segunda-feira, maio 19, 2025

Pior era possível

"Escapámos ao pior cenário: uma maioria absoluta do PSD", dizia-me há pouco, cúmplice, um socialista de carteirinha. Respondi-lhe, por uma vez convicto: "Estás enganado! Muito pior cenário era o PSD necessitar dos liberais para a maioria absoluta. Esse era o cenário de tragédia".

9 comentários:

ematejoca disse...

Afinal, o pior de tudo foi que o grande refluxo esofágico nestas eleições estava reservado para Pedro Nuno Santos e o PS‼️

josé ricardo disse...

O grande problema - o verdadeiro problema - reside no facto de este PSD não ser confiável. Montenegro já mostrou ao que vem e, sobretudo, o que é: um artista, um habilidoso.

João Cabral disse...

Honestamente: o PS pode ficar em terceiro, coisa que nunca aconteceu na vida, e a preocupação são os liberais. Pode servir de fraco consolo, mas não percebo. Palavra de honra que não percebo.

Carlos Antunes disse...

Concordo que uma maioria absoluta AD+IL seria trágica.

Mas há um outro cenário, não menos perigoso, que é o de a AD utilizar a maioria de 2/3 dos deputados de direita (AD+ Chega+IL) para fazer aprovar contra o PS, a revisão da Constituição e das leis de maioria reforçada (por ex.. lei eleitoral), pondo fim ao regime constitucional saído do 25 de Abril.

Montenegro não é confiável e temo que o “não é não ao Chega” ceda perante este desígnio que o PSD desde há muito prossegue (Montenegro em 2022, Rui Rio em 2018, Passos Coelho em 2010), o de uma revisão constitucional abrangente, ou seja, de uma nova Constituição.

Por ex., o projecto de revisão constitucional de Passos Coelho alterava 76 dos 296 artigos da Constituição, revogava 25 e acrescentava 4, em que se propunha, entre outras alterações, retirar da Constituição a expressão “sem justa causa” na parte relativa à proibição dos despedimentos, substituindo-a por “razões legalmente atendíveis”, bem como excluir a expressão “tendencialmente gratuito” no que respeita ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e pôr fim à obrigação do Estado de “estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino”, aumentar o mandato presidencial de 5 para 6 anos e a legislatura de 4 para 5 sessões legislativas, criar a figura de moções de censura construtivas, alargar as competências do Presidente da República (alterando de algum modo a natureza parlamentar do regime de governação) retirar da Constituição o artigo que condiciona o “efeito vinculativo” dos referendos a uma participação eleitoral superior a 50% dos eleitores inscritos e ainda o fim do serviço público de televisão e rádio.

Como se vê, não uma revisão constitucional, mas uma nova Constituição!

Paulo Guerra disse...

Dos neoliberais, porque o termo liberal tornou-se tão toxico depois do crash de 29, que foi necessário o "rebranding". Que tentam vender uma doutrina economica, como se ela já tivesse produzido resultados em algum lado. Além da destruição da economia dos US - com um buraco do tamanho do mundo na Saúde que a IL também tenta vender em Portugal - e da UE.

E agora da própria Europa, depois do "decoupling" de dois pilares fundamentais da economia da UE, segundo o próprio Borrell. Neoliberais que surgem em Portugal, curiosamente depois do crash neoliberal do Seculo. Com as consequências, em termos de devastação economica e perda de soberania dos estados nação para os mercados financeiros, que todos conhecemos. Hilário.

Hoje no Ocidente já nem há capacidade intelectual para perceber que a China só está a percorer o mesmo caminho que conduziu os US à maior economia do mundo e a Alemanha à maior economia europeia. Ou que o Ocidente representa menos de 20% do mundo, que não nasceu com as caravelas portuguesas. A Ásia, com 60% da população mundial, foi durante a maior parte do tempo do nosso mundo a parte mais avançada desse mundo e estar a reclamar de novo esse lugar, que perdeu sobretudo devido à Revolução Industrial e já agora, aos saques ocidentais, não devia escandalizar ninguém, como infelizmente ainda escandaliza. Infelizmente, estou certo, até o génio universalista de Kant. Enfim, só o culto de personalidade no Chega, no Portugal do seculo XXI, é mais surreal. Ou não!

P.S. Estou convencido que uma maioria absoluta deste PSD sozinho ou com a IL era exactamente o mesmo. Basta lembrar Paços. Uma seita que só subiu na política à custa do tráfico de influências. Pior, é impossível. Mas também ninguém devia ter ilusões dentro desta EU, sobretudo depois do crash. Eu falo diariamente com vários académicos europeus como eu e nenhum consegue afirmar com certeza quem corrompeu mais Bruxelas. Os mercados financeiros e a oligarquia financeira globalista, a CIA ou até o Departamento de Estado que nos enfiou na guerra na Ucrania. Depois de nunca permitirmos o alargamento da NATO para a Ucrania, que segundo Merkl era uma declaração de guerra clara à Russia. Como estamos a comprovar. Infelizmente para os europeus já foi mais fácil ver a Europa condenar a invasão do Iraque que hoje o genocídio em Gaza.

O sistema politico e sobretudo a social-democracia que construiu na Europa do pós-guerra os estados sociais europeus, e as sociedades com melhor qualidade de vida até hoje, segundo quase todos os indicadores económico/sociais, morreu e hoje já é comprovavel que o maior dano colateral da proxy war na Ucrania é a morte do jornalismo no Ocidente.. E sem liberdade de imprensa não há democracia.

Carlos disse...

Muito importante esta chamada de atenção. E na TV o entusiasmo de Cotrim quando o assunto foi mencionado não deixa dúvidas sobre o que nos espera! Por isso não vislumbro bem qual poderia ser o pior cenário com excepção duma vitória do Ventura e do seu bando de delinquentes!

Carlos disse...

Eu não acho que o alinhamento de Bruxelas com o chamado “ neoliberalismo” seja uma questão de corrupção no sentido tradicional do termo. A verdadeira questão é a colonização ideológica que vem desde o tempo de Hayek e dos seus seguidores e que progrediu de forma decisiva nos meios académicos com a visão da “rational choice” que inspirou Thatcher e Reagan e depois sucessivas gerações de políticos de direita mas também de esquerda.

Anónimo disse...

Se o fizerem, têm legitimidade para isso: a que deriva da vontade popular, que, por muito que nos espante, já não é a da esquerda.

Paulo Guerra disse...

Obrigado Carlos. Eu quando referi a corrupção estava a pensar em como a UE permitiu o alargamento da NATO para a UA - e a subsequente guerra - que nunca permitiu. Mas o lançamento do gasoduto russo para a China em 2014 enlouqueceu Washington. Como a sabotagem dos Nord Streams devia ter feito à UE. Ao invés de Sholz, que também os pagou, com as mãos nos bolsos quando Biden a "previu" na Casa Branca. Mas se o Carlos preferir também posso pensar na forma como Bruxelas não respondeu à crise financeira ou melhor, optou por salvar os bancos em vez de defender os contribuintes europeus e os países, como foi o caso de Portugal. E as ordens chegaram do outro lado do Atlantico. Como o crash. A perda de soberania europeia foi total!

De resto concordo, o neoliberalismo é a realidade com que temos que viver hoje mas o próprio neoliberalismo é sinonimo de corrupção na forma como os mercados financeiros - que Clinton inevitavelmente desregulou - se apoderaram dos estados nação, de tudo e de todos. A financeirização das economias foi um desastre para todos no Ocidente. O caminho mais rápido para o regresso feudalismo em vez da liberdade que apregoam. E vou só dar um exemplo, a média da riqueza dos estados nações ocidentais desde a WWII foi sempre de cerca de 30%, hoje é 0%, quando levamos em conta as dívidas. Já com indicadores de concentração/ distribuição de riqueza de seculo XIX.

Hoje só 10% de todas as transações financeiras globais respeitam ao comércio global entre as nações. 90% é pura especulação financeira, com triliões retirados das economias reais todos os anos. Aliás, quem tem hoje mais de 50 anos ainda se deve lembrar do cambio quase fixo entre as várias moedas no Ocidente. Mas por qualquer razão muitas pessoas não o relacionam com a forte regulação económica dessa era no Ocidente. E o que eu oiço da China hoje em termos de novo sistema é um regresso a Bretton Woods com o mecanismo de correcção de Keynes para superávites e défices comerciais - ambos insustentáveis - que os US chumbaram em 44 para tornar o mundo totalmente dependente dos US, quer quando exportavam, quer deficitários depois da guerra do Vietname. Qd Nixon explodiu Bretton Woods e pela primeira vez na história uma economia deficitária passou a dominar o mundo. Através do USD! No ponto de inflexão de todos os Imperios no passado. E neste aspecto até podemos dizer que Trump é só uma tentativa de remake. Muito menos ambicioso.

Mas volto a frisar que a compra do que hoje chamamos midias pelos grandes grupos económicos ainda é o aspecto mais nefasto para a Democracia. Porque no fim do dia em plena era da informação, nunca houve tanta desinformação. E os algoritmos das big tech já estão a conseguir apropriar-se do que nenhum Império conseguiu, literalmente a mente das pessoas. Tempos perigosos e totalmente novos. Que no passado as leis anti-trust – com grande apoio popular - impediram de emergir. Nós na Europa já tivemos a melhor fórmula de civilização na terra! Porque abdicamos dela? Alguém vive melhor hoje em Inglaterra, França ou Suecia? Claro que não! Só os fundos de investimento que devoram tudo! Sobretudo o que sempre conhecemos como bens públicos na Europa. E isto também é corrupção! O que vai a eleições é sempre algo totalmente diferente. Quando até algumas eleições na Europa…

P.S. Hayeck era um homem totalmente derrotado e ignorado e assim viveu a maior parte da sua vida até ao surgimento dos boys de Chicago.
https://www.theguardian.com/news/2017/aug/18/neoliberalism-the-idea-that-changed-the-world

Mais uma vez obrigado.

Com dedicatória

O anti-americanismo radical é a doença senil do pós-comunismo de alguns. Por princípio, são contra a América, o mau da fita. A arrogância po...