Excelente escolha!
O saldo populacional, contudo, aumenta um pouco às horas de almoço e jantar, por via dos utentes da “Taberna do Adro” (que fecha às quartas, desde já aviso). Pela mão hábil da Dona Maria José Sousa uma cara hoje muito popular para quem gosta de aprender culinária pela televisão, com o marido no “backstage” e o filho e o neto a oficiarem às poucas mesas, ali se apresenta uma cozinha alentejana tradicional, sem arrebiques nem efes-e-erres, a preços pré-guerra, num ambiente agradável e acolhedor. Miguel Esteves Cardoso fez-lhe adequada menção no “Fugas” e a nossa Academia Portuguesa de Gastronomia consagrou, há pouco, a genuina divulgação mediática da cozinha alentejana que a Senhora faz (40 programas, gravados em Madrid, já há uns tempos, contou-me).
Há alguns anos, tinham sido os alertas gastronómicos dos meus amigos Fortunato da Câmara e Fernando Melo que, respetivamente no “Expresso” e no “Diário de Notícias”, me tinham obrigado a anotar este endereço, onde a vida, contudo, ainda me não tinha trazido.
A experiência desta refeição trouxe-me agora à memória, gustativa e não só, outros tempos da primeira morada do Chana do Bernardino, na Aldeia da Serra, da época originária do Chico, em São Manços, ou dos alvores do Manuel Azinheirinha, no Escoural. Da lista, que não é longa, o que se saúda, ficaram por experimentar o pastelão de espargos, que a casa recomenda, a tomatada de galinha, o cachaço de porco preto e os pezinhos, e algumas sobremesas. E nem digo o que se comeu.
Onde fica Vila Fernando? Não fica longe de Elvas, não fica longe de Estremoz e não fica longe da A6. Como diz o “Michelin”, para aquilo que se recomenda, “vaut le détour”. Fá-lo-ei mais vezes. Deixo a capa da lista, debruada a pano. Fechada, para abrir o apetite de quem lê.
Ontem, fui jantar, pela primeira vez, ao “Tua Madre”, uma ousada aposta contemporânea, um “mix” difícil de definir, onde o Alentejo se cruza com influências italianas. Uma oferta surpreendente e criativa, que aconselho. Ambiente solto, propostas líquidas desconhecidas, muito boa onda.
Hoje, optei por ir almoçar a um clássico, à “Tasquinha do Oliveira”, uma casa onde regresso sempre que posso, há mais de 20 anos. Um exemplo de rigor, constância e sempre excelente qualidade. Por lá se exibe o diploma do prémio anual de cozinha tradicional portuguesa que a nossa Academia Portuguesa de Gastronomia, com grande justiça, lhe atribuiu.
Se puderem, não percam a excelente exposição de Jorge Martins, na Fundação Eugénio de Almeida, em Évora.
Não me estou a referir às tascas, com toalhas de papel, travessas metálicas e uma barulheira imensa, que cumprem hoje esse papel, como alternativa popularucha, adequada ao poder da bolsa. Falo de restaurantes serenos, com guardanapos de pano, serviço personalizado à antiga (“O seu esparregado, dona Matilde”), algumas madeiras no cenário e total ausência de pressão para se abandonar a mesa (“Ó senhor Vítor! Por favor, traga-me outro café e uma bagaceira da casa”, dizíamos, quando o nosso fígado era outro).
No género, ali perto, por muitos anos, existiu o “Funil”, que agora se modernizou e perdeu o propósito. Também havia “O Polícia”, hoje uma sombra do que foi, e a “Adega da Tia Matilde”, que, pela minha última e infeliz experiência, há meses, devia ter ido com o cliente Eusébio para o Panteão. Da mesma natureza, na avenida de Paris, esteve, por muito tempo, o “Isaura”, para onde se entrava por uma escada em caracol, que nos levava a uma cave com estantes, onde existia uma bela “biblioteca” de vinhos. O “Pote”, na João XXI ainda hoje cumpre um pouco essa função. Num registo mais simples, e ainda nas Avenidas que um dia foram novas, tenho grandes memórias da “Imperial do Campo Pequeno”, de que fui vizinho e freguês assíduo.
Quase todos os bairros de Lisboa tiveram restaurantes do género. Aos fins de semana, era vulgar ver avós, pais e filhos, de famílias com algumas posses, em almoçaradas. Até na Baixa, o “Paris” cumpria essa função.
A “Colina” ali estava, igual à que sempre a conheci. Na clientela deste domingo descortinei vários nomes que estiveram na berra nos anos 90, a que a idade trouxe um corfortável anonimato, mas também ali cruzei um poderoso ministro deste governo (como este é um governo sem muitos ministros poderosos, é fácil lá chegar), à espera do seu “take away”.
Como é que se comeu? Bem, embora sem deslumbre. A oferta é a clássica para este tipo de casas, pratos sólidos, sem surpresas nem arrebiques. Com a casa cheia, o serviço teve o ritmo certo, tudo a sair a um custo razoável. Foi bom regressar à “Colina”!
(“Não fales muito na “Colina”, nas redes sociais!”, alertou-me uma amiga. “Se vai lá muita gente, ficamos sem mesas!”. Arrisco).
Confesso que nem sempre consigo levar a cabo, com êxito, um exercício íntimo que, desde há muitos anos, tento apurar. Trata-se de evitar, quando vejo jogos de futebol na televisão, tomar partido por qualquer das equipas.
Dou conta de que estou a ter sucesso na consecução da minha atitude quando, ao ver marcar um golo numa baliza, dou por mim a desejar que haja outro na outra baliza, para tornar a partida mais equilibrada, logo, mais competitiva.
É claro que é muito mais fácil fazer isso num Shrewsbury - Barnsley, da liga inglesa, do que num campeonato do mundo entre países, sobre os quais frequentemente temos tentações afetivas.
Vem isto a propósito deste México - Argentina. Tanto me faz que ganhe um ou outro. O mesmo senti com o jogo anterior, o França - Dinamarca, ou o EUA - Inglaterra.
Sinto que estou a refinar nesta minha cultura de "isentão" militante.
No momento em que Nancy Pelosi sai da liderança democrática da Câmara dos Representantes, é justo prestar tributo a uma senhora que, com coragem democrática, soube afrontar Trump, quando tal era necessário. O deslize da sua visita pomposa a Taiwan, contra o parecer dos responsáveis políticos e militares do seu país, é, em tudo isso, apenas um interlúdio infeliz.
Ontem à noite, durante uma intervenção na CNN Portugal, ao falar e descrever os procedimentos do Artigo 5° do Tratado de Washington, da NATO, referi, por lapso, que ele nunca tinha sido invocado.
Tratou-se de uma óbvia distração, a pensar no tempo da Guerra Fria e a esquecer a invocação feita em apoio aos EUA, depois do 11 de setembro de 2001. Acresce que, nessa data, eu era precisamente embaixador em Nova Iorque, não muito longe das Torres Gémeas. E como eu me lembro desses dias!
Ele há coisas…
Comecei a ver a nova série “The Crown”, na Netflix. Continuo a pensar o que já pensava das anteriores: ao colar a narrativa a realidades que conhemos, a série induz-nos a criar “ideias” sobre as figuras retratadas, esquecendo que estamos perante uma ficção, não um documentário.
Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...