Esta figura chega ao final de 2023 como o principal (ir)responsável pela irrelevância do Conselho de Ministros na posição da União Europeia na crise ucraniana.
6 comentários:
manuel campos
disse...
Há muitíssimos anos e durante alguns tempos presidi a uma espécie de comissão em Bruxelas (fica assim porque foi a sensação com que saí de lá, aquilo que devia ser uma comissão não era bem uma comissão). Mérito meu: zero para além de ser português. Cada país tinha dois representantes, um do ministério que tutelava o tema e outro do sector privado (este era eu). Por um acaso de circunstâncias que nunca percebi bem, o país que devia ter sido votado não estava entusiasmado com a ideia e preferia “vice-presidir” e, dado que eu me dava muito bem com o respectivo representante do sector privado e ele me considerava um tipo porreiro (vá-se lá saber porquê), acabo a ouvir Portugal a ser proposto quando eu já só olhava para o relógio, farto da jiga-joga dos nomes que íam sendo avançados. Por fim sou “entronado” como chefe, apesar dos meus vagos protestos pois estava mesmo a ver que o líder ía ser o outro (a tal história de que já falei aqui), valha a verdade que isso acabou por não contar dada a excelente relação pessoal. Nestes casos não se discute muito, era Portugal e não eu que estava em causa e Portugal não me tinha passado mandato para recusar nada (também não mo tinha passado para aceitar, é verdade, mas os leitores percebem a situação). Andei assim uns três anos a caminho de Bruxelas, o que não me agradava nada. Nessa altura estava a trabalhar umas 10 horas por dia, corria de reunião para reunião, ír a Bruxelas uma vez por mês com saída de Lisboa no avião da manhã e regresso a Lisboa no avião da tarde, uma sandes como almoço e nem 10 minutos para ír á FNAC (que ainda não havia cá) era o programa mais estúpido que se pode imaginar e uma canseira inútil, mas “a man's gotta do what a man's gotta do” (deve ter sido o John Wayne que disse isto num filme de cowboys qualquer). Tanta conversa para dizer que conheci muita gente por lá e que um senhor como este tenha chegado onde chegou não me espanta nada de nada, é até evidente. Trabalhei numa empresa industrial de alguma dimensão no princípio da minha carreira e, quando finalmente fui promovido da produção (o barulho) para a sede (as alcatifas), costumava dizer, para escândalo de muitos, que mesmo que a produção cessasse por inteiro na área fabril, ali na sede ainda teríamos 3 anos de trabalho a trocar papéis entre nós. É assim que eu vejo estas grandes organizações , onde conheci muita gente brilhante (a pessoa mais brilhante até era um português) mas que estão cheias de pessoas que subiram na hierarquia a “trocar papéis entre eles”.
“mesmo que a produção cessasse por inteiro na área fabril, ali na sede ainda teríamos 3 anos de trabalho a trocar papéis entre nós”: é tão verdade em tantos sectores e em tantos países! É o poder da tecnocracia de gestão (por spreadsheet) que tomou conta de muitas organizações por esse mundo fora. Trabalho num sector diferente, num país diferente, e a frase aplica-se muito bem.
Caro Manuel Campos, há muito tempo que não ouvia/lia uma frase tão intensa no seu conteúdo como esta com que nos brindou. Muito obrigado pelos comentários que partilha connosco. Aproveito para desejar a todos os que frequentam este blog um Excelente 2023.
Estas fotografias das pessoas com símbolos redondos por trás, fazendo-as parecer santos (uma procura do ridículo por parte dos fotógrafos), conseguem ser mais repetitivas do que a música pimba. Ainda esta semana saiu, também, uma imagem do Guterres com "halo".
Muito obrigado pelas suas palavras. Não há maior alegria para quem gosta de escrever do que saber que há quem o leia com tanto gosto.
Uma prova disso está neste blogue que de "notas pouco diárias" tem felizmente cada vez menos, num momento em que o panorama da blogosfera nacional se vem reduzindo a olhos vistos, vítima de uma excessiva falta de isenção no tratamento dos temas e uma irritabilidade à flor da pele dos autores para com os comentadores que não pensam como eles, o que tem levado a que alguns blogues outrora "de referência" tenham perdido as pessoas que pensavam pela própria cabeça, parece cómodo mas é sempre esse o princípio do fim.
6 comentários:
Há muitíssimos anos e durante alguns tempos presidi a uma espécie de comissão em Bruxelas (fica assim porque foi a sensação com que saí de lá, aquilo que devia ser uma comissão não era bem uma comissão).
Mérito meu: zero para além de ser português.
Cada país tinha dois representantes, um do ministério que tutelava o tema e outro do sector privado (este era eu).
Por um acaso de circunstâncias que nunca percebi bem, o país que devia ter sido votado não estava entusiasmado com a ideia e preferia “vice-presidir” e, dado que eu me dava muito bem com o respectivo representante do sector privado e ele me considerava um tipo porreiro (vá-se lá saber porquê), acabo a ouvir Portugal a ser proposto quando eu já só olhava para o relógio, farto da jiga-joga dos nomes que íam sendo avançados.
Por fim sou “entronado” como chefe, apesar dos meus vagos protestos pois estava mesmo a ver que o líder ía ser o outro (a tal história de que já falei aqui), valha a verdade que isso acabou por não contar dada a excelente relação pessoal.
Nestes casos não se discute muito, era Portugal e não eu que estava em causa e Portugal não me tinha passado mandato para recusar nada (também não mo tinha passado para aceitar, é verdade, mas os leitores percebem a situação).
Andei assim uns três anos a caminho de Bruxelas, o que não me agradava nada.
Nessa altura estava a trabalhar umas 10 horas por dia, corria de reunião para reunião, ír a Bruxelas uma vez por mês com saída de Lisboa no avião da manhã e regresso a Lisboa no avião da tarde, uma sandes como almoço e nem 10 minutos para ír á FNAC (que ainda não havia cá) era o programa mais estúpido que se pode imaginar e uma canseira inútil, mas “a man's gotta do what a man's gotta do” (deve ter sido o John Wayne que disse isto num filme de cowboys qualquer).
Tanta conversa para dizer que conheci muita gente por lá e que um senhor como este tenha chegado onde chegou não me espanta nada de nada, é até evidente.
Trabalhei numa empresa industrial de alguma dimensão no princípio da minha carreira e, quando finalmente fui promovido da produção (o barulho) para a sede (as alcatifas), costumava dizer, para escândalo de muitos, que mesmo que a produção cessasse por inteiro na área fabril, ali na sede ainda teríamos 3 anos de trabalho a trocar papéis entre nós.
É assim que eu vejo estas grandes organizações , onde conheci muita gente brilhante (a pessoa mais brilhante até era um português) mas que estão cheias de pessoas que subiram na hierarquia a “trocar papéis entre eles”.
“mesmo que a produção cessasse por inteiro na área fabril, ali na sede ainda teríamos 3 anos de trabalho a trocar papéis entre nós”: é tão verdade em tantos sectores e em tantos países! É o poder da tecnocracia de gestão (por spreadsheet) que tomou conta de muitas organizações por esse mundo fora. Trabalho num sector diferente, num país diferente, e a frase aplica-se muito bem.
Irrelevancia nisso e em tudo o resto.
Desse senhor lembro a vergonhosa atitude quando foi visitar Erdogan com a senhora von der Leyen
Caro Manuel Campos, há muito tempo que não ouvia/lia uma frase tão intensa no seu conteúdo como esta com que nos brindou. Muito obrigado pelos comentários que partilha connosco. Aproveito para desejar a todos os que frequentam este blog um Excelente 2023.
Estas fotografias das pessoas com símbolos redondos por trás, fazendo-as parecer santos (uma procura do ridículo por parte dos fotógrafos), conseguem ser mais repetitivas do que a música pimba. Ainda esta semana saiu, também, uma imagem do Guterres com "halo".
Caro António Barata
Muito obrigado pelas suas palavras.
Não há maior alegria para quem gosta de escrever do que saber que há quem o leia com tanto gosto.
Uma prova disso está neste blogue que de "notas pouco diárias" tem felizmente cada vez menos, num momento em que o panorama da blogosfera nacional se vem reduzindo a olhos vistos, vítima de uma excessiva falta de isenção no tratamento dos temas e uma irritabilidade à flor da pele dos autores para com os comentadores que não pensam como eles, o que tem levado a que alguns blogues outrora "de referência" tenham perdido as pessoas que pensavam pela própria cabeça, parece cómodo mas é sempre esse o princípio do fim.
Um excelente 2023 para si
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