quarta-feira, maio 10, 2023

Fogueiras


Hoje, 10 de maio, faz precisamente 90 anos que, na Alemanha nazi, se iniciaram as fogueiras onde se queimaram livros "inconvenientes". 

Agora, quando se inicia o caminho da "revisão" da literatura, para "corrigir" passagens também "inconvenientes", lembro-me disto.

Pérolas


De quando em vez, este blogue recebe pérolas como esta.

La Lys



O jornalista Carlos Pereira, diretor do LusoJornal, o mais relevante órgão da comunicação social portuguesa em França, realizou um interessante documentário em torno de uma realidade pouco conhecida e historicamente explorada: o facto de, após terem participado no Corpo Expedicionário Português, em 1917/1918, nomeadamente na batalha de La Lys, um número significativo de soldados, difícil de precisar com rigor, ter permanecido em França, onde se fixou e deixou descendência.

O filme intitula-se "Les Héritiers de la Bataille de La Lys” e, entre outros aspetos, inclui depoimentos de historiadores e de familiares franceses desses militares. Foi apresentado na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no passado dia 9.

Tive o gosto de ser convidado, com o general João Vieira Borges, a fazer a apresentação deste trabalho, abordando alguns dos seus aspetos. 

No passado, enquanto embaixador de Portugal, representei o Estado português nas cerimónias anuais no cemitério militar português de Richebourg, no norte de França, onde estão as sepulturas da grande maioria dos nossos soldados mortos naquela guerra. Fiz igualmente intervenções junto ao monumento existente na localidade de La Couture, em homenagem àqueles militares. 

Este é um tema que me apaixona, desde a infância, quando a minha escola primária era chamada, a cada dia 9 de Abril, a estar presente nas comemorações da batalha de La Lys, junto ao monumento a Carvalho Araújo, em Vila Real. Por lá vi, em vários anos, o celebrado Soldado Milhões, herói dessa batalha. No final dos anos 60, numa deslocação a França, fui expressamente a Richebourg para visitar o nosso cemitério militar.

Pude agora constatar que a evocação da presença militar portuguesa na Grande Guerra, na luta para a libertação da França, tem vindo a ser feita, nos últimos anos, por setores associativos da nossa comunidade naquele país. Este oportuno filme pode contribuir para fazer despertar, ainda mais, o interesse por um tema que historicamente une os dois países.

Sensatez e coragem

Um dia, ainda há-de aparecer um cidadão, sensato e corajoso, chamado a uma comissão parlamentar que, chegadas as cinco e meia da tarde, vai dizer: "Muito boa tarde. O meu dia de trabalho acaba agora, tenho de ir descansar e ir ter com a minha família. Amanhã, estou à vossa disposição, a partir das nove horas". Prendem-no?

Ai coração


Ao ver o "Ai coração!" na Eurovisão, com aquela gente em corridas e aos saltos, numa segura taquicardia, lembrei-me de que ainda não fui à minha consulta anual de rotina do cardiologista.

terça-feira, maio 09, 2023

Rita Lee


Um dia, na Noruega, um amigo brasileiro, o Pedro Avelino, "apresentou-me" a Rita Lee. Era, disse-me, uma antiga rockeira convertida às baladas. A mulher do Pedro, a Mônica, derretia-se com essa música. O som que ele trazia num LP, comprado no Rio, era o do "Lança Perfume". De facto, era diferente. Convenceu-me. Fiquei fã. Depois, em férias em Portugal, consegui o álbum com o "Mania de Você". Mais tarde, fui comprando outras peças da minha avantajada coleção da Rita Lee, da qual consta também o excelente "Baila Comigo". Levei tudo para Angola, em 1982, com dezenas de outros discos (os CDs estavam então a começar) mas, a pouco e pouco, com o aparecimento de outras novidades, fui esquecendo a cantora.

Quando vivia em Brasília, vi anunciado um espetáculo de Rita Lee. Sou pouco dado a shows de música popular com público ululante, com aqueles cromos que enchem os corredores e o espaço junto ao palco, estragando a vista e o sossego de quem comprou o que supunha ser um bom bilhete e quer apenas ver o espetáculo e ouvir a música, sem precisar de aturar, às primeiras estrofes, as palmas dos engraçadinhos que parece querem dizer-nos "ai! esta já conheço". E, quanto a rever artistas do passado, imensos barretes enfiei, por esse mundo fora, em acessos de revivalismo que me levaram a maus e caros espetáculos. Mas, enfim, em Brasília os shows eram raros, tive um descuido e lá fui ver a senhora. Que desilusão! Foi como ver o Eusébio a jogar no União de Tomar. Saí antes do fim!

Rita Lee morreu hoje. Vou ouvir as suas músicas velhas, também para me lembrar de mim quando as ouvi pela primeira vez.

segunda-feira, maio 08, 2023

Eduardo Paz Ferreira


Deve ser bom. Deve ser mesmo muito bom sentir o Anfiteatro 1 da Faculdade de Direito a abarrotar, como esteve ao final da tarde de hoje, para assistir à última aula de Eduardo Paz Ferreira. Meio mundo e mais alguém por ali esteve, para homenagear o Eduardo e ouvir a sua última aula. Ele contou-nos, com a graça e a frontalidade de sempre, a história do jovem que chegou dos Açores em 1970, para estudar Direito, então não suspeitando que ele próprio viria a transformar-se numa figura grada da academia lisboeta. 

A descrição que nos fez do modo como, estudante, ficou impressionado, na primeira vez que entrou na imensa sala onde estávamos, foi magnífica. Entre outras considerações, na hora e meia da sua levíssima conversa, o Eduardo brindou-nos com uma interessante análise, para mim muito pedagógica, sobre a relação do Direito com os temas económicos e o modo como a universidade, em Coimbra como em Lisboa, foi abordando esse tema. Um insigne professor da casa, hoje em comissão de serviço em Belém, também comentou isso em vídeo. Mas o Eduardo também nos falou dos pides, dos gorilas, do capitão Maltez, dando os nomes aos bois sobre quem esteve por detrás desse tempo de repressão académica.

O Eduardo Paz Ferreira é um jovem. Tem 70 anos, data que comemorámos numa bela festa no passado sábado, que a Francisca organizou para 70 dos seus imensos amigos. Num livro que agora publicou, com o  sugestivo título de "Devo fechar a porta?", ele deixa claro que o seu inquieto espírito cívico não vai ficar parado. Desde sempre, lado a lado com as suas atividades docentes, o Eduardo manteve uma incessante produção de debates e publicações. Lembro-me de ter apresentado, pelo menos, dois livros seus e de ter participado em bem mais de uma dezena das suas iniciativas, nomeadamente sobre temas europeus, área em que desenvolveu uma reflexão aprofundada e de imensa utilidade, questionando construtivamente o posicionamento do país nesse domínio. E até o fenómeno Trump nos juntou, com balanços críticos anuais, enquanto durou (esperamos não ter de reunir de novo sobre o assunto!) O Eduardo é um militante da liberdade e da justiça social e nesse domínio, como hoje uma vez mais provou, tem o papa Francisco como grande referente.

Conheci o Eduardo como jovem estudante universitário recém-arribado a Lisboa, creio que logo em 1970, nas tertúlias da Granfina, num grupo de açoreanos que por ali parava (Jaime Gama, Horácio César), junto com alguns algarvios (Nuno Júdice, Madeira Bárbara), beirões (como o António Massano), alentejanos (como o Diogo Pires Aurélio), transmontanos como eu (Belém Lima, António Leite) e muita, mesmo muita outra gente, em mesas que se juntavam à medida de quem chegava e onde pontuava, entre outros, o brilho do Eduardo Prado Coelho. 

Em 1976, o Eduardo apareceu a chefiar o gabinete de José Medeiros Ferreira, como ministro dos Negócios Estrangeiros, e muito nos cruzámos nos claustros das Necessidades, com ele então a queixar-se do meu radicalismo político. Um dia, num corredor da Igreja de Santo António dos Portugueses, em Roma, onde eu não sabia que ele vivia enquanto por lá estudava, caímos nos braços um do outro. Recordo o jantar em que ele nos apresentou a Francisca, que ficaria para a vida nossa amiga. Os nossos encontros à mesa, por cá e lá fora, a quatro ou em divertidos e às vezes musicados aniversários, foram sempre muitos. E vão continuar a ser!

Um forte abraço, Eduardo. Não, não vais fechar a porta! Nem a Francisca te deixaria! E ainda bem! Nunca te perdoaríamos! 

domingo, maio 07, 2023

Promessa


Juro que quando, um dia, aparecer por aí um político que faça desaparecer isto das paredes de todas as cidades portuguesas eu voto nele. E se esse político conseguir tirar do espaço público toda a propaganda partidária, exceto, em locais limitados, nos períodos eleitorais, então inscrevo-me no seu partido. 

sábado, maio 06, 2023

Um rapaz da minha idade


"É mais novo do que tu dez meses", dizia-me muitas vezes a minha mãe, quando notava que eu e o filho da rainha Isabel de Inglaterra tínhamos nascido no mesmo ano. Ao longo da vida, fui sempre olhando para o príncipe como um "rapaz" do meu tempo.

Com total franqueza, a figura do príncipe Carlos nunca me despertou grande simpatia. Achava-o "stiff", de sorriso plástico, hiper-snobe, com umas tiradas públicas algo pretensiosas e pouco inspiradas, mesmo quando se aventurou por algumas áreas temáticas, em que parecia querer ser original. Ao saber-se que falava com as árvores, deu, a muitos, a ideia de ser um tonto, como às vezes acontece com os rebentos reais. Mas não era assim. Revelou-se uma pessoa com alguma cultura e com louváveis preocupações sociais. Para mim, sempre pensei: que vida chata deve ser a deste tipo, cheio de obrigações e tão condicionado na parte lúdica da sua existência.

Um dia, Carlos apareceu casado com Diana. Desde o início, nunca me pareceram rimar bem um com o outro, mas achei que a pressão das conveniências acabaria por forçar um "modus vivendi". Depois, com imensa surpresa pública, surgiu o "affaire" com Camilla. Afinal o tipo é menos cinzento do que se julgava, lembro-me de ter pensado para mim mesmo. O resto é conhecido.

E lá chegou a rei. Fez bem a transição e mostrou ter "know how" para o desempenho formal da função. Teve, até ver, o bom senso de se resguardar de espalhar comentários que possam afetar a neutralidade de juízos que se espera de um rei britânico. Teve tempo para maturar o "script" que lhe está destinado e parece debitá-lo com profissionalismo - e, nisso, sendo o "benchmark" da mãe inatingível, tem ali uma referência única. 

Há 70 anos, no Teatro-Circo de Vila Real, vi um filme sobre a coroação de Isabel II, creio que alguns meses depois do evento. A cor era fraca e, talvez por ser um miúdo, e pequeno na estatura, fixei para sempre um pormenor: o uso, por algumas pessoas que estavam nos passeios, de uma caixa estreita e paralelipipédica, de cartão, com um espelho inclinado na base e outro idêntico no topo, que permitia, a que estava colocado por detrás, ver "do alto" o espetáculo da passagem da carruagem real. Só me lembro disto! Foi o que mais me impressionou, imaginem!

Amanhã, não vou poder ver em direto a coroação. Tenho mais que fazer, mas, à noite, vou puxar atrás na box, para apreciar um "digest", poupando-me, contudo, aos comentários dos "royal watchers". Afinal, não é todos os dias que chega a rei "um rapaz da minha idade". A quem, sinceramente, desejo sorte.

Lembrar ou informar

 


"A Arte da Guerra"


Nesta semana, "A Arte da Guerra", o podcast internacional do "Jornal Económico", uma conversa com o jornalista António Freitas de Sousa, aborda a guerra na Ucrânia e os sinais de mediação para a paz, o papel da nova liderança das Filipinas na geopolítica dos EUA na Ásia-Pacífico e as atribulações de Macron, na decorrência do violento 1° de maio em França.

Pode ver aqui.

sexta-feira, maio 05, 2023

Hemisférios

Por amostra em menos de 24 horas, junto de amigos do "hemisfério" político do qual o presidente da República referiu ser originário, Marcelo Rebelo de Sousa recuperou bastantes pontos nesse setor. Nos tempos passados, era eu quem o defendia das ferozes críticas desse meio...

O truque

Um grande truque dos críticos do comportamento do primeiro-ministro nesta crise foi fingirem que achavam que o conceito de "deplorável" tinha sido por ele utilizado para se referir ao comportamento do ministro quando, como é óbvio, isso se aplicava ao comportamento do assessor.

Dúvida

Há uma dúvida que sempre tive: quando as oposições (sejam elas quais forem) clamam que o governo (seja ele qual for) deve ser remodelado, isso significa que, se acaso o primeiro-ministro (seja ele qual for) aceder a fazer essa pedida remodelação, as oposições passam a apoiar esse governo?

Marx


Faria hoje anos o velho barbudo de Trier. Às vezes, olhando os ciclistas da Uber, tenho-me perguntado sobre o que escreveria ele, num artigo na Gazeta Renana, a propósito deste novo proletariado. E sobre os trabalhadores dos "call center". E, claro, sobre a guerra na Ucrânia.

Posso dizer bem?


Dizer mal, neste país cada vez mais mal-disposto, é a regra do jogo. Dizer bem de alguém ou de qualquer coisa é, nos dias que correm, uma coisa quase suspeita. Pois eu, ontem, tive boas razões para elogiar um serviço. E quero que se saiba.

Sou sócio do Automóvel Clube de Portugal (ACP) desde, creio, 1977. Ao longo destes já muitos anos, a minha experiência com esta instituição foi, sempre e sem exceção, excelente. Bastantes anos houve em que, felizmente, não necessitei dos seus serviços. Mas, sempre que a eles fui forçado a recorrer, tudo correu invariavelmente muito bem.

Ontem à noite, à porta da Gulbenkian, o meu carro pifou. (Já estou a adivinhar o sorriso de alguns amigos, que se fartam de me dizer que teimar em conduzir um carro com mais de 17 anos e mais de 250 mil quilómetros é a receita óbvia para ter problemas). Chamei o serviço de assistência ACP. Chegou num tempo perfeitamente razoável. O técnico era educado, conhecedor e rapidamente detetou o problema. Era simples: bateria. Sabiam que os carros da ACP vêm equipados com um carregamento de baterias que se podem adquirir no local? Com rapidez e eficácia, o assunto ficou resolvido. Não paguei rigorosamente nada pelo serviço, da mesma maneira que, há uns meses, igualmente nada paguei por um reboque que tive de pedir, em outra circunstância, em que também fiquei apeado. (Também neste caso, o pobre do meu carro estava inocente, na sua vetustez: era um pneu rasgado).

Repito assim, com imenso gosto, esta singela publicidade: inscrevam-se como sócios do ACP!

quinta-feira, maio 04, 2023

O deve e o haver

Uma coisa devo começar por creditar, com toda a justiça, a Marcelo Rebelo de Sousa, ao longo destes mais de sete anos: um responsável apego à estabilidade e a uma certa conceção do interesse do Estado. Foi isso que, aquando da sua reeleição, me levou a votar nele.

Uma coisa de há muito coloco a seu débito: uma exagerada propensão para, em cada momento, pretender representar, a partir de Belém, o que julga ler como o sentimento, médio ou maioritário, dos portugueses, atitude que configura uma espécie de "populismo do bem".

O presidente da República não é um barómetro ecoador da "vox populi". É alguém que, tendo de ter isso sempre em devida conta, tem a obrigação política de ajudar a orientar os portugueses a entenderem que a política é a arte do possível, através da intermediação que o lugar que ocupa lhe permite fazer, junto do governo e das forças políticas. A sua autoridade vem daí, não do facto de ser um mero refletor das sondagens. Como alguém dizia, as sondagens não vêm na Constituição e não têm uma dignidade formal na vida da República.

Pode entender-se o sentimento de desagrado do presidente perante o facto do primeiro-ministro não ter acolhido a sua sugestão sobre o futuro de um ministro. Até se pode perceber-se que, dessa forma, tivesse a intenção de proteger historicamente a instituição Presidência, na balança institucional de poderes. Mas parece algo inconforme com o sentido de Estado a que nos tinha habituado ter-se "vingado", da forma que o fez, tentando arrasar a credibilidade pública do governante, que vai ser o executante de políticas que ele sabe serem essenciais no quadro da ação imediata do Estado, adubando deliberadamente o ambiente negativo da comissão parlamentar de inquérito.

Cacha

Que pode o "Expresso" trazer de novo, oriundo da anónima "Deep Throat" de Belém (cuja identidade é um segredo quase tão bem guardado como a autoria do ataque ao Nordstream 2), que vá para além daquilo que o presidente nos disser às 20 horas (com "preview" a Costa às 18:30)?

Guerras

Constata-se que, em Portugal, são aceites como fonte de indisputada credibilidade os comunicados do "Institute for the Study of War", entidade americana, subsidiada por empresas de armamento, que regularmente mistura verdades e meias-verdades com clara e enviesada desinformação.

Que fazer?


Marcelo fala ao país às 20:00. Às 20:00 começa, impreterivelmente, o concerto na Fundação Gulbenkian. Como diria Lenine, que fazer?

Na Haia


Leio que o presidente da Ucrânia faz hoje uma visita à Haia, à sede do Tribunal Penal Internacional. E, a propósito, lembrei-me de uma cena passada há quase 20 anos, em Sarajevo, a martirizada capital da Bósnia-Herzegovina, num jantar social a que estava presente, como convidado, um membro do governo daquele país.

O equilíbrio político na Bósnia-Herzegovina, um país resultante da fragmentação da antiga Jugoslávia, é muito difícil, dado que do executivo fazem obrigatoriamente parte representantes de três diferentes etnias, com um complexo historial de conflito entre si: bósnios, croatas e sérvios. 

O jantar, num agradável espaço ao ar livre, tinha um caráter relativamente informal. Como não podia deixar de ser, a conversa cedo derivou para a política.

A certa altura, veio-me à memória que numa das minhas visitas a Sarajevo, nos anos 90, tinha conhecido Jadranko Prlic, um membro do governo da Bósnia-Herzegovina, pertencente à minoria croata. Era um homem agradável e cordial, com quem eu havia criado uma relação de simpatia, reforçada por contactos posteriores na Grécia, onde ambos tínhamos estado a convite pessoal de Georgios Papandreou, de quem éramos amigos comuns. Perguntei por esse antigo ministro da Bósnia-Herzegovina.

Notei que o nosso convidado, muçulmano, ficou um pouco embaraçado, mas respondeu:

- Está na Haia.

Uma pessoa presente ao jantar, menos dada a interpretar, com a rapidez da nossa profissão, este tipo de informações, perguntou:

- Como embaixador?

Não sei se fui eu que me adiantei ou se foi o ministro que esclareceu que "estar na Haia" significava estar detido sob ordem do Tribunal Penal Internacional, neste caso para a ex-Jugoslávia, que julga os crimes de guerra e que tem sede na capital dos Países Baixos.

Mudámos logo de conversa...

Vim mais tarde a saber que Jadranko Prlic acabou por ser condenado 25 anos de prisão.

Democracia

Há dias, recebi um convite para intervir num debate numa estrutura do PSD. No ano passado, fui falar à universidade de verão do Bloco de Esquerda. Não há muito tempo, fui convidado a palestrar numa instituição do CDS. 

Não sendo nenhum segredo o que politicamente penso e sendo bem patente, nomeadamente por este espaço, o modo como, de quando em quando, me não privo de zurzir as entidades partidárias que me convidaram, acho que só me posso regozijar pelo facto da tolerância democrática ser hoje uma magnífica realidade no nosso país, de que todos devemos estar orgulhosos.

Um pedido

Agora que Eça de Queiroz vai ser trasladado para o Panteão, será pedir demais que não se escreva que vai ser "transladado"? E, já agora, que todos os dignitários que por lá estão deixem de ser designados por "dignatários". Muito obrigado.

Protocolo

Se se confirmar que Jair Bolsonaro não vai poder viajar para Portugal, por ter o passaporte apreendido, Marcelo Rebelo de Sousa vai ficar feliz. É que muito dificilmente poderia recusar-se a recebê-lo em Belém, como antigo presidente brasileiro, se Bolsonaro o solicitasse.

quarta-feira, maio 03, 2023

Dilema

O dilema do presidente da República parece ser este: lançar ou não uma crise de instabilidade, com consequências imprevisíveis, através de uma eventual convocação de eleições, como resposta ao que parece considerar como um desafio aos seus poderes. Alguém que deu provas de prezar muito a estabilidade, mas que se sabe pretender estar sempre de bem com o "ar do tempo" que, a cada momento, prevalece na opinião pública, deve estar a hesitar bastante sobre o que fazer. Uma "birra" em torno da manutenção de um simples ministro valerá o risco de lançar uma faúlha na pradaria? Ou o que aconteceu configura, para ele, uma provocação que pode vir a afetar duradouramente o atual equilíbrio de poderes, criando uma "jurisprudência" desfavorável, no futuro, à própria instituição Presidência? Porque Marcelo Rebelo de Sousa é um imenso solitário nas suas decisões, dado que entende que tem um capital acumulado de experiência política superior a quem quer que seja (mesmo a António Costa), a sua decisão será sempre íntima. Seja ela qual for.

Na mouche!

Basta contabilizar o desagrado provocado pela decisão de António Costa na opinião televisiva, nos detratores tradicionais do governo, para se constatar quão certeira ela foi. Na mouche!

Feriado

Hoje é quase feriado para os comentadores da guerra.

Fogo à peça!

"E agora, rapazes, agarremo-nos à comissão parlamentar da TAP! E ao tal assessor, que é preciso transformar numa arma de arremesso, para evitar que o Costa possa continuar a cantar de galo. E continua a não se arranjar nada contra o Medina? Fogo à peça!"

terça-feira, maio 02, 2023

PSD

"O executivo mantém-se à deriva, sem liderança efetiva, com inegável falta de autoridade", diz um comunicado, de há pouco, do PSD. Não há quem perceba, no principal partido da oposição, que escrever isto, nestes termos, nesta noite, é uma incongruência face à perceção coletiva?

Conselho


Será que António Costa leu este livro de Balladur?

Eleições?

António Costa quer provocar eleições? Quem tem uma maioria absoluta quer eleições? Quando nenhuma sondagem - nem de longe! - aponta para a renovação dessa maioria, antes pelo contrário, passa pela cabeça de alguém (sensato) que Costa quer uma dissolução?

Isto!

António Costa demonstrou hoje a razão pela qual é, a longa distância, o político com mais estofo para desempenhar funções de natureza executiva em Portugal. Seria tão fácil ter cedido ao "ar do tempo"! Ao não fazê-lo, conforta quem o apoia. Como é o meu caso.

Dá tanto gozo!

É muito interessante ouvir o que dizem alguns comentadores sobre o governo: não estão contentes e pré-anunciam que tudo o que Costa vier a fazer não satisfará os seus desejos. Assumem as suas opiniões como sendo a "vontade do país". Dá tanto gozo ver a realidade a contrariá-los!

(Escrevi e publiquei isto mais de duas horas antes de António Costa recusar a demissão de João Galamba)

A TAP a voar

Os potenciais compradores da TAP devem estar a esfregar as mãos de contentes com o facto da Comissão de Inquérito já há muito ter deixado de ser sobre a indemnização a Alexandra Reis (lembram-se?) e ter passado a ser uma espécie de bar aberto para o "voyeurisme" público sobre tudo o que, de perto ou de longe, se ligue à companhia. Cada incidente que ali cai é mais um desconto na fatura final do encaixe de capital.

Guerras e guerrinhas

Nas nossas televisões, dando picos de audiência, a guerra é um tema incontornável. Há uma apetência provada do público pelos pormenores, pelos eventos do dia, pelos avanços e recuos, pelas vítimas. Seja em Bakhmut ou Kherson, seja em São Bento ou Belém. Guerra é guerra.

Ditos e não ditos

António Costa, em geral, não diz mais do que aquilo que quer dizer. Há pouco, à saída do aeroporto, disse o suficiente para se ficar a perceber que, se acha que parte do comportamento do ministro é bastante defensável, outra, mais adjetiva mas nem por isso menos relevante, não o é. Daí...

segunda-feira, maio 01, 2023

No Dia do Trabalhador


Este blogue começou no dia 2 de fevereiro de 2005. Aqui ficam as estatísticas, há pouco constatadas, sobre os números de seguidores, de posts publicados, de comentários e, o que será o mais significativo, de visitantes. 

"Ó Belinha! Anda cá!"


(...) "Fico muito grato pela sua confiança, mas, deve compreender, tenho ainda de falar com a minha mulher". "Claro. Mas pedia-lhe uma resposta muito rápida, pode ser?". "Com certeza!". "Ah! Mais uma questão: dê uma revisão cuidadosa   ao seu passado. Não pode haver nenhuns telhados de vidro". "Por aí, pode estar descansado". Vai ser assim.

O meu primeiro 1° de Maio


Vivi o meu primeiro “Primeiro de maio” na segunda metade dos anos 60. Em sítios esconsos da faculdade apareceram colados uns papéis acastanhados com a expressão “Todos ao Rossio no 1º de maio”, ou uma coisa assim. Creio que também havia a indicação de uma determinada hora. 

Com alguns amigos, muito por curiosidade, lá fui. Era um ambiente tenso, cheio de gente que se movia sem destino, olhando uns para os outros, alguns trocando sorrisos cúmplices. Vi-me a tentar perceber quem seriam os “pides” e os PSP à paisana, que sabíamos abundarem. 

Passaram uns bons minutos sobre a hora anunciada. De súbito, num dos cantos da praça, junto à estação, a caminho dos Restauradores, surgiu um burburinho qualquer, berros e gente a correr. Nos segundos seguintes, detrás no Teatro Nacional, saiu a polícia de choque, parte dela atrás da turbamulta que se agitara, a restante a “limpar” o largo de S. Domingos, em cuja esquina eu estava no momento. Do lado da “Casa da Sorte” criara-se uma outra onda de agitação, que caminhava na minha direção. 

A Ginjinha foi o meu local de refúgio. “Meu”? Devíamos ser aí uns vinte, alguns encavalitados sobre o mármore húmido do balcão, sem coragem de pedir “uma com elas”, porque agora é que iam ser “elas”! 

Por detrás do balcão, os da casa não ousavam exigir consumo mínimo, tentando olhar o largo por cima de nós… Por maior naturalidade que tentássemos dar ao nosso ar, estar ali era uma coisa estranha. De repente, sair da Ginjinha tornou-se imperativo. 

Num instante, vi-me separado dos meus amigos, empurrado a caminho da praça da Figueira. Tentei não correr. Não cheguei à praça. Um bando de PSP de bastão, plantado na estratégica esquina traseira da Suíça, não estimulava continuar por esse caminho. Pensei entrar no “Braz & Braz”, mas as portas tinham-se fechado. Voltar para trás era impensável, entrar na ruela à esquerda, a caminho do Hotel Mundial, era arriscado. Por alguma razão essa artéria estava deserta. 

Olhei à volta. O largo de S. Domingos estava pejado de uma boa dezena de polícias. Que podia fazer? Vi uma porta aberta, entrei num prédio e comecei a subir a escada, embora com a angustiante sensação de que estava a ficar cada vez mais encurralado. Ainda me perguntei: “Mas que tenho eu a temer? Não faço parte de nenhum grupo político, não tenho comigo mais do que uma pasta com sebentas”. Mas logo me dei conta de que a racionalidade da situação era de difícil perceção por parte de um cívico de bastão de borracha preto com que viesse a cruzar-me. 

No primeiro andar, ao cimo da escada, abriu-se uma porta. Tive um baque. Era um homem dos seus cinquenta anos (provavelmente era mais novo, mas para mim tinha já alguma idade), com ar de escriturário ou coisa parecida. Ao olhar a ansiedade da minha cara, deve ter percebido tudo. “Venha para aqui. Deixe passar algum tempo. Isto depois acalma”, disse, sem um sorriso, com um olhar neutro. Entrei, grato. 

Era um escritório, creio que de um despachante, mas já não estou seguro. Ainda devo ter balbuciado algumas palavras, mas rapidamente me dei conta de que o ambiente não estava para grandes conversas. Alguns iam, de quando em vez, por um corredor longo, até à janela num compartimento que dava para o Rossio. Achei que o meu estatuto de “asilado” não me dava o direito a partilhar esse “voyeurisme”, pelo que me mantive sentado na cadeira que me tinham oferecido (nos dias de hoje, estaria a consultar o iPhone, pela certa). 

Não sei quanto tempo passou, pareceu-me muito, mas deve ter sido pouco mais de um quarto de hora. O meu hospedeiro, que manifestamente tinha um ascendente na sala, a qual, aliás, dava ares de estar prestes a encerrar, disse-me, a certa altura: “Acho que já pode ir. As coisas acalmaram”. Agradeci e vi os outros ocupantes do escritório olharem para mim, com o que me pareceu ser uma completa indiferença. Ou seria outra coisa, não sei. Não houve sequer um sorriso, embora eu quisesse crer que era uma silenciosa cumplicidade. Porventura triste e resignada. 

A rua, de facto, estava livre. Já só se viam uns PSP em farda normal, de cor cinza. Cheguei ao Martim Moniz onde apanhei o elétrico até ao Chile e, depois, o “dez” para os Olivais. Terei contado a “aventura” em casa? Não sei. Tinha vindo para Lisboa para estudar, não para estas guerras.

(Hoje, apeteceu-me publicar aqui um texto que, há dois anos, editei em "A Mensagem de Lisboa")

O cheiro


Parece que a Ovibeja anda na moda. Ao que li, este ano, o governo não foi convidado para lá ir. A CAP, que parece que não gosta da ministra da Agricultura, terá deixado entender que a senhora não seria bem vinda. No entanto, como a CAP acha que aposta no futuro, entendeu por bem convidar o líder da oposição. Não, não convidou André Ventura, optou pelo "next best", por Luís Montenegro. Ah! E o presidente da República também lá esteve.

Sou pouco dado a cenas rurais, mas, imaginem!, até eu já fui à Ovibeja. É verdade. Há um quarto de século. Tinha estado numa visita oficial à Polónia, a acompanhar António Guterres, e, no regresso, ele disse-me: "Não vamos diretos para o  aeroporto de Figo Maduro. Antes, você vai ter que ir comigo à Ovibeja". 

E o Falcon, em que vínhamos de Varsóvia, lá foi aterrar ao famoso aeroporto de Beja. (A vida é estranha em coincidências: há quatro dias, também num voo que não era de carreira comercial, também vim de Varsóvia, mas para o aeroporto de Tires). Passei assim a fazer parte da restrita lista de pessoas que alguma vez na vida aterrou no aeroporto de Beja. Não guardei o diploma.

À chegada a Beja, esperava-nos o então ministro da Agricultura, Fernando Gomes da Silva. A CAP gostava tanto de Gomes da Silva como gosta da atual ministra. Isto é, muito pouco. E lá fomos os três para a Ovibeja. Aquela visita ficou-me na memória olfativa e auditiva. 

Olfativa porque uma feira de gado é um inigualável deslumbre para as pupilas. Entre bois, vacas, cabras, cavalos e porcos, pelo menos, venha o diabo e escolha o cheiro. Mas aquela foi também uma feira auditiva, porque, para além dos óbvios grunhidos que compõem o som ambiente, teve lugar, a certo passo, uma pequena cerimónia onde António Guterres e o então líder da CAP tomaram a palavra. Nesse momento formal, num palanque, fiquei colocado entre o agricultor-mor de serviço e o Fernando Gomes da Silva. 

Enquanto o homem da CAP se queixava ao primeiro-ministro, com palavras fortes, da ação do Ministério da Agricultura, Gomes da Silva (lembras-te, Fernando?) emitia, ao meu ouvido, sonoras imprecações, reagindo às críticas, às quais, contudo, não ia poder responder. Como a sua voz está muito longe de ser inaudível, fiquei com a nítida sensação de que o líder da lavoura devia estar a tomar nota daqueles pesados comentários. Eu, colocado no meio geográfico do potencial dissídio físico, cheguei a temer o pior.

Já bem ao final da noite, quando, finalmente, conseguimos chegar a Lisboa, e ainda antes de ir para casa, decidi ir beber um copo ao Procópio. Sentei-me na "Dois" e o Nuno (Brederode dos Santos) logo reagiu: "Estás a cheirar a qualquer coisa esquisita!". Expliquei que tinha estado numa feira de pecuária e que devia ser um odor a gado. Ele simplificou: "A mim cheira-me a merda, desculpa lá!"

25 anos depois, o Nuno continua a ter razão. A mim também me cheira.

domingo, abril 30, 2023

Desporto é isto!

A grandeza de um clube vê-se quando consente um golo na sua própria baliza. Para atenuar a derrota do adversário, para evitar a humilhação do outro. Dias há em que o meu Sporting admite mesmo a derrota, por um extremo de bondade, para satisfazer quem o calendário lhe opôs. Quem não perceber isto é dispensado de comentar.

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no "A Arte da Guerra", o podcast de temas internacionais do "Jornal Económico", converso com o jornalista António Freitas de Sousa sobre as queixas de Sergei Lavrov sobre António Guterres, o curioso empenhamento da Arábia Saudita na reentrada da Síria na Liga Árabe e as dificuldades no governo britânico, pela ocorrência de mais uma demissão ministerial.

Poder e ouvir aqui: https://youtu.be/tdykRB3l0xQ

sábado, abril 29, 2023

Ex-jornalistas

Há jornalistas que, num passado não muito distante, parecia exalarem objetividade e rigor, olhavam com equanimidade para as várias posições e, como ficava então bem evidente, esforçavam-se por não tomar posição por qualquer dos lados. Hoje, é o que se vê. 

Batista-Bastos chamava-lhes "pessoas injustamente acusadas de serem jornalistas".

Círculo Jorge Coelho


Um dia, há já uns bons anos, Jorge Coelho propôs a um grupo de uma dezena de pessoas a criação de uma tertúlia, composta por gente de origens e formações diversas, que tinham, como mais relevante ponto comum, o facto de serem suas amigas. 

Sem a menor agenda de ação, trocaríamos impressões regulares sobre o país, os seus problemas e os caminhos do futuro. Consistiria num jantar, organizado de quando em vez, quase sempre com um convidado, muitas vezes uma figura pública, seguido de debate, posterior à intervenção. 

Fizemos um bom número desses encontros, que sempre tiveram lugar no Hotel Vila Galé Ópera, sob o acolhimento do Jorge Rebelo de Almeida. Acho que todos saímos mais ricos desses debates.

Um dia, fez há pouco dois anos, o Jorge Coelho morreu. Exatamente com os mesmos companheiros da "Tertúlia Ópera", e com o mesmo espírito, foi entretanto criado o "Círculo Jorge Coelho", grupo que, tal como a canção de Moustaki, também podia ter-se chamado "Les Amis de Georges".

Na próxima semana, o grupo volta a reunir. Por aquela mesa perpassará, como sempre, a boa memória do Jorge, embora por ali já não possamos contar com a sua graça, o seu sorriso, as suas histórias e, em especial, a sua amizade.

Ucrânia


Ontem, na CNN Portugal, em conversa com Júlio Magalhães, falei sobre o futuro do conflito na Ucrânia e as eventuais saídas para a guerra. 

Pode ver, clicando aqui: https://cnnportugal.iol.pt/videos/nem-sempre-um-compromisso-final-se-faz-a-luz-da-justica-a-contraofensiva-de-kiev-e-a-certeza-historica-e-muito-dificil-derrotar-a-russia/644c41c10cf2c84d7fd393a0

E se falássemos da Europa?


Margarida Marques, antiga secretária de Estado dos Assuntos Europeus e atual deputada ao Parlamento Europeu, é uma pessoa que leva muito a sério aquilo em que se empenha. Desde 2021, decidiu lançar um podcast semanal de conversas, intitulado "E se falássemos da Europa?", envolvendo figuras muito diversas, das mais variadas áreas e origens. Ontem, competou o extraordinário número 100 dessas gravações em vídeo. 

Tive o privilégio de ser o primeiro convidado dessa série de programas, como recordámos na festa que ontem organizou na delegação do Parlamento Europeu, em Lisboa. 

Por lá encontrei gente que já não via há muito, de que é exemplo o meu velho amigo José Rebelo, histórico correspondente em Lisboa do "Le Monde", na imagem com Margarida Marques.

Para ver os vídeos do "E se falássemos da Europa?", basta clicar aqui: https://www.youtube.com/@esefalassemosdaeuropa887

sexta-feira, abril 28, 2023

O Roque Laia


Ontem, no Porto, durante a Assembleia Geral de uma empresa, e perante uma questão suscitada por uma interpelação de um acionista à mesa, pensei para comigo: "Faz falta agora o Roque Laia". Se eu repetisse isso a qualquer das colegas da administração que me ladeavam, estou certo que não entenderiam. Ser mais velho é isto mesmo.

O "Guia das Assembleias Gerais", de Mariano Roque Laia, com uma 1ª edição em 1957, foi, por muitos e bons anos, em Portugal, a "bíblia" das Assembleias Gerais. Era uma utilíssima codificação de regras e procedimentos, sem força jurídica vinculativa mas com um peso "moral" que quase ninguém ousava contestar. Usar "o Roque Laia" com mestria era meio caminho andado para gerir bem uma Assembleia.

Há 53 anos, eu era presidente da Assembleia Geral da Associação de Estudantes do ISCSP, então com um U de "Ultramarina" no final. Depois da surpresa de uma derrota nas eleições do ano anterior (julgávamos serem favas contadas e a lista adversária apanhou-nos desprevenidos), tínhamos, entretanto, recuperado a Associação, nas eleições desse ano.

A primeira reunião da Assembleia Geral a que presidi veio a ser muito complicada, com uma imensidão de intervenções adversas e um ambiente bastante tenso. Até "pides", que ali eram estudantes, em horário pós-repressivo, apareceram, para ajudar a alguma confusão. A sala estava cheia de colegas mais velhos, quadros do Ministério do Ultramar, que se haviam conjugado para dificultarem a vida aos "esquerdistas" que tinha retomado a Associação. Displicentes, os nossos apoiantes tinham desmobilizado e eram em número insuficiente.

Eu tinha estudado muito bem "o Roque Laia", coisa que poucos faziam. Por isso, tinha na ponta da língua todo o arsenal de procedimentos e figuras, passíveis de ser usadas, nos momentos de impasse na assembleia. Perante as obstruções, lá fui driblando as dificuldades, sempre dentro das sagradas "regras do Roque Laia".

Tudo aquilo era feito sob o olhar atento do professor Martim de Albuquerque, que a direção da escola tinha destacado para acompanhar e fiscalizar a assembleia. Era assim mesmo a prática desse tempo: as reuniões de estudantes eram frequentemente vigiadas pelo corpo docente.

No final da sessão, com ar pesado, Albuquerque veio ter comigo e disse-me: "Você foi muito hábil na condução da reunião. Parabéns. Mas não apreciei a orientação que imprimiu aos trabalhos e vou ter de informar o diretor da escola". Não sei se lhe disse "olhe que não! olhe que não!", mas deve ter sido uma coisa parecida.

Meses depois, um desaguisado em público com o diretor da escola valeu-me um processo disciplinar e a posterior suspensão, por seis meses. No sufrágio do ano seguinte, a minha reeleição para o cargo de presidente da Assembleia Geral veio a ser rejeitada pelo Ministério da Educação. Não pude tomar posse. Coisas da vida desse tempo.

Miguel Sousa Tavares...

 


... no "Expresso" de hoje.

quinta-feira, abril 27, 2023

Álvaro Mendonça e Moura


Confesso ter ficado surpreendido pela notícia de que o meu colega Álvaro Mendonça e Moura, embaixador que, até há pouco, desempenhou as funções de secretário-geral do MNE, vai assumir, dentro em breve, o cargo de presidente da CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal. 

Sabia-lhe algum empenhamento recente na agricultura, mas desconhecia que ele chegasse a uma imersão profunda no associativismo da nossa lavoura, para utilizar uma expressão bonita e clássica.

Contudo, considero muito importante, num tempo em que as questões agrícolas re-assumem relevância na nossa economia, que quem institucionalmente a passa a representar possa ser alguém com o conhecimento de um antigo representante diplomático português na União Europeia.

Álvaro Mendonça e Moura e eu entrámos no mesmo dia nas Necessidades, vai para 48 anos, e ficámos bons amigos desde então. Só o futebol nos divide! O Álvaro teve uma carreira distintíssima, um percurso em tudo conforme às suas qualidades profissionais, dado que foi um dos mais talentosos diplomatas da sua geração. 

Desejo-lhe as maiores felicidades nesta sua nova fase de vida.

Vida


Começar uma reunião de trabalho com estes dois pratos em frente, como me aconteceu na terça-feira, remete-me para as clássicas tentações de Haddock.


O truque

Há um truque clássico na imprensa, na utilização de imagens, documentos ou escutas indevidas ou mesmo ilegais. É dizer: "É verdade que são privados mas, a partir do momento em que se tornam públicos, seja lá de que maneira for, é impossível evitar comentar o seu conteúdo, não é?"

É isto!

É muito revelador que alguns, em lugar de se solidarizarem com as autoridades do Estado perante o espetáculo, democraticamente degradante, de partidos políticos terem destratado um convidado estrangeiro, logo "mudem de conversa" para criticar os comportamentos dessas autoridades.

quarta-feira, abril 26, 2023

Crimes, digo eu

Recebo "alertas' do Correio da Manhã. (Devo ter posto um "vezinho" algures). Não imaginam o que se aprende! Aparecem por aí cadáveres todos os dias! Ao lado de Portugal, a aldeia do Padre Brown, na Fox Crime, para mim um "benchmark" no género, é um jardim infantil do crime.

Mitos

A ideia de que a extrema-direita cresce por ação dos socialistas é uma mera desculpa de uma direita que, como se tem visto, não consegue afirmar lideranças e promover políticas, alternativas e democráticas, que sejam eleitoralmente atrativas para o eleitorado não-socialista.

Cravos ao alto!


Afinal, a vendedora de flores, com nome e cara, que deu cravos aos soldados que andavam pela Baixa lisboeta, acendendo G3s de vermelho, o que veio a fazer a felicidade gráfica da imprensa internacional, era um belo mito urbano. 

No Porto, na "Praça", também surgiram cravos nas armas dos "prontos" ensonados, que ali andavam sem nada para fazer. Ao fundo da imagem, no Passeio das Cardosas, lá está ainda o Banco de Angola, para o qual esse dia acabaria por ser o primeiro do resto da sua encurtada vida. 

O que pode suscitar uma fotografia do 25 de Abril no Porto!

terça-feira, abril 25, 2023

Lapelas

Os líderes do Chega e da IL não colocaram um cravo ao peito, na cerimónia do 25 de Abril. Há coincidências que só são surpresas para quem anda distraído. Apenas comemora a data quem se sente  próximo dos valores de Abril. Assim, fica tudo muito mais claro. Parabéns, Joaquim Miranda Sarmento.

Circo

As palhaçadas de Ventura e dos seus arruaceiros pode criar a falsa ideia de que tudo aquilo é uma mera comédia. É, mas não só. Há um país mal-disposto e desiludido que, se não tiver respostas credíveis para os seus reais problemas, pode acabar por ir por ali. Foi assim que nasceu o fascismo, lembrem-se.

... e chega!

O Chega, na liberdade que a democracia lhe concede, tem todo o direito de atuar fora do sistema. Não havendo, ao que parece, razões constitucionais para ilegalizar o partido, nada impede que o sistema, de que o Chega ostensivamente se considera fora, o marginalize por todos os meios legais.

Basta

O Presidente da República deveria tirar as necessárias consequências dos acontecimentos que hoje ocorreram no modo como, no futuro, virá a relacionar-se com o Chega. As forças políticas cujo comportamento põe em causa os interesses externos do Estado não podem ser tratadas da mesma forma que as outras.

"Um olhar fardado"

 

Ler aqui o artigo em "A Mensagem de Lisboa".

Viva!


Começar bem a agenda de trabalho, num dia chuvoso e cinzento, aqui na Polónia. Viva o 25 de Abril, sempre!

segunda-feira, abril 24, 2023

O meu 24 de abril


Saí de manhã de casa, em Santo António dos Cavaleiros, onde vivia, desde que casara, quatro meses antes. De carro, entrei na Escola Prática de Administração Militar, na Alameda das Linhas de Torres, em Lisboa. Às nove horas, iniciei a primeira aula de "Ação Psicológica", ao meus instruendos. Era aquela a minha tropa.

Pelo meio-dia, recolhi à biblioteca. Além de "oficial de Ação Psicológica" e coordenador do curso de formação de oficiais milicianos nessa especialidade, era também bibliotecário e diretor do jornal da unidade, "O Intendente".

O António Reis bateu à porta. O António, mais tarde um consagrado historiador e professor universitário, era o nosso contacto com os oficiais do quadro, na clandestina articulação que, desde há meses, íamos mantendo com o setor profissional militar.

Conhecíamo-nos desde 1969, ao tempo da articulação da oposição democrática para o ato eleitoral desse ano. Ele tinha tido um papel destacado, como candidato oposicionista por Santarém, eu trabalhara ativamente na Comissão Democrática Eleitoral de Vila Real. Nessas últimas semanas, encontrávamo-nos regularmente na "Seara Nova", a revista oposicionista que, à época, acolhia várias correntes políticas.

Para espanto de muitos e do próprio, António Reis havia sido escolhido, meses antes, para a especialidade de Ação Psicológica, que eu coordenava. A máquina das informações militares, na sua articulação com a PIDE (ninguém dizia DGS), tinha óbvias lacunas. Só há poucas semanas, o Exército mandara "reclassificá-lo", devendo regressar a Mafra, onde o esperava um destino como Atirador de Infantaria. Por esses dias, tentávamos atrasar os efeitos dessa transferência.

Notei que o António vinha com ar grave. Pediu-me para reunir o pequeno grupo de oficiais milicianos que estavam no segredo das movimentações. Minutos depois, informou-nos que o golpe militar, de que há semanas falávamos, estava previsto para essa noite.

Ficámos tensos, confrontados com o peso da informação recebida. Aos pedidos de detalhes que colocámos, no tocante ao âmbito da nossa ação, adiantou explicações vagas. Ele próprio não tinha muitos mais pormenores.

Ao final do dia, quando saí da unidade, não tive dúvida de partilhar a informação com o meu pai, que, vindo de Vila Real, estava de visita a Lisboa. Democrata dos sete-costados, alimentava, contudo, uma desconfiança persistente sobre a capacidade dos militares para derrubarem o regime que ele sempre detestara.

Jantei com os meus pais e com um tio. Foi uma ocasião estranha: se a operação militar que iria decorrer, horas depois, tivesse sucesso, o futuro desse meu tio - um imenso amigo de todos nós, a começar por mim - iria sofrer uma grande mudança. Ele era deputado, por Vila Real, à Assembleia Nacional...

À mesa, apenas eu, o meu pai e a minha mulher estávamos a par do que iria ocorrer, pelo que a conversa, para nós os três, não deixou de ter sempre isso como pano de fundo.

Acabado o jantar, deixei os meus pais na Feira das Indústrias, à Junqueira, onde havia uma exposição de antiguidades. À saída, ao deparar com o Rolls-Royce que transportara o presidente da República para a inauguração do evento, o meu pai disse à minha mãe uma frase enigmática, que ela lembraria até ao fim da vida: "Se uma coisa que o nosso filho me disse vier, de facto, a acontecer, amanhã o Américo Tomaz já não volta a entrar neste carro".

Nenhum de nós teve então a presciência de intuir que esse amanhã iria passar a ser conhecido como "o 25 de Abril".

domingo, abril 23, 2023

Segundo o "Financial Times"...


 

Lugar à mesa


O serviço do Protocolo de Estado está sedeado no Ministério dos Negócios Estrangeiros mas, na realidade, serve todas as grandes instituições do Estado, a começar pela Presidência da República.

Um dia, em 1987, trabalhava eu nos Assuntos Europeus, o secretário-geral do MNE chamou-me e pediu-me se eu não me importava de ir chefiar, por duas semanas, o serviço do Protocolo. Tinha havido um qualquer problema, envolvendo conjunturalmente a disponibilidade das chefias regulares, e era-me solicitado que tomasse conta do serviço nesse período. 

Nunca me considerei um especialista em protocolo, mas, como diplomata "generalista", sempre tive a pretensão de ser capaz de operar em qualquer área da atividade do ministério, sem exceção. E, movido também por alguma curiosidade, disse que sim à tarefa.

Mudei-me assim, por quinze dias, da Visconde Valmor para os dourados do "palácio velho" das Necessidades, última morada dos reis portugueses, até ao 5 de Outubro.

Tive o gosto de trabalhar, nesse tempo, num serviço pelo qual tenho o maior respeito e cuja ação, através de alguns profissionais altamente responsáveis que por lá têm passado, se tem revelado, ao longo dos anos, numa âncora essencial para o bom curso da vida das instituições nacionais, em especial das relações externas do país. 

O comum dos cidadãos está longe de saber o que o país deve, em termos de crises evitadas e de soluções discretamente encontradas para inesperados problemas, a essa estrutura que tem sabedoria para conseguir induzir bom-senso comportamental aos atores políticos, bem como racionalidade e modos civilizados à máquina governativa. Das posses a funerais de Estado, passando por visitas de dignitários estrangeiros ou pela organização de deslocações internacionais dos nossos governantes de topo, até à gestão da vida do corpo diplomático estrangeiro em Portugal, o Protocolo de Estado é responsável por uma multiplicidade de tarefas, algumas de elevada delicadeza. O protocolo é, um pouco, como os árbitros de futebol: só se fala dele quando falha.

Num dos primeiros dias dessas minhas episódicas funções, fui informado de que um velho embaixador, há muito reformado, figura com nome histórico nos anais da casa, pedia para ser recebido por mim. Anuí, de imediato, e fui buscá-lo à porta do gabinete que ocupava. 

Após alguns circunlóquios, o vetusto diplomata explicou a razão por que queria falar com a pessoa que estava a dirigir o Protocolo, na circunstância eu: tinha surgido, na véspera, na imprensa, a notícia de que, meses depois, se deslocaria a Lisboa, em visita de Estado, o presidente de um país onde esse embaixador tinha, em tempos, chefiado a nossa missão diplomática. E disse-me: "Eu imagino que o meu nome irá surgir na lista dos convidados do senhor Presidente da República para o banquete na Ajuda. Mas como já fui embaixador há muito tempo, achei que era melhor lembrar o meu nome, até para evitar algum lapso por parte do Protocolo". Não deixava de ter graça ele insinuar de que estava quase a fazer um favor ao Protocolo...

O costume protocolar é convidar, por vezes, para os banquetes de Estado, antigos embaixadores portugueses que tenham servido nas capitais dos países cujos chefes de Estado nos visitam, embora sem que tal seja um imperativo e uma regra absoluta. Disse ao embaixador que ele podia estar seguro de que eu deixaria uma nota para que o seu nome viesse a ser incluído na futura lista de convites. E cumpri o prometido. Se foi ou não convidado, isso já não sei.

Essa conversa acabou por ser uma bela lição pela negativa: achei a cena tão triste, tão pouco compatível com a dignidade de um servidor público daquele nível, que jurei a mim mesmo que, quando me aposentasse, jamais cairia na fragilidade de vir a "mendigar" para que não se esquecessem de mim, para recolher, enfarpelado, algumas vitualhas em cerimónias de Estado. 

Cumpri sempre isso escrupulosamente. Mas, naturalmente, quando as autoridades de turno do país me convocam para essas ocasiões, nunca cometo a indelicadeza de não estar presente. Como ainda ontem aconteceu. Mas, repito, sempre sem que antes me tenha feito lembrado.

sábado, abril 22, 2023

Lula cá

Lula teve razão quando disse, esta manhã, que houve membros permanentes do Conselho de Segurança que iniciaram guerras à revelia da ONU. E fez bem em citar os EUA no Iraque e a Rússia na Ucrânia. Mas enganou-se quando referiu a intervenção da França e do Reino Unido na Líbia. Essa ação teve aval da ONU e do seu Conselho de Segurança. É um facto indiscutível. Se bem conheço o tropismo de alguns comentadores, alguns vão agora partir para a análise do que ocorreu depois da intervenção. Só que - tenho muita pena! - essa não é a questão.

Prémio científico Mário Quartin Graça


Tive a honra de ser convidado pela Casa da América Latina para presidir ao júri do Prémio científico Mário Quartin Graça, apoiado pela consultora Cunha Vaz & Associados e que distingue anualmente "trabalhos de estudantes portugueses e latino-americanos que tenham, preferencialmente, concluído a dissertação" na área das Ciências Sociais e Humanas, "numa universidade ibérica, latino-americana, ou norte-americana". 

Mais informações sobre o prémio podem ser consultadas aqui: https://casamericalatina.pt/premios/premio-cientifico/.

Mário Quartin Graça morreu em 2014, com 74 anos, como na altura assinalei neste blogue.

Conheciamo-nos mal, mas apreciávamo-nos. Vivemos em circuitos diferentes, mas tínhamos amigos comuns que nos fizeram aproximar, em especial nos seus últimos anos de vida, em que trocámos diversa correspondência, onde emergiram interesses comuns, experiências partilhadas em tempos diversos. Em comentários neste blogue, deixou notas sempre agradáveis, atentas e interessantes.

Mário Quartin Graça era um homem do mundo da cultura, com passagens de muito mérito pelo espaço diplomático. Ler as suas memórias, "Páginas Amarelas", um livro que guardo com uma sua amável dedicatória, ajuda-nos a perceber melhor um homem que gostava muito da vida, das coisas e das pessoas, que teve o grande mérito de não se ter apenas passeado, indiferente ou lúdico, pelos lugares por onde andou e trabalhou. Estudou e interpretou, com argúcia não isenta da graça que lhe estava no nome, esses mundos que frequentou e que tão bem retratou. Comungávamos um interesse agudo pelo Brasil, eu invejava-lhe a experiência espanhola que profissionalmente me ficou a faltar.

Ser convidado a coordenar o júri do prémio criado com o seu nome será, além de uma agradável responsabilidade, um imenso gosto.

Ainda o Brasil e a Ucrânia


Aqui fica o que, há umas horas, eu disse na CNN Portugal sobre a iniciativa de Lula da Silva no caso ucraniano. Na imagem, fica claro que o presidente brasileiro não está a concordar com o que eu estou a dizer...

Ver e ouvir aqui.

sexta-feira, abril 21, 2023

21 de abril

Foi no dia 21 de abril de 1947, na igreja de São Martinho, nas Pedras Salgadas. Oficiou o padre Domingos, que recordou o evento, por ocasião do almoço que organizei, 50 anos depois. Era o dia do casamento dos meus pais.

O meu pai, originário de Viana do Castelo, funcionário da Caixa Geral de Depósitos, tinha sido transferido para Vila Real, um ano antes. Num baile do Clube de Vila Real, ter-se-á encantado com uma jovem solteira que ali conheceu, quase oito anos mais nova. 

Como as regras da época mandavam, foi ter com o meu avô, antigo magistrado e então conservador do Registo Predial na cidade. "Vamos até minha casa conversar", contava o meu pai ter-lhe sido dito pelo meu avô, durante esse encontro no café Excelsior. 

Beberam um cálice de "vinho fino". E falaram. Era voz corrente na família que, através de amigos de confiança, o meu avô terá depois "tirado informações" sobre quem era aquele pretendente à mão da filha, se era de "boas famílias", lá por Viana. E, isso constatado, deu o seu "nihil obstat" ao casamento. 

Os meus pais não foram felizes: foram imensamente felizes. Quem os conheceu sabe isso bem. Sem grande dinheiro mas sem problemas financeiros, levaram uma vida agradável, longa e, quase até ao fim, com saúde. Cuidaram em cultivar sempre ambas as famílias, onde o destino também quis - felicidade puxa felicidade - que nunca tivesse emergido o mais leve conflito de relação pessoal. Os meus pais gozaram bem a existência cómoda que tiveram, passearam bastante pelo mundo, fizeram muitos e bons amigos. O seu único filho teve a sorte de poder herdar, essencialmente, essa sua felicidade.

A cada dia 21 de abril, lembro-me desse momento fundacional da minha família, do qual, naturalmente, não fui testemunha presencial.

quinta-feira, abril 20, 2023

"A Arte da Guerra"


Esta semana, no podcast do "Jornal Económico", "A Arte da Guerra", converso com o jornalista António Freitas de Sousa sobre as polémicas declarações de Lula da Silva, as eleições presidenciais e legislativas na Turquia e, finalmente, o recrudescer da guerra civil no Sudão.

Pode ver e ouvir aqui.

quarta-feira, abril 19, 2023

João Serra


Acabo de saber que morreu o João Serra. Tinha 74 anos. 

Conheci-o há quase meio século, no Movimento de Esquerda Socialista (MES). Depois disso, fomo-nos encontrando aperiodicamente pela vida, muitas vezes em circunstâncias em que também estava envolvido Jorge Sampaio, de quem ele era grande amigo e que assessorou em Belém, chegando a seu chefe da Casa Civil. 

O João e eu coincidimos, por cerca de dois anos, na Fundação Cidade de Guimarães, na preparação de Guimarães - Capital Europeia da Cultura, de que ele foi presidente e eu conselheiro. 

João Bonifácio Serra era historiador e foi professor e investigador em diversas instituições de ensino superior, tendo obra publicada nesse domínio. Nos últimos anos, estava muito ligado às questões culturais da cidade de Leiria. 

Deixo um abraço de pesar à sua Família.

Genial

Devo dizer que, há uns anos, quando vi publicado este título, passou-me um ligeiro frio pela espinha. O jornalista que o construiu deve ter ...