Estou a sair de casa para o velório do Vicente Jorge Silva, com cuja notícia da morte acordei, esta manhã. Nunca fomos íntimos, longe disso, mas tratávamo-nos por tu, desde sempre, desde que, numa tarde de 1990 (caramba, já lá vão trinta anos!), o José Mário Costa me levou à Quinta do Lambert, onde então se preparava o “Público” e ele, Zé Mário, organizava o “livro de estilo” do jornal.
Lembrei então ao Vicente dois artigos que eu tinha escrito no “Comércio do Funchal”, nos idos de 1972/73, que ele dirigia. Claro que ele não se lembrava, mas foi simpático: “Ah! Foste tu quem escreveu isso?”. E passámos adiante.
A espaços, no último decénio, íamo-nos encontrando numa divertida tertúlia jantante em Campo de Ourique, à qual ele conseguia ser mais relapso do que eu. Vi-o, com a família, por uma última vez, na (sua) Madeira, à saída de um restaurante do Funchal. Exclamou: “O que é que andas a fazer na minha terra?”.
O que penso de Vicente Jorge Silva está neste texto que escrevi, há seis anos, aquando da saída do livro que Isabel Lucas lhe dedicou: “Em Portugal, goste-se ou não, há um jornalismo antes e outro depois do Vicente Jorge Silva. Para quem, como foi o meu caso, começou a ler o "Comércio do Funchal" logo depois da "revolução vicentina" de 1966, e que, a partir de 1973, o acompanhou no "Expresso", apreciando depois essa aventura que hoje é só saudade que foi a sua “Revista", e, finalmente, que seguiu com admiração a sua criação maior - o "Público" -, Vicente Jorge Silva tem um papel de exceção no mundo mediático nacional. Pelo meio, ficaram os filmes, a "Invista" (onde me recordo de ter escrito algo, de que já me não lembro) e muito texto de opinião, com a política caseira no centro, a cuja momentânea sedução ele próprio não escapou.”
Teresa de Sousa escreve hoje sobre a genialidade do Vicente. É pura verdade! Vicente Jorge Silva era uma personalidade genial, como houve poucas, em Portugal, nestas últimas décadas. E não estou a exagerar, podem crer!
4 comentários:
Ele entrou para o expresso em 1974
Podi a ser genial, admito que sim, mas não sou fã de pessoas convencidas e algo arrogantes. Posso ser injusto, mas era o que me parecia.
Caro anónimo das 11:39,
Quando se é genial, pode-se ser isso tudo e até se perdoa, afinal se se está convencido de que se é genial e se é mesmo, pode-se mostrar toda a arrogância que se queira, a obra fala mais alto.
Não confundamos méritos com virtudes, um génio pode ser uma pessoa insuportável, mesmo um mau carácter.
O problema está nos medíocres convencidos, esses é que são legião. E também nos pios que nos andam a pregar que os humildes herdarão a terra. Se fosse por estes últimos, ainda estávamos na idade da pedra... Para alguém não vacilar quando deseja fazer algo de grande, precisa de ter muita confiança em si mesmo/a, a raiar a arrogância.
Falo claro genericamente, dado que não conhecia Vicente Jorge Silva, nem seria elegante estar a tecer esse tipo de comentários se o conhecesse. Só posso dizer que lhe admirava a prosa, o desassombro e a sua grande capacidade de liderar jornalistas, que nos trouxe a Revista do Expresso quando ela valia a pena e mais tarde o Público, também quando este valia a pena...
O resto são mexericos de gente ressabiada e não interessam a ninguém.
No blogue Aspirina B é feita uma pergunta algo relevante: que fez Vicente Jorge Silva desde 1996, isto é, desde que tinha 51 anos de idade (o que não é propriamente ainda uma idade muito avançada)? Aparentemente, não fez nada, ou fez muito pouco.
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