grande ilusão.

O país pode ter gostado da Geringonça no período em que ela foi criada, tendo ela sido a cara de uma política que desfizera, com responsabilidade, o que a "troika" tinha imposto. Mas alguma água tinha entretanto corrido sob as pontes: a fórmula cheirava a passado. 

O Bloco mostrou evoluir para uma matriz ideológica algo agressiva, frequentemente paternalista (ou maternalista...), investindo numa agenda de políticas de nicho e de exploração de temáticas identitárias que, sendo porventura respeitáveis, não eram necessariamente populares. A sua mudança de liderança também não ajudou a tornar a proposta mais apelativa, "to say the least".  

O PCP afundou-se na simpatia popular com o seu seguidismo face a Moscovo na questão ucraniana, num tempo em que o país tinha optado sentimentalmente por Zelensky. O seu novo líder tem um estilo simpático de homem comum mas, como pretendem os nostálgicos que alinham naquela "igreja", foi escolhido precisamente para não trazer nada de novo.

Pedro Nuno Santos tentou retomar a ideia da Geringonça, com estas suas novas derivas? Claro que não, mas, no imaginário de muita gente, ele continuou a ser "o socialista da Geringonça" e, com ele na liderança, o PS passou a ser, para alguns, o partido que só não reeditou a Geringonça porque não teve condições para tal. E a Geringonça já tinha, há muito, deixado de ser popular. 

Além disso, o estilo público de Pedro Nuno Santos, que inteligentemente ele procurou suavizar, ainda surgiu marcado por um tom algo agreste, de uma espécie de "jota" escassamente amadurecido. E não teve tempo para reverter essa imagem, que a mim sempre me pareceu ter algo de bastante injusto. Repito o que disse atrás: Pedro Nuno Santos foi um governante de qualidade, a que é justo creditar um bom trabalho na área das Infraestruturas, não obstante algumas trapalhadas que não o ajudaram a acelerar a construção de uma imagem de Estado.

O apreciável resultado que tinha tido nas eleições de 2024 podem ter contribuído para Pedro Nuno Santos entender que estavam ultrapassados, no eleitorado, esses preconceitos a seu respeito. Não estavam. E num ambiente de crispada bipolaração, essa perceção negativa em seu desfavor acentuou-se.

O país só foi entretanto a votos porque Pedro Nuno Santos assim o quis. E essa, no domínio das culpas daquilo que aconteceu, é uma culpa apenas sua. O PS não devia ter caído na esparrela armada pelo primeiro-ministro, ao apresentar uma moção oportunista de confiança. E devia ter desmontado o "bluff" de Luís Montenegro, dizendo: "O primeiro-ministro quer um pretexto para ter eleições e quer embrulhar as trapalhadas éticas em que está envolvido numa moção de confiança. O PS não lhe dá essa oportunidade: por isso, não cai nessa esparrela, abstem-se na sua votação na Assembleia da República e avança para uma comissão parlamentar de inquérito onde tudo será devidamente esclarecido". 

O que teria acontecido, se Pedro Nuno Santos tivesse procedido dessa forma? Montenegro estaria agora fragilizado, entre a espada e a comissão de inquérito, o PS mantinha um número de deputados igual ao PSD e a extrema-direita mantinha o peso que tinha.

Depois, na inevitabilidade de eleições, o PS que Pedro Nuno Santos liderou não soube ler o país que ia votar em 18 de maio. Não apresentou políticas minimamente motivantes para setores de um eleitorado que, entretanto, se tinha deslocado para um terreno tomado por uma agenda de preocupações e de desencanto muito diversa das de um passado recente. A proposta socialista foi um pouco mais do mesmo, a que foram acrescentados uns pozinhos de novidade escassamente mobilizadora. E foi o que se viu. 

Pedro Nuno Santos fez, entretanto, uma campanha eleitoral quase monotemática, não entendendo que o país vivia já num ambiente de amoralidade política que não iria punir excessivamente Montenegro. 

Com esses seus erros, e por essas razões, as coisas são hoje o que são. Essa é a sua culpa e, por isso, fez bem em sair. E esta é a minha opinião.

(Em tempo: para que se não diga que fiz "prognósticos depois do jogo", deixo aqui isto, escrito em 8 de março passado.)




Outros tempos, outras horas!


"Bolas! Só agora olhei para o relógio! Acho que, lá em casa, ninguém vai acreditar que estive no Procópio até estas horas".

"Esteja descansado, Francisco. Se eu atestar, acreditam".

E foi assim que, há mais de uma década, a "sedona" Alice Pinto Coelho, dona e senhora do bar Procópio, deixou atestado fidedigno daquela minha noitada.

Muitas saudades da Alice.

A ver vamos

A capacidade de resposta da União Europeia vai ser posta à prova dos nove perante os direitos alfandegários (não as "tarifas") impostos por Trump. Desejo-nos bom trabalho.

sexta-feira, maio 23, 2025

Sebastião Salgado


... e Sebastião Salgado não esteve em Gaza.

Emboscadas

Uma fotografia com um presidente americano na Sala Oval da Casa Branca foi, por muitas décadas, o testemunho de um momento importante na vida de qualquer político mundial. Trump está a transformar o lugar num local de emboscadas. Foi assim com Zelensky, agora com Ramaphosa. 

Liberdade de imprensa


Continuo fascinado pelo pluralismo mediático no Irão.

43,5 ºC !

Na vida, lembro-me de ter apanhado caloraças inimagináveis. Algumas na quase vintena de países africanos por que passei, outra num deserto d...