quarta-feira, junho 09, 2010

Dia de Camões

Quantos, dentre as muitas centenas de convidados que hoje encherão os salões desta nossa Embaixada em Paris, por ocasião do dia nacional português, saberão que a data corresponde àquela que a História assinala como sendo a da morte do poeta que, mais do que ninguém, nos simboliza?

Quantos saberão que, a partir do ano em que essa morte ocorreu, Portugal passaria, por seis imensas décadas, a ver a sua vida tutelada por um rei vindo de fora? E que soube sair dessa situação, com dignidade e coragem?

Poucos se lembrarão dessas duas circunstâncias, sendo verdade que as receções comemorativas não são, seguramente, os locais mais convenientes para convocar temas de solenidade histórica. Mas talvez fosse útil, em especial em tempos que mobilizam algum pessimismo, que aos portugueses fosse lembrado que, desde há cerca de 900 anos, eles constituem uma entidade nacional própria e autónoma, com fronteiras que praticamente permaneceram idênticas desde então. Que lhes fosse dito que, no passado, muitas crises chegaram e de todas elas soubémos sair. Que passámos por períodos de ferozes lutas internas e de resistência a invasões e agressões externas. Que tivemos bons dirigentes e outros a que a História nos podia ter poupado. Que cometemos barbaridades e que fizémos coisas magníficas. Que criámos um imenso império e que, ao fim de alguns séculos, regressámos, pela ordem natural da História, à origem geográfica desta bela aventura que continua a chamar-se Portugal. E que aqui estamos, reconciliados com o mundo e com tudo o que fomos e somos, para continuar esse mesmo caminho.

Quando alguns portugueses contemporâneos por aí andam, com ar de patética gravidade, a espalhar o desânimo e o derrotismo, apetece-me lembrar-lhes que, por muito importantes que se considerem, por muito que se queiram arvorar em vedetas incontornáveis de mais um ciclo de culto da finis patriae, eles são apenas a triste decantação masoquista da sua própria impotência e mediocridade. E que este país vai continuar, malgré eux.  

11 comentários:

margarida disse...

Inspirado.

Helena Sacadura Cabral disse...

Direi mesmo mais.Patriótico!

José Martins disse...

Em primeiro de tudo os meus parabéns ao Senhor Embaixador Seixas da Costa de reunir, junto a si, centenas de convidados nos salões da Casa que representa Portugal em França a comemorar a data da morte de Luís de Camões o nosso imortal poeta que poucos hoje conhecem a história e mais a toponímica dos largos e das ruas que existem por Portugal.
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Por ventura o poeta não viveu depois do Reino estar sob a canga de um monarca estrangeiro e que depois de 60 anos, saiu dessa vergonha, nacional, pela a audácia de um grupo de homens que não aceitaram a subjugação e construíram outra nova identidade a Portugal.
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Quase do nada, já lá vão 900 anos, construímos uma nação, como o Senhor Embaixador o escreve com as fronteiras delineadas até aos dias de hoje.
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Tantas foram as crises, as pestes medievais e nos fomos governando com as nossas terras encravadas entre a penedia das cordilheiras e as dos vales.
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Defendemos os nossos pedaços com sangue e muitas lágrimas da cobiça dos nosso vizinho e de outras nações mais além.
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Sim tivemos homens bons a conduzir os nossos passos e nos souberam guiar a vivermos com dignidade com as nossas azeitonas, as castanhas e o caldo de saramagos criados nas terras baixas e húmidas.
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Mas que grande império os portugueses criaram... Mesmo poucos que eram desbravaram oceanos, tentaram e dobraram o Cabo das Tormentas unindo o Atlântico e o Índico e chegaram ao Japão.
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Depois os pobres diabos que sempre hajam sido os portugueses de iníciarem a globalização e o encontro das populações do Ocidente com as do Oriente viriam a transformar a dieta da Europa com a movimentação das plantas e das sementes trazendo-as e levando-as de continentes.
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Mas estes portugueses “almas de cristo” que lhes queira chamar assimilam-se facilmente a outras raças sem lhes importar a pigmentação da pele.
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Ficam em qualquer canto do mundo, fazem filhos e ficam junto a eles e jamais esquecem a Pátria onde foram paridos.
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Os portugueses os de outras eras (muitos de agora) amaram a sua terra linda e a varanda da Europa banhada pelo Atlântico.
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Há sim,sim a contemporaneidade, os intocáveis que andam por aí, Velhos do Restelo, continuam a degradar Portugal com o derrotismo dando-o, quase como um Estado falhado.
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É de facto como o diz: a impotência e a mediocridade nascida com eles, porque nunca sentiram na pele a portugalidade nascidos sem ela.
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Voltará um dia, fervorosa, por mais desânimo que exista entre os homens de boa vontade que andam por aí amordaçados pelos os medíocres a travarem-lhe o passo.
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Portugal com 800 anos vai continuar por mais outros 800 que venham e outros mais que se sigam.
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Um abraço lusófono, a todos os “patrícios” dos cantos do Mundo, deste que há 48 anos palmilha caminhos fora da Pátria onde foi parido, tem festejado uma vezes só outras acompanhado com os “patrícios”, seus dias 10 de Junho, os de Camões, das Comunidades e de todos os portugueses que vivem dentro de Portugal que nos devemos orgulhar da nossa portugalidade porque esta será eterna.
Rio Kwai - Tailândia
José Martins

Helena Oneto disse...

Wow!
Desta(s) História(s) gosto eu e muito! e esta tem a particularidade de enaltecer o dia que começa.

Anónimo disse...

Sr. Embaixador...Sr. Embaixador

Hoje, sinto que no Dia, Também do renascimento de Camões o Senhor floresceu da semente pulverizada por Ele e nos bafejou com a sua Sua(Não Dele) Poesia dissimulada em mancha gráfica prosa sempre antidepressiva e analgésica verdadeiro antídoto dos crise ó temos "crisófilos", ...

Pois os comentários...Se gosto... Do do Sr. José Martins simplesmente gostei mais ainda que sinta esse bem estar por ser Português...Que coincidência eu há 48 anos também, mas por cá.

Então agradeço A Camões o feriado de comemoração da Vida ... da poesia ...dos seus seguidores...


E aí vai um Bacalhau Poético que vou fazer ao almoço... Todos convidados ...O Camões está cá Sempre.


Porção para 6 Pessoas

4 postas de bacalhau(bem demolhado) do lombo tipo asa branca
2 cebolas grandes
12 batatas médias
1 pacote de natas
2 ovos
6 delicias do mar
camarão descascado
1 lata de cogumelos
queijo ralado mozarela

Coze-se o bacalhau deixando só a água levantar fervura.Tapa-se a panela e deixa-se acabar de cozer sem o calor do fogo.

Parte-se a cebola às rodelas e deixa-se cozer em azeite caseiro até ficar transparente.

Coze a batata só partida ao meio para não ficar aguada, faz-se puré com a varinha o pacote de natas e os dois ovos. (Ás vezes não coloco sal dependendo quantidade de sal do bacalhau ) Se necessário acrescento leite.

Lamina-se o bacalhau retirando escamas e espinhas, junta-se à cebola.

Num tabuleiro de ir à mesa e ao forno coloca-se a cebola e o bacalhau com as delicias desfeitas em franja, os cogumelos laminados e o camarão descascado, envolve-se o puré alisa-se e polvilha-se com o queijo.
Vai a Gratinar em forno a 200º 45 minutos e serve-se com salada mista, com frutas incorporadas pedaços de ananás e maçã.

Isabel Seixas

Sobremesa ... Declamação de poemas a andar... por razões óbvias esse bacalhau é uma bomba de colesterol.
Ai Bela Sem Senão...

Francisco Seixas da Costa disse...

Comentários racistas e xenófobos não serão, como é óbvio, publicados neste blogue.

Anónimo disse...

"E que este país vai continuar...".

Sobre esta frase vou tentar um pouco de humor velho:

É uma revolução semântica!!!

Rita

Guilherme Sanches disse...

Decantei para uma página em branco do Word, pequenos excertos de grande conteúdo que este texto contém.

Isolei-as e mesmo desenquadradas do contexto global, continuam a exalar o aroma da sua força acutilante, plena de sensatez e de serenidade.

Já não é surpresa ser assim aqui neste espaço, é mais um facto com cê de conhecimento, de capacidade, de coesão ou de contraste.

Contraste sobretudo com o tal vedetismo que só consegue audiência, seguidismo e visibilidade se realçar aquilo que nos separa, tentando dividir-nos para reinar, quando há tanto, tanto que nos une e nos podia unir como um Povo e uma Pátria, mas que passa envergonhada e timidamente pelo lado de fora das vidas que vamos vivendo em comum.

Em dia de condecorações, aplausos e apupos, este texto é como um Lofrazepato de Etilo capaz de nos manter tranquilos sem nos adormecer, neste País que tem de continuar e que "vai continuar, malgré eux", agora com o calor dos incêndios que se aproximam.

Incêndios de verão que se enfrentam no verão, mas que é preciso prevenir no inverno e cujo combate se planeia na primavera. Ou vice-versa, tanto faz. É que meio ano é como meia década - passam num instante.

Anónimo disse...

Subscrevo as palavras de HSC.
Anda hoje o PR no seu discurso teve palavras semelhantes, de ânimo, a recordar a nossa secular História e as nossas fronteiras de 900 anos. Portugal já passou por muitas outras crises, desde a sua existência, porventura bem piores e soube ultrapassa-las. Confio que com tempo, perseverança e confiança, saberá encontrar uma saída para esta. Poderemos ser negativos por feitio, mas não creio que sejamos derrotistas. Nunca o fomos.
P.Rufino
PS: e a propósito das palavras de Cacaco Silva hoje, foi feita por ele menção ao bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano (28/3/1810). Fez bem. Não se tem visto quase nada a recordar esse grande escritor e historiador português. Pena.

Julia Macias-Valet disse...

Pela parte que me toca eu teria respondido às duas primeiras perguntas :
Eu sabia.
Eu sabia.
Quanto ao resto do texto caso tivesse sido dito eu teria :
Aplaudido

Obrigada Senhor Embaixador, por relembrar aos mais esquecidos tudo isto.
E se passamos ainda além da Taprobana, certamente passaremos muito mais além...

Anónimo disse...

Olá
Pai

Obrigada
Por vires ter comigo

Estando
Em Mim

No nosso
Voo incerto

Amor
Perfeito

Encoberto
Sem fundo e posso

Sei
Não precisas de nada

Mas
E as partilhas do Nosso Abrigo

Por favor
Isso! Não...

Não me digas
Que a morte é rendição
Isabel Seixas

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