quarta-feira, setembro 30, 2020

Biden perdeu uma grande oportunidade

Nunca é muito evidente e óbvio o efeito que um debate pode ter no desfecho de uma campanha eleitoral. Mas, como frequentemente acontece, há, entre dois candidatos, quem espere mais de um debate do que o outro. Joe Biden tinha absoluta necessidade de usar este seu primeiro momento para marcar uma imagem “presidencial”. Tentou-o, mas não o conseguiu. Desestabilizado por Trump, que, não obstante a sua indisciplina no exercício, demonstrou uma supreendente calma e até contenção, Biden deixou-se resvalar para o insulto fácil. Ao longo de todo o debate, Biden projetou uma imagem de fragilidade física - na voz, na expressão, nas hesitações e na própria cara - que não foi compensada pelo sorriso complacente com que aturava as provocações de Trump. O baixar de cabeça e um ar, por vezes, angustiado, retiraram-lhe a assertividade que era essencial ter projetado. Se a ideia de Biden era ali afirmar a ideia de um presidente “a sério”, por contraste com aquele que a América teve nos últimos quatro anos, a tentativa falhou. Trump soube contê-lo e, em particular, conseguiu passar para o seu eleitorado todas as mensagens que queria. Percebendo que não iria retirar nenhum voto ao campo democrático, falou apenas para “os seus”. Esta foi uma oportunidade perdida por Joe Biden e ninguém parece esperar que, nos próximos debates, as coisas lhe corram melhor. Pelo contrário, digo-o com pena.

17 comentários:

Anónimo disse...

É uma múmia. Não tem quase expressão facial. A testa não "mexe". Os olhos são dois cortes negros numa cara parada. Que porcaria de candidato.

Se, ao menos, pudéssemos mandar o Marcelo para os EUA. Livrávamo-nos da verdadeira picareta falante e livrávamo-nos do Trump.

Luís Lavoura disse...

Biden projetou uma imagem de fragilidade física

Não vi o debate, mas há dias vi Biden a falar. É assustador. Fiquei com a clara noção de que ele estará pior do que Ronald Reagan quando foi eleito - ou seja, se ainda não está com Alzheimer, não tardará muito a estar.

É impressionante como o partido Democrata escolhe um tipo assim, senil e já meio demente, para candidato a seja o que fôr.

Anónimo disse...

O que espanta, espanta mesmo, é ver o que "a grande democracia" escolhe para lhe dirigir os destinos...e os do mundo.
É confrangedor.
MB

Anónimo disse...

"O partido democrata sou eu". Esta frase que o grupo Biden preparou e que Biden teve que proclamar diz muito sobre a política nos EUA. Dentro do partido democrata pretende-se remendar, artificialmente, via socialismo, a união. Mas o partido democrata não é Biden. Já Trump foi, é, ele.
Qualquer um deles, o vencedor, terá que administrar uns EUA em desagregação. O enorme império, os EUA, está corroído por um problema, um dito "racismo".
O gigatismo gera diversidade. O facto de uma facção -o Norte, mais industrializado/armado- ter ganhou uma guerra que antagonizava duas formas de viver, foi só isso, uma vitóri militar. Não uma vitória cultural.
Um Sul rural, com trabalhadores rurais (como hoje os há, em muitas zonas por esse mundo fora) e outra, o Norte industrializado com empregados "colaboradores" de colarinho azul ou branco e os seus sindicatos...
Ganhar aquela guerra foi só isso: ganhar uma guerra. O problema de base, como se viu, está lá.
O vencedor terá que gerir, como melhor souber, um problema: um crescente, corrosivo, secular racismo. Só isso.

aamgvieira disse...

Entre um outro o diabo que resolva. Biden um sleeping Joe. Trump um "perigo á solta.....

Um País divido entre o exagero dos BLM=ANTIFA=NAZIS=COMUNISTS e os outros !!!

Luís Lavoura disse...

Nos anos 1980, a democracia americana efetuou uma grande inovação, a qual deixou o mundo boquiaberto e incrédulo: ser formalmente liderada por um doente mental (Ronald Reagan), o qual não dizia coisa com coisa porque estava progressivamente a cair na demência (a Alzheimer de que veio a morrer). Na prática, quem liderava os EUA era quem estava por trás de Reagan; a figura de proa, Reagan, não passava de um demente.
Ou me engano muito, ou os EUA preparam-se para repetir essa lamentável performance, que (repito) deixou nos anos 1980 o mundo boquiaberto de espanto e incredulidade: ter um presidente que não manda nem diz coisa com coisa, enquanto que quem na verdade manda são outros poderes (o complexo militar-industrial) por detrás dele.

Joaquim de Freitas disse...



Há neste blogue alguns anónimos e não só, que vão dormir muito mal quando lerem o que não escrevi .

João Cabral disse...

Joe Biden quis ir lutar para a lama com Donald Trump. Era óbvio quem seria o vencedor por ser especialista nessa modalidade. A certa altura, pareceu-me até ver dois Trumps, só que um estava muito mal disfarçado.
Nota para a transmissão da TVI24, que, ao contrário do que fez há quatro anos, não recorreu a um tradutor para o debate. Nem sequer os jornalistas presentes se deram ao trabalho de ir resumindo as intervenções, ficando-se por curtíssimos apartes sem relevância nenhuma. Mau serviço.
Senhor embaixador, acertou: "detrimental" só existe em inglês. "Prejudicial" é português.

Jaime Santos disse...

Lembro-me de um debate assim, Mário Soares-Basílio Horta nas presidenciais de 1991. Biden não é Soares (o que é mau para os americanos), Horta não é Trump (o que é ainda pior para eles) e o povo português e o americano são muito diferentes (o que é excelente para nós).

Mas as pessoas decentes tendem a não gostar de quem insulta e interrompe, em particular se o faz com os mais velhos. E acho que as sondagens sobre quem ganhou ontem refletem isso.

Na altura, o truque não correu bem a Basílio Horta (nunca se esperou que ganhasse) e ficou-lhe como uma mancha no currículo, ele que é uma pessoa estimável (e Presidente da Câmara de uma Autarquia pelo PS, a mostrar as voltas que a vida dá, e o carácter de catch-all Party que o Partido fundado por Soares há muito tomou).

Estamos evidentemente a um mês das eleições e a vantagem de Biden nas sondagens não significa nada, pode perdê-la e mesmo que a conserve, Clinton aparecia à frente de Trump, ganhou o voto popular por três milhões de votos e perdeu nos battle-ground states, por vezes por percentagens ínfimas.

Mas não chega a Trump mobilizar só a sua base, a que quer continuar a humilhar a outra América. E há muita gente, em particular eleitores mais idosos, fartos dele e da sua resposta desastrosa à pandemia.

Quanto ao Luís Lavoura, não me surpreende que venha para aqui debitar a treta trumpista sobre a aliança entre os Democratas e o Deep State... Vá ver as benesses que Trump dá aos militares (que pelos vistos o detestam porque se há gente que gosta de regras são eles), os seus investimentos na Marinha, em novas armas nucleares, e os planos de militarização do Espaço, e depois venha dizer quem é o aliado do complexo militar-industrial...

Reagan era um patife amoral (Nicarágua e o escândalo relacionado Irão-Contras), mas também foi um grande estadista. Estava longe de ser um intelectual, mas Mitterrand disse dele que ele entendia por intuição o que não atingia pelo raciocínio. Percebeu bem o perigo de uma guerra nuclear e reconheceu a abertura proposta por Gorbatchev. E ouça este discurso de Reagan e diga-me lá se acha que quem o leu em 1985 estava então senil:

https://www.youtube.com/watch?v=JqWRllatvc8

Há uma certa Direita entre nós, cujo principal prócere parece ser Jaime Nogueira Pinto, que importou a retórica anti-Biden: Biden será um joguete da Esquerda radical, do complexo militar industrial, Biden está senil, etc... Esta é a mesma Direita que estabelece equivalências morais entre o BLM e os Neonazis e que lá no fundo não se importa nada com a reeleição de Trump...

Se a hipocrisia e a falta de coerência não lhe fizessem parte do ADN, diria que tal comportamento é sinal da demência de que acusam Biden...

Anónimo disse...

Em resultado do pior debate de sempre parece ser de concluir que nenhum tem estatura para ser presidente dos EUA. É triste, mas é verdade!

Lúcio Ferro disse...

Discordo. Biden ganhou e Trump perdeu, enredado em contradições e escândalos. O New York Times conta e, depois, aquela história de ser um espertalhão nos impostos e gabar-se de o ser, tsc, tsc. Conheço poucos norte americanos mas...

Anónimo disse...

Caro Lavoura

Essa do Reagan dizer coisa com coisa é anedótica. Ela tinha uma capacidade de intervenção pública impressionante.Por vezes, poucas, cometia gafes, mas que as não comete.

Consta efectivamente que não gostava de estudar e aprofundar dossiês complicados, mas publicamente tinha um grande poder de persuasão.

O Alzheimer veio mais tarde.

Anónimo disse...

O melhor comentário de sempre do estalinista!!! Só não é perfeito porque peca pela presença.

Joaquim de Freitas disse...

O « kapo » nazi reconvertido em Guantanamo, ao serviço do caniche de Putine , acordou do pesadelo que lê neste blogue…e lança a caça aos estalinistas …Se tivesse um pouco de miolo útil, faria melhor de comentar o que diz o comentador de 30 de Setembro de 2020 às 12:50 para justificar a sua presença por aqui.

Joaquim de Freitas disse...

DO NORTE AO SUL DA AMERICA UM TORNADO GIGANTE SOPRA…




A democracia americana deu ontem o mais triste espectáculo da sua História. Dois políticos com os pés na tomba, vieram para um debate do qual deveria sair um linha directriz para o futuro deste grande país, ultrapassado por um poder emergente chinês, que ainda há 70 anos registava milhões de mortos de fome e era espezinhado pelos antigos países colonialistas que o sugavam e desprezavam.

A América, doente duma doença da qual não foi capaz de se livrar em dois séculos, um racismo doentio, numa terra de oportunidades que se transformou numa terra de desigualdades crescentes, e violência endémica, que a busca da hegemonia total sobre o planeta a levou a exportar por toda a parte.

Uma América doente das suas armas, doente dos esteroides, doente de racismo, doente das desigualdades, doente do seu federalismo, doente do seu sistema de saúde (o que é uma incoerência!) doente da sua extrema-direita, doente de Trump, para, no fim criar um Mundo doente da América.

E que em Cleveland apresentou ao mundo o que existe de pior na classe politica americana. Imaginemos um só instante o que pensam os russos e os chineses, e os povos que a América destruiu, sim, porque um dos dois “boxers” pertenceu a um governo que destruiu a Jugoslávia e a Líbia, e que enviou a sua Secretária de Estado, Hillary Clinton, antiga candidata, ela também, lançar o grito vencedor a Tripoli: Veni, Vidi Vici”…(Vim, Vi, Venci) . E milhares de mortos mais tarde, vemos o resultado nas estradas da Europa, pobres vitimas errando de campo em campo.

Ao ver estes dois eventuais chefes do Estado mais poderoso do Mundo, para o momento, não pude esquecer o que ouvi nos anos 70 nos EUA, em Detroit, quando a capital do mundo automóvel se desmoronava e as fábricas dos “Big Three” (GM, Ford, Chrysler) eram desmontadas e partiam para a Ásia, afim de “maximizar os lucros” …

E que Lee Yaccoca, presidente de Chrysler gritava: “Que diabo, como é que este grande país que inventou a arte do management, não é capaz de encontrar patrões para a sua industria automóvel?

Como não pensar na famosa frase de John F. Kennedy, "uma maré crescente levantou todos os barcos." E quando a maré recuou, o que vemos? Que no país mais rico do mundo, 38 milhões de pessoas viviam na pobreza, e essa desigualdade era a mais alta de todas as nações desenvolvidas: as 400 famílias mais ricas têm mais riqueza do que os 60% dos americanos menos ricos, os 0,1% mais ricos possuem mais do que o total acumulado de 80% de seus compatriotas. Histórico. Insuportável.

Corsil Mayombe disse...

Era mais que expectável:
O sargentão não atirou a toalha ao chão!

Anónimo disse...

Sobre o frente a frente Biden / Trump a grande maioria dos noticiários, comentadores e opiniões por cá assinalam o tom -tipo peixeirada- em que decorreram os 90 minutos. Realmente a maioria dos portuguêses que ainda vê debate político em TV,está habituada a um diálogo político em tom conformadinho. Por cá quem ganhou uma elieção está iluminado. É mais inteligente, tem sempre razão, indiscutivelmente as melhores soluções .... Até novas eleições.
Nos EUA o confroto político não é a feijões nem para cumprir calendário.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...