sexta-feira, junho 18, 2010

Gaullismo

A França com memória celebra, na data de hoje, o apelo feito há 70 anos, pela rádio, de Londres, pelo general de Gaulle, que consagrou o reerguer do seu país sob ocupação estrangeira.

Charles de Gaulle permanece uma figura política polémica, sem que isso signifique que não seja, a todos os títulos, uma figura maior da história francesa. A sua linha de ação política, de que alguns se reivindicam e de que outros se distanciam, continua a ser objeto de análise. As grandes orientações da sua política externa são regularmente evocadas e postas a par das opções contemporâneas que se abrem à França no campo internacional. No ano em que se celebram os 50 anos das independências africanas, o general é lembrado pelas decisões então tomadas nesse âmbito e pelo quadro da "françafrique" que geriu. Algumas das suas opções em matéria de política económica são hoje olhadas com curiosidade, à luz do intervencionismo que os últimos tempos acabaram por ditar. O carater espartano da sua vida e da sua postura é, frequentemente, constrastado com o dos seus sucessores no cargo.

Gostem ou não os franceses do general de Gaulle como líder político e partidário, o que parece incontestável é que, no seu apelo de há 70 anos, ele soube representar o mais profundo do sentimento da França como país. E essa memória permanecerá sempre como a marca mais prestigiante da sua imagem.

A nova ordem europeia

Confesso que não impressionam muito algumas reações de cariz nacionalista que contestam os modelos de coordenação das políticas orçamentais que ontem foram desenhados em Bruxelas. Não se pode ter "sol na eira e chuva no nabal", isto é, reivindicar o "chapéu" de proteção europeia quando as coisas correm mal e, ao mesmo tempo, pretender ter as mãos nacionais completamente livres para o desenho de decisões em matéria de agravamento do défice público, para satisfazer nichos de mercado eleitoral interno.

Não ignoro que o caminho que a presente crise obrigou a seguir comporta, em si mesmo, alguns riscos em matéria de legitimidade política, à escala nacional. Mais cedo do que alguns gostariam, a questão do conflito de competências entre as instituições políticas dos Estados e as estruturas (noto que não escrevo "instituições") europeias vai colocar-se, com grande acuidade. O assunto pode estar a ser menos sublinhado neste período em que todos estão ainda um tanto aturdidos pela crise, no qual as lideranças europeias demonstram que não conseguem mais do que ser reativas face aos mercados, mas estou convicto de que acabará por ser objeto de uma análise mais fria e mais fina, dentro em breve.

Porém, devo dizer que o que mais me preocupa, em todo o cenário que atualmente se vive, é que toda esta aparente "federalização" da gestão financeira europeia começa a assentar, já não nas instituições regulares, mas apenas nos arranjos, um tanto "ad hoc", impostos pela Alemanha e aceites pelos restantes parceiros como inevitáveis, cujo controlo democrático, a nível europeu, é hoje mais do que discutível. Haveria outra solução? Provavelmente não, mas isso não significa que não devamos pensar o problema, porque a democracia não é um conceito instrumental, mas sim uma condição "sine qua non" para a aceitação das soluções pelas pessoas. De certo modo, estamos, nestes dias, a assistir, no seio da Europa comunitária, a uma reprodução do novo modelo G20 à escala global, com a subalterinzação das instituições multilaterais regulares e a fixação de regras casuísticas ditadas pelos "powers that be".

Alguns, talvez com um realismo à flor da consciência, poderão, um tanto cinicamente, ser de opinião de que, se acaso as instituições decorrentes do Tratado de Lisboa fossem aplicadas em pleno como eixo de gestão das medidas para fazer face a esta crise, o resultado acabaria por não ser muito diferente. Para esses observadores, os desequilíbrios demográficos aceites e projetados por esse  tratado no processo decisório europeu, bem como a "subversão" interinstitucional que decorre do acordo que leva o nome da nossa capital, já haviam criado um dulcificado modelo de "diretório". Não sei se esses "realistas" têm ou não razão, apenas é evidente que já nem esses mecanismos são aplicados... A Europa está perigosa.

(Este texto foi publicado no jornal "Público" em 19.6.10)

quinta-feira, junho 17, 2010

Mário Ruivo

Foi o meu primeiro ministro dos Negócios Estrangeiros - dos 19 que já tive (é verdade!). Encontrámo-nos, há dias, por acaso, numa esplanada de Paris. Durante bem mais de uma hora apreciei, deliciado, o entusiasmo que coloca em tudo quanto continua a fazer e as memórias riquíssimas que conserva, de quem atravessou tempos decisivos para Portugal.

O professor Mário Ruivo é, de há muito, a alma por detrás do esforço de tratar os oceanos como uma das nossas mais preciosas riquezas. Em todos os tempos políticos e nas várias e (infelizmente) diferentes vagas de interesse, entre nós, sobre essa temática em que é um reputado especialista internacional, vimo-lo sempre como uma figura indiscutida e indiscutível, cujo prestígio ecoa por toda a parte, com grande benefício para Portugal.

Nessa bela noite de conversa, para além dos oceanos, falou-me de um mar de coisas, desde os seus alvores na política até à sua aventura governativa, dos tempos de Itália e do seu cruzamento com inúmeras figuras que por lá passaram, em momentos difíceis. Mário Ruivo é uma personalidade positiva, com uma dose de compreensão e de entendimento dos outros que traduz a delicadeza de uma grande senhor.

quarta-feira, junho 16, 2010

O sorriso

O ambiente era descontraído, a conversa ia mole, entre homens, com tudo o que isso significa de libertação da linguagem, por vezes a níveis vocabulares que o bom gosto desaconselharia. Esse era, contudo, o preço para garantir uma conversa fácil, entre amigos e amigos de amigos, alguns quase desconhecidos, ligados apenas pela vontade de um hora de convívio, nesse ambiente com sonoridades diversas de língua portuguesa. Da matriz imperativa dessa conversa faziam parte, claro, as mulheres.

O nosso diplomata, já há muito em posto, era uma figura bem conhecida dos meios sociais locais, havia-se cruzado, em todo o largo tempo que levava de vida na cidade, com tudo quanto "era gente", conhecia as figuras e as historietas que a cada uma estavam associadas. Como dizem os anglo-saxónicos, o nosso homem "went native", o que significa, muitas vezes, o risco acelerado de propensão para a asneira. Acontece a todos, podem crer...

Naquele fim de tarde, entre cerveja e whisky, a conversa derivou para uma determinada senhora, um figura pública localmente bastante conhecida, embora não pelos respetivos atributos estéticos, cuja ausência, aliás, contrastava com o seu conhecido proselitismo sentimental.

A certo momento da conversa, o nosso homem baixou a guarda da prudência social e lançou para a mesa: "É horrorosa! É uma das mulheres mais feias do mundo! Não entendo como tem tanto sucesso entre os homens". Parte dos circunstantes, apanhada a boleia da má-língua, logo adiantou comentários similares, alguns a roçar o mau gosto, espraiando-se pelos êxitos afetivos da senhora.

Até que, do fundo de um sofá, se ouviu a voz de um comparsa só conhecido de alguns, que até então se tinha mantido pouco loquaz: "Podem achá-la uma mulher feia, mas devem reconhecer que tem um sorriso muito bonito. Aliás, essa foi uma das razões que me levou a casar com ela".

Não valerá a pena tentar descrever a mudança no ambiente, depois desta frase de quem, sendo embora divorciado há muito da senhora em causa, havia feito questão, com apreciável garbo, de vir a terreiro defender a respetiva honra. O ambiente tornou-se irrespirável.

Gabriel Abrantes

Chama-se Gabriel Abrantes, é português, nasceu nos EUA em 1984. Está incluído na exposição coletiva «Dynasty», no Palais de Tokyo e no Musée d'Art Moderne, aqui em Paris. Estudou na École National des Beaux-Arts e é co-realizador de dois filmes de vanguarda, embora a sua obra se espalhe por várias outras dimensões artísticas.

Quem já viu os filmes em exibição em Paris diz-me muito bem desse trabalho. Um destes dias, vou passar pela exposição, que estará aberta até 5 de Setembro. 

terça-feira, junho 15, 2010

Osh


Quando Francisco José Viegas, em 1998, no seu romance "Um crime na Exposição", associou o Quirguistão (ou Quirguízia) ao tema da morte, estava, com certeza, muito longe de pensar nas inúmeras vítimas resultantes da guerra civil que agora devasta aquele pobre país da Ásia Central.

A geografia estratégica desenhada na região por José Estaline comporta algumas verdadeiras perfídias de separação étnica, com bolsas de isolamento em países vizinhos que são verdadeiras bombas ao retardador e que configuram hoje a triste herança que a defunta União Soviética deixou na Ásia Central. Há hoje dois "países" no Quirguistão e a zona de Osh, ao sul, não por acaso aquela onde se refugiou o ex-presidente Bakiev, quando há semanas foi afastado do poder no norte, em Bishkek, mantém um conhecido potencial de turbulência entre os quirguizes e os uzbeques. Osh está praticamente na fronteira entre o Quirguistão e o Uzbequistão, em cujo vale de Fergana tiveram já lugar, há anos, incidentes étnicos e religiosos da maior gravidade. A possibilidade de uma conflito entre os dois Estados ou uma tentativa secessionista não estão excluídos.

Há uns anos, andei em trabalho por essas zonas e hoje pergunto-me o que será feito das pessoas que, com grande dedicação, animavam a "clínica legal" criada em Osh, onde assisti a um magnífico esforço de popularização da justiça e do direito, numa iniciativa da comunidade internacional em que tanta esperança se colocava. E, com alguma nostalgia, também me interrogo sobre o destino do belo "bazar" da cidade (na foto), que, por mo terem descrito como um dos mais animados da Ásia Central, insisti em visitar. Da alegria natural daquela população simples, que a "descolonização" apressada de Moscovo deixou nas mãos dos ex-aparatchiks convertidos em novos líderes "democráticos", deve hoje restar muito pouco, depois das quase duas centenas de mortos que se espalham pela cidade.

"Horizons Lointains"

O debate acabou por ser um pouco mais tenso do que eu estava à espera - confesso! -, mas o visionamento do filme sobre Lisboa e a literatura portuguesa, incluído no ciclo "Horizonts Lointains", da cadeia televisiva franco-alemã Arte, baseado numa ideia dos irmãos Patrick e Olivier Poivre d'Arvor (na imagem), animou fortemente, ontem à noite, os salões da Embaixada.

O filme, de cerca de uma hora, constituiu uma visita guiada aos nossos mitos e sonhos, em conversas excelentemente conduzidas por Patrick Poivre d'Arvor com figuras da nossa cultura. Nelas se destaca uma entrevista muito interessante com António Lobo Antunes.

O filme tem a grande virtualidade de "abrir o apetite" para Lisboa e as suas novas escritas, para o Portugal cultural em rápida mutação. O público franco-alemão terá oportunidade de nos olhar um pouco para além do habitual registo de fixação na História e no cultivo de uma endémica nostalgia.

O aberto contraditório sobre o modo de representar filmicamente Portugal, no equilíbrio instável entre a tradição e a contemporaneidade, atravessou o animado debate que se seguiu ao filme, o qual mobilizou o interesse das mais de 100 pessoas presentes. No final, diga-se, fiquei com a sensação de que ninguém se importou em mergulhar em conhecidos "clichés" lusos: vinho do Porto, queijo da serra e pasteis de nata... 

segunda-feira, junho 14, 2010

Telecomunicações

É encorajante encontrar, numa exposição internacional em França, uma empresa portuguesa de alta tecnologia, com uma importante experiência no domínio das comunicações, da eletrónica e sistemas informáticos.

Foi a experiência que tive esta manhã, no salão militar Eurosatory, ao visitar o stand da EID - Empresa da Investigação e Desenvolvimento de Eletrónica, que vende hoje para países como o Reino Unido, a Holanda, a Espanha e a Dinamarca, entre outros.

Felizmente, há por aí um Portugal desconhecido que (já não) espera por nós.

domingo, junho 13, 2010

Os nossos vuvuzelas

Qual é a semelhança entre os vuvuzelas e alguns profissionais do lusopessimismo?

Plantam-se por todo o lado, criam um ruído permanente, já estamos todos fartos de os ouvir, cada um tenta ser mais escutado que o outro, não se pode mandá-los calar porque é politicamente incorreto, desconcentram-nos do essencial mas, no final de contas, acabam por não ter qualquer influência no resultado.

Vieira da Silva e Paula Rego

Hoje, Maria Helena Vieira da Silva, a pintora portuguesa que a ditadura portuguesa conduziu a tornar-se francesa, faria 102 anos. A França esquece-a como portuguesa e dá-lhe naturais honras de cidadania artística.

Ontem, Paula Rego recebeu da rainha Isabel II uma importante condecoração do país que a adotou - "Portuguese born british painter", era assim que me recordo de a ver irritantemente sintetizada numa biografia britânica.

Não deixa de ser irónico, mas também significativo, que as duas mais famosas pintoras portuguesas se tenham acolhido a países estrangeiros. Mas também não deixa de ser reconfortante que seja em Portugal que, nos dias de hoje, existam os únicos museus dedicados à sua obra.

Festas

Ontem, um concurso de poesia portuguesa em Neuilly, presença num "rally-paper" de uma associação de jovens portugueses, uma missa com centenas de portugueses na catedral de Notre-Dame de Paris e, ao fim da noite, uma deslocação a Les Ulis, nos arredores de Paris, onde teve lugar um excelente espetáculo promovido por uma estrutura associativa. Hoje, foi o dia da grande festa da Rádio Alfa (foto de 2009).

Ser embaixador de Portugal em França é, neste período do ano, um permanente desafio à ubiquidade. Mas quem corre por gosto não cansa (muito), podem crer.

sábado, junho 12, 2010

Europa

Uma intensa agenda de compromissos com a Comunidade portuguesa em França, durante estes dias, impediu-me de aceitar um convite para estar hoje nos Jerónimos, na comemoração dos 25 anos de assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às então Comunidades Europeias.

Tive o privilégio profissional de integrar, meses depois dessa data, a primeira equipa que, em Lisboa, passou a coordenar as relações com Bruxelas. A Europa ocupou, desde então,  uma parte importante da minha vida. Dez anos depois da adesão, couberam-me responsabilidades diferentes nessa mesma área, desta feita de natureza política, por um período de mais de cinco anos. Sobre a Europa escrevi e palestrei muito.

Ao fim deste tempo, de tudo o que se passou desde então, às vezes dou comigo a pensar se ainda acredito no futuro do projeto europeu. Quero acreditar, até porque ele é do interesse objetivo de Portugal. Mas cada vez mais me interrogo se, num ambiente político que é bem diferente dos anos de entusiasmo que já se viveram, as coisas irão evoluir no melhor sentido. De uma coisa tenho absoluta certeza: alguns dos países que, desde o início, estiveram no centro do processo integrador europeu vão acabar por arrepender-se da sua recente deriva para a intergovernamentalidade. Resta esperar que ela não acabe por ser trágica para todos os restantes.

No que a Portugal toca, neste dia, um mínimo de justiça obriga a que lembremos a figura histórica que, no momento certo, soube conduzir-nos pelos caminhos da Europa: Mário Soares. 

Sejamos otimistas e ouçamos hoje o meu velho amigo Fausto a cantar o seu "Europa, querida Europa".

1966

Este post é só para quem gosta muito de futebol. E, principalmente, para quem já o acompanha há muito.

É que o início deste Mundial 2010 traz-me, inevitavelmente, a memória da primeira vez em que Portugal chegou a uma fase final. Estávamos em 1966. Não ganhámos - nunca ganhámos! - mas perpassou então pelo país um sonho de vitória, desfeito nas célebres lágrimas de Eusébio, gravadas no preto e branco de uma foto de Nuno Ferrari que correu mundo. Era selecionador Manuel da Luz Afonso e treinador Otto Glória - de há muito que as duas funções passaram a ser exercidas, em toda a parte, por uma mesma pessoa.

Vale a pena recordar estes magníficos "magriços" (nome inventado por "A Bola"). A fotografia é da equipa que disputou e ganhou o segundo jogo, contra a Bulgária (3-0).

De pé, temos a barba serena e alcantarense de Germano, que só assegurou o centro da nossa defesa neste jogo, lugar que seria ocupado pelo sportinguista Alexandre Baptista. Depois, Jaime Graça, então do Vitória de Setúbal, que o Benfica recrutaria em breve e que garantiu sempre a direita do meio-campo, embora com um posicionamento bastante livre nesse setor. A seguir está Festas, um lateral direito do FC do Porto, que viria a dividir o lugar com o sportinguista Morais, há pouco falecido, como aqui se notou. Segue-se o insubstituível Hilário, um permanente "gigante" leão na esquerda da defesa. Depois, o subtil Vicente, do Belenenses, irmão do mítico Matateu, que também garantia o centro da defesa, descaído para a esquerda, que viria a ser substituído, por lesão, nos dois últimos jogos, por José Carlos, também do Sporting, na então chamada posição de "quarto defesa" (para sublinhar a função de apoio ao meio-campo). Finalmente, o guarda-redes do Belenenses, José Pereira, que fez a maioria dos jogos, se descontarmos o primeiro, contra a Hungria, em que Carvalho, do Sporting, esteve na baliza.

À frente, claro, a mítica e indiscutível linha avançada do Benfica: José Augusto, Torres, Eusébio, Coluna e Simões. Como Portugal jogava em 4x2x4, Jaime Graça (na direita) e Coluna (na esquerda) garantiam o "2" do meio campo, para onde Eusébio às vezes recuava, setor que, igualmente, era também apoiado pela subidas de Hilário e/ou Morais (menos por Festas, que sempre jogou mais recuado), o que criava episódicos 4x3x3. Em permanência, apenas Torres estava na zona frontal de área, com os extremos "colados à linha", Simões e José Augusto, embora este sempre um pouco mais "livre" e incursivo no meio campo.

De quantos foram ao Mundial de 1966, não jogaram então o guarda-redes do Porto, Américo, três atacantes do Sporting - o extremo-esquerdo Peres e os avançados-centro Figueiredo (o "Altafini de Cernache") e Lourenço, a quem vi marcar numa tarde, um ano antes, quatro golos ao Benfica, na Luz -, o defesa esquerdo benfiquista Cruz (que tive o gosto de conhecer nos Estados Unidos, em 2002) e os avançados Duarte, do Leixões, e Custódio Pinto, do FC do Porto. Olhando em retrospetiva, as opções de Manuel da Luz Afonso, quanto a deixar estes jogadores no "banco", foram corretas.

Deixo os resultados: começámos por ganhar à Hungria 3-1; depois, como referido. ganhámos 3-0 à Bulgária; de seguida, 3-1 ao Brasil de Pelé. Nos quartos de final, ganhámos à Coreia do Norte por 5-3, depois de estarmos a perder por 3-0. Nas meias finais, perdemos 2-1 com a Inglaterra e, finalmente, na disputa do (inexistente) 3º lugar, derrotámos a Rússia por 2-1. Com quatro vitórias sobre "países comunistas", não admira que a governação salazarista tivesse condecorado tão generosamente os "magriços"...

Foi um belo Mundial!

sexta-feira, junho 11, 2010

Amália

Neste que terá sido o primeiro dia de verdadeira primavera em Paris,  com um sol que quase rivaliza com a imbatível luz de Lisboa, acredito que Amália teria ficado contente com a homenagem que lhe foi prestada na capital francesa.

Os líderes municipais das duas cidades, António Costa e Bertrand Delanoe, inauguraram a promenade Amália Rodrigues, um espaço de memória a alguém que, desde há muito, marca o imaginário português em França. O meu antecessor, embaixador António Monteiro, teve muito a ver com a ideia desta homenagem e, porque aparentemente  ninguém o fez, lembro-o eu, aqui e agora.

Como há pouco notou Rui Vieira Nery, numa magnífica palestra sobre a história do fado na "Mairie" de Paris, Amália veio aqui cantar, pela primeira vez, em 1956, num espetáculo em que era uma figura secundária, já no Olimpya, de Bruno Coquatrix. Desde então, Paris rendeu-se-lhe e a cantora passou a ser, em França, um sinónimo de Portugal. Com a vaga migratória iniciada nos anos 60, Amália Rodrigues transformou-se, simultaneamente, no símbolo afetivo da nostalgia de quem por aqui construía, no sofrimento e na audácia, as bases de um seu futuro melhor.

Desde então, o fado anda imenso por França, agora também com outras vozes, como as de Camané ou de Mísia, que hoje acompanharam António Costa a esta que foi a primeira jornada para o futuro lançamento da canção nacional à categoria de "património imaterial da humanidade", no âmbito da UNESCO.

Achei que este post não poderia terminar sem música. Quem quiser, ouça Amália aqui.

quinta-feira, junho 10, 2010

Estátua de Camões

Luis Vaz de Camões, cujo aniversário da morte ontem se assinalou, teve um busto seu, em bronze, inaugurado em Paris, em 1912. Ao que consta, a vizinhança não terá apreciado a obra e, num "golpe de mão" noturno, fê-lo desaparecer, menos de um ano depois. Depois de um acidentado percurso, o tal busto acabou, felizmente, na posse da Fundação Calouste Gulbenkian.

Anos mais tarde, em 1924, uma nova estátua - que se vê na imagem - foi instalada ao fundo da escadaria em que a avenue Camoens se cruza com o boulevard Delessert, a dois passos do Trocadéro.

Ontem, numa simples cerimónia evocativa, apenas acompanhado por funcionários da Embaixada, coloquei lá uma coroa floral, com as cores da nossa bandeira. Notei, com agrado,que alguém já tinha tido o cuidado de deixar um ramo de flores ao nosso poeta.

104

Chama-se José Manuel Gonçalves e é, a partir de agora, o diretor do espaço cultural multifuncional "104", criado pela "Mairie" de Paris perto da Porte de La Chapelle, uma audaciosa vitalização das antigas "Pompes Funèbres" da cidade de Paris.

Neste dia que também é das Comunidades Potuguesas, é muito agradável registar esta nomeação que muito dignifica as suas origens.

"Le Monde"

O Irão, o Brasil e a Turquia

1. Alguma coisa está ainda mal explicada no modo como foi lançada a iniciativa que o Brasil e a Turquia tentaram, com vista a desenhar um acordo que permitisse travar as sanções ontem decididas pelo Conselho de Segurança contra o Irão. É difícil acreditar que, em particular no caso do Brasil, que tem a preservar a preciosa credibilidade que tem vindo a criar perante países de quem, em absoluto, depende a sua possível ascensão a membro permanente daquele Conselho, não tenha recebido sinais que hajam sido interpretados como uma "luz verde" para essa iniciativa.

2. De qualquer forma, o facto de, no seio do Conselho de Segurança, os cinco membros permanentes (China, EUA, França, Reino Unido e Rússia) terem obtido um acordo entre si numa questão desta importância para a segurança internacional é, manifestamente, uma muito boa notícia. O cruzamento e a frequente conflitualidade de interesses, económicos e geopolíticos, entre as principais potências raramente proporciona momentos de entendimento desta natureza. O que agora se passou, conjugado com o razoável resultado da recente Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, é um sinal de esperança para a paz e segurança globais. E é, simultaneamente, uma importante vitória para a política externa do presidente Obama, cujo paciente e construtivo diálogo com Moscovo e Pequim está na base deste resultado. 

3. Menos boa é a constatação, que ontem chegou de Washington mas que o bom senso há muito impunha, de que a evolução recente da posição da Turquia configura uma deslocação do seu padrão de interesses à escala global, que vem alterar uma realidade de décadas. Para os EUA, que, sem surpresas, também incluem neste prato da balança a mudança de atitude turca face a Israel, são as reticências que Ancara constata face às suas pretensões de entrada na União Europeia que estarão na base deste comportamento. Pode ser apenas uma parte da verdade, mas não há dúvida que esse posicionamento da Europa continua a ser um erro estratégico grave. Como Portugal, desde há vários anos, sempre assinalou.

quarta-feira, junho 09, 2010

Dia de Camões

Quantos, dentre as muitas centenas de convidados que hoje encherão os salões desta nossa Embaixada em Paris, por ocasião do dia nacional português, saberão que a data corresponde àquela que a História assinala como sendo a da morte do poeta que, mais do que ninguém, nos simboliza?

Quantos saberão que, a partir do ano em que essa morte ocorreu, Portugal passaria, por seis imensas décadas, a ver a sua vida tutelada por um rei vindo de fora? E que soube sair dessa situação, com dignidade e coragem?

Poucos se lembrarão dessas duas circunstâncias, sendo verdade que as receções comemorativas não são, seguramente, os locais mais convenientes para convocar temas de solenidade histórica. Mas talvez fosse útil, em especial em tempos que mobilizam algum pessimismo, que aos portugueses fosse lembrado que, desde há cerca de 900 anos, eles constituem uma entidade nacional própria e autónoma, com fronteiras que praticamente permaneceram idênticas desde então. Que lhes fosse dito que, no passado, muitas crises chegaram e de todas elas soubémos sair. Que passámos por períodos de ferozes lutas internas e de resistência a invasões e agressões externas. Que tivemos bons dirigentes e outros a que a História nos podia ter poupado. Que cometemos barbaridades e que fizémos coisas magníficas. Que criámos um imenso império e que, ao fim de alguns séculos, regressámos, pela ordem natural da História, à origem geográfica desta bela aventura que continua a chamar-se Portugal. E que aqui estamos, reconciliados com o mundo e com tudo o que fomos e somos, para continuar esse mesmo caminho.

Quando alguns portugueses contemporâneos por aí andam, com ar de patética gravidade, a espalhar o desânimo e o derrotismo, apetece-me lembrar-lhes que, por muito importantes que se considerem, por muito que se queiram arvorar em vedetas incontornáveis de mais um ciclo de culto da finis patriae, eles são apenas a triste decantação masoquista da sua própria impotência e mediocridade. E que este país vai continuar, malgré eux.  

PGR (3)

Seria importante o parlamento revisitar a questão da composição do Conselho Superior do Ministério Público, bastando para tal que o PSD recu...