terça-feira, setembro 29, 2020

“Prós e Contras” (take two)

Escrevi ontem um post sobre a minha experiência pessoal com o programa “Prós e Contras”. Verifiquei - ia a dizer, com surpresa, mas estaria a faltar à verdade - que a esmagadora maioria dos comentários ao post, nomeadamente no Facebook, acabou por derivar para o próprio programa, com a produção de alguns juízos de valor sobre a respetiva responsável, com os quais, de todo, me não revejo.

Nunca fui um telespetador muito atento ao P&C, tanto mais que vivi no estrangeiro durante anos da existência do programa. Mas vi-o, creio, um número suficiente de vezes para poder concluir, sem sobre isso alimentar a menor sombra de dúvida, que Fátima Campos Ferreira, como jornalista, o não geriu de uma forma tendenciosa, como alguns por aqui alegaram.

O facto de não gostarmos do rumo que seguem algumas coisas não nos dá o direito de lançar um labéu de suspeição sobre as motivações de quem sublinha aspetos que nos desagradam ou com os quais, definitivamente, não concordamos.

Sempre considerei uma temeridade fazer um programa desta natureza, com a intensidade semanal de edição, porque seria sempre muito difícil garantir uma qualidade razoável no tratamento dos temas, alguns deles muito complexos e de forte componente polémica. 

A minha crítica essencial ao trabalho de Fátima Campos Ferreira - e, repito, pela mera amostragem do que assisti - reside na regular tentativa de “tirar conclusões”, as quais, às vezes, me pareceram um pouco impressionistas e forçadas, tratando-se de assuntos muito delicados e dificilmente sumariáveis. Eu teria preferido que o público ficasse com as duas (ou mais) opiniões e delas extraísse a ideia que lhe aprouvesse. Mas também posso perceber que a tentação de um moderador é sempre tentar desenhar uma possível bissetriz num debate, mesmo que não fechando a porta a ulteriores contribuições.

Temas houve, tratados pelo P&C, em que aprendi bastante, pela voz de gente muito qualificada, sobre realidades técnicas muito distantes dos meus interesses habituais. E, por falar em habituais, algumas vezes pareceu-me menos adequado insistir em alguns convidados que já funcionavam como “habitués”. Mas posso imaginar que isso se deva à indisponibilidade de muitos e à fácil disponibilidade de outros, o que na convocatória de um programa desta natureza é sempre uma condicionante limitativa.

Mas, repito, nunca detetei, da parte da responsável do programa, uma deliberada orientação enviesada, no plano político ou outro. Essa é a minha sincera opinião.

Os programas de televisão nascem, vivem e, em geral, têm um momento em que se “cansam”, em que esgotam o respetivo modelo. Vi essa realidade por cá, como assisti a isso em outros países em que vivi. Acho que o P&C foi um programa de que a RTP tem toda a razão para estar orgulhosa, mas que fez o seu tempo, pelo que o formato ganhará agora em ser revisitado.

Como membro do Conselho Geral Independente (CGI) da RTP, não me parece adequado emitir em público juízos críticos sobre um determinado programa da empresa, durante o seu tempo de emissão. Mas posso agora fazê-lo, agora que o P&C fecha portas. 

E gostava de dizer a Fátima Campos Ferreira que, no que me toca, e olhando para o saldo daquilo que é o imenso património da informação produzida na RTP, considero que o seu trabalho foi marcado por uma linha de permanente seriedade, na tentativa de fazer o melhor que lhe era possível.

4 comentários:

Corsil Mayombe disse...


VIVA PORTUGAL


Anónimo disse...

Penso que o programa estava esgotado porque Fátima C Ferreira, se esgotou a si própria.
Quando o clã Moedas, aparece muitas vezes, é sinal que o coração, manda mais que a razão.
Bem sei que a reverência a Moedas, é dirigida à Gulbenkian como futuro qualquer coisa, o tempo o dirá, mas que a subserviência para com essa linha "Passista", era uma evidência para quem estava atento. Admito estar enganado, mas acho que não.

Anónimo disse...

natural que não lhe note o que outros notaram - a imensa falta de pluralismo.
aquilo sempre teve nas mesas representantes do bloco central de interesses, europoetas e atlantistas mais ou menos empenhados.

prós & prós. oradores mesmo do contra, vistziu-us? nanja eu -

Anónimo disse...

sempre pensei que o programa se chamava "Prós & Prós"...

O concerto da Júlia

Foi assim, depois do almoço de hoje. A pianista, com menos de 10 anos, chama-se Júlia.