domingo, junho 08, 2025
Nelson de Matos
sábado, junho 07, 2025
O destino inesperado
Como sempre acontece nestas coisas, e apesar de toda a boa vontade, revelou-me que estava a ser-lhe difícil juntar apoios para custear o alojamento e as viagens dos convidados portugueses, que naturalmente dispensavam qualquer outro encargo pela sua participação.
Tempos depois, em uma outra conversa, informou-me que, em especial, estava a ser muito complicado garantir a verba para as passagens aéreas. Eu tinha feito as contas e constatado que, se compradas com grande antecedência, as viagens podiam sair bastante mais baratas, ainda que com a limitação de não poderem ser canceladas. Como já tinha decidido levar comigo a minha mulher, e passar por lá uns dias mais, em férias, comprei entretanto os bilhetes do meu bolso. Mas não avisei disso o nosso esforçado representante consular.
Em casa, avisei que, acontecesse o que acontecesse, iríamos sempre passar uma semana de férias a Lyon. E, para apoio "teórico", mandei vir pela Amazon o guia da Michelin sobre a cidade.
Algum tempo decorreu. Um dia, o nosso cônsul-geral, desolado, telefonou-me a informar que, por mais esforços que tivesse feito, não havia conseguido juntar os apoios necessários à realização do colóquio. Lamentava, assim, ter de cancelar a iniciativa.
Percebi perfeitamente. São coisas que acontecem! Para não o penalizar mais, não lhe revelei que já tinha comprado as passagens. No termo da nossa conversa, ainda o ouvi dizer: "É mesmo uma pena que o senhor embaixador não possa vir. Teria muito gosto em recebê-lo cá em Marselha."
Em Marselha?! Ó diabo! Eu tinha comprado passagens para Lyon! O cancelado colóquio era para ser em Marselha! Na nossa primeira conversa, devo ter feito confusão e, a partir de então, intimamente, dei por adquirido que o evento seria em Lyon. Imaginem se o colóquio tivesse tido lugar em Marselha e eu, alegremente, me apresentasse em Lyon!
E lá fomos nós, um mês mais tarde, passar uma semana de férias a Lyon. Reservei um magnífico Airbnb, no topo de uma torre antiga na cidade velha, pedi ao meu amigo (e crítico magistral do Expresso) Fortunato da Câmara uma lista dos melhores bistrots da cidade (nenhuma das mesas que eu ali conhecia estava na lista e as indicadas por ele foram excelentes), visitámos mais de um museu por dia, dissecámos turisticamente a cidade e arredores, regressando a Lisboa atulhados de livros. E, no meu caso, com mais dois quilos e tal, porque Lyon é uma das grandes cidades gastronómicas de França.
Acabei assim, "sem saber ler nem escrever", como antes se dizia, por ter uma bela semana de férias em Lyon! Por puro erro meu! Podia ter sido em Marselha? Podia, mas não seria a mesma coisa. Há pouco, lembrei-me: e se, este ano, fôssemos a Marselha?
O coiso
O partido unipessoal de extrema-direita ganhou força mas vai ter de aprender a usá-la. Irá grelhar Montenegro em lume brando, numa Comissão de Inquérito? O país ainda se indignará com a Spinumviva? Não me parece. Portugal, país espertalhote, parece pensar: "Fez ele muito bem!"
O PPD
Ele aí está, o governo dito novo. Luís Montenegro, a quem a Spinumviva pode ter retirado uma maioria absoluta com a IL, não quis arriscar. Muda (claro!) no MAI, faz uma flor na Reforma do Estado e reaquece o mesmo menu. Na Cultura, a direita já nem disfarça. É a (nossa) vida!
O senhor almirante
Salvo uma desagradável surpresa, uma eventual vitória do senhor almirante não parece prenunciar nada de muito perigoso para o futuro democrático do país. O problema, em caso de futuras crises, está em quem o rodeará, nos ressabiados saídos dos partidos. Viu-se isso com o PRD.
O PS
Com José Luís Carneiro, o PS fica sob "a safe pair of hands". Melhor não parece possível. Olha-se as fotografias das reuniões e é um mar de cabelos brancos e de loiras de tinta. A juventude desertou e a atenuação do cheiro a poder (a assessorias) não ajuda. Não vai ser fácil!
sexta-feira, junho 06, 2025
BBB...
É extraordinária a infantilização subserviente revelada por alguma comunicação social ao referir-se reiteradamente à proposta de orçamento de Estado americano como a "Big Beautiful Bill" ou BBB, como se fosse normal e obrigatório respeitar o primarismo da linguagem de Trump.
Marcos de Azambuja
Li agora, numa nota do meu amigo Aristóteles Drummond nas redes sociais, que morreu, há dias, o embaixador brasileiro Marcos de Azambuja.
quinta-feira, junho 05, 2025
Portugal über alles
Soube-me tão bem, mas tão bem!, a nossa vitória sobre a Alemanha. Que magnífica forma de acabar a noite!
Que pensaria Lucas Pires?
Numa direita que tantas vezes se reivindica da memória de Lucas Pires, haverá quem se pergunte o que acharia ele do "downgrading" da Cultura na estrutura governamental?
quarta-feira, junho 04, 2025
A "qultura"
A "nossa" direita dos dias que correm não faz um mínimo esforço para disfarçar a "desimportância" que dá à Cultura. Ao assim proceder, projeta uma imagem troglodita de si própria, ajudando à caricatura que a esquerda, com toda a razão, dela regularmente dá.
terça-feira, junho 03, 2025
"Sharing Knowledge"
segunda-feira, junho 02, 2025
Isto anda tudo ligado
Tirada no mês de agosto de 1966, tenho uma fotografia comigo sentado numa esplanada em Caminha, com os meus pais e uns tios. Até hoje me pergunto por que estou ali de fato e gravata (muito fininha), com ar demasiado sério (ou seria aborrecido?). O meu pai também estava de fato completo e de chapéu. Era o período das nossas férias de verão, sempre três semanas em Viana do Castelo, terra do meu pai, como acontecia todos os anos. Filho único, esse iria ser o último ano em que passaria o Verão dessa forma. No mês seguinte, iria para o Porto, para a universidade. No futuro, ganharia liberdade e os meus programas de férias passariam a ser bem diferentes.
A preocupação tem raça
Sei que isto vai soar estranho a muitos ouvidos. Madeleine McCain desapareceu há 18 anos. Foi raptada, morta? Milhões de euros têm sido dedicados a procurá-la. No último ano, centenas de crianças morreram em Gaza. Milhares passam agora fome. O mundo preocupa-se da mesma forma?
A Europa de Bruxelas
Coisas da edição
Mas lá estaremos hoje, na livraria da Travessa, na rua da Escola Politécnica, pelas 18.30, para dar o nosso abraço amigo ao Manel, na apresentação destas suas belíssimas crónicas, editadas pela Quetzal, do Francisco José Viegas, retratos cultos e divertidos desenhados na escrita de um grande editor português.
Ai Polónia
A vitória do candidato anti-Tusk na Polónia é um sério revés para a vontade de quem hoje prevalece no processo europeu. O presidente polaco não governa, mas tem poderes para bloquear decisões, como bem se viu com o atual.
A Europa não é um país, é um espaço de democracias mutante. Há que saber viver com isto.
Ucrânia - Rússia
As conversações diretas são um "faz-de-conta" dos dois lados para confortar a vontade de Trump. A Rússia tem uma agenda de interesses inaceitável para a Ucrânia e vice-versa. Como ambos acham que o tempo corre a seu favor, teria de surgir sobre a mesa uma proposta de terceiros.
Vejam isto
domingo, junho 01, 2025
A Rússia, agora
Está-se mesmo a ver que o assunto principal da conversa entre Marco Rubio e Sergey Lavrov foi a apresentação de condolências pelas vítimas civis no atentado a uma ponte...
A Ucrânia, agora
Gostaria muito de estar enganado, mas tenho um sério pressentimento de que a guerra na Ucrânia acabou de entrar num novo e muito delicado patamar.
sábado, maio 31, 2025
Idade
Nos últimos anos, tenho aprendido que, depois de velho, se fazem grandes amigos de infância.
Lembrar Pauleta
Apesar de ter grandes equipas nacionais de futebol, a França é um país com escassos clubes a ganharem troféus europeus. A extraordinária vitória de hoje do PSG deve ter agradado muito a alguém que ficou na história afetiva do clube, Pedro Pauleta. Que também está de parabéns.
Azedumes
O PSD está no poder e o poder abafa divergências. Mas o facto de Rui Rio ser o mandatário de Gouveia e Melo, combatendo abertamente a candidatura oficial de Marques Mendes, mostra que as laranjas estão bastante azedas.
Europa: gerir a diversidade
sexta-feira, maio 30, 2025
Colaterais
Comecei por estranhar a frase de um velho amigo que há tempos cruzei numa rua de Vila Real: "Cada vez mais me convenço de que o Covid deixa efeitos colaterais muito negativos". E perguntei: "Quais?" Fez um ar muito sério: "Olha! O Gouveia e Melo, por exemplo".
O "Passar pela esquerda" acabou!
Era o "Passar pela esquerda" e lá tinha o Porfírio Silva, o Rui Tavares e o António Filipe. Disso, agora já basta, ou melhor: Chega!
Direitolices
O PSD anuncia estar fora da ideia da revisão constitucional. Sábia decisão, pela qual felicito Luís Montenegro, que assim mostra não se deixar arrastar para esta direitolice.
quinta-feira, maio 29, 2025
Aqui chegámos
O senhor almirante apresentou hoje ao país a sua candidatura à presidência da República. Fê-lo com um discurso basicamente escorreito, uma "Christmas tree" de boas intenções onde, sem esforço, cada eleitor pôde reconhecer-se em algum ponto, em que nenhuma temática da atualidade foi esquecida. Sabemos como estas coisas se fazem. Pelo meio, estiveram as expectáveis referências motivacionais aos "mares nunca dantes navegados" e coisas assim, a puxar pela auto-estima nacional.
O senhor almirante, se for feito presidente por um país que pelos vistos pode vir a merecê-lo, não revela sinais de poder vir a fazer nenhum mal ao mundo. Meio século depois, o regime democrático já está suficientemente sólido para poder eleger o senhor almirante.
Teixeira Gomes
Quem estiver interessado naquilo que eu disse na ocasião, pode ler o texto aqui.
Um leão bem atípico
No passado domingo, para não variar, não vi o jogo da taça. E como andei ocupado com leituras e escrita, acabei por nem ver imagens dos golos. E, claro, por essa mesma razão, também não observei o que me disseram ser uma jogada altamente polémica, em que esteve envolvido um jogador do Sporting, que muitos consideram culpado por uma grave agressão. Mas esse lance, como todos os outros do jogo, por muito que isso possa parecer estranho, não mobiliza minimamente a minha curiosidade. Se o jogador foi culpado que o castiguem, se não foi que o ilibem. Nem sei bem o nome do homem, eu que, dentre os nossos jogadores, reconheço São Gyokeres e poucos mais.
Ao fim do dia, informado da vitória do meu clube na taça, e muito satisfeito com ela, e tal como já tinha feito na conquista do campeonato, coloquei uma brevíssima fotografia de congratulação pelo novo título, nas redes sociais que frequento. O que eu fui fazer! Convoquei com isso as iras de muitos que posso presumir serem adeptos de um clube que disputou o campeonato e a taça com o Sporting. Era lá possível que eu estivesse a comemorar, depois daquilo que se tinha passado? E houve logo quem, por essa razão, fizesse juízos de caráter sobre mim, pedindo-me satisfações pela minha alegria. Até mensagens privadas recebi nesse sentido.
Tenham juízo!
quarta-feira, maio 28, 2025
Ssudades de José Lello
Ao final do dia de hoje, lembrei-me muito de ti, meu caro Zé. Já saíste da vida há uns anos, mas deixaste muitas saudades. O teu sorriso, a tua alegria, o teu abraço, a tua amizade, fazem falta a quem gostava de ti.
terça-feira, maio 27, 2025
Eu, maoísta?!
Acabo de saber, por um artigo de um colunista do "Sol", que terei sido um destacado militante ... do MRPP. Eu, antigo maoísta?! Onde isto chegou!
segunda-feira, maio 26, 2025
... e estamos nisto!
É extraordinário como o destino do mundo pode depender da ciclotimia emocional de uma personagem deste calibre.
domingo, maio 25, 2025
Os critérios da Europa
Cada vez que vejo um justo comunicado indignado da União Europeia sobre ataques russos que provocam vítimas civis na Ucrânia, vou à procura do comunicado diário que a mesma UE dever ter emitido sobre os mortos civis desse dia em Gaza. Que são sempre muitos mais. Mas não encontro.
Um viva a Espanha
A Espanha, na sua atitude face a Israel, honra, por estes dias, os valores e os princípios que a União Europeia vergonhosamente se recusa a assumir. Por uma vez, não ficaria mal a Portugal sair da política de colagem ao "mainstream" e ter a coragem de "chamar os bois pelos nomes"
sábado, maio 24, 2025
Os erros de Pedro Nuno Santos
Cumprindo o que disse na noite eleitoral, Pedro Nuno Santos saiu hoje da liderança do Partido Socialista. O PS vai ter de refazer o seu futuro imediato sem ele. O nome de José Luís Carneiro, que tinha ficado em segundo lugar na anterior escolha interna, para a substituição de António Costa, surge como a hipótese mais provável para titular o novo ciclo. Sem oposição? Ainda não se sabe, mas se ela vier a surgir o processo correrá com normalidade. Esta é a lógica serena de um grande partido democrático em democracia.
Outros tempos, outras horas!
"Esteja descansado, Francisco. Se eu atestar, acreditam".
E foi assim que, há mais de uma década, a "sedona" Alice Pinto Coelho, dona e senhora do bar Procópio, deixou atestado fidedigno daquela minha noitada.
Muitas saudades da Alice.
A ver vamos
A capacidade de resposta da União Europeia vai ser posta à prova dos nove perante os direitos alfandegários (não as "tarifas") impostos por Trump. Desejo-nos bom trabalho.
sexta-feira, maio 23, 2025
Emboscadas
Uma fotografia com um presidente americano na Sala Oval da Casa Branca foi, por muitas décadas, o testemunho de um momento importante na vida de qualquer político mundial. Trump está a transformar o lugar num local de emboscadas. Foi assim com Zelensky, agora com Ramaphosa.
A defesa e a segurança da Europa
"A crescente imprevisibilidade na atitude dos EUA, que foi, por décadas, o principal parceiro garante da paz e regulador da segurança e defesa da Europa, torna mais imperativa e urgente a questão da "autonomia estratégica" do continente nesses domínios. Procurando deliberadamente fazer sair o debate de uma perspetiva voluntarista - daquilo que seria desejável - seria interessante abordar, de forma pragmática, o que realisticamente pode vir a ser possível fazer:
Viver no lixo
Esta é uma questão que preocupa muito pouca gente em Portugal, país habituado a viver no meio de constante poluição visual da propaganda política. Mas já pensaram que nenhum partido cumprirá os prazos para a retirada dos cartazes eleitorais? E que ninguém os multará por isso?
quinta-feira, maio 22, 2025
Revisionismo
Imagino que o Partido Socialista esteja a viver, como será natural, um momento de alguma interrogação quanto ao futuro, em função dos resultados eleitorais e da necessidade de escolher uma nova liderança. Mas, que eu saiba, o PS não vive nenhuma crise de identidade.
Gostava, contudo, de dizer que o património político do partido estaria em seriamente em causa se acaso alguém, dentre as suas figuras com alguma responsabilidade (não me refiro aos espontâneos habituais, que fazem a alegria dos que não gostam do PS), viesse a dar o mínimo aval a qualquer proposta oportunista de revisão constitucional, oriunda dos suspeitos do costume, com "velhos e relhos" objetivos.
Se tal acontecesse, esses socialistas estariam a dar mostras de não ter percebido que o óbvio propósito da discussão agora lançada em torno da Constituição é, pura e simplesmente, tentar toldar a comemoração do seu cinquentenário em 2026 e envolver o histórico documento num manto de polémica, numa espécie de "révanche" contra o texto que consagra o 25 de Abril e os novos equilíbrios que dele resultaram. Espero, aliás, e não sentado, que nos setores social-democratas do PSD isto seja também entendido.
Manuel Alberto Valente
quarta-feira, maio 21, 2025
Indignómetro
Quanto mais não seja por razões corporativas, estou 100% de acordo com a reação do nosso governo à atitude agressiva de Israel face aos diplomatas em Jenin. Mas - e isto nada tem a ver com Portugal - gostava de perceber melhor os patamares do "indignómetro" europeu face a Israel.
Vamos lá ver...
Vamos lá ver se nos entendemos: o Chega é um partido de extrema-direita, mas as pessoas que votaram no Chega não são, apenas por essa razão, pessoas de extrema-direita. Como nem toda a gente que, alguma vez na vida, votou no PS se converteu, necessariamente, num socialista.
"Beer, Norm?"
terça-feira, maio 20, 2025
Estejam atentos
De agora em diante, vamos começar a assistir à tentativa de descaraterização do Chega como um grupo de extrema-direita. Vai começar (se é que já não começou) em certa imprensa, nos comentadores e nos agentes políticos a quem convém normalização do Chega.
segunda-feira, maio 19, 2025
Razão e razões
Não, o eleitorado não tem sempre razão. Tem é sempre razões e é para elas que devemos olhar.
Pior era possível
"Escapámos ao pior cenário: uma maioria absoluta do PSD", dizia-me há pouco, cúmplice, um socialista de carteirinha. Respondi-lhe, por uma vez convicto: "Estás enganado! Muito pior cenário era o PSD necessitar dos liberais para a maioria absoluta. Esse era o cenário de tragédia".
Bravães
Na minha primeira vez por ali, no início dos anos 70, foi-nos dito que podíamos visitar a igreja falando com uma senhora, que vivia numa casa vizinha. Lá fomos, entregou-nos confiadamente a chave da porta lateral, fizemos a visita com total liberdade, devolvendo-lha no final.
No sábado, a igreja estava fechada e já não havia senhora na vizinhança nem chave para levantar. É que Portugal, por várias e nem sempre simpáticas razões, vai mudando de hábitos.
O partido holograma
Com a AD, Luís Montenegro presta um considerável serviço à História contemporânea: prolonga a simpática ilusão de que o CDS, um partido que está inscrito no passado da nossa democracia, ainda existe nos dias que correm.
A boa notícia
Nesta dia de subida exponencial da extrema-direita e de reforço ligeiro da velha direita, a boa notícia é constatar que a direita radical a-social foi bafejada por um crescimento minúsculo.
Pedro Nuno Santos
domingo, maio 18, 2025
A esquerda de Abril
No meio de todo este descalabro da esquerda, fico muito satisfeito pelo facto de o PCP e o Bloco terem tido candidatos eleitos. Não voto por aquelas bandas, estou frequentemente em desacordo com eles, mas, com o Livre, eles fazem parte da diversidade da nossa esquerda de Abril.
Em modo de voo
Sou um desalinhado: soube aqui na net os resultados, mas não estou a ver televisão, nem comentários, nem caras e vozes de políticos. E assim farei até ao fim da noite. Ah! E quem me tentou telefonar nas últimas horas deve ter percebido que estou em "modo de voo"...
19 de julho de 1987
Eu estava em Genebra, integrado na delegação portuguesa à VII UNCTAD, a meio de algumas semanas de interessante trabalho, com um grupo divertido. Na nossa delegação, havia diplomatas e técnicos de vários ministérios. Nesse dia, 19 de julho, estavam a ter lugar eleições legislativas em Portugal. Em missão no estrangeiro, nós não votávamos mas, com maior ou menor entusiasmo e diferente "lateralização" ideológica, tínhamos acompanhado, dia a dia, o prélio eleitoral em Portugal. Que se decidia nesse dia.
Mário Soares, há ano e meio presidente, havia dissolvido o parlamento, para evitar que o então secretário-geral do PS, Vitor Constâncio, formasse um governo com o PRD, o partido "regenerador" que, numa eleição anterior, com um discurso "moralizador", havia "roubado" imensos votos aos socialistas. Com essa decisão, Soares "matou" o PRD de Eanes e criou as condições para Cavaco Silva arrancar a primeira das suas duas maiorias absolutas. Entre dois ódios de estimação, Soares fez a sua escolha.
Nessa noite, eu, o Rui Felix Alves e o João Luís Niza Pinheiro, três diplomatas, e o técnico do Ministério da Indústria, Frederico Alcântara de Melo, estávamos politicamente do mesmo lado. Como creio que estamos, até hoje. Juntámo-nos, "like-minded", no gabinete do Niza Pinheiro, então colocado em Genebra, para saber as últimas de Lisboa. Que, tal como no dia de hoje, acabaram muito longe de ser boas para as nossas "cores".
Recordo-me da reação de cada um de nós à maioria absoluta do PSD, e, em especial, tenho na memória o ar extraordinariamente abatido, quase em desespero, do Rui Félix Alves. "E agora! Como é que vai ser? Onde é que isto nos leva?" Cada um de nós expressava, de maneira diferente, o seu abatimento. Mas o Rui estava inconsolável! Lembro de lhe ter dito: "Ó homem! O Cavaco é um direitolas, mas não me parece nada que venha aí o fascismo!"
O Rui Félix Alves era mais antigo do que eu, no MNE, mas tinha sido meu instruendo na tropa. Um dia dos primeiros meses de 1974, antes do 25 de Abril mas depois do golpe de 16 de Março, veio ter comigo no meio da parada e, sem que nos conhecêssemos bem, atirou-me: "Eu sei que você é de esquerda. Queria dizer-lhe que estou à disposição para alinhar numa revolta contra o regime". Temendo ser uma provocação, saí da conversa como pude e "fiz-me de novas". Afinal, como depois vim a saber, no meio daquela sua ingenuidade, o Rui era mesmo "dos nossos".
Nesta que é uma noite menos simpática - gosto destes "understatements" - para a esquerda, a que eu, o Rui, o João Niza e o Alcântara continuamos orgulhosamente a pertencer, não "empanico" como o Rui fez naquela noite de 1987. Mas, desta vez, confesso que estou bastante menos sossegado com o rumo das coisas pátrias. Embora, como intravável otimista, eu continue a achar que um dia os amanhãs voltarão a cantar. Será apenas "whishful thinking"?
(Deixo aqui um abraço solidário e saudoso ao Rui Felix Alves, ao João Luís Niza Pinheiro e ao Frederico Alcântara de Melo)
É assim
A democracia, como a quisemos depois do 25 de Abril, é a expressão política da vontade das pessoas. Vence quem consegue convencer mais pessoas, independentemente da qualidade das suas propostas. Numa sociedade livre, como é Portugal, os democratas aceitam sempre os resultados.
sábado, maio 17, 2025
Soajo
Coisas do muito tempo
Ontem, durante uma conversa telefónica com um amigo jornalista (cujo nome não interessa mas que todos conhecem), referi que estava a ler as memórias de um seu colega francês, Jean-François Kahn, onde ele fala do caráter "trotskizante" do regime argelino, logo após a independência do país, em 1961. Como esse meu amigo tinha navegado nessas mesmas águas políticas, perguntei-lhe o que sabia ele disso. Ele logo lembrou o "camarada" Pablo/Michel Raptis, envolvido no apoio aos independentistas e que teria sido depois um conselheiro de Ben Bella. (Por minutos, passámos então ao "fine tuning" do mundo dos admiradores de Trotsky, com a sua conhecida propensão para a cissiparidade. E, entre outros, vieram a jogo os lambertistas e a corrente de Frank, que fiquei a saber que tinha como coroa de glória ter reunido com o próprio Trotsky, antes dos tempos mexicanos). Aí, eu interroguei-me se teria sido Pablo o interlocutor trotskista de um representante da oposição portuguesa, numa congeminação que sabia montada em Bruxelas, que iria permitir a posterior instalação em Argel da FPLN, a frente anti-fascista portuguesa criada em Roma. O meu amigo disse ser provável e adiantou que, nesse caso, nessa conversa, pelo lado português, poderia ter estado Manuel Sertório, figura relevante no início da FPLN, ele próprio ligado ao trotskismo. E logo fez uma pausa de bom senso: "Não acha que isto é uma conversa muito estranha! Já imaginou quantas pessoas ainda a poderiam acompanhar?" E rimo-nos. Aventei que, aqui em Arcos de Valdevez (ou "nos Arcos", para quem é do Minho), onde me encontro a banhos de preguiça, a menção a Sertório talvez trouxesse à baila o nome de Viriato, que imagino que ainda se deva aprender na escola. E acrescentei: "Conhecerão esse Viriato mas, com toda a certeza, nunca ouviram falar de Viriato da Cruz", o poeta e revolucionário angolano que passou as passas do Algarve na China. E daí a nossa conversa transbordou, por largos minutos, para o MPLA, de Neto a Mário de Andrade, e coisas assim. Depois, cada um de nós foi à sua vida, que, como é sabido, são dois dias: amanhã já é sábado e jogam para o título dois clubes que nos dividem, a mim e ao meu amigo, e depois é domingo e há eleições em que, por vias diferentes, juntamos vontades e esperanças contra os mesmos.
O meu pai chamava a isto "conversas arbóreas": de um ramo saem outros e assim sucessivamente. De facto, é uma evidência que há cada vez menos gente capaz de acompanhar estas conversas de gente já com muito tempo na vida. Mas eu gosto delas, confesso. E acho que o Zé também.
sexta-feira, maio 16, 2025
Sorry, mas é verdade
"The meeting itself was a tactical victory for Putin, who managed to start the negotiation process without prior agreement to a ceasefire, which Ukraine and almost all of its supporters in the West had tried to make a precondition for the talks", The New York Times.
quinta-feira, maio 15, 2025
Trump ou a orgia de poder
Sempre achei bastante frágil a ideia de que os Estados Unidos da América vivem um período de inexorável declínio, no sentido de que a ascensão da China e a multi-polaridade têm nas mãos os destinos do mundo.
Bélgicas
Uma fila de carros para lavagem automática não é um local habitual para manter diálogos com estranhos. Mas aconteceu-me ontem. Era um homem...
