quinta-feira, setembro 24, 2020

Gréco


Estava de passagem por Paris, no dia de 2018 em que morreu Charles Aznavour. Recordo-me bem de estar sentado numa esplanada, ao lado de uma senhora e de uma adolescente francesas, com esta última a perguntar “esse Aznavour era quem?”. Se a miúda não conhecia Charles Aznavour, que atuou até muito tarde, com muito maior probabilidade deveria desconhecer Juliette Gréco, que já saíra dos palcos bem antes. Ou, quem sabe, talvez o modo negro de vestir de Juliette Gréco, afinal muito “à la page” com certos padrões contemporâneos, pudesse ter algum dia chamado a sua atenção e assim se tivesse preservado na sua memória. 

Posso estar errado, mas fico com a sensação de que há um maior apagamento do passado recente na memória das atuais gerações. Se isso significa que olham com mais atenção para o seu presente, invadidos que são por uma imensidade quase infinita de mensagens de informação, assim ficando melhor preparados para as coisas do futuro, então isso é, com certeza, uma coisa boa. 

7 comentários:

Luís Lavoura disse...

há um maior apagamento do passado recente na memória das atuais gerações

O mundo evolui cada vez mais rapidamente, pelo que o passado recente cada vez mais rapidamente se transforma em passado remoto. As modas e a cultura evoluem muito rapidamente e o que era moda há dez anos hoje já não presta nem tem interesse. Cada vez mais se vive na espuma dos dias.

Portugalredecouvertes disse...

mas há sempre lugar para todos!
uns homenageiam memórias do passado para que não fiquem esquecidas,
não querendo dizer que não valorizem o presente
outros cuidam do presente que está mais à mão,
outros imaginam, antecipam, constroem o futuro
outros ainda, podem tocar um pouco de cada instrumento!
há tanta gente no mundo, que não vale a pena fazerem todos a mesma coisa:)

Anónimo disse...

«assim ficando melhor preparados para as coisas do futuro»


Penso que o Snr. Embaixador está a pensar mal e a enviar uma mensagem errada aos jovens.
Aquela jovem assim como todos os jovens só podem saber acerca do passado e nada sabem ou podem saber acerca do futuro: os jovens vão para a escola e universidade e apenas aprendem aquilo que é já conhecido e sabido, o que é passado.Porque só pelo conhecimento do passado podem ter alguma ideia racional do que pode ser o futuro; um jovem se quer ser matemático tem de conhecer e apreender em todo o seu significado o teorema de Pitágoras e a geometria de Euclides com mais de dois mil anos; se quer ser filósofo tem de estudar a fundo desde Platão e Aristóteles até aos modernos para poder pensar e raciocinar sobre as possibilidades do futuro.
E mais, um jovem que desconhece o passado e só conhece e vive sob a catadupa de mensagens e demais informação do presente está apta e pronta a engolir a eficiente manipulação algoritmica e falsas ideias da actualidade com que alguns homens tentam incutir nos outros homens como ideias dominantes e, consequentemente, dominadoras de classe.
Um homem ou uma jovem apenas e permanentemente ligada e totalmente invadida pela imensidade quase infinita de mensagens de informação actuais e totalmente alheia à mensagem do conhecimento do passado não só não consegue pensar o futuro como nem sequer tem futuro como ser pensante.

jose neves

Joaquim de Freitas disse...

Excelente reflexao do Senhor José Neves. O propósito da educação é idêntico ao propósito do homem. Obviamente, toda educação visa, explícita ou implicitamente, um ideal humano. A educação é essencial para a actualização completa do homem. E todo homem educado “ “actualizado” não pode evitar a “imensidade quase infinita de mensagens de informação actuais”.

É por meio da educação que a comunidade se forma. Uma pluralidade que, por meio de educação, deve ser reduzida a uma comunidade e uma unidade.
Um dos maiores obstáculos à criação duma comunidade estável é a falta de educação da pluralidade. Se cada cidadão conhecesse perfeitamente os seus deveres e os seus direitos, enfim se fosse educado, governar não seria mais uma questão de luta de interesses mas de vontade deliberada.

Anónimo disse...

Nunca houve em Portugal tantos jovens habilitados e formados!
Acho que os jovens de hoje teem mesmo melhores bases para poderem navegar por entre diversos conhecimentos, tecnicas e saberes pois adquirem ferramentas outrora restringidas a certas classes sociais.
O ministro Mariano Gago,inteligente e integro, ajudou a abrir as portas da ciencia aos jovens portugueses e pouco importa o desconhecimento de todos os pormenores do passado.

Portugalredecouvertes disse...

continuo a pensar que tem de haver uma especialização do conhecimento
ou seja, ninguém consegue ter um conhecimento universal!
e muitas "falhas" ficarão por preencher na parte que a cada um diz respeito
penso que é importante, que as várias fontes de conhecimento estejam disponíveis
ou seja que sejam colocadas à disposição dos outros pelos vários "atores" da sociedade que transmitem e defendem o acesso livre a quem precise do futuro e do presente para avançar na sua linha de aprendizagem pessoal

João Cabral disse...

Os olhos já só estão postos no futuro, senhor embaixador. O presente já pouco interessa e o lugar do passado é no lixo. Desde a "peste grisalha" às Gretas do momento, nada mais interessa senão o futuro. Tudo uma execrável miragem, claro, mas há quem a engula às pazadas.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...