sábado, dezembro 24, 2022

Almanaque

 


Gosto de oferecer livros no Natal. 

Na vida, quase sempre me aconteceu passar os Natais em Vila Real. (Isso só não sucedeu por três vezes: uma, em 1991, quando vivia em Londres, outra, em 2011, em Paris e, este ano, aqui em Lisboa). Por essas alturas, em Vila Real, começo por me abastecer com algumas coisas que o meu amigo Alfredo tem à venda na Livraria e Papelaria Branco. Como não encontro ali tudo o que quero, passo pela Bertrand do shopping a horas mortas (das oito às oito e um quarto, aquilo é um sossego) e compro o restante.

Gosto de oferecer livros, mas só quando isso é possível. Ontem, passei pela Ler, em Campo de Ourique, e comprei dois livros. Para evitar esperas (sou um comodista nato, intolerante com perdas de tempo, para quem ainda não tivesse suspeitado), pedi sacos e evitei o atraso dos embrulhos. Zarpei dali para as Amoreiras, para adquirir o resto que necessitava. Pois isso! Na Bertrand, estavam filas quilométricas. Na FNAC, idem. Vim-me embora. Desconfio que muita gente vai ficar sem livros oferecidos por mim neste Natal.

Há dois dias, na Férin, comprei o livro que a imagem mostra: um excelente estudo de António Araújo sobre a revista “Almanaque”. (São agora quase cinco horas da manhã de sábado e, com exceção da antologia de textos, já o li todo). Este livro é, como imaginarão, uma prenda de Natal. Para mim. Complementa três outros livros que, há dias, chegaram de França, pela Amazon. Foram também uma oferta a mim mesmo. 

Eu não lhes tinha dito que gosto de oferecer livros no Natal?

3 comentários:

Anónimo disse...

Oferecer livros é oferecer experiências únicas, inesquecíveis e transformadoras. Excelente sugestão!

manuel campos disse...


Não me apanham a fazer compras de Natal depois de 15 de Dezembro, nessa altura do mês já está tudo feito.
E o que não estiver, por alguma razão de força (muito) maior, é feito para a semana e vem muito a tempo, tudo vem a tempo desde que venha.
Além disso deixei-me de dar livros aos outros, de um modo geral eles já os tinham porque, como é natural, eu comprava o que sabia que eles gostariam de ler e, por isso mesmo, eles já os tinham comprado nessa altura.
Andava já há muito tempo, no momento de pagar, no “É para oferecer?”, “Quer talão de troca?”, para depois ficar a maior parte das vezes com a sensação nítida e bem patente na cara deles que os íam trocar.
Uma duplicação de esforços inútil, em casa deles lá estavam os livros na estante, seriam os que eu dei ou os que eles já tinham comprado?
Compro no entanto muitos livros para nós aqui em casa (e vou aumentando as estantes algures aí pelo país, como já contei).
E àquelas perguntas acima respondo “Não quero talão de troca, é para oferecer a mim”.
São as melhores prendas, sabemos que os queremos, que não os temos e que vamos certamente gostar, na mesma linha das suas ofertas.

Os amigos e conhecidos agora levam música, é matéria em que eles confiam no que escolho e eu sei (por vezes melhor que eles, noblesse oblige) o que não têm nem é fácil terem, é mundo que cada vez está mais reduzido, no suporte físico, no que respeita ao tipo de música que nos une, o que admito que me facilita muito a vida.
E como é tudo gente que gosta de ver ali o objecto, de o manusear e não vai em “streamings” só por ír (ainda que não fuja deles a sete pés) lá me vou safando, em Outubro já costumo ter o cabaz pronto.


manuel campos disse...


Ninguém diz nada, está tudo no rescaldo, estou cá eu.

Minha mulher ofereceu-me as crónicas nunca publicadas em livro pelo MEC e que saíram no “O Independente”, entre 1988 e 1992.
Estive agora a ler o prefácio de Paulo Portas (como tinha que ser) que tem uma belíssima descrição do ambiente único da Livraria Buchholz daqueles tempos.
Era local que eu visitava todas as semanas ali entre 1986 e o fim de 1989, o que me obrigava a uma deslocação um pouco complicada.
A partir de Janeiro de 1990 passei a trabalhar na Rua Castilho e aí já lá ia quase todos os dias, fosse à hora do almoço ou ao fim da tarde.
Aquilo era mesmo assim na livraria e quem o tenha vivido com alguma frequência revê-se naquela descrição: um completo caos com uma certa ordem, secreta e muito estranha decerto, mas de qualquer modo uma ordem.
A minha área de interesse era a música , como sempre foi, portanto ía directo ao último piso ao fundo das escadas, onde a D. Isabel nos recebia sempre com a sua enorme calma e simpatia e me aturava os desabafos sobre a frustração de não poder levar muitos mais (o CD normal custava o equivalente a 60€ de hoje, o “mid-price” a uns 40€ de hoje e eu ainda tinha os filhos todos no liceu).
A certa altura surgiram três situações quase em simultâneo que mudaram tudo. Passei a só estar ali na área às 2ªs e 6ªs e com muito pouco tempo livre antes da hora de fecho da loja, a FNAC do Colombo já existia, estava aberta ao fim-de-semana e começara a “secar” tudo o que fosse livrarias e lojas de discos à sua volta e uma colaboradora nova e inexperiente teve uma “saída” que não se pode ter com nenhum cliente nunca mas que a “hierarquia”, com quem me dava bem e a quem recorri para resolver o problema, achou por bem não ligar muito, convencida que um cliente bom, certo e antigo não se ia “chatear” por causa disso.
Mas chateei-me. Feitios.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...