Eu estava quase envergonhado. Eu, que me gabava de ter andado todo esse tempo com um guia anotado dos alfarrabistas londrinos no meu carro com volante à direita, que achava que, nesse início dos anos 90, tinha conhecido todas as Dillon’s e Waterstones da cidade, de cima a baixo (diga-se que, na prática, elas eram todas iguais, como o eram as Ryman), que descobrira algumas estantes da Foyle’s onde parecia não ter ido ninguém há anos, que coscuvilhava tudo o que eram casas de livralhada em Charing Cross, que me passeava pela Hatchard’s com a mesma cerimónia com que ia beber chá ao vizinho Fortnum & Mason, eu, afinal, não conhecia aquela formidável John Sandoe.
Uma livraria extraordinária que sempre havia estado ali, ao lado da “swinging sixties” King’s Road, do mais desinspirado mas mais eficaz armazém de Londres, o John Lewis, a dois passos da trotante Sloane Street, a duas ou três esquinas de um hotel (mais do que “de charme”) que, por muito tempo, havia sido um dos meus segredos na cidade, o “11 Cadogan Gardens”, até que lhe deu para disparar nos preços.
Pois é! Foi apenas nessa visita a Londres, para o jantar da Crabtree de 2009, quando já vivia em Paris, que o António me fez descobrir a mais amável livraria de Londres.
Hoje, o António não quer saber nada disso e pensa que a vida lhe pregou uma partida que não estava no “script” da dita.
Eu nunca esqueci que, um dia, perto do Natal de 2011, num hospital público parisiense, comigo saído da anestesia de uma operação delicada, com a minha família impedida subitamente de poder estar por perto, a primeira cara com que deparei foi a do António, que já então vivia, como eu, em Paris, e que me disse, com um sorriso amigo e bom, de que lembro para sempre: “Acorda, homem!”.
Mas ele hoje não quer ouvir falar em hospitais! Força António! Força Carol!
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